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CAPÍTULO 3 – Leis tributárias de desagravamento fiscal

3.4 Benefícios fiscais – Estatuto dos Benefícios Fiscais e Código fiscal ao Investimento

3.4.1 Estatuto dos Benefícios Fiscais

Os benefícios fiscais existentes no sistema fiscal português permitem reduzir a carga fiscal do contribuinte e melhorar o desempenho económico-social, em linha com o que refere Gomes (2005), para quem “Os benefícios fiscais constituem derrogação das regras de tributação, traduzindo-se numa vantagem para o contribuinte e visando um objetivo económico-social”, bem como acordando com a ideia proposta por Mallard et al. (1994), para quem “O benefício fiscal consiste numa redução do lucro tributável conduzindo a uma redução do imposto. Deve ser distinguido de crédito de imposto que é uma redução direta do próprio imposto e que é reembolsável em alguns casos pela fração excedente do imposto devido inicialmente”.

O Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF) foi aprovado primeiramente no Decreto-Lei n.º 215/89 de 1 de julho, teve atualizações efetuadas pelo Decreto-Lei n.º 198/2001, de 3 de julho, Decreto- Lei n.º 108/2008, de 26 de Junho e a última alteração foi através do Decreto-Lei n.º 198/2012, de 24 de agosto.

O princípio subjacente à introdução da figura de benefício fiscal pode-se observar no preâmbulo do Decreto-Lei intrínseco à sua publicação, assim:

“(...) entendeu o Governo acolher princípios que passam pela atribuição aos benefícios fiscais de um carácter obrigatoriamente excecional, só devendo ser concedidos em casos de reconhecido interesse público; pela estabilidade, de modo a garantir aos contribuintes uma situação clara e segura; pela moderação, dado que as receitas são postas em causa com a concessão de benefício, quando o País tem de reduzir o peso do défice público e, simultaneamente, realizar investimentos em infraestruturas e serviços públicos.”

Desde logo importa destacar o denominado conceito de benefício fiscal e de despesa fiscal e respetivo controlo, constantes do artigo 2.º do EBF, assim:

“1 - Consideram-se benefícios fiscais as medidas de carácter excecional instituídas para tutela de interesses públicos extrafiscais relevantes que sejam superiores aos da própria tributação que impedem.

2 - São benefícios fiscais as isenções, as reduções de taxas, as deduções à matéria coletável e à coleta, as amortizações e reintegrações aceleradas e outras medidas fiscais que obedeçam às características enunciadas no número anterior.

3 - Os benefícios fiscais são considerados despesas fiscais, as quais podem ser previstas no Orçamento do Estado ou em documento anexo e, sendo caso disso, nos orçamentos das Regiões Autónomas e das autarquias locais.

4 - Para efeitos de controlo da despesa fiscal inerente aos benefícios fiscais concedidos, pode ser exigida aos interessados a declaração dos rendimentos isentos auferidos, salvo tratando-se de benefícios fiscais genéricos e automáticos, casos em que podem os serviços fiscais obter os elementos necessários ao cálculo global do imposto que seria devido.” Nota - Corresponde ao artigo 2.º, na redação do EBF que se encontrava em vigor previamente à republicação do mesmo pelo Decreto-Lei n.º 108/2008, de 26/06.

São diversas as formas de manifestação dos benefícios fiscais, que podem apresentar-se como isenções, reduções de taxas, deduções à matéria coletável e à coleta, amortizações e reintegrações aceleradas ou outras medidas fiscais.

É importante frisar que os benefícios fiscais não poderão ser utilizados sempre que o contribuinte deixar de efetuar o pagamento de impostos ou de contribuições para a segurança social.

3.4.1.1 Benefícios Fiscais de natureza social

Estes benefícios, consagrados no artigo 19.º (Criação de emprego) do EBF, podem ser considerados no âmbito de uma política ativa ao nível do mercado de trabalho. Funcionam como estímulo à criação líquida de postos de trabalho por parte das empresas, contribuindo para a estabilidade profissional dos jovens e para a estabilidade do mercado de trabalho.

A forma como estes benefícios se concretizam, de acordo com o mesmo articulado, é por via da permissão de contabilizar como custo do exercício, 150% do montante de encargos com a criação líquida de postos de trabalho (diferença positiva entre contratações elegíveis e saídas de trabalhadores) com jovens e empregados de longa duração, admitidos em tempo indeterminado, para o apuramento do lucro tributável dos sujeitos passivos de IRC e dos sujeitos passivos de IRS com contabilidade organizada.

O mesmo artigo identifica o que se entende por,

“Jovens”- os trabalhadores com idade superior a 16 e inferior a 35 anos, inclusive, aferida na data da celebração do contrato de trabalho, com exceção dos jovens com menos de 23 anos, que não tenham concluído o ensino secundário, e que não estejam a frequentar uma oferta de educação-formação que permita elevar o nível de escolaridade ou qualificação profissional para assegurar a conclusão desse nível de ensino; (Redação da Lei n.º10/2009-10/03)”

“Desempregados de longa duração” - os trabalhadores disponíveis para o trabalho, nos termos do Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3 de Novembro, que se encontrem desempregados e inscritos nos centros de emprego há mais de 9 meses, sem prejuízo de terem sido celebrados, durante esse período, contratos a termo por período inferior a 6 meses, cuja duração conjunta não ultrapasse os 12 meses; (Redação da Lei n.º10/2009-10/03).

Limita, ainda, o montante máximo de majoração é de 14 vezes a retribuição mínima mensal garantida.

3.4.1.2 Dedução por lucros de retidos e reinvestidos (DLRR)

Uma das funções do Estado é o da estabilização da economia e da redistribuição da riqueza, é natural por isso que implemente políticas económicas no sentido de incentivar o investimento para aumentar a produtividade da economia e a criação do emprego. Nesta perspetiva surge o novo Código Fiscal do Investimento (CFI) aprovado pelo Decreto-lei n.º 162/2014, de 31 de Outubro11 que contempla benefícios fiscais para a promoção da competitividade da economia

Portuguesa.

Para concretizar esse objetivo de incentivar ao investimento é introduzido no capítulo IV do CFI um regime de incentivos fiscais ao investimento em favor de pequenas e médias empresas, que permite a dedução à coleta do IRC de 10% dos lucros retidos que sejam reinvestidos, nos períodos de tributação que se iniciem em ou após 1 de Janeiro de 2014, em ativos elegíveis, no prazo de dois anos contados a partir do termo do período de tributação a que correspondam os lucros retidos, com o máximo de dedução anual de 25% da coleta do IRC, denominado de Dedução por Lucros Retidos e Reinvestidos (DLRR).

Apresenta-se abaixo uma simulação em sede de IRC com o benefício do DLRR, no quadro da reforma do IRC de 2014. Na verdade em termos de taxa efetiva de imposto temos um ganho de 6 pontos percentuais face à taxa nominal de IRC.

11 O Código Fiscal do Investimento aprovado pelo Decreto-Lei n.º 249/2009 de 23 de Setembro foi revogado, a partir de 05.11.2014, pelo Decreto-Lei n.º 162/2014, de 31 de Outubro.

Tabela 12:Simulação da tributação em sede de IRC com o benefício de dedução por lucros retidos e reinvestidos (DLRR) 2013 2014 Lucro tributável 1.000.000€ 1.000.000€ Prejuízos fiscais reportáveis Matéria coletável 1.000.000€ 1.000.000€ Taxa de IRC 25% 23% Coleta 250.000€ 230.000€ Benefício da DLLR - 500.000€12 Limite à coleta (DLLR) (25% da coleta) - 57.500€ Dedução à coleta - 57.500€ IRC a pagar 250.000€ 172.500€

Taxa efetiva de tributação 25% 17%

Fonte: Orçamento Estado 2014, PwC 2014

3.4.1.3 Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento

Empresarial (SIFIDE II)

No âmbito do CFI está consagrado um capítulo, o V, consubstanciando normativo destinado a incentivar o investimento em I&D, denominado SIFIDE II e que vigorará até 2020.

Nos termos do SIFIDE II, são dedutíveis à coleta, em determinadas condições, as despesas com investigação e desenvolvimento, nas seguintes percentagens:

 32,5% das despesas realizadas no exercício;

 50% do acréscimo das despesas do exercício relativamente à média dos 2 exercícios anteriores, até ao limite de 1.500.000€;

12

 A percentagem de 32,5% é majorada em 15% no caso de PME que não beneficiem da taxa incremental de 50% por não terem ainda completado 2 exercícios de atividade. Para serem contempladas as empresas deverão obter uma declaração comprovativa emitida por entidade nomeada pelo Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

3.4.1.4 Regime Fiscal de Apoio ao Investimento (RFAI)

Nesta secção dar-se-á conta de mais uma dedução à coleta no quadro do CFI constante do capítulo III, com o intuito de incentivar investimentos relevantes realizados nos exercícios de 2013 a 2017 em determinado imobilizado corpóreo e incorpóreo. O objetivo deste regime fiscal de apoio ao investimento, RFAI, é muito direcionado para investimento que visem a modernização e ganhos de competitividade ao nível de tecnologia, nomeadamente através da aquisição de direitos de patentes, licenças, know-how ou conhecimentos técnicos não protegidos por patente.

Nesse capítulo, prevê-se uma dedução à coleta, até à concorrência de 50% da mesma, para:  Investimentos até 5.000.000€, dedução de 25% do investimento relevante;

 Investimentos superiores a 5.000.000€, dedução de 10% do investimento relevante. A dedução que não possa ser efetuada integralmente por insuficiência de coleta, poderá sê-lo, nas mesmas condições, até ao quinto exercício seguinte.

A amplitude deste regime extravasa o âmbito do IRC, na medida em que se prevê, ainda, a concessão de isenções de IMI, IMT e Imposto do Selo relativamente a aquisição de prédios que constituam investimentos relevantes.

3.4.1.5 Benefícios Fiscais Contratuais ao Investimento Produtivo (BFC)

Mais uma medida contributiva para o desenvolvimento da economia portuguesa, agora direcionada para projetos de investimento, relevantes para o desenvolvimento dos sectores considerados de interesse estratégico para a economia nacional e para a redução das assimetrias regionais, que induzam a criação de postos de trabalho e que contribuam para impulsionar a inovação tecnológica e a investigação científica nacional. Refira-se, ainda, que as aplicações relevantes devem ser de montante igual ou superior a 3 000 000€.

Os benefícios fiscais contratuais que constituem esta medida estão consagrados no capítulo II do CFI, aí estabelece-se que até 31 de dezembro de 2020, podem ser concedidos benefícios fiscais, em regime contratual, com um período de vigência até 10 anos a contar da conclusão do projeto de investimento.

Aos projetos de investimento podem ser concedidos, cumulativamente, os seguintes benefícios fiscais:

“a) Crédito de imposto, determinado com base na aplicação de uma percentagem, compreendida entre 10 % e 25 % das aplicações relevantes do projeto de investimento efetivamente realizadas, a deduzir ao montante da coleta do IRC apurada nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 90.º do Código do IRC;

b) Isenção ou redução de IMI, durante a vigência do contrato, relativamente aos prédios utilizados pelo promotor no âmbito do projeto de investimento;

c) Isenção ou redução de IMT, relativamente às aquisições de prédios incluídas no plano de investimento e realizadas durante o período de investimento;

d) Isenção de Imposto do Selo, relativamente a todos os atos ou contratos necessários à realização do projeto de investimento.” Artigo 8.º do CFI