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ESTRATÉGIA DE SIMULAÇÃO

No documento juliagoesdasilvacarmo (páginas 132-137)

A retirada do Banco Global no modelo GTAP em favor da relação direta entre as regiões de propriedade e destino da poupança contribui para análises mais detalhadas e consistentes sobre as flutuações no fluxo internacional de investimento com repercussões sobre a percepção de risco do investidor, a estrutura produtiva, o padrão de comércio e o estoque de capital das economias regionais. A inédita desagregação do fluxo de investimento amplia a capacidade de análise sobre questões relacionadas às barreiras internacionais em uma determinada relação bilateral de investimento, como por exemplo: i) a adoção de uma política de liberalização ou de aumento do fluxo de investimentos entre Brasil e China; ii) eliminação tarifária da importação de bens de capital na economia brasileira e as consequências no fluxo internacional de investimento e nas percepções regionais de riscos; iii) deslocamentos individuais nas percepções regionais de risco e os desdobramentos no fluxo internacional de investimentos e na propriedade do capital em certas economias mundiais. Dessa maneira, pode-se considerar que a nova especificação detalhada do modelo, ao eliminar o agente “Banco Global”, parece

adequada para os estudos de relação risco-investimento-capital e efeitos econômicos em certas regiões mundiais, especialmente em economias em desenvolvimento onde o grau de risco é relativamente maior.

Este segundo ensaio realiza deslocamentos na percepção de risco de investimentos estrangeiros a fim de analisar as repercussões econômicas no sistema produtivo, no padrão de comércio, no fluxo de investimento e as respostas endógenas do próprio risco em certas regiões mundiais. Para tanto, as variações percentuais do prêmio risco, tratadas no primeiro ensaio, são os instrumentos de política a serem

simulados. Ao manter a mesma métrica do primeiro ensaio, é possível comparar as respostas distintas para as versões de modelos. Este ensaio utiliza a variável exógena 𝑖𝑛𝑣𝑝𝑟𝑜𝑝𝑠𝑙𝑎𝑐𝑘(𝑟, 𝑡) para o choque de deslocamento do risco percebido na região 𝑟 .

Ou seja, para a equação que estabelece a relação entre o risco percebido pelos residentes permanentes e seu portfólio em relação ao global, a variável risco percebido, 𝑟𝑠𝑘𝑙𝑝(𝑟, 𝑡), é endógena e a variável de ajuste na alocação do investimento

𝑖𝑛𝑣𝑝𝑟𝑜𝑝𝑠𝑙𝑎𝑐𝑘(𝑟, 𝑡) é declarada exógena.

Este ambiente econômico é caracterizado como de médio prazo, período antes que novos investimentos aumentem o total de capital e o torne disponível para a produção regional. Destarte, os residentes permanentes da região 𝑡 alocam sua poupança entre as regiões até que as taxas de retorno esperadas ajustadas de risco em todas as regiões correspondam a uma taxa comum: 𝑅𝑂𝑅𝐸𝐹𝑅𝐸𝐸𝐿𝑃(𝑟, 𝑡) = 𝑅𝑂𝑅𝐹𝑃𝐸𝑅𝑀(𝑡). Variáveis como as de quantidade de dotações de propriedade do residente permanente de 𝑡, de mudanças tecnológicas e de população de residência

permanente em 𝑡 são tratadas também como exógenas. Como modelos EGC trabalham com preços relativos, é necessário atribuir qual variável de preço será o numerário do modelo. Similarmente ao trabalho de Walmsley (2002), escolheu-se o preço global de poupança (𝑝𝑠𝑎𝑣𝑒𝑡𝑜𝑡).

O Quadro 3.3 apresenta os choques aplicados em cada simulação para a mesma agregação do Ensaio 1: 3 fatores primários de produção, 8 regiões, e 15 setores. Naquela ocasião, foram simulados os cenários de elevação da taxa de retorno esperada do capital, em decorrência de um choque de risco específico das regiões. Aqueles valores corresponderão os choques aplicados sobre a região de localização 𝑟, independente da região de residência permanente do proprietário. A

equação (18)49 estabelece que a variação do risco na região 𝑟, percebido pelo residente permanente de 𝑡 (𝑟𝑠𝑘𝑙𝑝(𝑟, 𝑡)) responde a variação percentual das variáveis exógenas risco normal 𝑛𝑜𝑚𝑟𝑠𝑘(𝑟, 𝑡) e 𝑖𝑛𝑣𝑝𝑟𝑜𝑝𝑠𝑙𝑎𝑐𝑘(𝑟, 𝑡). O risco percebido responde

também à variação percentual da relação entre a carteira do residente permanente e a global 𝑑𝑒𝑣𝑔𝑙𝑜𝑏𝑝𝑜𝑟𝑡(𝑟, 𝑡), que é ponderada pelo parâmetro de flexibilidade do risco em relação ao investimento 𝑅𝐼𝑆𝐾𝐹𝐿𝐸𝑋𝐿𝑃(𝑟, 𝑡).

Quadro 3.3 – Resumo das simulações propostas fechamento de longo prazo

Fonte: Elaborado pela autora.

Nota: As siglas representam: BRA Brasil, RSS Rússia, IND Índia, CHI China, SAF África do Sul, e UE União Europeia. REG representa o conjunto de todas as regiões 𝑅𝐸𝐺 = {𝐵𝑅𝐴, 𝑅𝑆𝑆, 𝐼𝑁𝐷. 𝐶𝐻𝐼, 𝑆𝐴𝐹, 𝑈𝐸, 𝐸𝑈𝐴, 𝑅𝑂𝑊}

A seção 2.3.2, referente ao primeiro ensaio, contém a metodologia de cálculo de risco e sua execução para a obtenção da magnitude do choque a ser aplicado neste ensaio. Cabe destacar algumas diferenças entre as duas simulações. Naquele ensaio, o cenário de elevação de risco no Brasil em 2,07% reflete o aumento da taxa de retorno esperada no Brasil e o impacto direto sobre o equilíbrio das taxas de retorno

49 Equação (18) 𝑟𝑠𝑘𝑙𝑝(𝑟, 𝑡) = 𝑛𝑜𝑚𝑟𝑠𝑘(𝑟, 𝑡) + 𝑅𝐼𝑆𝐾𝐹𝐿𝐸𝑋𝐿𝑃(𝑟, 𝑡) ∗ 𝑑𝑒𝑣𝑔𝑙𝑜𝑏𝑝𝑜𝑟𝑡(𝑟, 𝑡) + 𝑖𝑛𝑣𝑝𝑟𝑜𝑝𝑠𝑙𝑎𝑐𝑘(𝑟, 𝑡).

Simulação Choque Cenário

Cenário 1 (C1) inpropslack (BRA) = 2,07% Elevação do risco percebido no Brasil em 2,07% Cenário 2 (C2) inpropslack (RSS) = 9,07% Elevação do risco percebido na Rússia em 9,07% Cenário 3 (C3) inpropslack (IND) = 4,99% Elevação do risco percebido na Índia em 4,99% Cenário 4 (C4) inpropslack (CHI) = 6,08% Elevação do risco percebido na China em 6,08%

Cenário 5 (C5) inpropslack (SAF) = 1,91% Elevação do risco percebido noa África do Sul em 1,91% Cenário 6 (C6) inpropslack (UE) = 1,41% Elevação do risco percebido na União Europeia em 1,12%

que definem a alocação da poupança. Dessa maneira, a taxa de retorno esperada no Brasil terá variação 2,07% superior à variação da taxa de retorno global.

Neste ensaio, o cenário de elevação de risco no Brasil em 2,07% deve ser interpretado sob outra ótica. O aumento de risco será observado por todos os investidores proprietários de ativos no país. Todavia o impacto disso sobre o equilíbrio das taxas de retorno que definem a alocação da poupança é indireto, e ocorre via mudança no prêmio de risco exigido pelo investidos que é diferente para cada investidor. Além disso, endogenamente o investidor reconfigura seu portfólio para recompor o equilíbrio. Resumidamente, o aumento de 2,07% de risco no Brasil afetaria o prêmio de risco brasileiro em percentual menor ou maior que este a depender da nova estrutura de portfólio do investidor, tendo em vista o tratamento endógeno do risco.

A construção da base de dados inicial sinalizou que as regiões de interesse possuem ativos estrangeiros localizados em outras regiões. Portanto, as interações são bilaterais tanto por comércio internacional de bens quanto por fluxo internacional de investimento. Os resultados decorrentes dessas simulações ocorrerão sobre indicadores macroeconômicos e setoriais. Para solução do modelo, utiliza-se o método Euller em 2-4-6 etapas para resolver o modelo.

A Figura 3.5 exibe síntese do mecanismo de resposta do modelo ao choque proposto. Em suma, o aumento do risco regional eleva o prêmio de risco da região afetando a taxa de retorno ajustada de risco. Com o desequilíbrio, desta taxa para o residente permanente proprietário de investimentos o investidor irá reestruturar seu portfólio alterando as participações de cada região no destino de alocação de sua poupança. Consequentemente, a exposição ao risco regional será alterada e, pela resposta endógena do prêmio de risco a tal exposição haverá movimentação do fluxo

de investimentos até que as taxas regionais de retorno ajustada de risco sejam iguais para o investidor.

Figura 3.5 - Mecanismo de resposta do modelo

Fonte: Elaborado pela autora.

Com prêmio de risco maior, a taxa de retorno esperada da região afetada também subirá. Tendo em vista a relação inversa entre a taxa de retorno esperada e a taxa de crescimento do investimento, será observada taxa de crescimento do investimento regional menor do que a global, o que implica investimento regional e estoque de capital menor. Dessa maneira, os investidores irão enviar menos investimento para a região afetada pelo choque de risco. Assim sendo, a oferta de

Aumento risco regional

Afeta prêmio de risco exigido pelos proprietários de investimento

Menor demanda por fatores primários e intermediários de

produção A taxa de retorno ajustada de risco

se eleva

Redução de preço dos fatores. Menor custo de produção Haverá realocação dos portfólios de

investimentos regionais Produtos com preços menores

A taxa de retorno esperada se eleva no Brasil

Setores produtivos mais competitivos. Termos de troca

brasileiros são afetados Queda do envio de investimento

regional, dado que investidores esperam taxa de retorno maior

Pressão de demanda sobre produtos internos

Investimento e estoque de capital se elevam em outras regiões

Efeito substituição de bens importados por nacionais Altera a participação regional nos

portfólios de investimetnos Balança comercial é favorecida Redução do investimento produtivo, menor oferta do composto de bens

de capital a Bancos Regionais

bens de capital na região afetada será reduzida, impactando os setores que mais demandam investimentos. Em consequência, haverá queda nos preços e melhora na competitividade dos produtos nacionais em relação aos internacionais. O que se espera é que a queda no PIB, em decorrência da redução do investimento, seja atenuada pelos efeitos de interdependências setoriais e regionais.

Estabelecidas as definições acima, referentes a fechamento, método, base de dados inicial, cenário de choque e mecanismo de resposta aguardado, os resultados obtidos para os cenários propostos estão na próxima seção.

No documento juliagoesdasilvacarmo (páginas 132-137)