Capítulo IV. A Dinâmica Familiar e a Escola
1. Resultado global das entrevistas
1.3. Relações sociais entre professores e alunos
Este tema engloba as representações dos professores acerca das relações entre professor- aluno a nível da sala de aula e entre alunos não só no contexto sala de aula, mas também no recreio. Deste modo, estamos em presença de comportamentos e atitudes que pela sua natureza se podem enquadrar no 2º e 3º níveis de indisciplina, propostos por Amado & Freire (2002).
Categorias Subcategorias
Atitudes dos alunos que favorecem a disciplina Atitudes dos alunos que impedem a disciplina 7. Relação professor -aluno na sala de
aula
Atitudes dos professores que favorecem a disciplina Manifestações de agressividade
8. Relação entre alunos no recreio
Alunos com influência negativa Factores positivos
9. Relação entre alunos na sala de aula
Factores negativos
Categoria 7: Relação professor -aluno na sala de aula
Subcategoria Indicadores UE
N=14 UR*
54
Manifestar carinho pelo professor 3 5 Acatar as ordens do professor 2 4 Apoiar as atitudes disciplinares do
professor
1 1 Atitudes dos alunos que
favorecem a disciplina
Total 10
Discutir com o professor 7 9 Ignorar a presença do professor 3 7
Mentir ao professor 1 1
Atitudes dos alunos que impedem a disciplina
Total 17
Estabelecer relações empáticas 6 15 Reforçar a auto-estima 4 10 Expectativas positivas na gestão das
turmas com Indisciplina
1 2 Atitudes dos professores que
favorecem a disciplina
Total 27
* Total de UR da categoria
Na categoria 7 os professores centram o discurso nas suas atitudes relacionais de promoção da disciplina e nas atitudes dos alunos que impedem a disciplina.
Verificámos que os entrevistados ao referirem as atitudes dos alunos, que favorecem e as que impedem a disciplina, parecem estar a falar de modo implícito da adesão ou não à autoridade do professor.
Ainda relativamente às atitudes dos professores que favorecem a disciplina, o discurso dos professores recai, por um lado, sobre as expectativas positivas que criam na gestão das turmas com indisciplina e por outro, sobre o estabelecimento de relações empáticas e o reforço da auto-estima nos alunos.
Segundo Carita & Fernandes (1997) o professor que detém um maior conhecimento de si próprio estabelece uma relação de autenticidade com os alunos está atento a essa relação. Gordon citado pelas mesmas autoras considera que a relação professor alunos deve caracterizar-se “a) pela abertura e transparência, que se manifesta sendo honesto e directo com o outro, b) pelo cuidado e atenção para com o outro, c) pela interdependência de um em relação ao outro, o que exclui a dependência que o adulto fomenta na criança d) pelo distanciamento que permite a cada um crescer e desenvolver-se como ser singular e e) pela consideração mútua das necessidades evitando sobreposições” (idem, 1997:32)
Os testemunhos seguintes ilustram os indicadores encontrados. “...nunca fui para uma aula derrotada à partida...” (PE)
“ eu para já respeito-os imenso, não lhes berro, não lhes falo mal, sou educada com eles..(…). E eles retribuem-no imenso.” (PJ)
“ Dou reforço positivo mesmo nestes alunos problemáticos tenho esta postura de aproveitar sempre alguma coisa que esteja bem... (PM)
Categoria 8: Relação entre alunos no recreio Subcategoria Indicadores UE N=14 UR* 18 Empurrar os colegas 2 4 Lutar 1 3
Formar grupos para agredir os colegas 1 2
Extorquir 1 1
Manifestações de agressividade
Total 10
Obstruir a brincadeira dos colegas 1 4 Influenciar os colegas para faltar às
aulas
1 4 Alunos com influência
negativa
Total 8
Esta é a categoria dentro do tema com menor expressão ao nível do discurso dos professores.
Todos os indicadores são referidos apenas por 1 professor, à excepção de «Empurrar os colegas», que é mencionado por dois entrevistados.
O facto da maioria dos entrevistados não fazer alusão no seu discurso às relações entre alunos no recreio, leva-nos a reflectir: Será que os professores desconhecem o que se passa nesse contexto, ou conhecendo, consideram que não tem directamente a ver com as suas funções?
Categoria 9: Relação entre alunos na sala de aula
Subcategoria Indicadores UE
N=14 UR*
123
Não aceitação de alunos
indisciplinados por parte da turma
3 8 Aceitação de alunos com N.E.E na
turma
2 5 Não responder a provocações dos
colegas
2 4 Factores positivos
Total 17
Aluno com influência negativa na turma
12 30 Agredir verbalmente os colegas 9 20 Discutir com os colegas 6 14 União de alguns alunos para quebrar
as regras
6 15 Dificuldades da turma na aceitação de
alunos com N.E.E
5 8 Inexistência de entreajuda 3 7 Culpar os outros pelos seus
comportamentos
3 7 Agredir fisicamente os colegas 2 5 Factores negativos
Total 106
* Total de UR da categoria
Na categoria 9 o discurso dos professores parece centrar-se essencialmente nos factores negativos da relação entre alunos na sala de aula, enquanto que, relativamente aos factores positivos, registamos novamente que os professores opinam pouco sobre esta matéria.
Do conjunto de factores negativos na relação entre alunos na sala de aula, apontados pelos professores, destacamos o indicador «Aluno com influência negativa» não só por ter sido apontado por 12 professores, mas porque nos parece conferir a
caracterização feita pelos directores de turma, (Quadros nº4 e nº6) relativamente à existência de alunos com problemas de indisciplina. “…aquela turma o 5º…tem ali dois ou três elementos que são muito perturbadores para os outros todos…”(PD)
Se também atendermos ao indicador «união de alguns alunos para quebrar as regras», a que 6 professores se referem, podemos inferir da existência de pequenos grupos que perturbam o bom funcionamento da turma. “…há um ou outro que se sobrepõe e ao qual aderem dois ou três…” (PH)
“… eles unem-se para serem a pior turma…( …)... unem-se para serem os piores. Acabam por ser unidos para o mal.” (PN)
A este respeito, Amado (2001:299) afirma que “ A dinâmica social da turma está intimamente relacionada com a sua estrutura informal e concretiza-se na influência exercida por determinado aluno ou alunos concretos sobre outros, enquanto actores sociais na acção de determinados grupos de alunos… parece não poder negar-se a existência de subgrupos e subculturas na turma, algumas delas em oposição entre si e frontalmente contra a cultura da escola…”
Relativamente aos restantes indicadores, apesar de serem comportamentos que põem em causa o relacionamento entre os alunos, não são situações problemáticas que se possam enquadrar no fenómeno típico de violência entre pares designado por bullyng, Amado & Freire (2002).
“ …a agressividade que possa existir é mais verbal, não é física não... Eles actuam mais pela parte verbal quando se querem magoar uns aos outros. São agressivos verbalmente.” (PL)
“ …. Ela reagiu agressivamente dando uma sapatada numa das miúdas... Mas não se pode dizer que há grandes cenas de violência…” (PI)