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Segundo Brandão e Fechio (1997), o humor é a tonalidade afetiva que acompanha os processos intelectuais (percepção, representações, conceitos) em determinado momento e que varia de acordo com as circunstâncias. Já Prapavessis e Grove (1998) consideram o humor uma parte do estado emocional, com duração longa o suficiente para ser percebido internamente, que envolve alguns tipos específicos de emoções, tanto positivas quanto negativas. O humor seria capaz de alterar nossas respostas comportamentais e cognitivas para uma grande ordem de eventos. Para Lopes (1999), humor é um estado emocional que é acompanhado de ocorrências fisiológicas, físicas e psicológicas, que influenciam na percepção, aprendizagem e desempenho.

O instrumento mais amplamente utilizado para avaliar os estados de humor em populações não-clínicas é o Perfil dos Estados de Humor (POMS) (PELUSO, 2003). Este instrumento foi desenvolvido inicialmente para avaliar as alterações afetivas transitórias de pacientes psiquiátricos em tratamento ambulatorial (McNair et al., 1971) e, posteriormente, adaptado e largamente utilizado em populações não- clínicas, e em atletas (PELUSO, 2003).

As facetas do humor avaliadas pelos POMS são tensão, depressão, raiva, fadiga, confusão mental e vigor. Com base em descrições de Lopes (1999), o fator Tensão é definido por uma alta tensão somática observada através de manifestações psicomotoras (agitado, tenso, nervosos, etc); o fator Depressão seria um estado depressivo acompanhado de sentimentos negativos, dificuldades de ajustamento social e tristeza (deprimido, triste, sozinho); o fator Raiva indicaria apatia ou raiva de si mesmo e dos outros (bravo, irritado, genioso); o fator Vigor sugere um estado de energia, animação, disposição (animado, ativo, eficiente); o fator Fadiga representa um baixo nível de energia (esgotado, cansado, desanimado); o fator Confusão Mental caracteriza atordoamento (confuso, resmungão, desorientado). Mandelblatt et al. (2004) realizaram um trabalho de revisão sobre questionários para a avaliação de parâmetros não-médicos mais utilizados em mulheres com câncer de mama. Seus resultados apontaram o POMS como sendo um dos mais utilizados para avaliar estados de humor nessa população.

3.3.1 Alteração dos Estados de Humor em Mulheres com Câncer de Mama

Diversos são os estudos que mostram as alterações nos estados de humor comumente enfrentadas por indivíduos diagnosticados com câncer de mama. As alterações nos estados de humor nesses indivíduos poderiam ser causadas pelo diagnóstico, pelo receio em realizar exames e submeter-se ao tratamento, pela falta de informações sobre os resultados do tratamento, além do medo da morte, e das modificações nas relações sociais provocadas pela instalação da doença (TRIKAS et al., 2004; CARLSON; BULTZ, 2003; SADIN, et al., 2002; KIM et al., 2002).

Pinto et al. (2002) afirmam que mulheres com câncer de mama apresentam experiências constantes de estresse psicológico devido a sua condição, e que os estágios iniciais da doença apresentam níveis significantes de distresse somático, depreciação do eu, auto-imagem negativa, pobre imagem corporal, dificuldades psicossociais, fadiga e distúrbios de sono. As seqüelas psicológicas e emocionais do tratamento incluem depressão, ansiedade, diminuição da auto-estima, alterações negativas de humor, estresse entre outros (HAYES et al., 2004a; COURNEYA et al., 2000). Mulheres adultas jovens tendem a apresentar um risco maior de eventos distressantes do que idosas devido às alterações corporais causadas pelo câncer de mama e o tratamento (PINTO E TRUNZO, 2004).

Além das dificuldades psicossociais, as alterações nos estados de humor são fatores que também podem intervir no equilíbrio imunológico (ROSCOE et al., 2005; HAYES et al., 2003; KIECOLT-GLASER; GLASERB, 2002). Hernadez-Reif et al. (2004) afirmam que a depressão, a preocupação e o medo são estados psicológicos negativos comumente relatados em indivíduos acometidos pelo câncer e que estão associados à liberação de hormônios, como por exemplo, o cortisol, que provocam efeitos imunomodulatórios. Além deles, estados ansiosos prolongados podem ativar continuamente os eixos hipotálamo-pituitario-adrenal e simpato-adrenomedular, o que levaria a uma supressão imunitária, dificultando ainda mais o curso da doença. Mulheres portadoras de câncer de mama apresentam um alto risco de serem acometidas por depressão, apresentarem elevados níveis de ansiedade, distresse e raiva. E que essas alterações psicológicas têm sido correlacionadas a uma redução nas células natural killer (NK), sendo essas células importantes na defesa contra o

câncer (HERNADEZ-REIF et al., 2004). A severidade dos efeitos colaterais da radio e da quimioterapia está associada não somente a uma redução nas atividades da vida diária e na qualidade de vida, mas, também, ao distresse psicológico, elevação dos estados ansiosos, raiva e depressão (KIM et al., 2002).

O descondicionamento excessivo pode resultar numa diminuição da capacidade funcional, da independência, elevar a hipocinesia, aumentar o isolamento social e, por conseguinte, afetar os estados de humor dos indivíduos (OLDERVOLL et al., 2004). Roscoe et al. (2005) afirmam que a fadiga relacionada ao câncer é um efeito colateral relatado por cerca de 70% dos indivíduos submetidos à quimioterapia, e que as causas para esse estado são incertas. Porém uma das teorias que tenta explicá-la seria a de uma relação bi-direcional entre a depressão e a fadiga, podendo ser a fadiga um sintoma da depressão, ou a depressão ocorreria devido à interferência da fadiga na capacidade de trabalho, nas relações sociais e nas alterações dos estados de humor. Sugerem os autores, ainda, um caminho neural comum às duas disfunções, que envolveria a insuficiência de serotonina.

Brezden et al. (2000) analisaram pacientes com câncer de mama que já haviam completado e que estavam em fase de tratamento quimioterápico. Seus resultados não demonstraram diferenças nos estados de humor, avaliado através do POMS, para nenhum dos grupos tratados com quimioterapia nem para o grupo controle, mostrando não haver diferenças entre indivíduos saudáveis e aqueles acometidos pelo câncer de mama em fase de tratamento e após um ano de tratamento. Porém esse mesmo trabalho também concluiu que mulheres submetidas à quimioterapia apresentavam redução nas funções cognitivas quando comparadas a mulheres saudáveis, e que perduravam por até um ano após o final do tratamento. Apesar de haverem fortes evidências sobre a incidência de alterações dos estados de humor naqueles que sofrem de câncer, ainda não foi possível estabelecer se esse é um acontecimento universal e quais seriam os mecanismos que estariam efetivamente contribuindo para essas alterações. Não é possível afirmar, ainda, qual o nível de correlação entre as perdas físicas e o impacto nos estados de humor dessa população.

3.4 Relação entre a Potência Aeróbia e os Estados de Humor em Mulheres

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