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3 INFLUÊNCIAS SÓCIO-AMBIENTAIS NA MOTIVAÇÃO AUTÔNOMA

4.2 Engajamento Cognitivo

4.2.2 Pesquisas sobre Engajamento Cognitivo

autogerenciamento em termos de esforço e persistência e está relacionada com os padrões motivacionais. Segundo Pintrich (1989), um bom estudante sabe quando aumentar o esforço e a persistência na tarefa e que, de acordo com a tarefa, será necessário utilizar outras estratégias.

O uso mais frequente e flexível de estratégias cognitivas de elaboração e organização e de estratégias metacognitivas, de acordo com Pintrich e Garcia (1991) e Bzuneck (2001), caracteriza um processamento de profundidade, que por sua vez, resulta em uma aprendizagem mais significativa. Inversamente, as estratégias de ensaio, que envolvem apenas a repetição do material a ser aprendido, sem qualquer elaboração mental, resultam em um processamento superficial e em uma aprendizagem efêmera, sem novas construções cognitivas. E para ser bem sucedido no uso das estratégias de aprendizagem o aluno deve, além de conhecer quais são as estratégias, saber como cada uma funciona, qual o momento de serem aplicadas e dominar, por meio de treinamento, o uso das mesmas (BZUNECK, 2001).

Sendo assim, nesta perspectiva, o estudante cognitivamente engajado ou autorregulado é aquele que utiliza estratégias para elaborar e organizar o material a ser aprendido, bem como para planejar, monitorar e regular sua cognição, tempo e ambiente de estudo e o seu esforço cognitivo antes, durante e após a realização das tarefas de aprendizagem. E de acordo com Fredricks et al. (2004) o método mais utilizado para medir essas variáveis são os questionários de autorrelato, nos quais os alunos, via de regra, respondem questões referentes a como e com que frequência utilizam as estratégias de aprendizagem. A seguir, serão apresentados alguns estudos que avaliaram o engajamento cognitivo em relação a outras variáveis, como a motivação.

4.2.2 Pesquisas sobre engajamento cognitivo

As pesquisas neste campo, como mencionado no início deste capítulo, são diversificadas. Por isso, serão apresentadas apenas as pesquisas nas quais a definição e a mensuração do engajamento cognitivo se pautou na literatura das estratégias de aprendizagem. Assim como foi observado no engajamento

comportamental e emocional, em geral, os estudos investigaram as relações entre

fatores pessoas e contextuais sobre o engajamento cognitivo. Meece, Blumenfeld, Hoyle (1988) examinaram a influência de três metas

(meta domínio-tarefa, na qual o foco do estudante está no desenvolvimento do conhecimento, habilidades e competência, meta egoperformance, em que o estudante busca demonstrar habilidade diante da comparação com os outros e a

meta evitação de trabalho, cuja característica principal é a realização da tarefa com

o mínimo de esforço possível) sobre o engajamento e a motivação intrínseca de 375 estudantes de 6ª e 7ª séries do ensino fundamental. Foram utilizados instrumentos em escala tipo Likert para medir as variáveis analisadas. Os resultados apontaram que os estudantes que adotaram a meta evitação do trabalho reportaram ser superficialmente de engajados, isto é, utilizavam-se de estratégias para executar as tarefas com o mínimo de esforço, enquanto que aqueles que adotaram a meta domínio-tarefa relataram maior engajamento ativo, expresso por uso de estratégias cognitivas e metacognitivas nas atividades de aprendizagem. Semelhantemente, os estudantes que reportaram mais motivação intrínseca afirmaram que se importam mais com a aprendizagem do que com as recompensas externas comparados com aqueles que reportaram ter menos motivação intrínseca.

Dois estudos conduzidos com estudantes do ensino médio por Miller et al. (1996) tiveram como principal objetivo explorar as relações entre as metas dos alunos para fazerem um trabalho acadêmico (aprendizagem, desempenho, a obtenção de consequências futuras, agradar ao professor e agradar à família), a habilidade matemática percebida e o engajamento cognitivo, que foi medido por meio da utilização de estratégias de aprendizagem (superficiais ou profundas) e o esforço e a persistência . O primeiro estudo foi realizado com 297 estudantes e o segundo com 269. Em ambos os estudos, os alunos responderam um instrumento composto por 83 itens em escala tipo Likert, nomeado pelos pesquisadores como “Questionário das Atitudes em relação á matemática”.

A análise dos dados indicou que a adoção de algumas metas e a habilidade percebida em matemática foi responsável pela variação no engajamento e desempenho dos estudantes. Especificamente, a meta aprender correlacionou-se positivamente com o engajamento cognitivo. Ao contrário, a meta “agradar a família” correlacionou-se negativamente com o mesmo. A meta “obtenção de consequências futuras” foi uma preditora do engajamento cognitivo. Dentre as variáveis do

engajamento cognitivo, a persistência foi a única que correlacionou-se de forma significativa com o desempenho. Os meninos relataram ter maiores crenças em suas habilidades de matemática que as meninas.

Ryan e Patrick (2001) investigaram como as percepções de 233 estudantes de 8ª séries acerca do ambiente social nas aulas de matemática estão relacionadas com as mudanças na motivação e no engajamento cognitivo quando eles passaram da 7ª para a 8ª série. Foram utilizados instrumentos tipo escala Likert de cinco pontos, para medir as variáveis analisadas, bem como as notas em matemática na 7ª série. O estudo foi longitudinal, pois os instrumentos foram aplicados quando os alunos estavam na 7ª e na 8ª série. Em geral, os resultados apontaram que a percepção por parte do aluno que o seu professor oferece apoio e promove a interação e respeito mútuo correlacionou-se positivamente com mudanças na motivação e no engajamento. Inversamente, os alunos com percepções de que seus professores têm metas direcionadas ao desempenho, ou seja, que valorizam a performance, correlacionou-se negativamente com as mudanças na motivação e no engajamento.

Nessa mesma direção, Patrick, Ryan e Kaplan (2007) examinaram qual o papel e as associações entre as percepções do ambiente de sala (apoio emocional e acadêmico de professores e colegas de classe) com as crenças motivacionais e engajamento (cognitivo -uso de estratégias de aprendizagem– e comportamental – interação) dos estudantes. A amostra da pesquisa foi de 602 estudantes de 5ª séries do ensino fundamental. Os instrumentos utilizados foram tipo escala Likert e as notas finais de cada aluno na 4ª e 5ª séries. Segundo os autores, os resultados evidenciaram que, quando os alunos se sentem apoiados emocionalmente por seus professores e academicamente pelos seus colegas, utilizam mais as estratégias de aprendizagem e interagem mais nas aulas. Não foram encontradas relações significativas entre os tipos de engajamento e as notas dos estudantes.

Em suma, essas pesquisas apontam que a adoção da meta aprender, uma boa autopercepção de capacidade para uma disciplina e um contexto social apoiador atuam de forma positiva sobre o engajamento. Foi notório que a maior parte das pesquisas especificou para qual a disciplina e atividade de aprendizagem deveria se focar, tendo em vista que as variáveis analisadas (metas, motivação, contexto de aprendizagem e o engajamento) variam conforme a disciplina e o tipo de tarefa. Por isso, a seguir serão discorridas as especificações da realização da tarefa

de casa e apresentadas algumas pesquisas que centraram-se nesse tipo de atividade, visto que, esse estudo, terá como foco de pesquisa as tarefas de casa prescritas na disciplina de matemática.