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3 DETALHAMENTO SOBRE O SEGMENTO DE CALÇADOS E A CRISE

4.1 Introdução ao estudo de caso

4.1.1 Estratégia de exposição em aberto: estudo de caso

A comercialização de calçados assim como de qualquer produto de vestuário possui características próprias. Com novas tendências e modelos, esses produtos são substituídos a cada coleção semestralmente.

No processo de importação, a escolha certa de tendência de coleções é fundamental, pois caso seja importado um produto que não tenha demanda local, será fatalmente liquidado com um valor abaixo do mercado, ou de seu custo de aquisição.

A China é o maior país exportador de calçados para o Brasil, conforme apresentado na Tabela 4 no capítulo 3. Esse país possui uma característica vantajosa e competitiva em relação aos seus concorrentes. Os chineses conseguem fabricar um calçado de ótima qualidade com um custo baixo.

Por isso, as fábricas chinesas só podem produzir um lote de calçados mediante uma quantidade mínima solicitada e com aproximadamente seis meses de antecedência.

A apuração do pedido é realizada através de uma pré-seleção de calçados que possivelmente serão comercializados pelos clientes. As quantidades que serão vendidas na próxima coleção são estimadas e é solicitada sua fabricação à China para que em aproximadamente seis meses os produtos sejam exportados ao Brasil.

Para facilitar o entendimento deste estudo de caso, foi exposto um exemplo simples para facilitar o entendimento das operações e no anexo foi incluído um exemplo completo.

Pressupõe-se que a empresa faz uma única importação no ano de apenas um tipo de calçado e a venda desse estoque é feita apenas uma vez durante o ano. O exemplo completo em que envolvem mais períodos pode ser consultado nos anexos deste trabalho.

Além da variação cambial, a importadora está sujeita a um risco comercial adicional, pois se por algum motivo os produtos não forem vendidos antes do término da coleção, há necessidade de aumentar a comissão sobre as vendas, reduzir preços ou ceder descontos aos clientes para “queimar” o estoque parado.

O efeito tributário para uma queima de estoques pode levar a importadora a aumentar a carga tributária com o efeito do Transfer Price, conforme exemplificado no item 2.6.1.1.

O efeito da variação cambial também impacta nos custos da mercadoria vendida (item 2.6.1.2) e sem uma operação de hedge efetiva, o efeito pode impactar no transfer price como demonstrado na Tabela 5 comparando a demonstração do resultado no final do exercício de 20X8 com as estratégias de câmbio livre e protegido pelo contrato a termo.

O exemplo criado demonstra uma operação de importação com a taxa real do dólar de fechamento com base na cotação do Banco Central do Brasil. Será comparada a mesma importação negociada sem proteção cambial, utilizando o contrato a termo como proteção.

Poderiam ser utilizados outros tipos de derivativos, no entanto, como a empresa possui uma cultura conservadora, o objetivo na operação é a proteção de seus custos, sem nenhuma intenção de lucrar com trading.

Tabela 5 – Exemplo de demonstrações financeiras com câmbio livre

Fonte: Elaborado pelo autor Legenda:

Movimentações no mês de Dezembro/20X8

a – Contabilização da entrada de estoques e o reconhecimento da obrigação com o Fornecedor estrangeiro (R$ 51.941.667)

b – Reconhecimento dos impostos a recuperar de ICMS, Pis e Cofins sobre a entrada da Nota fiscal de importação (R$ 11.458.150)

c – Registro das vendas do período e de clientes a receber menos impostos (R$ 60.000.000)

d – Contabilização da provisão dos Impostos sobre venda (ICMS, Pis e Cofins) – (R$ 16.350.000)

e – Registro da baixa de estoques e lançamento dos Custos de Mercadorias Vendidas por base da Tabela 6. (R$ 36.455.393)

f – Valorização dos estoques e reconhecimento da receita financeira pelo efeito da variação cambial ativa do mês de acordo com a Tabela 7 (R$ 17.270)

g – Contabilização de R$ 600 mil referente a descontos concedidos ao cliente.

h – Provisão do Imposto de Renda e Contribuição Social do mês de Dezembro/20X8 (R$ 2.248.038)

i – Provisão do adicional de Imposto de Renda e Contribuição Social para Transfer

Price (R$ 2.143.834)

j – Transferência do saldo do período para Resultados Acumulados (R$ 2.220.005) Tabela 6 – Apuração do custo para revenda

Tabela 7 – Apuração da variação cambial mensal sem hedge

Na Tabela 6 está demonstrada a apuração do custo do calçado importado para revenda. O custo unitário foi de R$ 364,55. A taxa utilizada para nacionalizar os produtos foi R$ 2,2872.

O preço de venda foi estabelecido em R$ 600,00 o par, já embutindo as despesas administrativas, comerciais, impostos, comissões sobre vendas e a margem de lucro.

O ajuste da variação cambial do período de 20X8 foi contabilizado diretamente no resultado do exercício contra a conta de atualização do valor dos estoques. A despesa financeira de variação cambial totalizou em R$ 17.270,00 no período ((2,2872 X 100.000 unid.) – (2,1145 X 100.000 unid)).

O pior impacto nessa operação de importação e revenda de calçados foi o efeito do Transfer Price. Atendendo a legislação 9430/96 abordada no item 2.6.1, a empresa importadora precisou adotar o método do preço parâmetro PRL com margem de lucro de 20% por ser revenda de produtos acabados.

No Quadro 4 observa-se o cálculo do preço parâmetro PRL para os calçados importados e a comparação com o custo de importação.

Mesmo negociando o produto a um valor de R$ 600,00, e descontando os tributos e a margem de lucro definida pela lei 9430/96, o PRL unitário do produto é calculado em R$ 301,50 contra um custo unitário de R$ 364,55.

Como os custos ultrapassaram em 20% o preço parâmetro, a importadora Max deve arcar com um adicional de imposto de renda e contribuição social sobre o adicional do preço parâmetro em relação ao custo (Custo unit. 364,55 – PRL unit. 301,50 = 63,05)

O adicional que entra na base de cálculo do Imposto de Renda é de R$ 6.305.393 (63,05 X 100.000 unid). Ao aplicar a alíquota de 34% (25% Imposto de Renda Pessoa Jurídica e 9% Contribuição Social), o impacto no resultado do exercício é de R$ 2.143.834 (6.305.393 X 34%).

Quadro 4 – Exemplo de Transfer Price (método PRL) x Custo sem hedge (em reais – R$)

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