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Resultados setoriais para economia brasileira

No documento juliagoesdasilvacarmo (páginas 68-73)

2.4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

2.4.1 Aumento de risco de investir no Brasil

2.4.1.1 Resultados setoriais para economia brasileira

Como relatado, no modelo GTAP, o investimento de uma economia é um setor específico, associado à demanda de bens de capital dos demais setores da economia. Portanto, a queda do investimento brasileiro, resultante de um cenário de elevação de risco na economia brasileira, representa a redução da oferta desse tipo de insumo. Além disso, não sofre concorrência com um similar importado no processo produtivo das atividades setoriais da economia (tecnologia Leontief é parte estrutura do modelo). Dessa maneira, a queda na demanda brasileira por bens de capital de 4,72% representa igual queda na oferta do setor.

As atividades econômicas responsáveis por aproximadamente 95% da produção de bens de capital na economia brasileira são: Outros setores de serviços27 (46,86%); Outros setores da indústria (30,43%); Comércio (7,59%); Veículos automotores (7,18%) e Metalurgia (3,46%). Destarte, tais atividades representaram em conjunto 95,75% da queda no setor de bens de capital da economia brasileira, refletindo na redução da produção de bens de capital no país diante do choque de risco. Indiretamente, insumos primários de produção seriam menos demandados influenciando negativamente os preços de capital e trabalho. Para o Brasil, observa-

27 Cabe destacar que entre as atividades agrupadas neste setor está a Construção, Moradia, Água,

se uma retração dos salários e preço do capital em 1,75% e 1,54%, respectivamente. Setorialmente, essa diminuição dos custos é maior em atividades intensivas no uso desses fatores de produção. Assim, devido à interdependência setorial da economia, todos os setores produtivos têm redução em seus preços.

A queda na produção ocorreu apenas para Outros setores de serviços (0,68%), Comércio (0,27%) e Comunicação (0,14%), conforme Tabela 2.11. Estes três grupos setoriais brasileiros estão entre os menos expostos ao comércio internacional, em relação aos demais, além de sua produção ser absorvida majoritariamente no mercado interno. Contribuíram também para esse comportamento a relativa baixa concorrência desses setores aos importados, e a pequena participação desses setores na estrutura de custos daqueles que mais expandiram sua produção.

Tabela 2.11 – Efeitos sobre variáveis setoriais brasileiras (%)

Fonte: Elaborado pela autora a partir de resultados das simulações.

Extração Mineral, Metalurgia e Produtos Químicos são os três grupos de setores brasileiros que tiveram as maiores variações positivos para a quantidade Produzida Importada Exportada

S1 Extração de Petróleo e Gás 0,91 -0,31 1,94

S2 Extração Mineral 2,03 0,55 2,23

S3 Agricultura e pecuária 1,01 -1,48 3,80

S4 Metalurgia 1,91 -3,65 9,86

S5 Produtos alimentícios, bebidas e fumo 0,97 -2,92 5,93

S6 Derivados do Petróleo e biocombustível 1,79 -2,39 7,95

S7 Produtos Químicos, farmoquímicos e farmacêuticos 0,45 0,55 1,03

S8 Veículos automotores 0,24 -3,03 6,60

S9 Outros setores da Indústria 0,79 -5,92 11,00

S10 Serviços Financeiros -0,27 -3,16 6,46

S11 Comércio 0,07 -2,72 6,49

S12 Eletricidade, gás e outras utilidades 0,71 -3,40 8,42

S13 Comunicação -0,14 -3,16 6,33

S14 Serviços de Transporte 0,37 -2,57 3,93

S15 Outros setores de Serviços -0,68 -3,01 6,49

Variação na quantidade (%) Setor (i)

produzida, em 2,03%, 1,91% e 1,79%. As exportações das atividades econômicas de Extração Mineral sofrem pequena concorrência de importados no mercado interno e têm sua produção voltada para o mercado internacional. Dessa maneira, a queda no nível de preços melhorou a competitividade do setor o que permitiu maior produção (variação percentual de 2,03%) para atender ao aumento das exportações que se elevou em 2,23% (Tabela 2.11).

O aumento da produção setorial para treze dos quinze setores analisados, como apresentados na Tabela 2.11, mostram-se um resultado um tanto contra intuitivos tendo se contrastados aos resultados macroeconômicos de queda no PIB e investimento brasileiros. Todavia, a variação negativa da quantidade produzida do setor Outros setores de serviços, dada sua representatividade no setor de bens de capital (46,86%, como mostra a Tabela 2.10), mostra-se setor afetado pela queda do investimento enquanto os demais contribuem para a que o PIB não passasse por queda de magnitude maior ou semelhante ao que ocorreu com o investimento.

As atividades de Metalurgia e Produtos Químicos têm suas produções destinadas para consumo doméstico como bens intermediários, em 85,97% e 75,19%, respectivamente. Além disso, apenas a proporção de 10,01% e 21,39% da produção dessas atividades correspondem a bens importados, respectivamente. Assim, ambas as atividades produtivas elevariam sua produção frente à queda nas importações, devido ao efeito substituição, e o aumento das exportações, em decorrência da redução dos preços. A maior variação positiva para as exportações da Metalurgia (9,86%), em comparação ao de Produtos Químicos (7,95%), pode ser explicada pelas maiores participações das exportações na produção nacional daquele setor.

Outros setores da indústria e Eletricidade28 são atividades que tiveram maior variação percentual positiva para as exportações, 11,0% e 8,42%, respectivamente. Também estão entre os três que tiveram maiores variações percentuais negativas para importações quais sejam: 5,92% para Outros setores da indústria, 3,65% Metalurgia, e 3,40% para Eletricidade. Tais resultados dariam indícios da substituição de produtos importados por domésticos. Constatada a redução dos preços domésticos, haveria aumento das exportações concomitante à queda das importações. Portanto, esses três setores produtivos que mais contribuíram para o resultado da Balança Comercial brasileira. (Tabela 2.11)

A exposição ao comércio internacional das atividades de Outros setores da indústria, demonstra a relativamente elevada concorrência a produtos externos no mercado interno. Então, o impacto favorável sobre os preços nacionais, tornaria o setor mais competitivo e o levaria à queda das importações brasileiras da ordem de 5,92%. Em relação ao setor de Eletricidade, gás e outras utilidades, este tem relativamente baixa exposição ao comércio internacional, contudo o aumento das exportações e a queda nas importações contribuíram para o aumento da produção do setor, perante a melhora na competitividade com os produtos estrangeiros e sua participação na estrutura de custos de todos os setores nacionais.

Quanto à variação percentual da quantidade importada dos setores brasileiros cabe destacar que apenas Extração Mineral e Derivados do Petróleo e biocombustível, tiveram variação positiva em 0,55% das importações. Isso ocorre por que, no mercado de fatores primários, que foi afetado indiretamente pelo choque, o preço da terra elevou-se em 3,82% afetando o preço e as relações comerciais dos setores que a utilizam. Portanto, o setor de Extração Mineral teve menor aumento das

exportações líquidas, diante da melhora na competitividade. Em decorrência disso, o setor de Derivados do Petróleo e biocombustíveis teve um ainda menor aumento das exportações líquidas. Este setor não tem o fator terra em sua estrutura de custo, mas 70,90% dela são de insumos de Extração Mineral. Daí o baixo desempenho de Derivados do Petróleo e biocombustíveis que favoreceu o déficit comercial.

A Balança Comercial Brasileira, nesse cenário, seria positivamente afetada. Rússia, China e Restante do Mundo reduziram o superávit que tinham antes do choque sofrido pelo Brasil. Enquanto Índia, África do Sul, União Europeia e Estados Unidos aprofundaram o déficit que tinham pré-choque. Esses comportamentos são esperados para o equilíbrio das Contas Externas uma vez que Brasil passou a receber menos investimento externo, dentro do arcabouço GTAP. Do total de aumento das exportações brasileiras 19,89% foi para a União Europeia, 14,02% para Estados Unidos e 12,10% para a China. As exportações para Rússia, Índia e África do Sul contribuíram em 3,21% para o aumento, outros 50,78% eram do Restante do Mundo. A queda do investimento externo brasileiro gerou efeitos sobre as exportações líquidas e a Balança Comercial, em que 79,20% do aumento do superávit comercial brasileiro couberam a: Demais setores da Indústria, 40,11%; Produtos Químicos, 10,69%; Produtos alimentícios, bebidas e fumo, 10,64%; Metalurgia, 10,32%; e Veículos automotores, 7,44%. De forma geral, os setores relativamente expostos ao comércio internacional, ou que são parte integrante da estrutura de custos de setores expostos, exceto os que utilizam o fator primário terra, se beneficiaram da melhora na competitividade das commodities diante da queda nos preços relativos, contribuindo para a Balança Comercial brasileira.

No documento juliagoesdasilvacarmo (páginas 68-73)