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Capítulo 4: Parâmetros Paleodemográficos

4.2. Estimativa da idade à morte

A seguir à diagnose sexual, a idade é o outro parâmetro biológico básico que pode facultar a identificação de um indivíduo num contexto forense ou paleodemográfico (Falys et al., 2006). Inúmeras técnicas tanto macroscópicas como microscópicas foram criadas nas últimas décadas para o acesso aos padrões de crescimento e envelhecimento do esqueleto (Falys, et al., 2006). Ainda assim, a estimativa da idade à morte no esqueleto adulto encontra-se barrada por muitas dificuldades, devido a inconsistências na não uniformidade das mudanças relacionadas com a idade no processo de envelhecimento no esqueleto (Flays et al., 2006). Mudanças no esqueleto relacionadas com a idade ocorrem à medida que o indivíduo passa pelo processo de crescimento, desenvolvimento e maturação (Falys et al., 2006). A aparência dos marcadores de idade no esqueleto individual podem variar devido a factores como o tipo de vida que o individuo levava, o seu status de saúde, dieta, ambiente envolvente, práticas culturais e a presença de doenças ou de trauma durante a vida do mesmo (Mascie-Taylor e Bogin, 1995, e Bogin, 2001 citados por Flays et al., 2006).

As mudanças morfológicas relacionadas com a idade nos não-adultos são consideradas mais fiáveis do que as que se observam nos adultos, porque eventos como a erupção dentária e a fusão de epífises nos juvenis são bastante consistentes entre indivíduos e em termos temporais bastante regulares (Falys et al., 2006).

A idade cronológica é a idade dos indivíduos em termos reais (Scheuer e Black, 2004). Embora a relação entre crescimento e idade cronológica não seja propriamente linear usa-se o conceito de idade biológica para indicar quanto o indivíduo progrediu no processo de desenvolvimento (Scheuer e Black, 2004). A idade biológica pode ser expressa através da idade do esqueleto ou da idade dentária e é geralmente reconhecida que a relação entre a idade do esqueleto e a idade dentária é mais forte do que no caso entre a idade cronológica e a idade do esqueleto (Scheuer e Black, 2004). A idade baseada no esqueleto baseia-se ou estima-se através do aparecimento e fusão de centros

de ossificação, assim como, também, do seu tamanho e morfologia dos ossos (Scheuer e Black, 2004). A idade dentária expressa-se em termos de erupção dentária ou através do estado de maturação e mineralização dos dentes (Sheuer e Black, 2004). Tanto a idade do esqueleto como a idade dentária têm como requisito que seja comparada a um padrão estabelecido em indivíduos de idades conhecidas (Scheuer e Black, 2004). Por estas razões o estabelecimento da idade à morte em indivíduos juvenis é muito mais fiável do que a em adultos, embora mesmo assim não passe de uma estimativa (Sheuer e Black, 2004).

O processo de crescimento e desenvolvimento representa uma das interfaces cruciais entre a biologia e o ambiente (Lampl e Johnston, 1996). A pesquisa em não-adultos foi feita com o objectivo de determinar o contributo que os processos de crescimento podem ter ou fazer a diferença na morfologia adulta (Lampl e Johnston, 1996). O crescimento dos não-adultos é um marcador tradicional do estado geral de saúde da população, e marcadores relativos ao crescimento também têm sido utilizados em debates centrados nas origens da infância dos humanos modernos (Lampl e Johnston, 1996).

Quando se procura compreender a biologia e modos de vida de populações passadas o estudo de espécimes imaturos deve ser baseado no conhecimento adquirido através da examinação de crianças vivas (Lampl e Johnston, 1996).

4.2.1. Método

Para determinar a idade à morte usaram-se vários métodos, nomeadamente, o comprimento dos ossos longos, a fusão das epífises e também o desenvolvimento dentário.

Os ossos longos foram medidos de acordo com a descrição de Cardoso (2000). Foram medidos: a clavícula; o fémur; a tíbia; a fíbula; o úmero; o rádio; e a ulna, sendo a classificação feita comparando a medida obtida com os dados do autor para a Colecção de Esqueletos Identificados de Lisboa. Foram avaliados os indivíduos entre os 0 anos de idade e os 12 anos de idade. Os ossos foram medidos com uma craveira digital sendo os

resultados registados até à décima do milímetro. Foi medido o osso esquerdo apenas sendo utilizado o osso direito quando as condições de preservação não permitiam o uso do primeiro.

Em relação ao desenvolvimento dentário pode-se usar várias abordagens. Pode-se usar um método métrico (ex. Liversidge e Molleson, 2004; Liversidge, 1999) ou um método morfológico (ex. Schour e Massler, 1941). No método da estimativa da idade à morte através da medição do comprimento dos dentes deciduais e permanentes (Liversidge, 1999; Liversidge e Molleson, 2004) todos os dentes são medidos desde a ponta da cúspide ou a parte média incisal até à ponta de desenvolvimento máximo da coroa ou raiz no seu ponto médio com uma craveira de pontas aguçadas.

A aplicação do método de Schour e Massler (1941) foi realizada apenas através da observação macroscópica sem o recurso a radiografias da maxila e mandíbula. Neste método os dentes presentes são comparados com o diagrama, uma idade é atribuída dente a dente e calcula-se a idade média para o indivíduo.

Foi tida também em conta e a título informativo a descrição ou explicação das 5 fases apresentadas por Schour e Massler (1941) como forma de clarificar e optimizar a observação. As 5 fases descritivas são: 1) a presença da dentição decidual completa na cavidade oral; 2) atrito funcional ou uso fisiológico da dentição residual; 3) a absorção gradual das raízes dos dentes deciduais; 4) continuação do crescimento das coroas e raízes dos dentes anteriores do primeiro molar permanente; 5) início do crescimento e calcificação das coroas dos bicúspides permanentes.

4.2.1.1. Resultados

Com a aplicação dos métodos foi possível obter a estimativa de idade à morte, sendo que o E. 44 estima-se com 34 semanas in utero apresentando-se como o mais jovem da amostra e o E.134 estima-se com uma idade média de 17 anos de idade apresentando-se

como o mais velho da amostra. A amostra foi distribuída por 5 classes de idades, segundo o que pode constatar na tabela 5.

Tabela 4. Número de Indivíduos por Classes de Idades Classes Nº de Indivíduos Feto aos 11 meses 6 1 ano aos 5 anos e 11 meses 15 6 anos aos 9 anos e 11 meses 5 10 anos aos 13 anos e 11 meses 10

14 anos aos 17 anos 4

Percentagem de Indivíduos por Classe

15% 37% 13% 25% 10% 1 2 3 4 5

Gráfico 7. Percentagem de Indivíduos por Classe de idade.

Pelo que se pode observar no gráfico 7, o maior número de indivíduos situa-se na classe 2 (indivíduos entre 1 ano de idade e 5 anos de idade) que representam 37% da amostra e o menor número de indivíduos na classe 5 (indivíduos dos 14 anos de idade aos 17 anos de idade) que representam apenas 10% da amostra estudada.

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