aquelas que precedem e condi-
cionam a formação do sujeito.
sua possibilidade, não a tomar por uma garan- tia a priori. Ao contrário, precisamos perguntar que possibilidades de mobilização são produzi- das com base nas configurações existentes de discurso e poder. Onde estão as possibilidades de retrabalhar a matriz de poder pela qual so- mos constituídos, de reconstituir o legado da- quela constituição, e de trabalhar um contra o outro os processos de regulação que podem desestabilizar regimes de poder existentes? Pois se o sujeito é constituído pelo poder, esse poder não cessa no momento em que o sujei- to é constituído, pois esse sujeito nunca está plenamente constituído, mas é sujeitado e pro- duzido continuamente. Esse sujeito não é base nem produto, mas a possibilidade permanente de um certo processo de re-significação, que é desviado e bloqueado mediante outro meca- nismo de poder, mas que é a possibilidade de retrabalhar o poder. Não é suficiente dizer que o sujeito está invariavelmente engajado num campo político; este fraseado fenomenológi- co não percebe que o sujeito é uma realização regulada e produzida de antemão. E como tal, é totalmente político; com efeito, talvez mais político no ponto em que se alega ser anterior à própria política. Fazer esse tipo de crítica fou- caultiana do sujeito não é acabar com o sujei- to ou pronunciá-lo morto, mas apenas afirmar que certas versões do sujeito são politicamente insidiosas.
Para que o sujeito seja um ponto de partida prévio da política é necessário adiar a questão da construção e regulação política do próprio sujeito, pois é importante lembrar que os sujeitos se constituem mediante a exclusão, isto é, mediante a criação de um domínio de sujeitos desautorizados, pré-sujeitos, represen- tações de degradação, populações apagadas da vista. Isso fica claro, por exemplo, na justi- ça, quando é preciso primeiro atender a certas qualificações a fim de ser uma demandante em casos de discriminação sexual ou estupro. Aqui torna-se bastante urgente perguntar quem se qualifica como um “quem”, que estruturas
sistemáticas de privação de poder tornam im- possível para certas partes injuriadas invocar o “eu” efetivamente dentro de uma corte de jus- tiça. Ou menos abertamente, como acontece numa teoria social como a de O colonizador e o colonizado, de Albert Memmi, que é um forte chamamento à emancipação radical, a catego- ria das mulheres não se enquadra na categoria dos oprimidos, nem das opressores.10 Como te-
orizamos a exclusão das mulheres da categoria dos oprimidos? Aqui, a construção de sujeitos- -posições funciona para excluir as mulheres da descrição da opressão e isso constitui um tipo diferente de opressão, aquela que é efetuada pelo apagamento que fundamenta a articu- lação do sujeito emancipatório. Como Joan Scott deixa claro em Gender and the Politics of History, uma vez entendido que os sujeitos se formam mediante operações exclusivistas, torna-se politicamente necessário remontar às origens das operações dessa construção e apa- gamento.11
O dito acima esquematiza, em parte, uma reinscrição foucaultiana do sujeito, um esforço de re-significar o sujeito como um lugar de re- -significação. Em consequência, não se trata de um dizer adeus ao sujeito de per si, mas antes um apelo a retrabalhar essa noção fora dos ter- mos de um dado epistemológico. Mas talvez Foucault não seja realmente pós-moderno; afinal, a sua é uma análise do poder moderno. Existe, é claro, uma conversa sobre a morte do
10 Escreve Memmi: “No auge da revolta, o coloniza- do ainda traz os traços e lições da coabitação prolongada (da mesma forma que o sorriso ou os movimentos de uma esposa, mesmo durante os procedimentos de divórcio, lembram estra- nhamente os do marido)”. Aqui Memmi estabelece uma analo- gia que pressupõe que colonizado e colonizador existem numa relação paralela e separada de marido e mulh er se divorciando. A analogia sugere de modo simultâneo e paradoxal a feminili- zação do colonizado, em que se supõe o colonizado é o sujeito dos homens, e a exclusão das mulheres da categoria do sujeito colonizado. MEMMI, Albert. The Colonizer and the Colonized. Boston, Beacon Press, 1965, p.129.
11 SCOTT, Joan W. Introdução. In: Gender and the Politics of History. Nova York, Columbia University Press, 1988.
sujeito, mas qual sujeito? E qual o estatuto da
sujeito, mas qual sujeito? E qual o estatuto da
declaração que anuncia seu passamento? O
declaração que anuncia seu passamento? O
que fala agora que o sujeito está morto? Que
que fala agora que o sujeito está morto? Que
há uma fala, parece claro, pois de que outro
há uma fala, parece claro, pois de que outro
modo a declaração poderia ser ouvida? Assim,
modo a declaração poderia ser ouvida? Assim,
fica claro que a morte do
fica claro que a morte do sujeito não é o fim dasujeito não é o fim da
capacidade de agir, do discurso, ou do deba-
capacidade de agir, do discurso, ou do deba-
te político. Há o refrão que, justamente agora,
te político. Há o refrão que, justamente agora,
quando as mulheres começam a assumir o lu-
quando as mulheres começam a assumir o lu-
gar de sujeitos, as posições pós-modernas che-
gar de sujeitos, as posições pós-modernas che-
gam para anunciar que o sujeito está morto (há
gam para anunciar que o sujeito está morto (há
uma diferença entre posições do
uma diferença entre posições do pós-estrutura-pós-estrutura-
lismo, que afirmam que o sujeito nunca existiu,
lismo, que afirmam que o sujeito nunca existiu,
e posições pós-modernas que sustentam que o
e posições pós-modernas que sustentam que o
sujeito outrora teve integridade, mas não a
sujeito outrora teve integridade, mas não a temtem
mais). Algumas vêem isso como uma conspira-
mais). Algumas vêem isso como uma conspira-
ção contra as mulheres e outros grupos priva-
ção contra as mulheres e outros grupos priva-
dos de direitos que só agora começam a falar
dos de direitos que só agora começam a falar
em sua própria defesa. Mas o que se
em sua própria defesa. Mas o que se quer dizerquer dizer
exatamente com isso e como damos conta das
exatamente com isso e como damos conta das
críticas muito fortes do sujeito como instru-
críticas muito fortes do sujeito como instru-
mento da hegemonia imperialista ocidental te-
mento da hegemonia imperialista ocidental te-
orizado por Gloria Anzaldua
orizado por Gloria Anzaldua1212, Gayatri Spivak , Gayatri Spivak 1313 e vários teóricos do pós-colonialismo? Temos
e vários teóricos do pós-colonialismo? Temos
aqui certamente uma advertência de que na
aqui certamente uma advertência de que na
luta pela emancipação e democratização po-
luta pela emancipação e democratização po-
demos adotar os modelos de dominação pelos
demos adotar os modelos de dominação pelos
quais fomos oprimidas, não percebendo que
quais fomos oprimidas, não percebendo que
um modo da
um modo da dominação funcionar é mediantedominação funcionar é mediante
a regulação e produção de sujeitos. Por meio
a regulação e produção de sujeitos. Por meio
de que exclusões se construiu o sujeito feminis-
de que exclusões se construiu o sujeito feminis-
ta e como esses domínios excluídos retornam
ta e como esses domínios excluídos retornam
para assombrar a “integridade” e a “unidade” do
para assombrar a “integridade” e a “unidade” do
“nós” feminista? E como é possível que a pró-
“nós” feminista? E como é possível que a pró-
pria categoria, o sujeito, o “nós”, que deveria ser
pria categoria, o sujeito, o “nós”, que deveria ser
presumido com o propósito da solidariedade,
presumido com o propósito da solidariedade,
produza a facciosidade que deveria liquidar?
produza a facciosidade que deveria liquidar?
Querem as mulheres tornar-se sujeitos com
Querem as mulheres tornar-se sujeitos com
base no modelo que exige e
base no modelo que exige e produz uma regiãoproduz uma região
12
12 ANZALDUA, ANZALDUA, Gloria Gloria La La Frontera/ Frontera/ Borderlands. Borderlands. SanSan
Francisco, Spinsters Ink, 1988.
Francisco, Spinsters Ink, 1988.
13
13 SPIVAK, SPIVAK, Gayatri. Gayatri. Can Can the the Subaltern Subaltern Speak? Speak? In: In: NELSONNELSON
e GROSSBERG. (eds.) Marxism and the Interpretation of Culture.
e GROSSBERG. (eds.) Marxism and the Interpretation of Culture.
Chicago, University of Illinois Press, 1988.
Chicago, University of Illinois Press, 1988.
anterior de degradação, ou deve o feminismo
anterior de degradação, ou deve o feminismo
tornar-se um processo que é auto-crítico sobre
tornar-se um processo que é auto-crítico sobre
os processos que produzem e desestabilizam
os processos que produzem e desestabilizam
categorias de identidade? Tomar a construção
categorias de identidade? Tomar a construção
do sujeito como uma
do sujeito como uma problemática política nãoproblemática política não
é a mesma coisa que
é a mesma coisa que acabar com o sujeito; des-acabar com o sujeito; des-
construir o sujeito não é negar ou jogar fora o
construir o sujeito não é negar ou jogar fora o
conceito; ao contrário, a desconstrução implica
conceito; ao contrário, a desconstrução implica
somente que suspendemos todos os compro-
somente que suspendemos todos os compro-
missos com aquilo a que o termo “o sujeito” se
missos com aquilo a que o termo “o sujeito” se
refere, e que examinamos as funções linguísti-
refere, e que examinamos as funções linguísti-
cas a que ele serve na consolidação e oculta-
cas a que ele serve na consolidação e oculta-
mento da autoridade. Desconstruir não é negar
mento da autoridade. Desconstruir não é negar
ou descartar, mas pôr em questão e, o que tal-
ou descartar, mas pôr em questão e, o que tal-
vez seja mais importante, abrir um termo, como
vez seja mais importante, abrir um termo, como
sujeito, a uma reutilização e uma
sujeito, a uma reutilização e uma redistribuiçãoredistribuição
que anteriormente não estavam
que anteriormente não estavam autorizadas.autorizadas.
No feminismo, parece haver uma necessi-
No feminismo, parece haver uma necessi-
dade política de falar enquanto mulher e pelas
dade política de falar enquanto mulher e pelas
mulheres, e não vou contestar essa necessida-
mulheres, e não vou contestar essa necessida-
de. Esse é certamente o modo como a política
de. Esse é certamente o modo como a política
representativa funciona e, neste país, os esfor-
representativa funciona e, neste país, os esfor-
ços de lobby são vir
ços de lobby são virtualmente impossíveis semtualmente impossíveis sem
recorrer à política de
recorrer à política de identidade. Assim, concor-identidade. Assim, concor-
damos que
damos que manifestaçõesmanifestações, esforços legislativos, esforços legislativos
e movimentos radicais precisam fazer reivindi-
e movimentos radicais precisam fazer reivindi-
cações em nome das
cações em nome das mulheres.mulheres.
Mas essa necessidade precisa ser recon-
Mas essa necessidade precisa ser recon-
ciliada com uma outra. No instante em que se
ciliada com uma outra. No instante em que se
invoca a categoria mulheres como descreven-
invoca a categoria mulheres como descreven-
do a clientela pela qual o feminismo fala, come-
do a clientela pela qual o feminismo fala, come-
ça invariavelmente um debate interno sobre o
ça invariavelmente um debate interno sobre o
conteúdo descritivo do termo. Há quem afirme
conteúdo descritivo do termo. Há quem afirme
haver uma especificidade ontológica das mu-
haver uma especificidade ontológica das mu-
lheres enquanto mães que forma a base de um
lheres enquanto mães que forma a base de um
interesse específico legal e político na repre-
interesse específico legal e político na repre-
sentação; há outras que entendem a materni-
sentação; há outras que entendem a materni-
dade como uma relação social que é, nas atuais
dade como uma relação social que é, nas atuais
circunstâncias sociais, a situação específica das
circunstâncias sociais, a situação específica das
mulheres, comum em todas as culturas. E há
mulheres, comum em todas as culturas. E há
aquelas que recorrem a Gilligan e outras para
aquelas que recorrem a Gilligan e outras para
estabelecer uma especificidade feminina que
se manifesta nas comunidades ou modos de
se manifesta nas comunidades ou modos de
conhecer das mulheres. Mas cada vez que
conhecer das mulheres. Mas cada vez que essaessa
especificidade é articulada, há resistência e for-
especificidade é articulada, há resistência e for-
mação de facções dentro da própria clientela
mação de facções dentro da própria clientela
que está supostamente unificada pela articu-
que está supostamente unificada pela articu-
lação de seu elemento comum. No começo da
lação de seu elemento comum. No começo da
década de 1980, o “nós” feminista foi atacado
década de 1980, o “nós” feminista foi atacado
com justiça pelas mulheres de cor que diziam
com justiça pelas mulheres de cor que diziam
que aquele “nós” era invariavelmente branco e
que aquele “nós” era invariavelmente branco e
que em vez de solidificar o movimento, era a
que em vez de solidificar o movimento, era a
própria fonte de uma dolorosa divisão. O
própria fonte de uma dolorosa divisão. O esfor-esfor-
ço para caracterizar uma especificidade femi-
ço para caracterizar uma especificidade femi-
nina recorrendo à maternidade, seja biológica
nina recorrendo à maternidade, seja biológica
ou social, produz uma formação de facções se-
ou social, produz uma formação de facções se-
melhante e até uma rejeição completa do femi-
melhante e até uma rejeição completa do femi-
nismo, pois é certo que nem
nismo, pois é certo que nem todas as mulherestodas as mulheres
são mães: algumas não podem sê-lo, algumas
são mães: algumas não podem sê-lo, algumas
são jovens ou velhas demais para sê-lo, outras
são jovens ou velhas demais para sê-lo, outras
escolhem não sê-lo, e para algumas que são
escolhem não sê-lo, e para algumas que são
mães, esse não é necessariamente o ponto cen-
mães, esse não é necessariamente o ponto cen-
tral de sua
tral de sua politização no feminismo.politização no feminismo.
Eu diria que qualquer esforço para dar
Eu diria que qualquer esforço para dar
conteúdo universal ou específico à categoria
conteúdo universal ou específico à categoria
mulheres, supondo-se que essa garantia de
mulheres, supondo-se que essa garantia de
solidariedade é exigida de antemão, produzi-
solidariedade é exigida de antemão, produzi-
rá necessariamente facções e que a “identida-
rá necessariamente facções e que a “identida-
de” como ponto de partida jamais se sustenta
de” como ponto de partida jamais se sustenta
como base sólida de um movimento político
como base sólida de um movimento político
feminista. As categorias de identidade nunca
feminista. As categorias de identidade nunca
são meramente descritivas, mas sempre nor-
são meramente descritivas, mas sempre nor-
mativas e como tal, exclusivistas. Isso não quer
mativas e como tal, exclusivistas. Isso não quer
dizer que o termo “mulheres” não deva ser usa-
dizer que o termo “mulheres” não deva ser usa-
do, ou que devamos anunciar a morte da cate-
do, ou que devamos anunciar a morte da cate-
goria. Ao contrário, se o feminismo pressupõe
goria. Ao contrário, se o feminismo pressupõe
que “mulheres” designa um campo de diferen-
que “mulheres” designa um campo de diferen-
ças indesignável, que não pode ser totalizado
ças indesignável, que não pode ser totalizado
ou resumido por uma categoria de identidade
ou resumido por uma categoria de identidade
descritiva, então o próprio termo se torna um
descritiva, então o próprio termo se torna um
lugar de permanente abertura e
lugar de permanente abertura e re-significação.re-significação.
Eu diria que os rachas entre as mulheres a res-
Eu diria que os rachas entre as mulheres a res-
peito do conteúdo do termo devem ser preser-
peito do conteúdo do termo devem ser preser-
vados e valorizados, que esses rachas constan-
vados e valorizados, que esses rachas constan-
tes devem ser afirmados como o fundamento
tes devem ser afirmados como o fundamento
infundado da teoria feminista. Desconstruir o
infundado da teoria feminista. Desconstruir o
sujeito do feminismo não é, portanto, censurar
sujeito do feminismo não é, portanto, censurar
sua utilização, mas, ao contrário, liberar o termo
sua utilização, mas, ao contrário, liberar o termo
num futuro de múltiplas significações, emanci-
num futuro de múltiplas significações, emanci-
pá-lo das ontologias maternais ou racistas às
pá-lo das ontologias maternais ou racistas às
quais esteve restrito e fazer dele um
quais esteve restrito e fazer dele um lugar ondelugar onde
significados não antecipados podem emergir.
significados não antecipados podem emergir.
Paradoxalmente, pode acontecer que so-
Paradoxalmente, pode acontecer que so-
mente mediante a liberação da categoria mu-
mente mediante a liberação da categoria mu-
lheres de um referente fixo se torne possível
lheres de um referente fixo se torne possível
algo parecido com “capacidade de agir”. Pois
algo parecido com “capacidade de agir”. Pois
se o termo permite uma re-significação, se o
se o termo permite uma re-significação, se o
referente não é fixo, então se tornam possíveis
referente não é fixo, então se tornam possíveis
possibilidades de novas configurações. Em cer-
possibilidades de novas configurações. Em cer-
to sentido, o que mulheres significa foi dado
to sentido, o que mulheres significa foi dado
como certo durante tempo demais e o que foi
como certo durante tempo demais e o que foi
determinado como “referente” do termo foi “fi-
determinado como “referente” do termo foi “fi-
xado”, normalizado, imobilizado, paralisado em
xado”, normalizado, imobilizado, paralisado em
posições de subordinação. Com efeito, o signifi-
posições de subordinação. Com efeito, o signifi-
cado foi fundido com o referente, de tal forma
cado foi fundido com o referente, de tal forma
que um conjunto de significados foi levado a ser
que um conjunto de significados foi levado a ser
inerente à natureza real das próprias mulheres.
inerente à natureza real das próprias mulheres.
Refundir o referente como o significado e autori-
Refundir o referente como o significado e autori-
zar ou salvaguardar a categoria mulheres como
zar ou salvaguardar a categoria mulheres como
lugar de re-significações possíveis é expandir as
lugar de re-significações possíveis é expandir as
possibilidades do que significa ser uma mulher
possibilidades do que significa ser uma mulher
e, nesse sentido, dar condições para e permitir
e, nesse sentido, dar condições para e permitir
uma capacidade de agir realçada.
uma capacidade de agir realçada.
Alguém pode perguntar: mas não deve
Alguém pode perguntar: mas não deve
haver um conjunto de normas que discrimine
haver um conjunto de normas que discrimine
entre as descrições que devem e que não de-
entre as descrições que devem e que não de-
vem aderir à categoria mulheres? A única res-
vem aderir à categoria mulheres? A única res-
posta a essa questão é uma contra-questão:
posta a essa questão é uma contra-questão:
quem estabeleceria essas normas e que con-
quem estabeleceria essas normas e que con-
testações elas produziriam? Estabelecer um
testações elas produziriam? Estabelecer um
fundamento normativo para resolver a questão
fundamento normativo para resolver a questão
do que deveria ser propriamente incluído na
do que deveria ser propriamente incluído na
descrição de mulheres seria somente e sem-
descrição de mulheres seria somente e sem-
pre produzir um novo lugar de disputa políti-
pre produzir um novo lugar de disputa políti-
ca. Esse fundamento não resolveria nada, mas
ca. Esse fundamento não resolveria nada, mas
afundaria necessariamente em seu próprio es-
afundaria necessariamente em seu próprio es-
tratagema autoritário. Isso não quer dizer que
não há fundamento, mas sempre que há um,
não há fundamento, mas sempre que há um,
haverá sempre um afundamento, uma contes-
haverá sempre um afundamento, uma contes-
tação. Que esses fundamentos existam apenas
tação. Que esses fundamentos existam apenas
para serem questionados é o
para serem questionados é o risco permanenterisco permanente
do processo de democratização. Recusar essa
do processo de democratização. Recusar essa
disputa é sacrificar o ímpeto democrático ra-