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Especificidades ao nível da casuística

No documento Prescrio da obrigao tributria (2. edio) (páginas 143-146)

– O problema da aplicação no tempo da lei nova quando esta dispõe sobre as causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

PRESCRIÇÃO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA 7 Notas Práticas Acerca do Regime de Prescrição das Contribuições e Quotizações para a Segurança Social

5. Especificidades ao nível da casuística

Como se sabe, em caso de reversão, as causas de suspensão ou interrupção da prescrição aproveitam igualmente ao devedor principal e aos responsáveis solidários ou subsidiários [artigo 48.º, n.º 2, da LGT aplicável por via do artigo 3.º, alínea a), do Código Contributivo]. No entanto, a interrupção da prescrição relativamente ao devedor principal não produz efeitos quanto ao responsável subsidiário se a citação deste ocorrer após o 5.º ano posterior ao da “liquidação” [artigo 48.º, n.º 3, da LGT].

21 Note-se, contudo, que o Supremo Tribunal Administrativo tem vindo a decidir, de forma reiterada e uniforme, no sentido de atribuir à citação, eficácia interruptiva duradoura, por forma a que o novo prazo de prescrição não comece a correr enquanto não passar em julgado a decisão que puser termo ao processo de execução fiscal [artigo 327.º, n.º 1, do Código Civil]. Neste sentido, vejam-se, entre outros, o já citado acórdão de 23.11.2016, proferido no processo n.º 01121/16, acessível em www.dgsi.pt, votado pela maioria, com voto de vencido lavrado pela Conselheira Ana Paula Lobo.

22 Neste sentido, vejam-se, entre outros, os acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo, de 31.10.2012, proferido no processo n.º 0761/12, de 29.09.2016, proferido no processo n.º 0956/16 e de 12.10.2016, proferido no processo n.º 0984/16. No entanto, os citados arestos admitem a aplicabilidade do referido limite quando em causa estiver a interrupção em virtude da ocorrência do acto de citação.

23 Não devendo, para o efeito, ser olvidado que a declaração de insolvência não constitui facto suspensivo do prazo prescricional, não apenas quanto ao responsável subsidiário, mas, de igual forma, quanto ao devedor originário, uma vez que a inconstitucionalidade orgânica de que padece o artigo 100.º do CIRE implica, inelutavelmente, a sua desaplicação em ambos os casos [cf. quanto ao responsável subsidiário, vejam-se, entre outros, os acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo, de 07.10.2015, P. 0115/14, de 06.12.2017, P. 01115/16, do Tribunal Constitucional n.º 362/2015 (proc. 760/14), de 09-07-2015 e do TCA-Norte, de 16 de Março de 2017, P. 01403/14.9BEBRG, todos acessíveis em www.dgsi.pt].

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Ora, como já se deixou supra referido, no âmbito das contribuições para a Segurança Social, em regra, não existe um verdadeiro acto de [hetero] liquidação stricto sensu prévio e definidor da obrigação contributiva principal dos sujeitos passivos.

Quid juris?

Considera-se que a resposta é simples. Para efeitos do disposto no artigo 48.º, n.º 3, da LGT, o termo inicial do prazo para a citação do responsável subsidiário deverá corresponder à data em que haja sido efetuada a auto-liquidação das contribuições e quotizações para a Segurança Social por parte da entidade empregadora, ou seja, na data em que esta haja comprovadamente apresentado a declaração mensal de remunerações [artigo 40.º, n.ºs 1 e 2, do Código Contributivo e artigos 13.º a 16.º, 21.º, 22.º e 25.º do Decreto Regulamentar n.º 1- A/2011, de 3 de Janeiro]24.

Na verdade, é a partir deste momento que a obrigação [principal] contributiva, a bem ou mal, se define em todos os seus elementos [incidência, taxa e quantum].

Se, porventura, o Instituto da Segurança Social considerar que essa autoliquidação padece de um qualquer erro de facto ou de direito, então nesse caso aquele prazo contar-se-á a partir da [verdadeira] liquidação adicional que este venha oficiosamente a estruturar.

Para o efeito, atente-se, a título de exemplo, nas dívidas de contribuições relativas ao mês de Março do ano de 2005, relativamente a determinado devedor originário:

No caso em análise, a dívida permanece exigível, por não prescrita, relativamente ao devedor originário, uma vez que o termo final do prazo prescricional apenas ocorreria no dia 20.02.2010 [tendo em conta que o seu termo inicial se verifica no termo do prazo para pagamento voluntário – 20.04.2005].

Todavia, tal prazo interrompeu-se três meses antes do seu decurso [em 20.01.2010] com a citação do devedor originário para o processo de execução fiscal.

24 Neste sentido, o Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de 02.06.2010, proferido no processo n.º 0261/10. Em sentido contrário, considerando como termo inicial, a data em que foram extraídas as certidões de dívida para o processo de execução fiscal, veja-se o Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de 21.04.2010, proferido no processo n.º 023/10.

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Relativamente às dívidas revertidas para o responsável subsidiário, a solução jurídica a dar ao caso concreto naturalmente diverge consoante se considere a data da autoliquidação ou da extracção da certidão de dívida, para efeitos da “liquidação” a que reporta o artigo 48.º, n.º 3, da LGT.

Assim, se se entender que, para este efeito, se deve considerar a data em que foram apresentadas as declarações de remunerações [15.04.2005], então logo se concluirá que a dívida se encontra prescrita quanto ao responsável subsidiário [pese embora não se encontre prescrita quanto ao devedor originário], uma vez que a sua citação ocorreu muito após o 5.º ano posterior ao da “liquidação” [01.08.2013], o que obsta ao aproveitamento do efeito interruptivo decorrente da citação do devedor originário [20.01.2010].

Irreleva, por isso, de igual forma, a penhora efetuada em 20.05.2012, uma vez que esta fora realizada após o transcorrer do termo do prazo de prescrição quanto ao responsável subsidiário [20.04.2010].

Por seu turno, se se considerar a data em que ocorreu a extração da certidão de dívida [20.08.2008], verifica-se que a dívida também não se encontra prescrita quanto ao responsável subsidiário, na medida em que a sua citação ocorreu dentro do 5.º ano posterior ao da “liquidação” [01.08.2013], o que, desde logo, permite estender-lhe o efeito interruptivo gerado pela citação do devedor originário [20.01.2010].

Intermediando-se a ocorrência de um facto suspensivo, de que é exemplo o período durante o qual se encontra em vigor o plano de pagamento em prestações da dívida exequenda, este efeito estende-se, sem mais, ao responsável subsidiário [artigo 48.º, n.º 2, da LGT], uma vez que o artigo 48.º, n.º 3, da LGT é aqui inaplicável por nenhuma condição impor quanto ao aproveitamento de factos suspensivos do prazo prescricional.

01.08.2013

Citação do responsável subsidiário

Deferimento de pagamento em 150

prestações

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Vertendo este entendimento para o caso em análise logo se retira o seguinte cenário:

1) Quanto ao devedor originário, o prazo prescricional encontra-se a zero, uma vez que este se interrompeu, de forma duradoura, com a sua citação [artigo 327.º, n.º 1, do Código Civil]. Aliás, ainda que se não entenda que essa citação detém um efeito interruptivo duradouro, o certo é que, no caso acabado de ilustrar, o prazo de prescrição voltaria a interromper-se com a decisão de deferimento do pagamento em prestações que, como se viu, constitui uma diligência administrativa, praticada no âmbito de um procedimento administrativo [ainda que enxertado no âmbito do processo de execução fiscal], tendente à cobrança da dívida exequenda e com conhecimento do seu devedor.

2) Quanto ao responsável subsidiário, considerando que a sua citação ocorreu após o 5.º ano

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