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Capítulo 2 Fundamentação Teórica

V. Portadores de necessidades especiais múltiplas

2.4 Estado da arte da avaliação de sistemas Web

Com a concepção de guias de acessibilidade, os projetistas de sistemas Web passaram a entender melhor as reais necessidades dos usuários, inclusive daqueles que possuem algum tipo de necessidade especial. Neste contexto, de acordo com o Tangarife e Mont’Alvão (2005), o processo de avaliação deve ser realizado mediante a revisão por especialistas humanos, a partir de ferramentas automáticas. Porém, coloca-se em dúvida a completude destes métodos de avaliação, uma vez que as ferramentas automáticas são rápidas, mas não conseguem cobrir todas as nuances da acessibilidade. Por sua vez, a revisão humana é capaz de perceber detalhes que não são detectados de forma automática, e.g., a clareza da linguagem e a facilidade de navegação. Todavia, a probabilidade de falhas aumenta, já que a responsabilidade é concentrada no especialista.

Constata-se, na literatura da área, que ainda não há uma metodologia consolidada e tida como padrão universal para a avaliação de sistemas Web. Várias abordagens foram propostas, dentre as quais mencionem-se o uso de navegadores gráficos e textuais, a validação automática da linguagem de marcação, a verificação de acessibilidade por ferramentas semi-automáticas e a avaliação com usuários com diferentes habilidades ou necessidades especiais (Melo, Baranauskas e Bonilha, 2004).

Em um estudo recente, Almeida e Baranauskas (2010) propuseram um arcabouço de software com o objetivo de melhorar o nível de avaliação da acessibilidade de sistemas Web. A abordagem proposta consiste na criação de uma ferramenta automática que une princípios do projeto universal, de algumas diretrizes do WCAG e recomendações do padrão internacional ISO 9241. A partir de um estudo de caso, os autores verificaram contribuições significativas a

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respeito do número e qualidade das questões de acessibilidade identificadas.

Em outro estudo, Ferreira et. al (2010) apresentou o resultado da avaliação da acessibilidade de um determinado website. A metodologia utilizada foi baseada em testes automáticos e análise de desempenho de um grupo de cinco usuários.

Por sua vez, Silva et. al (2010) apresentaram um estudo no qual a metodologia de avaliação proposta baseou-se na conformidade às diretrizes do WCAG, às heurísticas de Tanaka (2009) e às heurísticas de acessibilidade da IBM (2008) além da realização de testes envolvendo um grupo de quatro usuários, portadores de tipos diversos de necessidades especiais.

As heurísticas de Tanaka, sumariadas a seguir, são regras que auxiliam na descoberta de problemas de acessibilidade de sistemas Web:

(i) Suporte a diferentes entradas e saídas; (ii) Conteúdo para todos os usuários; (iii) Independência de uso;

(iv) Respeito às preferências dos usuários; e (v) Eficiência em navegação alternativa.

Por sua vez, as heurísticas definidas pelo Centro de Acessibilidade e Habilidade Humana da IBM (2008) são as seguintes:

(i) Prover alternativas significativas e relevantes aos elementos não textuais;

(ii) Dar suporte consistente e correto à navegação por tags; (iii) Permitir uso completo e eficiente do teclado;

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(iv) Respeitar as configurações do navegador do usuário;

(v) Garantir uso apropriado de controles proprietários e padrões; (vi) Não confiar apenas em cores para codificação e distinção; (vii) Permitir aos usuários o controle de potenciais distrações; (viii) Permitir aos usuários entender e controlar limites de tempo;e

(ix) Garantir que o conteúdo do website é compatível com tecnologias assistivas.

Barbosa et. al (2010) propuseram uma abordagem de avaliação dividida em quatro etapas: avaliação automática de acordo com o WCAG 1.0, inspeção de especialista, avaliação com usuários e análise de relatórios gerados pelas etapas anteriores.

Na metodologia, a etapa de avaliação com usuários contou com a participação de três indivíduos com necessidades especiais visuais.

Santana et. al (2010) disponibilizaram os resultados da avaliação da acessibilidade realizada no website da Receita Federal. Na metodologia adotada, os autores utilizaram ferramentas automáticas, heurísticas de usabilidade e análise do desempenho com a participação de seis usuários.

Os indivíduos envolvidos no processo de avaliação possuíam diferentes limitações físicas ou eram pouco familiarizados com tecnologias Web.

Galan, Usero e Mendez (2009) também apresentaram uma abordagem que utiliza os métodos de validação automática de padrões, inspeção de conformidade por especialistas e testes com usuários reais.

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Por fim, Dias et. al (2010) disponibilizaram um estudo no qual destacaram que as pesquisas acerca da acessibilidade à Web crescem no cenário computacional.

Porém, a maioria dos estudos realizados, as iniciativas limitam- se a solucionar problemas específicos de acessibilidade, não abordando a inclusão de acessibilidade em diversas fases do processo de construção do software.

A realização de testes de usabilidade para cobrir questões referentes à acessibilidade é encorajada pela Iniciativa de Acessibilidade da Web (WAI).

Nesse contexto, Abascal et al. (2006) afirmam que a avaliação de sistemas Web pode ser realizada a partir de diversos métodos. Contudo, para que seja considerado eficiente, o procedimento deve ser composto por uma revisão por especialistas, por um processo de validação automática e por testes com usuários reais.

Porém, constata-se atualmente que diversos processos de desenvolvimento de sistemas Web resultam em produtos com baixo nível de acessibilidade, fato justificado pela mentalidade dos projetistas focarem apenas em um processo de validação automática baseada em guias de padrões.

Percebe-se que, mesmo quando usuários com necessidades especiais são incluídos no processo de avaliação, o número de indivíduos utilizados é pequeno, fato este que diminui a confiança nos resultados obtidos.

No Quadro 1, pode-se visualizar o resumo das metodologias estudadas e suas principais características.

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Quadro 1 - Resumo das metodologias estudadas.

Metodologias Principais Características

Almeida e Baranauskas (2010) Foco na inspeção da conformidade a partir de ferramenta automática a algumas diretrizes do WCAG 1.0 e recomendações do padrão ISO 9241.

Ferreira et. al (2010) Foco na inspeção da conformidade a partir de ferramenta automática e análise de desempenho de um grupo de cinco usuários.

Silva et. al (2010)

Foco na inspeção da conformidade às diretrizes do WCAG 1.0, às heurísticas de Tanaka (2009) e às heurísticas de acessibilidade da IBM (2008) além de testes com quatro usuários, portadores de tipos diversos de necessidades especiais.

Barbosa et. al (2010)

Foco na inspeção da conformidade a partir de ferramenta automática às diretrizes do WCAG 1.0, inspeção de especialista, avaliação com três usuários e análise de relatórios gerados pelas etapas anteriores.

Santana et. al (2010)

Foco na inspeção da conformidade a partir de ferramenta automática às diretrizes do WCAG 1.0, heurísticas de usabilidade e análise do desempenho com a participação de seis usuários.

Galan, Usero e Mendez (2009)

Foco na inspeção da conformidade a partir de ferramenta automática às diretrizes do WCAG 1.0, inspeção de conformidade por especialistas e testes com usuários reais

Neste contexto, percebe-se que as metodologias expostas nesta seção limitam-se ora por terem foco apenas na validação automática, ora por realizarem testes com número baixo de usuários reais. Em relação ao número de usuários utilizados no processo de avaliação do produto, Nielsen (1993) afirmou que 80% dos problemas relacionados à usabilidade do produto podem ser descobertos com até cinco usuários. Porém, Faulkner (2003) concluiu, a partir de experimentos com 100 usuários, que os resultados obtidos com um número pequeno de participantes são pouco confiáveis.

Além disto, Faulkner (2003) também confirma a importância da seleção correta de participantes, já que estes devem possuir perfil

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semelhante aos usuários finais do produto avaliado.

Desta forma, a abordagem metodológica proposta neste documento, destaca-se das demais estudadas pelo foco tanto na inspeção da conformidade a padrões consensuais na área quanto na utilização de um número significativo de usuários reais. A abordagem metodológica é detalhada no Capítulo 3 deste documento.

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