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5 – Discussão dos resultados

Questão 2: qual a contribuição aeróbia e anaeróbia para o esforço a 80% 1-RM nos 4 exercícios?

A determinação do DOA é possível a partir da medição do VO2 e permite a quantificação das fracções de energia aeróbia e anaeróbia relativamente ao CE total do esforço. (Reis, 2003; Reis et al., 2006). Quando estudamos o CE total devemos, paralelamente, calcular o contributo de cada uma das vias, aeróbia e anaeróbia, com a consciência de que se pode observar pesos percentuais diferentes, dependendo do estímulo empregue (Duffield et al., 2004).

Em relação aos resultados deste estudo, dos valores da contribuição anaeróbia para o esforço a 80% de 1-RM, à excepção do exercício de flexão de antebraços, todos os exercícios apresentaram uma contribuição anaeróbia superior à aeróbia (81,8% na extensão de pernas; 71,1% no supino inclinado e 69,0% na extensão de pernas na prensa). Significa que nos 3 exercícios indicados o esforço foi claramente predominantemente anaeróbio. No exercício flexão de antebraços a contribuição anaeróbia não foi tão elevada (45,8%).

A energia anaeróbia no presente estudo foi representada pelo DOA em um esforço exaustivo com uma carga de 80% 1-RM. Neste esforço, o tempo de exercício variou entre 30 segundos e 1 minuto e o DOA nos 4 exercícios foi de 9 a 35 ml/kg. Estes valores representam uma taxa de produção de energia anaeróbia de 55 ml/kg/min para o exercício de extensão de pernas, de 31 ml/kg/min para o exercício de supino inclinado, de 37 ml/kg/min para o exercício de extensão de pernas na prensa e de 10,5 ml/kg/min para o exercício de flexão de antebraços.

Os resultados obtidos no presente estudo não confirmam o pressuposto que uma massa maior dos músculos envolvidos no esforço corresponde a uma maior contribuição relativa de energia anaeróbia. Embora o exercício com menor massa muscular envolvida (flexão de antebraços) demonstrasse menor fração anaeróbia, o exercício de extensao de pernas na prensa (provavelmente o que mobilizou mais massa muscular) não foi o "mais anaeróbio", em termos relativos. Por outro lado, contrariamente ao que aconteceu nos restantes exercícios, o facto de haver uma maior fracção aeróbia no exercício de flexão de antebraços contraria a ideia que os exercícios de musculação são predominantemente anaeróbios. Todavia, a maior taxa de produção de energia anaeróbia foi realmente verificada no exercício de extensão de pernas na prensa. Os valores de contribuição relativa anaeróbia obtidos para o exercício de extensão de pernas, supino inclinado e extensão de pernas na prensa não apresentam diferenças significativas entre eles e são muito semelhantes aos obtidos por Vianna et al. (2011) para os exercícios de meio agachamento, supino horizontal, rosca trícepes e puxada alta e aos de Scott et al. (2009) para o exercício de supino horizontal. Estes mesmos valores assemelham-se aos obtidos em 22 segundos na modalidade de corrida (Spencer e Gastin, 2001), 30 segundos na modalidade de ciclismo (Kavanagh e Jacobs, 1988; Serresse et al., 1988; Smith e Hill, 1991; Witheres et al., 1991; O’Brien et al., 1997).

A literatura é profusa na referência à produção de energia anaeróbia em competições de corrida, ciclismo e natação. Na modalidade da corrida, em provas com duração entre 49 e 64 segundos, os valores percentuais de contribuição anaeróbia rondaram os 54 a 63% (Hermansen e Medbø, 1984; Medbø e Sejersted, 1985; Olesen et al., 1994; Nummela e Rusko, 1995; Spencer et al., 1996; Spencer e Gastin, 2001). Spencer e Gastin (2001) obtiveram valores de 71% de percentual de contribuição anaeróbia em provas de 22 segundos. Para provas de 800 metros a contribuição anaeróbica variou entre 34 e 45% (Péronnet e Thibault, 1989; DiPrampero et al., 1993; Spencer et al., 1996; Hill, 1999; Spencer e Gastin, 2001). Para provas de 400 metros a contribuição anaeróbia variou entre 41 e 45% (Spencer e Gastin, 2001). Na modalidade do ciclismo, em provas de 30 segundos, obtiveram-se valores de contribuição anaeróbia entre os 67% e os 84% (Serresse et al., 1988; O’Brien et al., 1997; Kavanagh e Jacobs, 1988; Smith e Hill, 1991; Withers et al., 1991). Em provas de 60 segundos a contribuição anaeróbia passou para 51 a 54% (Withers et al., 1991; O’Brien et al., 1997). Na modalidade da natação, em provas de 60 segundos, obtiveram-se valores percentuais de contribuição anaeróbia entre os 54 e os 60% (Morton, 1999; Morton e Gastin, 1997). Nos estudos de Ogita et

al. (1996) em provas de 100 metros na modalidade da natação o valor percentual de

contribuição anaeróbia é de 79,4 %. Analisando apenas os dados em provas com duração semelhante ao esforço cumprido no presente estudo (entre 30 segundos e 1 minuto) e considerando a taxa de produção de energia anaeróbia naqueles estudos, encontramos valores cerca de 50 ml/kg/min na corrida (Spencer e Gastin, 2001), de 35 a 51 ml/kg/min no ciclismo (Withers et al., 1991) e de 19 ml/kg/min na natação (Reis et

al., 2010ª). Assim podemos concluir que a taxa de produção de energia anaeróbia nos

exercícios de musculação pode ser considerada elevada, tendo em consideração a massa muscular movimentada. Estes resultados confirmam a musculação como meio de exercício prioritariamente anaeróbia (pelo menos nas intensidades mais populares, ex. acima de 60%).

Nos exercícios de musculação também é de esperar que a contribuição relativa da energia anaeróbia aumente concomitantemente com o aumento da carga. Scott et al. (2009) estudaram as fracções de contribuição energética do exercício supino horizontal. Para exercício a 50% de 1-RM, os indivíduos do sexo masculino, obtiveram valores de percentagens da contribuição anaeróbia de 72 a 74% de acordo com o número de repetições que variava entre 7, 14 ou 21. Vianna et al. (2011) estudaram a contribuição anaeróbia em esforço de 80% 1-RM para os 4 exercícios de musculação e os valores encontrados são: 87,4% para o exercício meio agachamento; 77,7% para o exercício de supino horizontal; 72,0% para o exercício rosca trícepes; 63,9% para o exercício da puxada alta. Comparando estes valores com os do presente estudo podemos concluir que: o exercício do supino horizontal apresentou uma contribuição anaeróbia maior (77,7%) que o exercício do supino inclinado (71,1%); o exercício de meio agachamento apresentou maior contribuição anaeróbia (87,4%) que os dois exercícios extensão de pernas na extensora (81,8%) e extensão de pernas na prensa (69,0%); o exercício de rosca trícepes e puxada alta apresentaram uma maior contribuição anaeróbia (72,0% e 63,9%, respectivamente) que o exercício de flexão de antebraços (45,8%). Estes valores

ilustram a grande variabilidade do perfil energético em exercícios de musculação, tal como já fora referido por Reis et al. (2011).