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CAPÍTULO 3: HIERARQUIZAÇÃO

3.1 O Estado

O uso e menção do “Estado” abre margem para inúmeros questionamentos,

dúvidas e por vezes concepções deturpadas. Assim, como modo de clarificar e/ou

justificar seu uso, temos primeiramente de eliminar possíveis equívocos. Como trata

Silveira Filho (2009, p. 14) “a concepção vulgar de Estado significa ‘estágio’, ‘fase’, ou

‘maneira de ser’ ou de ‘se apresentar’.” Do latim significa ainda: modo de estar,

situação ou condição. Alcunhas que nada tem a ver com a temática estudada.

Voltando um pouco no tempo, nos deparamos com o forjar da alcunha hoje

adotada pelas formas de governo e países de modo geral. Assim, a ideia de “Estado”

com o decorrer do tempo foi sendo criada a partir da transição da própria humanidade

de sua condição de nômade até se aglomerarem em determinados espaços formando

comunidades, vilas, cidades e por fim países. Sua designação por assim dizer de algo

que se refere a todo e qualquer país soberano, bem como para se referir as

instituições que administram e gerem uma nação teve seu início por volta do século

XIII.

Como destaca Silveira Filho (2009) o conceito de “Estado” foi apresentado à

literatura científica por Maquiavel em sua consagrada obra “O Príncipe”, publicada em

1513. Nela, Maquiavel analisa as relações de poder que permeiam o Estado, o uso

da força, da opressão e do domínio que este exerce junto ao povo que por sua vez

sonha com liberdade, mas de igual modo anseia pelo poder.

o mundo sempre foi, de certa forma, habitado por homens que sempre têm paixões iguais; e sempre houve quem serve e quem ordena, e quem serve de má vontade e quem serve de boa vontade, e quem se rebela e se rende (MAQUIAVEL, 2000, p.165).

De modo breve, para Maquiavel a resposta para essa constante luta entre

Estado e o povo teria duas possíveis soluções, a primeira se refere a instituição de

um principado

33

a outra se refere a instituição de uma república. Essas duas

alternativas visariam o aliviamento dessa tensão e a imposição da ordem pelo Estado.

“O Principado seria necessário quando a situação fosse caótica, onde imperasse a

violência e a corrupção. Quando a situação estivesse sob controle, estabilizada, com

regeneração do corpo social, instaurar-se-ia a República” (SILVEIRA FILHO, 2009, p.

15).

Não se deve confundir a ideia de Estado com a de governo, logicamente,

entretanto um não exclui o outro, uma vez que um gere o outro. Vale aqui clarificar e

relembrar que a ideia de Estado engloba sua organização política, social e jurídica,

33Um principado refere-se a um território que é comandado por um príncipe. Não se confundindo com um reino, visto não possuir soberania ou por se tratar de um microestado.

seus elementos formadores como a população, o território e o governo, bem como

suas principais características, e aí entram em cena a soberania, a nacionalidade e a

finalidade. O governo por sua vez é a entidade que detêm soberania para dirigi-lo.

Para Max Weber o Estado seria ainda aquele responsável pela “violência

física legítima”, pois detêm o poder de usá-la visando o controle dos indivíduos dentro

de uma território, “o recurso específico, embora não o único do Estado foi, em todos

os tempos, a dominação baseada na violência física legítima, e que a política sempre

significa a luta por uma parte do poder político” (WEBER, 2003, p. 799).

A sociologia weberiana debruça-se assim sob a premissa de que o Estado

abrange não só os habitantes de um determinado território, mas as instituições

governamentais e administrativas que garantem seu funcionamento. Além disso seria

vital a existência de “instituições de repressão” a fim da manutenção da ordem.

Weber explica que a dominação do Estado se dá pelo uso do poder e

dominação. Em suma, pelo uso da força física, visando a coerção, adestramento e

punição de indivíduos que desafiam e ferem de algum modo as leis que regem o

território dirigido por este. Desse modo podemos entender a dominação citada por

Weber como: “a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado

conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis” (WEBER, 1999, v. 1, p. 33) e o

poder como: “toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social,

mesmo contra resistências” (WEBER, 1999, v. 1, p. 33).

A definição weberiana de poder, se debruça sobre as relações entre atores

ou um grupo de atores, dando destaque a dois aspectos essenciais e intrínsecos por

traz desse exercício de poder. O primeiro seria o objetivo que estes desejam alcançar

e o segundo diz respeito a sua capacidade de poder para fazer sua vontade prevalecer

e este vir a alcançar esse objetivo.

Assim, podemos entender o poder como a capacidade de impor sua própria

vontade, em uma relação social, mesmo encontrando resistência a esta, independente

das motivações dos atores envolvidos.

Podemos por fim entender que, na sociologia weberiana, o poder para ser

exercido, precisa ser legitimado, ou seja, reconhecido. A combinação de poder e

legitimidade, é o que dá autoridade e o que permite que relações de poder possam

existir.

Robert Dahl (1961) na obra “Who governs? Democracy and power in an

American city”, define o “poder”, como a capacidade de um único ator, ou um grupo,

"A" de modificar o comportamento de um ator ou um grupo "B", impondo, assim sua

vontade sobre este e, gerando dessa forma, um resultado esperado, ou inesperado

pelo ator ou grupo de atores "A".

Esse poder exercido de um ator ou grupo de atores sobre outros, pode se dar

por meio de ameaças, de modo coercitivo, a fim de que sua vontade reine sobre a

vontade dos demais. Entretanto, este ator(es) em seu exercício de poder precisa(m),

na grande maioria das vezes ocupar um cargo, ou uma posição de respeito

hierarquicamente, para que seu poder seja exercido.

Desse modo, as relações de dominação como disserta Álvaro Bianchi

manifestam-se como “administração”, ou seja “(...) ela necessita de um círculo de

pessoas que, interessadas em manter a dominação e acostumadas a obedecer às

ordens dos líderes, estejam permanentemente à disposição destes, encarregando-se

das funções ‘técnicas’.” (BIANCHI, 2014, p. 91).

Weber conceitua assim dizendo que o Estado “é aquela comunidade humana

que, dentro de determinado território – este, o ‘território’, faz parte de suas

características – reclama para si (com êxito) o monopólio da coação física legítima”

(WEBER, 1982, p. 98). Importante ressaltar que sob a ótica da sociologia Weberiana,

esta, nada mais é do que uma relação de dominação exercida de homens sobre

homens, em que aqueles em posições inferiores são os dominados e estes estariam

passíveis a dominação imposta por sujeitos em posição superior (em posição de

autoridade).