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3 INFLUÊNCIAS SÓCIO-AMBIENTAIS NA MOTIVAÇÃO AUTÔNOMA

4.2 Engajamento Cognitivo

4.2.1 Estratégias de Aprendizagem

As estratégias de aprendizagem são cognições e comportamentos com os quais o aluno se engaja durante a realização das tarefas de aprendizagem e visam influenciar o processo de codificação, armazenamento e utilização das informações. (BORUCHOVITCH, 1999; BORUCHOVITCH; COSTA, 2004). As estratégias de aprendizagem envolvem uma ampla gama de ações, por isso, existem muitas maneiras de classificá-la (ZIMMERMAN; MARTINEZ-PONS, 1990). De acordo com Pintrich (1989), embora sejam diversas as formas de se entender as estratégias de aprendizagem, uma classificação útil distingue as estratégias em três categorias: estratégias cognitivas, metacognitivas e de gerenciamento de recursos.

As estratégias cognitivas referem-se aos comportamentos e pensamentos que o aluno utiliza para realizar a codificação do material a ser aprendido e influenciam o processo de aprendizagem de modo que a informação seja armazenada de forma eficiente e duradoura (BORUCHOVITCH, et al. 2006; PINTRICH; GARCIA, 1991). Em geral, as estratégias cognitivas são delineadas como ensaio, elaboração e organização (BORUCHOVITCH, 2001). As estratégias de ensaio envolvem repetir ativamente, tanto pela fala quanto pela escrita, o material a ser aprendido. As estratégias de elaboração referem-se à realização de conexões entre as novas informações e os conhecimentos prévios (p. ex., reescrever, resumir, criar analogias, tomar notas, criar e responder perguntas sobre o material, entre outras). As estratégias de organização dizem respeito à imposição de estrutura ao material a ser aprendido, isto é, subdividi-lo em partes ou identificar as interligações e distinções entre os conceitos (p. ex., fazer mapas conceituais, fluxogramas, elaborar tópicos, entre outros).

As estratégias metacognitivas são procedimentos que o aluno utiliza para regular o seu próprio pensamento enquanto realiza as atividades de aprendizagem (PINTRICH; GARCIA, 1991). O termo metacognição é popular em uma variedade de pesquisas na área da psicologia e educação, o que o torna um conceito difuso. No entanto, de acordo com Pintrich (1989) ele é mais usado para se referir a dois

aspectos cognitivos: (1) a tomada de consciência e conhecimento sobre a cognição e (2) o controle e a regulação da cognição.

Sendo assim, segundo Pintrich (1989), existem três processos envolvidos na metacognição: planejamento, monitoramento e regulação. O planejamento implica em o estudante estabelecer objetivos para si, fazer análises sobre o material a ser aprendido e preparar os materiais necessários para realizar seus estudos. O monitoramento envolve a verificação constante por parte do estudante se ele está compreendendo o material, por meio de autotestagem e se ele está atento na leitura e na resolução das tarefas. As estratégias de regulação são aquelas que os alunos utilizam para se ajustarem às demandas das tarefas e estão muito ligadas com o monitoramento. Este é o caso, por exemplo, de um aluno que não está compreendendo a tarefa de casa de matemática, ou que suas estratégias de resolução não estão sendo eficazes para um exercício, relê o enunciado, busca outras formas de resolução e as testa.

Segundo Pintrich (1989) as estratégias de gerenciamento de recursos dizem respeito a uma variedade de estratégias que ajudam os alunos a administrarem os recursos disponíveis. Esses recursos incluem o tempo hábil para estudar, o ambiente de estudo, assim como o próprio aluno, (em termos de esforço e persistência).

O gerenciamento do tempo refere-se à organização por parte do aluno do seu tempo disponível para realizar as tarefas escolares, tendo em vista as especificidades das mesmas. O uso do tempo envolve a escolha e valorização de uma determinada tarefa pelo o aluno e, portanto, está relacionada com sua orientação motivacional (PINTRICH; GARCIA, 1991).

O ambiente em que o aluno estuda também é um aspecto importante. De acordo com Pintrich (1989) a natureza deste ambiente, isto é, se é uma biblioteca, mesa de cozinha ou do quarto, não é tão importante quanto ao fato de que ele dever ser organizado, silencioso e livre de distrações visuais ou auditivas. O autor argumenta que é bem provável que não se tenha um engajamento de qualidade quando há muitas distrações como conversa, som de música ou televisão, entre outros. Outro aspecto do ambiente que precisa ser aprendido pelos alunos é a busca por apoio dos outros, ou seja, o aluno deve saber quando e como procurar ajuda do professor, colegas e dos pais para realizar as tarefas escolares.

A última estratégia de gerenciamento de recursos diz respeito ao autogerenciamento em termos de esforço e persistência e está relacionada com os padrões motivacionais. Segundo Pintrich (1989), um bom estudante sabe quando aumentar o esforço e a persistência na tarefa e que, de acordo com a tarefa, será necessário utilizar outras estratégias.

O uso mais frequente e flexível de estratégias cognitivas de elaboração e organização e de estratégias metacognitivas, de acordo com Pintrich e Garcia (1991) e Bzuneck (2001), caracteriza um processamento de profundidade, que por sua vez, resulta em uma aprendizagem mais significativa. Inversamente, as estratégias de ensaio, que envolvem apenas a repetição do material a ser aprendido, sem qualquer elaboração mental, resultam em um processamento superficial e em uma aprendizagem efêmera, sem novas construções cognitivas. E para ser bem sucedido no uso das estratégias de aprendizagem o aluno deve, além de conhecer quais são as estratégias, saber como cada uma funciona, qual o momento de serem aplicadas e dominar, por meio de treinamento, o uso das mesmas (BZUNECK, 2001).

Sendo assim, nesta perspectiva, o estudante cognitivamente engajado ou autorregulado é aquele que utiliza estratégias para elaborar e organizar o material a ser aprendido, bem como para planejar, monitorar e regular sua cognição, tempo e ambiente de estudo e o seu esforço cognitivo antes, durante e após a realização das tarefas de aprendizagem. E de acordo com Fredricks et al. (2004) o método mais utilizado para medir essas variáveis são os questionários de autorrelato, nos quais os alunos, via de regra, respondem questões referentes a como e com que frequência utilizam as estratégias de aprendizagem. A seguir, serão apresentados alguns estudos que avaliaram o engajamento cognitivo em relação a outras variáveis, como a motivação.

4.2.2 Pesquisas sobre engajamento cognitivo

As pesquisas neste campo, como mencionado no início deste capítulo, são diversificadas. Por isso, serão apresentadas apenas as pesquisas nas quais a definição e a mensuração do engajamento cognitivo se pautou na literatura das estratégias de aprendizagem. Assim como foi observado no engajamento