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A metodologia central adoptada assentou numa componente qualitativa-intensiva, que teve por base a entrevista. O uso da entrevista favoreceu a análise do sentido atribuído pelos indivíduos à sua visita ao PC e permitiu a reconstituição dessa experiência. A entrevista revelou-se também adequada pela sua mais-valia ao nível do grau de profundidade dos elementos de análise recolhidos e por ter permitido recolher os testemunhos dos interlocutores de acordo com os próprios quadros de referência, a sua linguagem e as suas categorias mentais.

A flexibilidade do dispositivo foi também evidenciada, particularmente pela recorrência ao modelo semi-directivo, no qual o investigador conduz o entrevistado por uma série de tópicos previamente estabelecidos, mas sem que haja uma ordem e uma lógica rígidas com que eles são abordados, e concedendo sempre alguma liberdade para o entrevistado abordar outras questões que considerar oportunas (Ghiglione e Matalon, 1992).

Os métodos qualitativos, e nomeadamente este tipo de entrevista, adequam-se assim à captação do social a partir do singular, e podem ser encarados como meios para ir para além do que os instrumentos estatísticos apreendem habitualmente se o que se procura é compreender e interpretar as experiências de visita, o sentido atribuído à visita, os modos de mediação culturais. A aproximação qualitativa permitiu localizar as dimensões afectivas e sensíveis da visita. Ao dar-se a oportunidade aos indivíduos de desenvolver as suas respostas, de elaborar e produzir o seu discurso, dá-se-lhes a possibilidade de reflectir sobre a sua própria prática e explicitar escolhas, motivações, expectativas, percepções, emoções, apreciações.

Para além de se ter revelado apropriado à avaliação de dimensões cognitivas de maior complexidade e ao aprofundamento de pontos específicos, o modelo de entrevista adoptado permitiu também recorrer a trajectórias biográficas, por forma a contextualizar a visita e a facilitar a interpretação dos significados atribuídos à experiência museográfica e à forma como ela foi vivida.

Uma pesquisa deste género não tem evidentemente nenhum objectivo de representatividade. Pretenderam-se acima de tudo captar subjectividades, lógicas singulares. No entanto, foi um objectivo garantir a diversidade da amostra, como já referido anteriormente, em termos de perfil socioeconómico, mas também da relação prévia com o PC (visitantes estreantes e visitantes mais frequentes), das modalidades de

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acompanhamento na visita (familiares, amigos, com e sem crianças, etc.) e das exposições visitadas (não só que exposições, mas quantas exposições). Para isso, foi elaborado um pequeno questionário com o intuito de ser aplicado aos visitantes que se disponibilizassem para a entrevista, permitindo a sua selecção.

A informação recolhida através das entrevistas foi depois analisada com o auxílio do programa MaxQda, um programa informático para a análise de dados qualitativos.

Numa fase exploratória, no decorrer do contacto com o terreno, mantiveram-se também algumas conversas informais com os monitores. Estas conversas permitiram a obtenção de informações úteis para a realização do trabalho e o fornecimento de pistas que se revelaram importantes para a elaboração dos guiões de entrevista aos visitantes.

Sendo os monitores informantes privilegiados, pelo contacto directo que mantêm com os públicos, julgou-se ser ainda proveitosa a realização de uma entrevista com estes depois de terminado o período de entrevista aos visitantes. O objectivo desta entrevista, que seguiu o modelo semi-directivo, foi principalmente captar as percepções destes profissionais do Pavilhão acerca do público não-escolar e das suas visitas, assim como do seu próprio papel enquanto monitores, mas também recolher comentários sobre algumas questões levantadas nas entrevistas com os visitantes e alguns dados resultantes das mesmas. A entrevista aos monitores acabou assim também por contribuir para o enriquecimento da interpretação das respostas dos visitantes.

Recorreu-se ainda, no desenvolvimento desta investigação, à pesquisa documental e à observação directa. Foram analisados, por exemplo, registos de visitantes do PC e outros documentos relativos às exposições. No que refere à observação, esta técnica foi utilizada numa primeira fase, para caracterizar o contexto físico. Os visitantes foram também focados na observação empreendida nessa fase inicial, com o objectivo de recolher pistas a explorar na investigação. Tratou-se de observação directa, entendida como um “conjunto de técnicas de observação visual e auditiva, não envolvendo interacções verbais específicas com o observador, e supondo frequentemente o anonimato deste” (Costa, 1986:136). Através da observação dos visitantes foi possível recolher alguma informação, embora de cariz essencialmente exploratório, ao nível do contexto temporal e social das visitas, e essencialmente da forma como estas decorrem, no que respeita aos modos de relação dos visitantes com as exposições, ao seu comportamento concreto no interior da estrutura museográfica.

As metodologias explicitadas adaptam-se então aos objectivos de estudo que estão na base deste trabalho, dando resposta às dimensões de análise, anteriormente apresentadas, da seguinte forma:

Reconhecimento do contexto situacional – o contexto físico através da observação, da pesquisa documental e da entrevista aos monitores; o contexto temporal e social através da observação, da análise documental e das entrevistas a monitores e visitantes; e o contexto motivacional através da entrevista aos visitantes;

Explanação de trajectórias de vida – através essencialmente da entrevista aos visitantes; e

Identificação de experiências de visita, incluindo não só os estilos de visita como as vertentes de índole mais cognitiva e apreciativa – através da observação e das entrevistas a monitores e visitantes.

No quadro 1 esquematiza-se precisamente a relação entre as dimensões analíticas e os métodos adoptados, incluindo também o mini-questionário utilizado para selecção dos visitantes entrevistados:

Quadro 1 Métodos e dimensões de análise

Dimensões de

análise Métodos Observação

Análise documental Entrevista monitores Mini-quest.p/selecção visit.entrevistados Entrevista visitantes História pessoal X X Cultura e ciência X Trajectória de vida

Relação prévia com o PC X X

Contexto físico X X X Contexto temporal e social da visita X X X X X Contexto da visita Motivações e intenções de visita X O decorrer da visita X X X X Experiência

de visita Apreciação, representações e contributos

X X

As técnicas utilizadas necessitaram rigor, numa lógica de observação que deve buscar a imparcialidade e numa situação de entrevista sempre complexa em termos de trocas. O contexto da entrevista deve ser sempre levado em conta aquando da sua análise, já que a interacção entre o entrevistador e o entrevistado pode criar alguns efeitos que condicionem as respostas dadas pelo segundo - nem o entrevistador consegue ser completamente neutro nem o entrevistado é absolutamente espontâneo.

Partindo das aquisições sociológicas e epistemológicas de que a ciência é produzida em contexto social, por agentes sociais e através de processos sociais, é possível alcançar

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níveis cada vez mais exigentes de racionalidade, objectividade e responsabilidade na prática científica. Só tendo consciência dos limites é possível regulá-los melhor, aprendendo a controlar melhor significados e conteúdos e a não economizar na análise das configurações societais e institucionais concretas em que decorre a actividade científica (Pinto, 2001).

A especificação das operações metodológicas levados a cabo consta de cada um dos capítulos em que se apresentam os respectivos resultados.

2. EXPERIÊNCIAS DE VISITA DO PÚBLICO NÃO-ESCOLAR: