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Caso 2 – Venda de peças para automóveis

CAPÍTULO 4 – A coleta em sede de IRS versus coleta em sede de IRC

4.4 Casos práticos

4.4.3 Regime contabilidade organizada (IRS) versus Regime geral de determinação do

4.4.3.2 Caso 2 – Venda de peças para automóveis

Neste ponto o objetivo é refletir acerca da diferença (ou não) entre o sujeito passivo constituir uma sociedade unipessoal e ser tributado pelo regime geral de determinação do lucro tributável em sede de IRC ou optar por exercer a atividade como empresário em nome individual e seguir as regras do IRS relativamente a rendimentos de categoria B, supondo o regime de contabilidade organizada.

Para o efeito comecemos pela sociedade unipessoal (SUQ) tributada em sede de IRC que comercializa peças para automóveis, já apresentada na secção 4.4.2, no mesmo cenário de rendimentos decorrentes de vendas e gastos relativos às depreciações, custo das mercadorias vendidas (CMV), fornecimentos e serviços externos (FSE) e gastos com a remuneração do empresário. Para facilitar a comparação pretendida nesta secção, apresentamos novamente a tabela.

Tabela 22: A coleta no regime de contabilidade organizada em sede de IRC na sociedade

unipessoal

Regime contabilidade organizada (IRC) Valores

Rendimentos Vendas 100 000,00 € 100 000,00 € Gastos CMV 60 000,00 € FSE 7 000,00 €

Gastos com o pessoal 8 749,13€

Gastos de depreciação e amortização 8 624,95 €

84 374,08 €

Matéria Coletável 15 625,92 €

Coleta 2681,44€

Fonte: Elaboração própria

Observemos agora a mesma situação, mas na circunstância do empresário se apresentar estatuariamente como empresário em nome individual (ENI) e ter optado por se coletar em sede de IRS.

No regime de contabilidade organizada em IRS a remuneração do empresário foi excluída para efeitos de apuramento do rendimento coletável, uma vez que não é dedutível fiscalmente como já tinha sido mencionado anteriormente.

Tabela 23: A coleta no regime contabilidade organizada em sede de IRS na sociedade

unipessoal

Regime contabilidade organizada (IRS) Valores

Rendimentos Vendas 100.000,00 € 100.000,00 € Gastos CMV 60.000,00 € FSE 7.000,00 €

Segurança social do empresário 4079.04€25

Gastos de depreciação e amortização 8.624,95€

79.703.99 €

Rendimento Coletável (Cat. B) 20296.01 €

Coleta 4.829.52 €

Fonte: Elaboração própria

Neste caso, somando o valor da sobretaxa obtém-se o valor de 5292,43€. O valor adicional de solidariedade não se aplica uma vez que não obteve um rendimento coletável superior a 80.000,00€.

Confrontando as consequências de uma e de outra opção, entende-se que:

 A coleta obtida em sede de IRC é muito inferior à obtida em sede de IRS, uma vez que a taxa de IRC é proporcional enquanto as taxas em IRS são progressivas e para rendimentos elevados as taxas são igualmente altas. A taxa efetiva de imposto é de 17,2% em sede de IRC e de 26,1% em sede de IRS.

 A opção pelo exercício da atividade como empresário em nome individual (ENI), também acarreta o grande inconveniente do mesmo responder de forma ilimitada pelas dívidas contraídas no exercício da sua atividade perante os seus credores, com todos os

bens pessoais que integram o seu património e os do seu cônjuge (se casado num regime de comunhão de bens).

 Ao nível da segurança social, também, a circunstância do sujeito passivo, enquanto ENI ou gerente da SUQ, leva a diferentes formas de cálculo, como se verifica no quadro seguinte:

Tabela 24: Segurança social para ENI e gerente de Sociedade unipessoal por quotas Empresário em nome individual

ENI

Gerente da sociedade unipessoal por quotas SUQ

Segurança Social -Enquadrado como trabalhador independente, a taxa é de 34,75% conforme Lei 66-B/2012, de 31/12

(OE/2013), no Código

Contributivo.

A base de incidência será o correspondente a 20% do valor das vendas, ou seja, 20.000,00€.26

-Ficaria assim enquadrado no escalão 5, podendo optar por dois escalões imediatamente acima e dois escalões imediatamente abaixo.

-Escalão 5 significaria 437,04€ mensais, sendo o escalão 3 com o valor de 291.36€, o usado no exemplo.

-Enquadrado no regime contributivo dos trabalhadores por conta de outrem.

-Aplicação de uma taxa de 11% de retenção mais 23,75% de encargo para a sociedade, à remuneração ilíquida.

O que significaria 175,48€ mensais.

Fonte: Elaboração própria com base no Código dos regimes contributivos do Sistema

Previdencial de Segurança Social

26 A base de incidência seria o valor do lucro tributável se este fosse inferior a 70% valor total das prestações de serviço ou 20% do total dos rendimentos associados à venda de bens. Como se verifica o

 É certo que no caso da sociedade unipessoal o único sócio ao auferir o ordenado mínimo deverá querer transferir lucros da empresa para o próprio.

Assim sendo, após constituída a reserva legal e ultrapassadas as limitações relativas à distribuição de dividendos constantes no código das sociedades comerciais, esses lucros distribuídos constituem um rendimento de Categoria E, pela alínea H, do número 2, artigo 5.º do CIRS, e sofrem uma retenção na fonte a título definitivo à taxa liberatória de 28%.

No cenário apresentado não há dúvidas que se obteria uma menor coleta em IRC. Subjaz, no entanto, uma questão: se houvesse distribuição de lucros da empresa para a esfera particular, será que continuaria a ser mais vantajoso a sociedade unipessoal? Ora, havendo distribuição de lucros, o sócio único teria de pagar naturalmente a coleta da sociedade em sede IRC no valor de 2681,44€ e ainda o valor da taxa liberatória sobre os rendimentos de categoria E, de acordo com a alínea C do número 2 do artigo 71.º do CIRS. Daí decorrendo os resultados constantes da tabela 25.

Tabela 25: Total de impostos a pagar no caso de distribuição de lucros

Lucros a distribuir 12.944,48€27

Rendimento Cat. E 3.624,45€28

Total a pagar de impostos 6.305,45€29

Fonte: Elaboração Própria

No entanto, tendo em conta o articulado constante do,

“Artigo 40.º-A Dupla tributação económica

1 - Os lucros devidos por pessoas coletivas sujeitas e não isentas do IRC são, no caso de opção pelo englobamento, considerados em apenas 50 % do seu valor.”

O gerente da sociedade poderá optar por fazer o englobamento desses lucros recebidos, sendo apenas tributado em 50%. Este valor é incluído na declaração de rendimentos

27 15.625,92€-2.681,44€ 28 28%*12.944,48€ 29 2.681,44€+3.624,45€

junto com os rendimentos auferidos de outras categorias, neste caso o rendimento de categoria A, onde se incluir a remuneração recebida no âmbito do trabalho por conta de outrem proveniente da sociedade em causa. Neste caso o total de impostos a pagar viria:

Tabela 26: Total de impostos a pagar no caso de distribuição de lucros com opção de

englobamento

Lucros a distribuir 12.944,48€

Rendimento Cat. E 6472,24€30

Rendimento Cat. A 2966,00€31

Englobamento dos rendimentos 9438,24€

Coleta IRS 1.709,90€

Total de impostos a pagar 4.391,34€32

Fonte: Elaboração Própria

Na opção pelo englobamento, o valor dos impostos a pagar diminui substancialmente relativamente ao cenário de retenção à taxa liberatória de 28% dos lucros recebidos.  Agora, retomando a comparação inicial coloca-se a questão de saber se há vantagens

(ou não) no desenvolvimento da atividade de vendas de peças de automóveis através de uma sociedade unipessoal ou como empresário em nome individual. Temos, no caso da sociedade um valor de 2.681,44€ para a coleta (mais a sobretaxa) ou na eventualidade de distribuição de lucros, na totalidade, um valor a pagar de 4.391,34€ (na opção pelo englobamento) - ainda assim, seria inferior aos 4.829,52€ obtidos no caso de optar por exercer a atividade como empresário em nome individual.

 Posto tudo isto, neste caso a opção pela constituição de uma sociedade é a mais vantajosa, quer haja distribuição de lucros ou não.

30 12.944,48€*50%

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