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4. AS TRANSFORMAÇÕES DO TERRITÓRIO A PARTIR DOS PROCESSOS

4.1. Esquema de análise das transformações do território

A interrelação dos processos de criação e planejamento do Parque com as vertentes de transformação do território (Fig. 29) se deu, num primeiro momento, na escala do território abrangido pelos limites da UC e, num segundo, também no território influenciado por ela, neste caso em relação às comunidades rurais parcialmente inseridas nos limites da Zona de Amortecimento da UC.

A distinção em dois momentos de “transformação”, exposta na Figura 29, cumpre um papel didático e ilustrativo. Nesse sentido, destaca-se primeiramente que as transformações territoriais abordadas pelo presente trabalho não correspondem necessariamente a dois processos estanques, um de criação e outro de planejamento da UC. Esses processos se fundem em um processo maior

e estão fortemente imbricados. Em segundo lugar, tal separação também não resulta somente pelo fato de o território em análise perpassar três identidades27 distintas (propriedades rurais – Estação Ecológica Barra do Queimados – Parque Estadual Fritz Plaumann), e, portanto, duas “transformações”.

47 propriedades pertencentes a 4 comunidades rurais de Concórdia

Estação Ecológica Barra do Queimados

• “criação” (não-oficial) • planejamento

Parque Estadual Fritz Plaumann

• criação • “re-planejamento”

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As transformações territoriais ligadas aos processos de criação e planejamento da UC se inserem em um processo de transformação mais amplo, já em andamento, relacionado à instalação da UHEI. Por isso, o período de análise inicia-se muito antes da criação da UC, durante a ocupação e uso do território pelos ex-proprietários de sua área atual.

Cabe tal distinção em função das diferentes vertentes de transformação territorial decorrentes dos processos de criação e planejamento da UC, que se manifestaram de forma distinta ao longo do tempo, mesmo que com maior ou menor vínculo em relação às transformações em curso, impostas pela UHEI. Tais transformações podem ser mais facilmente compreendidas por esse prisma,

27 Tanto no sentido de território como identidade do espaço concreto em si com seus atributos naturais e socialmente construídos, quanto espaço “definido e delimitado por e a partir de relações de poder” (SOUZA, 2006, p.78). 1ª “TRANSFORMAÇÃO” 2ª “TRANSFORMAÇÃO” PODER / DOMÍNIO FORMA DE USO CARACTERÍSTICAS GEO-ECOLÓGICAS SENTIMENTO / EXPECTATIVA ORGANIZAÇÃO SOCIAL VERTENTES DE “TRANSFORMAÇÃO”

apesar de a exposição, análise e discussão dos resultados estarem sempre contextualizadas de maneira a se interrelacionar ambos os processos a todas essas vertentes de transformação.

Tal qual exposto por Souza (2006), as características geo-ecológicas e os recursos naturais de uma determinada área, o que é produzido e por quem em um certo espaço, ou ainda quais são as ligações afetivas e de identidade entre um grupo e seu espaço, são aspectos de fundamental importância para a compreensão da gênese (ou transformação) de um território. Para o autor, no entanto, como já destacado anteriormente, a questão mais importante nesta compreensão é identificar quem domina ou influencia num determinado espaço, e como isso se ocorre.

Nessa perspectiva, as vertentes de transformação apontadas anteriormente compreendem os aspectos que mais se destacaram nos dados levantados pela pesquisa, praticamente ao longo de todo histórico analisado. Estes aspectos aglutinam-se, portanto, em:

a) poder ou domínio sobre o território; b) formas de uso do território;

c) características geo-ecológicas do território;

d) sentimento e/ou expectativa dos atores sobre o território; e) articulação e organização desses atores.

De todas as vertentes apresentadas neste esquema de análise, a vertente de poder ou domínio sobre o território foi a única que sofreu transformação somente durante o processo de “criação” da Estação Ecológica Barra do Queimados. Isso porque, na mudança para Parque Estadual Fritz Plaumann, quando houve de fato a criação oficial da UC através de decreto, a FATMA continuou como instituição responsável, e a área, de domínio público.

Ainda assim, a riqueza de situações impostas a essa única transformação perpassa a mudança nos papéis institucionais tanto do empreendedor responsável pela UHEI, e conseqüentemente pela indenização das terras, quanto do órgão

ambiental licenciador e partícipe da definição da área e categoria de manejo. Este e outros aspectos são ilustrados no Quadro 4, bem como analisados e discutidos nos próximos itens deste capítulo.

Já as formas de organização e uso do território se modificaram consideravelmente durante os processos de criação e planejamento da UC, sobretudo no que se refere ao processo de indenização das propriedades rurais para a “criação” da Estação Ecológica.

Como resultado das formas de uso e das próprias particularidades ambientais da região, as características geoecológicas da área também se modificaram, principalmente em função do processo de evolução da cobertura vegetal.

A dinâmica de participação e organização de atores e instituições, locais ou não, ao longo dos processos de criação e planejamento da UC, como já colocado anteriormente, foi também bastante visível. Exemplo dessa dinâmica, ilustrado no Quadro 4 e discutido mais adiante neste capítulo, é o aumento efetivo da participação da sociedade civil após a elaboração do Plano de Manejo da UC, e de forma ainda mais evidente, a partir do início de sua execução, em 2006.

Diretamente ligados a esses aspectos, há por parte de atores locais diferentes sentimentos em relação ao território e expectativas em relação às transformações em curso, resultantes da criação e planejamento da Estação Ecológica Barra do Queimados ou da sua transformação em Parque Estadual Fritz Plaumann.

QUADRO 4 – Matriz de relação do histórico da UC com atores envolvidos, abrangência espacial, ações institucionais e/ou técnicas e