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4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

4.3 Estratégia de gestão

Este capítulo busca compreender como as empresas de pequeno porte se mantêm no mercado, em momentos de crise, e quais estratégias utilizam para manter um bom desempenho perante um cenário cada vez mais competitivo e globalizado. Serão utilizados conceitos sobre empresas familiares, tomada de decisão, sistemas de informação e planejamento estratégico.

Quando questionados a respeito dos efeitos negativos das crises de 2008 e de 2016 e quais das principais dificuldades enfrentadas pelas empresas, grande parte dos entrevistados das empresas ativas afirmou que sentiu os efeitos negativos e relatou suas principais dificuldades, como mostram as descrições apresentadas pelas empresas A, B e C:

“2016, sim. Muitas empresas fechando, né, poucas abrindo e dificuldade para receber dos clientes. ”

“Sim, sentimos. Teve forte demanda pelo serviço básico e isso prejudicou o caixa da empresa. ”

“Sim, sentimos na de 2016, ali. A principal dificuldade foi a queda de serviços, né, e mão de obra. Caiu muito os valores e perdemos bastante serviço. ”

Quando a mesma pergunta foi realizada aos entrevistados das empresas inativas, eles relataram suas principais dificuldades. Duas empresas passaram pela crise de 2016 e apenas uma passou pela crise de 2008, esta contou não ter sentido os efeitos da primeira crise, como mostram os depoimentos de D, E e F abaixo:

“Sim, nós abrimos a empresa no ano de 2014 e virando o ano, no início de 2015 começou, foi onde começou essas dificuldades. E foi bem complicado porque as empresas, elas baixavam os valores de oferta. Então, para manter a minha empresa com o que era ofertado era complicado. ”

“Enfrentamos! Enfrentamos e muito. As vendas decaíram de uma forma que tivemos que ir baixando preços, fazendo diminuição de produtos, como por exemplo, o pão e seus frios né. Muita gente parou de comprar coisas diárias, semanais por falta de renda e tal. [...] aí que começamos a “despencar”, fazendo anotações no caderno para pagarem depois e muitos,

RASM, Alvorada, ano 7, n.2, p.61-101, Jul/Dez 2017. infelizmente, não pagam, né, e sem renda não temos

como ter tudo que o pessoal (público) quer. ” “Não, não sentimos os efeitos da crise de 2008. ”

Quando analisados os depoimentos dos entrevistados das empresas ativas e das inativas, constatou-se a semelhança das dificuldades encontradas por essas empresas, relacionadas à queda de serviços; redução da mão de obra; e inadimplência de clientes. Segundo o Sebrae (2016), os principais fatores que levam a estes efeitos negativos estão ligados ao aumento de tarifas, gerando um crédito deficiente; a inadimplência; e o aumento da imprevisibilidade e da taxa de câmbio, pois o pequeno comércio tem dificuldades em repassar os custos altos de um mercado retraído ao preço do produto e do serviço, reduzindo sua margem de lucro e, em alguns casos, assumindo os prejuízos.

Quando as empresas ativas forma questionadas a respeito da necessidade de mudanças ou adaptação da empresa ao mercado em relação à crise, os entrevistados B e C afirmaram mudança em algum aspecto na organização, mas a empresa A optou por esperar a crise passar, como demonstram seus relatos:

“[...] trabalhamos muito com indicação, nós não temos muito o que fazer. Temos que aguardar a coisa se estabilizar, o mercado se estabilizar para poder continuar. ”

“Sim, tivemos que modificar a estratégia de apresentação dos nossos serviços e foi muito difícil, porque queremos manter o padrão, mas foi preciso mudar. ”

“Sim, tivemos que mudar ali o valor na mão de obra, né, e o valor das peças também. A gente trabalhava com uma média de 50% em cima das peças e tivemos que baixar aí para 30, 35%. ”

Considerando as respostas descritas acima, evidenciou-se a utilização de alguma estratégia para as empresas ativas permanecerem no mercado. Estratégias essas como redução do lucro de produtos e serviços; mudança na apresentação dos serviços, adaptando-se às necessidades dos clientes. Nesse contexto, em que diversas empresas decidem abandonar o mercado pelos mais diversos motivos relacionados aos efeitos da crise, essas empresas demonstram um diferencial e isso pode estar relacionado às decisões dos gestores.

Segundo Drucker (1981), as decisões são de grande importância para a sustentação da organização, pois são processadas em diversos momentos, sejam eles de crise ou até mesmo no dia a dia, sem nem mesmo o indivíduo ter consciência de suas realizações. Contudo, a

RASM, Alvorada, ano 7, n.2, p.61-101, Jul/Dez 2017.

tomada de decisão não pode ser considerada um processo fácil, pois a cada alternativa de decisão, vem a incerteza de seus impactos na organização (SOBRAL e PECI, 2010).

Quando questionados sobre a utilização de algum método gerencial para manter a empresa no mercado, em momentos de crise, duas empresas ativas afirmaram utilizar e apenas uma relatou não utilizar, conforme depoimentos das empresas A, B e C.

“Não. ”

“Sim, nós acompanhamos o mercado e a forma como a concorrência estava agindo, precisamos no adaptar, foi feito alguns cortes de despesas e redução de custos e também diversificamos alguns de nossos produtos. Passamos a oferecer mais produtos para tentar ter uma saída, para obter uma receita para equilibrar. ”

“Sim, sim. Tivemos que tomar a decisão e baixar os valores para continuar no mercado aí, né, sem perder o lucro. ”

A partir das análises dos relatos relacionados às empresas ativas, observou-se que a maior parte dos entrevistados assumiu ter utilizado algum método gerencial para manter a empresa firme no mercado, pois mencionou-se a necessidade da diversificação de produtos, cortes de despesas e redução do valor comercial de produtos e de serviços sem perder totalmente o lucro final. Para Sobral e Peci (2010), a decisão pode ser descrita como uma escolha entre alternativas e possibilidades, com o objetivo de encontrar a solução para um problema ou aproveitar uma oportunidade.

Quando a mesma pergunta foi realizada aos entrevistados das empresas inativas, identificou-se, através dos depoimentos dos entrevistados, que as empresas D, E e F, não conseguiram desenvolver um método eficaz a ponto de ajudar-lhes a permanecer no mercado:

“[...] nós optamos por tomar um empréstimo e foi aonde complicou a nossa situação. Com o empréstimo nós conseguimos resolver, mas resolvemos até chegar ao ponto de encerrar as atividades da empresa.” “Na verdade, nós fomos levando até aonde deu.

Quando decidimos vender nosso carro e comprar um de menor valor para comprar suprimentos para o mercado, vimos que não daria mais certo para nós. ”

“Não, a gente não sentiu o efeito da crise naquela época. ”

Através do depoimento das empresas ativas e das que já encerraram suas atividades entre os anos de 2008 e 2016, pode-se

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estímulo de continuar com suas empresas no mercado, optando por alternativas mais racionais. Para isso, foi realizada uma análise sobre o que seria necessário nesse momento de crise, adaptando a empresa ao mercado sem afetar, negativamente, seu desempenho. Ao contrário das empresas inativas que, através de suas decisões, optaram por alternativas imprecisas para o momento, não correspondendo aos fatores necessários e fazendo com que suas perspectivas fossem decaindo, levando ao mau desempenho da organização e desencadeando o encerramento de suas atividades.

No entanto, é importante salientar que, mesmo adotando um processo racional de decisão, cada indivíduo responsável segue um estilo de decisão específico. No caso das empresas ativas, identificou- se o estilo analítico, conforme abordado anteriormente. No entanto, esses sujeitos podem utilizar diferentes estilos, pelo fato de cada situação exigir características únicas frente às situações enfrentadas (SOBRAL e PECI, 2010). Percebe-se, então, que os indivíduos das empresas inativas não utilizavam ou variavam muito em relação ao estilo de tomada de decisão, o que pode, em tese, ser um elemento complicador no processo de decisão.

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