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HIPÓTESE

2.4 A Estratégia Saúde da Família

Reconhecida como principal modelo de organização da atenção à saúde, no âmbito da atenção primária e da atenção básica, a ESF é preconizada e adotada pelo MS do Brasil em consonância com as diretrizes e os princípios do SUS, política pública de saúde do país, fruto de uma forte e histórica mobilização popular, política e social do povo brasileiro, criado na Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988 (BRASIL, 1988).

A implantação da ESF é um marco na inserção estratégica da atenção primária na política de saúde brasileira. Anteriormente, os princípios de cuidados primários de saúde da Conferência de Alma-Ata já haviam influenciado a formação das políticas públicas de saúde no Brasil, tendo os fundamentos traduzidos no novo modelo de proteção social em saúde instituído com o SUS (SARTI et al., 2012).

Foi instituída como Programa de Saúde da Família (PSF) em 1994, sendo implantado, pelo MS, como estratégia de reorganização do modelo assistencial predominante na atenção básica, tendo como finalidades: associar ações de promoção e prevenção da saúde, racionalizar recursos destinados à atenção secundária e terciária, diminuir a sobrecarga em hospitais solucionando problemas de urgências e emergências, promover a integração do SUS com universidades e definir políticas de recursos humanos para atender os serviços de saúde (GABARDO; JUNGES; SELLI, 2009).

O PSF foi catalogado como estratégia ao final da década de noventa, buscando diferenciar-se dos programas tradicionais já produzidos pelo MS, passando a ser denominado de ESF. Essa mudança de nome ocorreu devido ao termo programa remeter a uma atividade com início, desenvolvimento e fim, sendo que a estratégia objetiva uma reorganização da atenção primária em saúde no Brasil, segundo o SUS (LACAZ et al., 2013).

A segunda versão oficial, publicada em 1997, trouxe sua definição como estratégia de reorientação do modelo assistencial e sua implantação seguiu abrigando tal dicotomia: de um lado, ratificava sua condição de programa, apresentando-se com objetivos, metas e passos definidos, com uma formulação e modo próprio estabelecido/normatizado, de outro lado reivindicando a posição de estratégia por sinalizar um caminho possível para se atingir os objetivos do SUS, reorientando o modelo assistencial a partir da atenção básica, sendo, portanto, capaz de influenciar e produzir impactos no sistema como um todo (RIBEIRO; PIRES; BLANK, 2004).

A ESF tem conseguido reorganizar a atenção básica à saúde no Brasil. É considerada importante para solucionar os desafios referentes a organização da saúde coletiva, seja no universo político-partidário das corporações profissionais da saúde, no setor de formação em saúde e na própria sociedade. Tem como um de seus objetivos ampliar a atuação do Programa dos Agentes Comunitários de Saúde (PACS) iniciado em 1991, construindo uma parceria de trabalho na qual um programa interagiria com o outro, facilitando e complementando sua atuação.

A ESF é essencial na comunidade, pois a partir de uma equipe multiprofissional, é possível identificar as dificuldades e riscos que acometem os moradores de uma determinada região. Nessa estratégia, a família passa a ser o foco de atenção e é importante a criação de um laço entre os profissionais da saúde da ESF com os moradores da área, buscando um melhor entendimento a respeito dos direitos e deveres de cada cidadão (SARTI et al., 2012).

Fundamentalmente, a reformulação do modelo tecno-assistencial sugerida pela ESF baseia-se na mudança do olhar sobre a pessoa e a sua patologia para o cuidado integral aos indivíduos em seu contexto familiar e comunitário, tendo como base teórica e prática, a integralidade da atenção, a promoção da saúde e a vigilância em saúde (SARTI et al., 2012).

A complexidade das ações que precisam ser desenvolvidas na ESF requer a constituição de equipes multiprofissionais de trabalho, cujos membros sejam capazes de se articularem com o intuito de compreender o contexto sociocultural da população abrangida e construir um campo de diálogo que envolva suas representações sociais (RIBEIRO; PIRES; BLANK, 2004).

No trabalho da ESF há a existência de equipes de saúde da família, as quais necessitam ter, minimamente, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem, um

médico de família ou generalista e quatro a seis Agentes Comunitários de Saúde (ACS) (BRASIL, 2001; MARQUES; SILVA, 2004). Cada qual tem sua determinada função, mas um objetivo em comum: o de promover a saúde dos usuários de forma interdisciplinar:

Em adendo, a Portaria 2.488 de 21/10/2011 (Brasil, 2011), que aprovou a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), estabeleceu a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica (AB), da ESF e do Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Saliente-se que os termos AB e APS apresentam-se na PNAB como equivalentes e são conceituados como conjunto de ações individuais e coletivas de promoção e proteção à saúde, prevenção, diagnóstico, cura, objetivando atenção integral que interfira na saúde e nos determinantes sociais; desenvolvidas por práticas de gestão participativas sob forma de trabalho em equipe voltadas às populações dos territórios pelos quais se assume responsabilidade sanitária (LACAZ et al., 2013)

O trabalho em equipe tem como objetivo a obtenção de impactos sobre os diferentes fatores que interferem no processo saúde-doença e a ação interdisciplinar pressupõe a possibilidade da prática de um profissional reconstruir-se na prática do outro, ambos sendo transformados para a intervenção na realidade em que estão inseridos (ARAÚJO; ROCHA, 2007). Por isso, agir na perspectiva da promoção da saúde implica na constituição de equipes interdisciplinares, na integração entre os serviços, nos seus vários níveis de atenção, e garantir do respeito á historicidade e trajetória de vida das populações atendidas (GUEDES; FERREIRA JUNIOR, 2010).

A operacionalidade da ESF acontece por meio do trabalho das equipes multiprofissionais, é conduzida às populações em territórios delimitados com aproximadamente mil famílias ou quatro mil habitantes, pelas quais assumem responsabilidade. Cada território expressa características culturais, socioeconômicas, ambientais, demonstrando o modo de vida da população que nele habita. Dentro desta perspectiva, o território abrangido pelas equipes da ESF é entendido como território vivo, levando-se em conta, além da sua natureza espacial, a ação humana (RIVERA, 1995; GALLO, 1995; ELIA; NASCIMENTO, 2011).

As equipes multiprofissionais da ESF devem atuar na territorialização e no mapeamento da área de atuação, identificando grupos, famílias e pessoas expostas aos riscos. Em cada território, as equipes procuram estabelecer relações existentes entre o adoecer e a vida cotidiana e, assim, conseguem identificar prioridades e mobilizar recursos potenciais para atender às necessidades de saúde da comunidade (BRASIL, 2011).

equipe multiprofissional hábil a oferecer atenção integral e sustentar o enfoque social ampliado da ESF, exige qualificação e adesão à proposta por parte dos profissionais envolvidos neste processo. Com isso, oferece um devido suporte para alcançar a finalidade de atender os indivíduos de uma maneira integral e satisfatória (ESCOREL et al., 2007).

No trabalho em equipe proposto pela ESF, tanto os trabalhadores de enfermagem quanto os demais têm uma grande oportunidade de recuperar a visão da totalidade do trabalho, considerando que o trabalho em saúde é coletivo (MARQUES; SILVA, 2004), pois a assistência prestada é parcelada em diversas atividades e exercida por vários profissionais da saúde (PIRES, 2009), os quais devem eticamente desenvolver sua parte com precisão, articulação e qualidade.

A qualidade do trabalho em saúde é composta por duas dimensões: a primeira é a qualidade técnica, que corresponde à precisão do diagnóstico e de procedimentos; a segunda é a funcional, que se refere ao modo com que os serviços são ofertados aos indivíduos (RIGHI; SCHMIDT; VENTURINI, 2010). O conjunto das duas dimensões interferirá, diretamente, nos efeitos úteis pretendidos tanto pela equipe como pelos seus usuários.

Nesta perspectiva, as práticas de enfermagem passam por uma série de transformações, deslocando a atuação dos profissionais, antes predominantemente da área curativa, individualizada e vinculada às instituições hospitalares para a produção de serviços em unidades básicas de saúde (UBS) com ênfase nas ações de promoção e proteção da saúde e de prevenção de doenças em bases coletivas, compondo com as demais práticas sociais as ações da equipe de saúde. (NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2005).

Assim, para a compreensão da especificidade do trabalho da/o enfermeira/o na ESF é imprescindível que se analise a sua inserção no trabalho da equipe de saúde, o modo como ocorre sua relação com o processo de trabalho e o modo como o enfermeiro realiza o cuidado específico de enfermagem (ERMEL; FRACOLLI, 2006).

2.5 O Trabalho da/o Enfermeira/o e a Enfermagem na Estratégia da