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O Processo de Trabalho e o Trabalho em Saúde

HIPÓTESE

2.3 O Processo de Trabalho e o Trabalho em Saúde

O modo como se desenvolve o trabalho, qualquer que seja ele, é chamado de processo de trabalho, ou seja, pode-se dizer que se trata do conjunto de procedimentos pelos quais os homens atuam, utilizando os meios de produção, sobre algum objeto para, transformando-o, obterem determinado produto que, pretensamente, tenha alguma utilidade as suas necessidades (FARIA; SANTOS; WERNECK, 2009). Neste sentido, o conhecimento sobre os elementos deste processo pode apoiar a compreensão das questões referentes ao processo de trabalho em saúde.

Segundo Peduzzi, Schraiber (2009), o estudo do processo de trabalho em saúde deve contemplar a análise de seus componentes, quais sejam: o objeto, os instrumentos, a finalidade e os agentes, destacando que esses elementos precisam

ser examinados de forma dialética, pois somente na sua relação recíproca configura um processo de trabalho específico.

Considerando um processo de trabalho específico, as finalidades ou objetivos são projeções de resultados para satisfazer necessidades do homem, conforme o seu momento histórico-social. O objeto é aquilo sobre o que se trabalha, pode ser a matéria-prima ou aquela já elaborada, mas também determinadas condições pessoais ou sociais. Os meios de produção ou instrumentos de trabalho são o que se utiliza para alcançar os objetivos, podem ser máquinas, ferramentas ou equipamentos, ou ainda conhecimentos e habilidades. Os homens são os agentes desse processo de transformação, almejando atingir fins previamente estabelecidos (FARIA et.al., 2009). Cabe explicar que o conceito de processo de trabalho é oriundo da economia, ganhando importância a sua análise na área da saúde.

O objeto no setor saúde constitui-se nas necessidades humanas em saúde, sobre as quais incide a ação dos trabalhadores da área. Por natureza, contém, em potencialidade, o resultado da transformação efetivada pelo trabalho, no entanto essa qualidade não transparece por si mesma enquanto não for evidenciada pelo esforço do trabalho. Logo, certos aspectos da realidade destacam-se como objeto somente quando o sujeito assim os delimitam, mas somente quando foi recortado por um ‘olhar’ que contém um projeto de transformação, expressando assim, de fato, a intencionalidade do processo de trabalho em saúde (PEDUZZI, SCHRAIBER, 2009).

Os instrumentos tampouco são naturais, mas sim constituídos historicamente pelos sujeitos na perspectiva da ampliação de suas possibilidades de intervenção sobre o objeto. Desta maneira, potencializam a ação transformadora do trabalho em relação ao objeto e a ele se adequam correspondentemente (PEDUZZI, SCHRAIBER, 2009).

A análise de Merhy (2000) referente às tecnologias utilizadas na área da saúde pode ser muito oportuna, pois é explicativa dos instrumentos específicos do setor, classificando as tecnologias utilizadas em “leves”, “leve-duras” e “duras”. Conforme sua análise, o autor aponta três espaços, por ele denominados de “valises”, as quais contêm ferramentas tecnológicas para demonstrar o arsenal do trabalho em saúde: uma primeira em que se encontram os instrumentos, equipamentos ou insumos (tecnologias duras), uma segunda contendo o saber técnico estruturado (tecnologias leve-duras) e uma terceira com as relações entre

sujeitos que só têm materialidade em ato (tecnologias leves).

Há um maior e melhor entendimento do processo de trabalho em saúde como parte do setor de serviços, com o qual tem identidade e, ainda, podendo receber os adjetivos de coletivo e institucional, sendo desenvolvido de maneira parcelar ou pormenorizada, segundo a lógica taylorista/fordista de organização e gestão do mesmo (RIBEIRO, PIRES, BLANK, 2004).

Ainda conforme a análise das autoras, um conjunto de atividades que não estão diretamente envolvidas na produção fabril tem crescido progressivamente desde a Revolução Industrial, constituindo-se no chamado setor de serviços ou setor terciário, as quais eram desenvolvidas no âmbito das empresas, mas passaram a ser praticadas por serviços especializados fora dela (RIBEIRO, PIRES, BLANK, 2004). É também evidenciado o crescimento da prestação de serviços de educação, de saúde e segurança, ora tomados como obrigação positiva do Estado por serem direitos fundamentais, mas se tornaram possibilidade de acumulação de capital.

Desta maneira, a área da saúde, integrante do setor terciário, historicamente tem se incorporado à lógica taylorista/fordista, referida anteriormente, engendrando um modelo assistencial centrado na doença, marcando o sistema de saúde em nosso país com práticas ainda voltadas para a prestação de ações assistenciais que priorizam procedimentos sustentados por medicamentos e equipamentos sofisticados, pouco resolutivos face as necessidades de melhoria das condições de vida das populações, em detrimento de praticas de autocuidado e de promoção e manutenção da vida.

Destarte, o trabalho em saúde é essencial para a vida humana, tratando- se de um fazer coletivo, pois é realizado por diversos profissionais de distintas categorias ocupacionais que desenvolvem uma série de atividades necessárias para a manutenção do processo civilizatório. Envolve características próprias de trabalho assalariado, parcelar e profissional do tipo artesanal. Compõe a esfera da produção não material, ou seja, completa-se no ato de sua realização e seu resultado não é um produto material, mas um “efeito útil temporário”, na verdade, um resultado que é indissociável do processo que o produz, sendo consumido na própria realização da atividade (RIBEIRO, PIRES, BLANK, 2004).

É sob a égide dessas condições, que profissionais das mais diversas categorias, incluindo os exercentes da Enfermagem, comprometem-se em prestar assistência segura e resolutiva as populações brasileiras, ainda devendo considerar

a situação de expropriação de direitos trabalhistas, precarização da situação de trabalho, assédio moral, condições estas que só colaboram para o desgaste e fadiga dos trabalhadores, baixa resolutividade e ineficiência do sistema de saúde.