• Nenhum resultado encontrado

Estilos de professores

No documento Indisciplina em contexto educativo (páginas 39-42)

Capítulo II. O Professor e a gestão de sala de aula

2. Estilos de professores

…alguém, uma pessoa, um profissional que escolheu ser professor/ educador, alguém, uma pessoa para quem o contacto com os outros é gratificante; alguém, uma pessoa que com prazer serve de mediador entre o saber subjectivo e dinâmico dos seus alunos e o saber mais sistematizado mas também ele igualmente dinâmico, da ciência, da técnica, da arte ou da moral. Alguém, uma pessoa, que situado no aqui e no agora da sua escola, da sua comunidade, do seu país, do seu mundo, tem antenas em permanente alerta e capta, antes de mais ninguém, os sinais de mudança que com os seus alunos, decide prosseguir. Alguém, para quem os outros são também alguém e a escola uma comunidade de “alguém” (Isabel Alarcão 1991, in Tavares, 1993:29).

Os professores têm consciência de que aquilo que fazem tem uma influência muito importante no comportamento dos seus alunos, nomeadamente, no sentido de estes cooperarem e aderirem às tarefas de aprendizagem. Arends (1995:117) afirma que “… ensinar é, por definição, uma tentativa de influenciar o comportamento e a aprendizagem dos alunos.”

Assim, considerando os comportamentos e atitudes que os professores sistematicamente adoptam, podemos encontrar quatro estilos de gestão de sala de aula que, segundo João Lopes (2001), apresentam as seguintes características:

Professor Permissivo

É o tipo de professor que exige pouco e controla pouco os alunos. Aparentemente estes podem fazer o que quiserem. Tem dificuldade em dizer “não” e em impor regras. A sua grande preocupação é o bem-estar emocional dos alunos e como receia ofender os seus sentimentos, as suas tentativas de impor a disciplina são inconsistentes. Por vezes, as suas decisões, têm por base os “sentimentos dos alunos” em detrimento das suas necessidades académicas. Quer “ser amigo dos alunos” e tem dificuldade em estabelecer a fronteira entre a vida profissional e a sua vida particular. Com este modelo de professor, os alunos têm dificuldade em aprender comportamentos socialmente aceitáveis. Assim, o professor

funciona como estímulo à falta de competência social e de auto-controlo dos alunos. Dado o baixo nível de exigência do professor, os alunos tendem a apresentar baixos níveis de motivação para a realização.

Professor Autoritário

O professor autoritário controla rigidamente os alunos, impondo-lhes limites firmes e precisos. Organiza a sala de aula de forma rígida, geralmente com as carteiras em fileiras e sem alterações de lugar e durante a aula os alunos permanecem sentados. Normalmente há silêncio na sala de aula e os alunos sabem que não devem interromper o professor. Dado que não são permitidas trocas verbais nem discussão, os alunos apresentam deficientes competências comunicacionais. O professor espera que os alunos sigam as instruções e não perguntem porquê. Impõe uma disciplina forte e espera ser sempre obedecido.

Professor Indiferente

O professor indiferente adopta um estilo de gestão com um baixo grau de exigência e dificuldade em se impor aos alunos. A sua falta de competências, confiança e/ou coragem levam à falta de disciplina. Não há inovação nos materiais que utiliza nem no tipo de actividades que desenvolve. O baixo nível de exigência escolar e disciplinar do professor provoca desmotivação para as aprendizagens e para o desenvolvimento do auto-controlo. Assim, os alunos parecem pouco interessados, pois sabem que não aprendem nada de relevante. Com a atitude indiferente dos professores, os alunos sentem que estão entregues a si próprios e que podem fazer o que quiserem, desde que não incomodem o professor.

Professor Persuasivo

No estilo de gestão persuasiva, o professor estabelece limites à acção dos alunos, faz o controlo dos seus comportamentos e simultaneamente encoraja a sua independência e auto-controlo. Explica frequentemente as regras e as decisões. Em situações de indisciplina, repreende o aluno de forma educada, mas firme, e, agindo deste modo, raramente aplica sanções disciplinares. Desenvolve competências comunicacionais, estimulando as interacções verbais e os debates públicos. Os alunos sabem que podem interromper o professor, de forma adequada, se tiverem comentários ou questões pertinentes a colocar.

O professor reforça os alunos fazendo comentários e sugestões de aperfeiçoamento nos trabalhos de casa. Tendencialmente, os alunos sentem que o professor se interessa por eles. O professor persuasivo promove comportamentos socialmente competentes e contribui para uma elevada motivação para a realização.

Com base num estudo sobre a gestão eficaz da sala de aula, J.Kounin (1970, cit. por Lopes, 2001) realçou que os melhores professores utilizam técnicas que fomentam a cooperação e empenhamento dos alunos nas actividades académicas e deste modo, inibem a ocorrência de comportamentos problemáticos. Os professores que são melhores gestores inibem a indisciplina através da maximização do tempo de envolvimento dos alunos em actividades académicas produtivas e de rápida resolução de episódios menores de desatenção ou agitação, antes que evoluam para formas graves de perturbação.

Da análise dos estilos de professores, fica patente a importância de que se reveste a sua acção ao nível da organização das actividades de ensino-aprendizagem. No entanto, parece assumir uma especial relevância o seu papel de organizador das relações interpessoais, que se estabelecem na sala de aula.

Assim, importa que o professor detenha um conhecimento consciente de si, o que lhe permitirá ser autêntico na relação que desenvolve com os alunos.

Segundo Gordon (cit. Carita & Fernandes, 1997:32) a relação professor-aluno “deve ser caracterizada a) pela abertura e transparência, que se manifesta sendo honesto e directo com o outro, b) pelo cuidado e atenção com o outro c) pela interdependência de um em relação ao outro, o que exclui a dependência que o adulto fomenta na criança d) pelo distanciamento que permite a cada um crescer e desenvolver-se como ser singular e e) pela consideração mútua das necessidades evitando sobreposições”.

O professor pode aperfeiçoar o seu desempenho, tentando ser mais cuidadoso com os outros, mais atento às suas necessidades, mais aberto dando ao outro espaço próprio e ainda procurando ser mais imparcial e mais bem-humorado (Carita & Fernandes, 1997).

Do mesmo modo, Paula Santos e Gabriela Portugal (2002:203) referem que a “…autenticidade ou genuinidade nas relações com os alunos implica que o professor seja basicamente ele próprio em todas as interacções, sem lugar ao desempenho de um papel mais ou menos conveniente numa ou outra situação. Este professor conhece-se a si próprio,

não nega o seu Self, e é capaz de comunicar os seus sentimentos de alegria, felicidade ou prazer, como os seus sentimentos de raiva ou desapontamento; expressa-os com clareza, no momento em que os experiencia, clarificando a sua motivação.”

O professor detém assim o poder de modelagem, ou seja pode influenciar os comportamentos dos alunos, em função do seu próprio comportamento. Deste modo, as crianças podem aprender a expressar os seus sentimentos e emoções.

Dada a importância de que se reveste a modelagem, o professor deve estar consciente dos efeitos da sua acção sobre o comportamento dos alunos e no seu desenvolvimento social.

No documento Indisciplina em contexto educativo (páginas 39-42)