• Nenhum resultado encontrado

5 – Discussão dos resultados

Questão 1: Qual o CE estimado pela relação VO 2 /carga externa nos exercícios: i) extensão de pernas (Leg Extension); ii) supino inclinado (Inclined Bench Press); iii)

extensão de pernas na prensa (Press Leg); iv) flexão de antebraços (Scott Biceps Curl)?

O CE do exercício de extensão de pernas variou entre 16,19 e 22,17 ml/kg/min (6,45 a 8,83 kcal/min) a intensidades de 12% a 24% de 1-RM tendo, a 80% de 1-RM, passado para 64,17 ml/kg/min (25,57 kcal/min). Já o exercício do supino obteve valores de CE que variaram entre 13,05 e 16,21 ml/kg/min (5,20 a 6,46 kcal/min) a intensidades de 12% a 24% de 1-RM tendo, a 80% de 1-RM, passado para 42,15 ml/kg/min (16,80 kcal/min). No exercício da extensão de pernas na prensa, o CE apresentou valores entre 12,95 e 22,18 ml/kg/min (4,97 a 8,52 kcal/min) a intensidades de 12% a 30% de 1-RM, tendo passado para o valor de 54,20 ml/kg/min (20,82 kcal/min) à intensidade de 80% de 1-RM. No exercício da flexão de antebraços, o CE variou entre 6,92 e 11,28 ml/kg/min (2,66 a 4,33 kcal/min) a intensidades de 12% a 30%, tendo passado para 22,31 ml/kg/min (8,57 kcal/min) à intensidade de 80% de 1-RM. Podemos verificar que o exercício de flexão de antebraços foi o que apresentou um CE menor, o que pode ser explicado pelo facto do esforço ser feito por uma menor participação de massa muscular (Reis et al., 2011). Já os restantes exercícios, que solicitam músculos maiores, apresentam um CE superior, sendo o valor superior ao apresentado em estudos de

marcha (Wilmore e Costill, 2004;Brito, 2006; Porcari et al. 1997 e Church et al., 2002).

Em esforços de intensidade submáxima, o CE pode ser calculado pelo declive da recta de regressão entre o VO2 e a intensidade do esforço. Em esforços de intensidade supramáxima, o CE pode ser calculado pela extrapolação linear do CE submáximo. Para tal, aplica-se a equação da recta de regressão VO2/intensidade do esforço (Reis et al., 2005; Reis e Carneiro, 2005). Quando pretendemos quantificar o CE através da recta de regressão do VO2/carga externa aceitamos, de imediato, que a linearidade evidente dessa relação constitui a condição indispensável à aplicação da metodologia. (Reis, 2003; Reis e Carneiro, 2005; Vianna, 2010). Neste contexto torna-se pertinente a apresentação dos dois medidores mais comuns da robustez da regressão, o coeficiente

de correlação (R) (Reis, 2003; Reis e Carneiro, 2005) e o erro padrão da regressão (Sy.x)

(Bland e Altman, 1996; Altman et al., 2000).

Neste estudo, a linearidade das rectas de regressão entre o VO2 e a carga externa foi elevada, tendo-se registado um valor de R superior no exercício da extensão de pernas na prensa (R=0,98) que nos restantes exercícios (R entre 0,91 e 0,94). O erro padrão da

regressão foi superior, em termos absolutos no exercício de extensão de pernas (Sy.x =

3,16 ml/kg/min, que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈ 14 a 20%) que nos restantes exercícios, em que o valor absoluto se encontrou entre 0,87 e 1,80 ml/kg/min. Em termos relativos, no exercício do supino inclinado o Sy.x corresponde a um erro de ≈ 11 a 14%; no exercício da extensão de pernas na prensa corresponde a um erro de ≈ 7 a 12%; na flexão de antebraços corresponde a um erro de ≈ 8 a 13%.

Robergs et al. (2007) apresentaram um estudo, com exercícios de musculação (supino e

agachamento), com regressões entre o VO2 e a carga externa. O valor de R das rectas de

regressão VO2/carga foi de 0,81 e 0,85 para os exercícios supino e agachamento, respectivamente. O Sy.x foi de 0,16 L/min para o exercício do supino (que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈ 10 a 16 %) e de 0,31 L/min para o exercício do agachamento (que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈ 11 e 13%). De referir que neste estudo a regressão efectuada é múltipla, incluindo valores de VO2, carga e distância. O erro foi muito idêntico em ambos os exercícios.

Vianna (2010) apresentou um estudo com exercícios de musculação onde se fizeram as referidas rectas de regressão e foram registados os indicadores de robustez. O R para o exercício de meio agachamento foi de 0,89 sendo este o valor mais baixo que o de todos os do presente estudo; para o exercício supino horizontal o R foi de 0,96; para o exercício rosca tríceps o R foi de 0,97 e para o exercício puxada alta o valor de R foi de 0,98. Quanto ao erro padrão da regressão (Sy.x), este foi superior no exercício de meio agachamento (5,47 ml/kg/min; que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈19%), sendo inferior nos restantes exercícios: 0,57 ml/kg/min no exercício da puxada alta (que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈ 10%); 0,91 ml/kg/min no exercício da rosca trícepes (que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈ 6%); 1,21 ml/kg/min no exercício do supino horizontal (que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈ 11%).

Os erros relativos apresentados no presente estudo encontram-se próximos dos únicos estudos citados na literatura (Robergs et al., 2007 e Vianna, 2010), encontrando-se, na sua maioria, acima dos 10%.

Existindo poucos estudos com exercícios de musculação, importa confrontar a robustez das rectas do presente estudo com o que a literatura apresenta como típico para outros gestos motores. Na modalidade de corrida, Reis (2003) efectuou um estudo em tapete rolante horizontal (0% de inclinação) e inclinado (10,5% de inclinação) em sujeitos treinados em corrida de resistência. O valor de R foi de 0,99 tanto para o plano horizontal como para o plano inclinado. O Sy.x foi de 1,29 ml/kg/min, para o plano horizontal (que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈ 2 a 3%) e de 1,25 ml/kg/min para o plano inclinado (que corresponde, em termos relativos, a um erro de 2 a 3%). Reis et al. (2005) efectuaram um estudo na modalidade de corrida onde obtiveram rectas de regressão com R igual a 0,998 e um Sy.x de 1,34 ml/kg/min (que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈ 3%). Nevill et al. (2008) efectuaram um estudo na modalidade de corrida, para as provas de 100m, 400m e 800m e

obtiveram valores de R entre 0,77 e 0,89. Na modalidade da natação, Reis et al. (2010a)

obtiveram rectas de regressão do VO2 em função à velocidade de nado em provas de 100m, 200m e 400m crol. O valor de R foi de 0,97 para a prova dos 400m e 0,98 para as restantes provas. O Sy.x variou entre 4,13 e 5,29 ml/kg/min (que corresponde, em termos relativos, a um erro de ≈ 8 a 17%). Ou seja, os erros de regressão no presente estudo situar-se-iam entre os erros apresentados na literatura para a corrida e aqueles descritos para a natação.

A robustez da regressão das nossas rectas, em termos do coeficiente de relação, apresenta valores superiores a 0,90 para todos os exercícios, considerando-se elevada. Em termos de Sy.x, pode ser considerada elevada para os exercícios supino inclinado, extensão de pernas na prensa e flexão de antebraços, com valores semelhantes aos encontrados por Vianna (2010) para os exercícios supino horizontal, puxada alta e rosca trícepes e próxima do referido na literatura para a modalidade de corrida (Reis et al., 2005) e natação (Reis et al., 2010ª). O Sy.x do exercício extensão de pernas é superior aos restantes, tal como aconteceu no estudo de Vianna (2010) com o exercício do meio agachamento. Uma vez que o Sy.x nos indica se a metodologia é ou não adequada para o tipo de esforço em estudo, podemos concluir que, na musculação, esta metodologia apresenta erros de estimativa superiores aos observados na corrida e semelhantes aos observados na natação.

Tendo em consideração que os exercícios de musculação se caracterizam por uma grande variedade de movimentos mas que, na maioria deles, é possível medir com rigor o trabalho mecânico produzido (contrariamente ao que sucede, por exemplo, na corrida ou mesmo em outros meios de locomoção), decidimos replicar a análise das rectas de regressão, tomando o trabalho mecânico ou a potência mecânica como variáveis independentes do CE. Apenas no caso do exercício de flexão de antebraços tal análise não foi efectuada pela maior dificuldade em quantificar com rigor as medidas. Com efeito, no caso dos restantes exercícios, o tipo de movimento tornou possível quantificar directamente e com rigor aquelas variáveis (através do deslocamento vertical da carga). No exercício de flexão de antebraços deveríamos calcular com rigor o braço da força produzida e isso apenas seria possível com meios de diagnóstico antropométrico evoluídos (ex.: TAC), pois exigiria a localização tão precisa quanto possível do eixo do movimento de rotação em relação à articulação do cotovelo. Por outro lado, mesmo com essa medida disponível, existiria sempre uma margem de erro adicional ocasionada por eventual trabalho adicional pela movimentação da articulação do pulso.

As regressões do trabalho mecânico e da potência mecânica com o VO2 demonstraram

também evidente linearidade das rectas. O Sy.x das regressões apresentou um valor próximo nos exercícios de extensão de pernas, supino inclinado e extensão de pernas na prensa. Já as regressões feitas com os valores da potência mecânica apresentaram um erro ligeiramente superior. Os resultados indicam que existem diferenças significativas entre os dois tipos de regressão (com carga vs com potência mecânica) nos exercícios de extensão de pernas e supino inclinado, com melhor robustez quando é a carga a variável independente. Não se verificaram diferenças significativas entre os dois tipos de regressão no exercício de extensão de pernas na prensa. Ora no caso do exercício de extensão de pernas e extensão de pernas na prensa, pode-se então afirmar que o método de cálculo do CE é mais preciso quando usada a carga ou o trabalho mecânico comparativamente com a utilização da potência mecânica. Nestes dois casos, esta metodologia é mais fiável com regressões VO2/carga e VO2/trabalho mecânico do que nas regressões VO2/potência mecânica. Não encontrámos na literatura estudos com os quais confrontar estes resultados. O único estudo que analisou a relação do trabalho

os erros apresentados no estudo de Robergs et al. (2007) são semelhantes aos do presente estudo.

Questão 2: qual a contribuição aeróbia e anaeróbia para o esforço a 80% 1-RM