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Processo de recolha de dados

No documento Indisciplina em contexto educativo (páginas 99-103)

Capítulo IV. A Dinâmica Familiar e a Escola

4. Processo de recolha de dados

No processo de recolha de dados, como já referimos anteriormente, privilegiou-se o discurso oral, através da entrevista, a fim de conhecer as representações dos professores que leccionam turmas onde existem alunos com problemas de indisciplina.

Segundo Morgan (1988) (cit. por Bogdan & Biklen 1994:134), “Uma entrevista consiste numa conversa intencional geralmente entre duas pessoas, embora por vezes possa envolver mais pessoas”.

No caso do investigador qualitativo a entrevista tem um formato específico podendo ser utilizada de dois modos. Pode ser a estratégia principal para a recolha de dados ou uma parte integrante de um conjunto de outras técnicas, como por exemplo a análise de documentos. A entrevista, segundo Bogdan & Biklen (1994:134) “…é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”. Assim, é possível obter informações não só sobre as percepções do sujeito, mas também sobre os seus estados afectivos, juízos de valor e opiniões, tendo por base o seu quadro conceptual. Deste modo, a entrevista espelha contradições, tensões e conflitos inerentes às vivências do sujeito.

Ghiglione & Matalon (1993) distinguem três tipos de entrevista, que de acordo com o seu grau de estruturação podem ir da menos estruturada (não directiva) à mais estruturada (directiva). Entre estes dois pólos situa-se a entrevista semi-estruturada (semi- directiva) que, a partir de um esquema prévio, o entrevistador propõe ao entrevistado determinados temas cuja ordem é livre. Assim, as questões poderão não ser colocadas pela ordem anotada e sob a formulação prevista. “Tanto quanto possível, «deixará andar» o entrevistado para que este possa falar abertamente, com as palavras que deseja e pela ordem que lhe convier” (Quivy & Campenhoudt, 1998:192). O papel do investigador será apenas reencaminhar a entrevista, sempre que o entrevistado se afastar dos objectivos e questioná-lo, de modo tão natural quanto possível, relativamente a aspectos sobre os quais não opinou.

No nosso estudo, deu-se preferência à entrevista semi directiva, por apresentar duas grandes vantagens:

“- as informações que se pretende recolher reflectem melhor as representações do que numa entrevista dirigida, dado que a pessoa entrevistada tem mais liberdade na maneira de se exprimir; as informações que se deseja recolher são-no num tempo muito mais curto do que numa entrevista livre, que nunca oferece a garantia de que vão ser fornecidas informações pertinentes” (Ketele & Roegiers,1999:193).

Na concretização das entrevistas norteámo-nos por três princípios orientadores, de acordo com Estrela, (1994):

- Evitar, na medida do possível, dirigir a entrevista, procurando não impedir a livre expressão do entrevistado. Deste modo, as nossas perguntas enquadraram-se na lógica do discurso, dando unidade às temáticas.

- Não restringir a temática abordada. Foi permitido aos entrevistados o desenvolvimento do tema, respondendo livremente. Deste modo houve questões tratadas “espontaneamente” pelo entrevistado, que embora previstas no guião, ainda não tinham sido por nós colocadas.

- Esclarecer os quadros de referência do entrevistado, questionando-o sobre conceitos e situações patentes no seu discurso.

Assim, foi elaborado um guião de entrevista destinado aos professores, que segue de perto a estrutura sugerida por Estrela, (1994).

O guião da entrevista aos professores foi estruturado em seis blocos temáticos (Anexo 5).10

Bloco A: Legitimação da entrevista

Apesar de já termos realizado um primeiro contacto com os entrevistados informando-os, em linhas gerais, da natureza do trabalho e dos objectivos da investigação foi nossa intenção motivar os professores para as respostas, reforçando a importância das suas

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informações e assegurar-lhes o carácter confidencial e o anonimato das mesmas. Solicitou- se ainda autorização para gravar as entrevistas, em registo magnético.

Bloco B: Causas da Indisciplina

Neste bloco pretendeu-se recolher dados sobre as representações dos professores relativamente às causas da Indisciplina.

Bloco C: Relações interpessoais

O objectivo era conhecer as representações dos professores acerca das relações entre professor/aluno a nível da sala de aula, e entre alunos não só no contexto sala de aula mas também no recreio.

Bloco D: Ambiente Disciplinar

Este bloco teve como objectivos caracterizar o clima disciplinar da escola em geral, conhecer a opinião dos professores em relação ao Regulamento Interno da Escola e as práticas disciplinares mais usadas.

Bloco E: Gestão de sala de aula

Pretendeu-se conhecer o modo como o professor organiza e estrutura a sala de aula, na dimensão relação com o trabalho e na dimensão relação entre as pessoas

Bloco F: Ligação Escola/Família

O objectivo deste bloco era caracterizar a relação que a escola estabelece com as famílias e conhecer os constrangimentos dessa relação.

No último trimestre do ano lectivo 2004/2005, contactámos todos os professores no sentido de solicitar a sua colaboração na realização das entrevistas e de esclarecer os nossos objectivos.

Todos os professores contactados demonstraram disponibilidade, não só pelas relações profissionais por nós estabelecidas anteriormente, mas também pela motivação que o tema lhes suscitou.

As entrevistas foram realizadas entre Abril e Maio de 2005, num gabinete de trabalho dos professores, em horário pós-laboral, de acordo com a disponibilidade dos entrevistados. Cada entrevista teve uma duração média de 60 minutos.

As gravações (áudio) foram objecto de transcrição, conservando ao máximo a informação recolhida tanto linguística como paralinguística, ou seja registámos a totalidade dos significantes e anotámos silêncios, perturbações de palavra e de aspectos emocionais, tais como o riso, o tom irónico, etc. (Bardin, 1979).

A transcrição das entrevistas deu origem a catorze protocolos. A cada entrevistado foi atribuído um código de PA a PO, (Professor A;... Professor O)

Quadro nº12: Distribuição dos professores pelas disciplinas que leccionam nas turmas

Professor Disciplina Turma

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Turma 2

PA E.V.T (Educação Visual Tecnológica) x x

PB História x PC Ciências da Natureza x PD Educação Física x PE Educação Moral x x PF Inglês x x PG Ciências da Natureza x PH Língua Portuguesa x x PI Educação Física x

PJ EVT (Educação Visual Tecnológica) x

PL Matemática x x

PM EVT (Educação Visual Tecnológica) x

PN História x PO Educação Musical x x Quadro nº13 Professor PA PB PC PD PE PF PG PH PI PJ PL PM PN PO Anos de serviço na escola 9 8 17 14 18 23 13 17 26 10 8 10 1 12

No documento Indisciplina em contexto educativo (páginas 99-103)