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ESTILOS DE APRENDIZAGEM E PBL PARA PROMOÇÃO DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

Passo 6. Estudo individual dos assuntos levantados nos objetivos de aprendizado; Passo 7 Retorno ao grupo tutorial para rediscussão do problema frente aos novos

6.5. ESTILOS DE APRENDIZAGEM E PBL PARA PROMOÇÃO DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

Por conter forte motivação prática e estímulo cognitivo para gerar soluções colaborativas, criativas e a aplicação permanente de ações educativas que privilegiem os conhecimentos prévios dos estudantes, que promovam a pesquisa em grupo e que forjem um ambiente investigativo de aprendizagem, através do surgimento de dúvidas, construção de hipóteses e experimentações, a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) do inglês Problem Based Learning (PBL), tem sido uma ferramenta profícua utilizada para modificar os conceitos do ensino tradicional. Ela viabiliza a aprendizagem a partir de problemas ou situações, com o objetivo de gerar dúvidas, desequilíbrios (LINGE & PARSONS, 2006) ou perturbações intelectuais.

Da mesma forma, identificar e conhecer os Estilos de Aprendizagem é útil para classificar e analisar os comportamentos do aprendiz. São indicadores, relativamente estáveis de como os alunos percebem, interagem e respondem a seus ambientes de aprendizagem.

A Teoria dos Estilos de Aprendizagem (Kolb, 1984), que preconiza que existem diferentes formas de aprender e isso depende de como a realidade é percebida. As

aplicações provenientes desta, têm sido um significativo instrumento de conhecimento utilizado em grandes instituições e organizações empresariais, para a promoção da aprendizagem, pois, possibilita a compreensão do perfil de aprendizagem do aluno e futuros profissionais e assim faça uso das ferramentas, instrumentos e mediação adequados para a promoção do conhecimento, independente da área do saber.

A aplicação de teorias da aprendizagem no processo ensino-aprendizagem baseada em problemas não é tarefa trivial. Não há uma “chave mágica” capaz de garantir que todos os esforços na promoção da aprendizagem tenha êxito, pois, as situações de aprendizagem estão sempre associadas a contextos específicos que vão muito além das teorias e princípios. No entanto, isso não significa que o corpo de conhecimentos produzidos sobre o processo ensino aprendizagem não deva ser considerado e, principalmente, que não se possa fornecer subsídios para orientar a construção de ações pedagógicas eficazes.

É em função da natureza complexa do referido processo, que será lançado mão da fundamentação teórica construída nas áreas em questão para a construção do desenho pedagógico da metodologia de acompanhamento da formação de discentes para o desenvolvimento de sistemas computacionais e soluções tecnológicas aplicadas à saúde. O referido desenho tem como ponto de partida a compreensão de LeFever (2003), que em sua obra Estilos de Aprendizagem (2002), compartilha práticas pedagógicas indicadas a cada estilo de aprendizagem.

LeFever compreende que toda aprendizagem eficaz segue um processo natural que inicia a partir dos sentimentos, necessidades e conhecimentos prévios do aprendiz, passando pelo contato com problemas reais, seguindo com o acolhimento de novos conhecimentos relacionados às situações problemáticas reais e finalizando com a criação de novos conhecimentos e soluções. Este processo é denominado “ciclo de aprendizagem”.

Segundo LeFever (2003), cada aprendiz tende a sentir-se mais confortável com uma determinada etapa deste ciclo. No entanto, para uma aprendizagem eficaz eles terão que passar por todas as etapas do ciclo. LeFever afirma que “não se trata somente de que cada pessoa tem mais afinidade com um estilo em particular, mas sim, que cada estilo contribui para o processo de aprendizagem total (2003, p.26, tradução nossa). Afirma ainda LeFever (2003), que a compreensão do ciclo de aprendizagem e das características dos alunos correspondentes aos diferentes estilos de aprendizagem, possibilita a criação de melhores condições para o ensino de qualquer conteúdo.

Para isso é necessário que todos os alunos, com seus diferentes estilos de aprendizagem, participem do processo como um todo e não apenas daquela etapa na qual melhor se ajustam. Essa compreensão do processo de aprendizagem assemelha-se à concepção de Kolb (1984) no que se refere a aposta na existência de um ciclo de aprendizagem pelo qual todo aprendiz deve passar.

Segundo Kolb (1984), a aprendizagem eficaz é um processo experimental de natureza cíclica, dividido em quatro estágios. Ou seja, o ciclo de aprendizagem passa pelas seguintes fases: experiência concreta, observação reflexiva, conceitualização abstrata e experimentação ativa. São formas como captamos a informação e a transformamos. Estas formas de aprender podem evoluir para padrões estáveis denominados por Kolb (1984) de “estilos”, os quais caracterizam o modo específico de cada aprendiz. A experiência individual de cada aprendiz faz com que ele desenvolva mais um determinado estilo de aprendizagem do que outro.

Com base nesta compreensão Kolb (1984) destacou os seguintes estilos de aprendizagem: Acomodador, cujo foco é a execução/experimentação; divergente, cujo ponto forte é a imaginação (confronta as situações a partir de diversas perspectivas); assimilador, cuja ferramenta de trabalho é a indução, criando leis gerais/modelos teóricos; convergente, cujo ponto central é aplicação prática de ideias.

Por sua vez Huney e Mumford (1986), baseados nos estudos de Kolb (1984), elaboraram o Learning Styles Questionnaire (LSQ) cujo objetivo era identificar a tendência geral de um comportamento pessoal. Queriam descobrir porquê, em um ambiente institucional, algumas pessoas expostas às mesmas condições conseguem aprender e outras não. Desta forma, concluíram, assim como Kolb (1984) que a aprendizagem acontece de forma cíclica e que existem quatro preferências de aprendizagem às quais denominaram: Ativo, Reflexivo, Teórico e Pragmático, conforme figura 3.

Figura 3 - Ciclo de Aprendizagem conforme Huney e Mumford

Fonte: Huney e Mumford (1986)

Segundo Huney e Mumford (1986), os estilos ou preferências de aprendizagem possuem as seguintes características de perfil:

Ativo - São aprendizes que valorizam os dados da experiência, entusiasma-se com tarefas novas e são muito ágeis. Sabem apreciar o momento que vivenciam e alegram-se quando estão envolvidos em atividades atuais. Tendem a agir primeiro e a posteriori avaliam as consequências. São pessoas bastante ativas e costumam lidar com problemas usando o brainstorming. Sentem-se desafiados por novas experiências, desde que a sua concretização não seja muito longa. Quando se percebem perdendo a empolgação por uma atividade, vão em busca de outra que lhes agregue o mesmo valor. São criativos, inventivos, inovadores, comunicativos, líderes, participativos, gostam de aprender e de solucionar problemas.

Reflexivo - São aprendizes que atualizam dados, estudam, refletem e analisam. Distanciam-se para observar e refletir sobre as experiências a partir de diferentes perspectivas. Eles coletam dados, tanto em primeira mão como de outras pessoas, e refletem sobre eles, antes de formular e propor alguma conclusão. Para eles, o processo de coleta de informação é o mais interessante e por isto, tendem a adiar a elaboração da conclusão pelo maior tempo possível. São cautelosos, ponderados, analisam diversos ângulos e respectivas implicações, antes de tomarem alguma atitude. Sentam-se no fundo em reuniões e em ambientes de discussão. Gostam de observar pessoas agindo. Ouvem atentamente aos outros e compreendem o que está sendo discutido antes de se

pronunciar. São discretos, tolerantes, serenos e mantém um ar levemente distante. Quando agem, consideram o quadro geral, o passado, presente, as observações de terceiros assim como as suas. São conscientes, ponderados, receptivos, recompiladores, pacientes, cuidadosos, detalhistas, prudentes, registrador de dados, investigativo.

Teórico - São aprendizes lógicos, estabelecem teorias, princípios, modelos, buscam a estrutura e sintetizam. Adaptam e integram observações teóricas complexas de forma lógica. Raciocinam de modo lógico, linear e por etapas. Conseguem relacionar fatos aparentemente desconexos para a maioria, formando constructos teóricos coerentes. Tendem a ser perfeccionistas e não descansam até que as coisas estejam em ordem, e façam sentido dentro de um esquema racional. Gostam de analisar e sintetizar. Interessam-se por pressupostos básicos, princípios, teorias, modelos e pensamentos sistêmicos. Prezam a racionalidade e a lógica. Buscam o sentido das coisas e como elas se relacionam. Tendem a ser analíticos e a se dedicarem à objetividade racional ao invés da subjetividade e ambiguidade. Abordam problemas sempre de forma lógica. Buscam certezas e sentem-se desconfortáveis com julgamentos subjetivos, divagações e irreverências. São disciplinados, sistemáticos, sintéticos, metódicos, críticos, não trabalham sem planejamento e cronograma.

Pragmático - São aprendizes que gostam de testar idéias, teorias e técnicas para examinar o seu funcionamento na prática. Gostam de viabilizar situações, agem com rapidez e confiança quando estão atraídos por uma nova idéia. São impacientes em discussões longas, prolixas e inconclusas. São essencialmente práticos, realistas e gostam de tomar decisões e resolver problemas com objetividade. Encaram problemas e oportunidades como desafios. São técnicos, ágeis, decididos, objetivos, organizados, gostando de resolver problemas e aplicar o que aprenderam.

Figura 4 - Os estilos de aprendizagem fazendo interface com a aprendizagem baseada em problemas. Ciclo de Aprendizagem de Acordo com Kolb em interseção com Huney e Mumford em interface com o

PBL

Fonte: Autoria própria

Ademais, em 1992, mobilizada pela a preocupação de colaborar para a melhoria da qualidade do processo de ensinamento e aprendizagem, Catalina Alonso, professora e pesquisadora da Universidade da Espanha, apropriando-se do instrumento LSQ, realizou adaptações para que fosse possível de ser empregado em investigações sobre estilos de aprendizagem, em âmbito acadêmico. A versão adaptada e traduzida para o espanhol foi chamada de Cuestionario Honey-Alonso sobre Estilos de Aprendizaje (CHAEA), também usado na Escola de Programação como ferramenta de apoio à aprendizagem. A autora realizou uma pesquisa onde reuniu respostas de 1.371 estudantes de diferentes universidades e faculdades espanholas (RINCÓN et al, 2008). Desta maneira, os estilos de aprendizagem podem ser desenvolvidos na medida em que o aprendiz tome consciência da maneira pela qual ele aprende e selecione o estilo que mais favorece a sua aprendizagem (REVILLA, 1999, COFFIELD et al, 2004).

Por este prisma, Felder e Silverman (1988) acrescentam que há estudantes que preferem aprender por meio de formas visuais de informação, enquanto outros preferem formatos verbais, respaldados nas escritas, e há ainda aqueles que preferem aprender de

maneira ativa e interativamente, quando outros trabalham mais introspectivamente e individualmente (MIRANDA; MORAIS, 2008).

Assim, se os professores conhecerem os pontos fortes e pontos fracos de aprendizagem dos estudantes, poderão responder adequadamente a elas e, por consequência, o aproveitamento dos estudantes tende a se elevar, as taxas de retenção tendem a decrescer (COFFIELD et al, 2004).

Os estilos de aprendizagem são, na realidade, parte de um processo de aprendizagem. Kolb (1984) também destaca o papel central da experimentação neste processo como resultado direto da experiência imediata. O autor destaca ainda a compreensão de Lewin (1965) de que a aprendizagem é facilitada quando os ambientes promovem tensão e conflito entre a experiência imediata e concreta e o distanciamento analítico. Kolb (1984), pensa a aprendizagem em termos de processo e não de resultado.

Estilo de Aprendiz Estratégia de Aprendizagem baseada em PBL

Ativo ● Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP)

● Pitch ● Workshop ● Oficina

● Atividades com Ferramentas Colaborativas de Aprendizagem

● Estudo Dirigido

Reflexivo ● Aula expositiva dialogada

● Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ● Documentação de Projetos

● Modelagem de Banco de Dados ● Grupo tutorial

Teórico ● Workshop

● Ensino com Pesquisa ● Estudo de Texto ● Orientação

● Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP)

Pragmático ● Práticas Vivenciais

● Análise e Solução de Problemas

● Aprendizagem por meio de Jogos ou Gamificada ● Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ● Pitch

Tabela 1: Estratégias de Aprendizagem utilizadas na Escola de Programação Fonte: Autoria própria

Partindo dessa compreensão de aprendizagem como processo, entendemos que, nele, também estão envolvidos aspectos cognitivos que se referem à competências e habilidades para a resolução de problemas, que devem ser considerados na construção de estratégias de ensino eficazes. Assim, o PBL em intersecção com a teoria sobre os estilos de aprendizagem, consegue estabelecer, gradativamente, parâmetros e soluções metodológicas que, colaborativamente, podem viabilizar um processo de ensino- aprendizagem mais acertivo, dinâmico e contextualizado.

Conforme Campos (2003), a partir da década de 70, uma melhoria do conhecimento da psicologia do aprendizado surgiu mostrando a importância de sua participação ativa na incorporação do conhecimento. A fisiologia da memória e seu desenvolvimento tendem a favorecer a compreensão da importância da experiência prévia na aquisição de novos conhecimentos. O PBL se desenvolveu dentro deste contexto e tem acompanhado suas mudanças, desenvolvendo o pensamento crítico, as habilidades de solução de problemas e a aquisição de conceitos fundamentais, respondendo à alguns dilemas que se referem à educação profissional contemporânea, a saber: o aumento de conhecimentos científicos e tecnológicos que devem ser ensinados aos alunos durante a graduação em um curto período de tempo.

Ademais, Ribeiro (2008) enfatiza que a ABP também parece colaborar com alguns aspectos recomendados pela literatura para a educação superior, isto é, uma formação que integre a teoria à prática e o mundo acadêmico ao trabalho, promovendo - além do domínio acadêmico do conhecimento - o desenvolvimento de habilidades e atitudes profissionais e cidadãs. Outrossim, é considerando o que a literatura científica versa sobre os estilos de aprendizagem e a aprendizagem baseada em problemas, que a proposta metodológica de formação dos discentes para o desenvolvimento tecnologias e de sistemas computacionais aplicados à saúde, gradativamente tem sido construída.

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