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A modulação da função cerebral através de técnicas não-invasivas, indolor e de fácil aplicação vêm recebendo maior atenção por parte dos neurocientistas contemporâneos. Dentre as técnicas mais recentes, merece devido destaque a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC).

Esta técnica consiste, basicamente, na alocação de dois eletrodos de borracha revestidos por tecido esponjoso, com área de 35 cm2, embebidos em solução salina a fim de evitar o contato direto do eletrodo com a pele e, consequentemente, minimizar possíveis reações indesejáveis (51). O posicionamento dos eletrodos sobre a região do escalpe é efetuado após assepsia no local reduzindo a impedância, atende às recomendações do Sistema Internacional de posicionamento 10-20 de EEG (Eletroencefalograma) e é programado com o intuito de um deles atingir especificamente determinadas áreas do córtex cerebral e outro sobreposto na área cortical supraorbital ou no ombro contralateral à região que se queira alcançar (10, 26- 29).

A ETCC é imposta por meio de equipamento portátil que possui capacidade de transmissão de estímulos elétricos constantes com amperagem máxima de 5mA constituído por dois eletrodos (ânodo e cátodo), amperímetro, potenciômetro (componente que permite o controle de intensidade da corrente) e três baterias de 9V cada. Construído de modo previamente programado para permitir intervenções simuladas, o aparelho possui um interruptor na parte traseira que possibilita interromper a passagem de corrente elétrica aos eletrodos, porém, mantendo a exibição dos parâmetros de excitação ao longo da intervenção. Equipamento portátil e circuito elétrico básico que representa o instrumento é demonstrado na figura 10.

Figura 10: Equipamento portátil de ETCC e circuito elétrico do instrumento.

O estímulo de corrente anódica aumenta a excitabilidade cortical enquanto que o estímulo de corrente catódica tem o efeito oposto (8-10). Nesta primeira, o carente anódico é alocado sempre posicionado nas regiões corticais que se deseja atingir enquanto que o carente catódico é colocado na região supraorbital ou ombro contralateral. Na segunda condição mencionada, os eletrodos são acomodados em posição invertida, sendo o ânodo colocado na região supraorbital ou ombro contralateral e o cátodo colocado na região cortical que se pretende aplicar a corrente elétrica [1,2].

Posteriormente, a excitabilidade cortical é modulada a partir de um campo elétrico gerado de modo contínuo que pode variar entre 0,4 a 2,0 mA sendo aplicado ao escalpe por um período correspondente a um período de 3 a 20 minutos. Assim, a estimulação conduz a uma variação no potencial de repouso da membrana. Logo, é coerente esclarecer que a modulação cortical parece ser fator dependente da polaridade da corrente aplicada, facilitando ou dificultando o disparo neuronal, como evidenciado na distinção entre os estímulos anódico e catódico. Conforme o postulado, acredita-se que essa técnica possui a relevante capacidade de modular a excitabildiade cortical bem como interferir no desempenho de diferentes funções (9-14).

Para condicionar a aplicação de ETCC ao efeito placebo, os eletrodos são posicionados nos mesmos locais da ETCC anódica. Contudo, o estimulador permanece ativado somente nos 30 primeiros segundos, sendo desligado após decorrido esse tempo como descrito por Hummel e Cohen (52). Além disso, para ambas as condições (ativa ou placebo), a intensidade de corrente deve ocorrer gradualmente, sendo aumentada (quando for ligar o aparelho) e reduzida (quando for desligar o aparelho) durante um período de 10 segundos (100μA/seg). Este procedimento garante que os pacientes não

discriminem entre os tipos de estimulação, sendo esperado que no início da aplicação os participantes sintam uma leve sensação de coceira na área estimulada pelos eletrodos.

Resultados de pesquisas realizadas com esse enfoque têm demonstrado que essa técnica é bem tolerada e não provoca percepções auditivas ou somatossensoriais para além do minuto inicial da aplicação, facilitando assim, intervenções onde a condição de placebo seja necessária (11, 14, 26, 52).

Quanto aos aspectos de segurança para aplicação de ETCC, diversos estudos têm direcionado atenção devida à essa questão. De modo que, conforme a realização de intervenções experimentais com animais e seres humanos, a estimulação cerebral não tem evidanciado efeitos adversos que permitam surgimento de danos térmicos, elevação dos níveis de marcadores de danos neuronais, como a enolase ou alterações no tecido cerebral decorrentes da ETCC (53-57). Especula-se ainda que os aspectos cognitivos não recebam efeitos adversos decorrentes da aplicação da técnica que estimulação elétrica (57). No entanto, alguns efeitos podem ser observados, tais como: formigamento (comichão) na pele sob os eletrodos, fadiga moderada, coceira. Mas raramente encontram-se registros de cefaleia, insônia ou náuseas (53).

No tocante ao tempo que perduram os efeitos da ETCC, Nitsche e Paulus (2000) postulam que as alterações causadas pela ETCC podem permanecer para além do tempo de estimulação desde que manipulada de forma adequada por no mínimo 3 minutos. Os efeitos podem se manter de modo estável por pelo menos uma hora se aplicada por um tempo igual ou superior a 10 minutos (58). A figura 11 representa a duração dos efeitos da estimulação após manipulação da carga elétrica no escalpe humano retirado de pesquisa realizada por Nitsche e Paulus em 2001.

Figura 11: Duração dos efeitos da ETCC pós manipulação da carga elétrica.

Dessa forma, acredita-se que a ETCC representa uma interessante ferramenta de pesquisa na área da neurociência, bem como importante recurso para a redução dos efeitos deletérios que atingem a função motora provenientes do processo de envelhecimento.

3. EXPERIMENTOS

A seguir serão apresentados dois experimentos utilizando como foco principal o estabilidade da flutuação de força em idosas, sendo que em um deles a ETCC é aplicada como ferramenta de modulação cortical. No experimento I são apresentados dados relativos ao número mínimo de sessões de familiarização necessário para a estabilização da flutuação de força em idosas. Já no experimento II voluntárias idosas fisicamente ativas foram submetidas à aplicação de ETCC no córtex motor (M1) a fim de investigar as possíveis alterações no desvio padrão de força da mão dominante, estabelecendo comparações entre três condições diferenciadas estimulação cortical (Anódica, Catódica e Sham). Além disso, nesse mesmo estudo buscou- se avaliar o poder relativo da ETCC sobre a variação do sinal eletromiográfico dos músculos Flexor Superficial dos Dedos e Flexor Radial do Carpo.

3.1 EXPERIMENTO I: Influência do processo de familiarização sobre a

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