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Capítulo II Contextualização e Revisão da Literatura

1. Conceito de Estratégia

1.3. Organizações Desportivas

1.3.5. Estratégias de Desenvolvimento do Futebol de Praia

Um dos objetivos gerais do presente estudo é perspetivar estratégias que possam melhorar e acelerar o desenvolvimento da modalidade em Portugal. A promoção do futebol de praia foi assumida pelas organizações desportivas que tutelam o futebol em Portugal e apesar de existir registo de atividades positivas nos últimos anos, a aposta efetiva e constante na modalidade por parte de dirigentes, treinadores e jogadores ainda não é extensiva a todos os que participam nas provas nacionais. Estes veem a sua progressão na modalidade condicionada, fruto de dificuldade da mesma em ultrapassar o caracter sazonal que lhe é conferido, facto que é confirmado por Mário Narciso, selecionador nacional de futebol de praia, em entrevista ao jornal Diário de Notícias, publicada a 02/novembro/2019. Mesmo os jogadores que já efetuaram uma aposta

34 exclusiva na modalidade, têm a necessidade de procurar mais competição, visibilidade e retorno financeiro em outros países, de forma a poderem evoluir, dado que o período competitivo em Portugal é insuficiente, facto que é corroborado em Ferreira (2017). Ao longos dos últimos anos têm-se registado competições pontuais destinadas a jovens e também para o género feminino, sobretudo organizadas por entidades privadas. Existem também ADR’s, como por exemplo, a A.F. Leiria, que já organizou competições distritais de juniores masculinos, contudo as mesmas tendem a ter dificuldades em enraizar e progredir em termos de quantidade e qualidade. Apesar do futebol de praia ser jogado já há vários anos, ainda não existe uma prática massiva, regular e enraizada da modalidade por crianças e jovens. Existem algumas competições, contudo estas parecem não ser suficientes para que os jovens possam conhecer o jogo adequadamente. Madjer, considerado o melhor jogador português de futebol de praia de todos os tempos, admitiu numa entrevista, publicada a 04/fevereiro/2019, de antevisão da 2ª Edição da Madjer Cup, torneio destinados a jovens, realizado na Praia de Buarcos, na Figueira da Foz, que existe uma lacuna muito grande ao nível da formação.

Também no futebol de praia feminino, a FPF tem procurado alavancar a competição, tendo levado a cabo uma prova promocional realizada em simultâneo com a fase final dos campeonatos nacionais masculinos de 2018. Todavia, em 2019 a mesma não se realizou. Madjer, que também é embaixador da Beach Soccer World Wide (BSWW), em entrevista concedida ao site bolanarede.pt a 05/fevereiro/2018, considerou que existe uma reduzida prática da modalidade pelas mulheres.

No principal escalão do futebol de praia português, a FPF propôs para 2019 a adoção de moldes competitivos diferentes, que contemplavam mais jornadas, num sistema de campeonato tradicional, com jogos em casa e fora, proporcionado um maior período de competição e que levaria a que os melhores jogadores a atuar no nosso país pudessem desenvolver as suas capacidades. Contudo, este modelo foi rejeitado, dado que existiu a desconfiança de clubes quanto ao sucesso do mesmo a curto prazo, levantando questões, sobretudo, logísticas e financeiras.

Também em 2019 existiu a implementação, por parte da FPF, de uma nova competição na modalidade, a Taça de Portugal. Esta prova, disputada no seu formato tradicional, ou seja, em sistema de eliminatórias a um jogo, proporciona aos clubes mais competição. Esta oferece também mais uma possibilidade dos clubes se evidenciarem e disputarem a sua conquista. A criação de novos espaços competitivos para atletas da modalidade é considerada importante, dado que tem atraído jovens com grande qualidade. A evolução destes pode oferecer maior dinâmica e potencial à seleção nacional. Contudo, o período competitivo ainda é limitado aos meses de verão. Nos últimos anos o principal patamar do futebol de praia português tem tido uma duração de cerca três meses de competição, tendo em 2019 se estendido até aos cinco meses, contudo, com uma paragem competitiva de quase dois meses, entre o dia 15 de junho e 10 de agosto. O Campeonato Nacional Divisão de Elite, atualmente composto por oito clubes possibilita a realização de dez jogos. Um aumento do número de jogos na competição, poderia fomentar uma maior competitividade na prova e proporcionar mais e melhor competição a um maior número de jogadores. A FPF tem realizado um grande trabalho de alavancagem da modalidade, facto que é reconhecido pelos grandes jogadores portugueses como Jordan Santos, que em entrevista publicada a 22/agosto/2014 no site bolanarede.pt, considerou que Portugal estava no bom caminho e que a FPF tem efetuado um bom trabalho no desenvolvimento do campeonato nacional.

35 As competições de futebol de praia possuem um modelo, implementado desde a sua génese e difundido por todo o mundo. Este consiste na realização de jogos em regime concentrado, disputando todas as equipas da competição, os seus jogos no mesmo recinto desportivo e no mesmo período temporal. Este modelo terá sido adotado pelas organizações desportivas que promovem o futebol de praia ao longo dos anos, tendo em consideração os poucos campos preparados para a realização de jogos da modalidade, não tendo alguns clubes campo próprio, ou campo com adequadas condições de apoio para a disputa digna de uma prova oficial. Com a construção de novos espaços desportivos destinados à prática do futebol de praia, começa a tornar- se viável a apresentação por parte dos clubes do seu campo, para a realização de jogos na condição de visitado.

Um dos aspetos negativos da realização das jornadas em regime concentrado, é o facto dos clubes realizarem constantemente, jornada após jornada, deslocações, algumas delas longas, para disputar os jogos do seu campeonato. Na eventualidade de adoção de um modelo tradicional de poule a duas voltas, disputando os clubes jogos, alternadamente, como visitado e visitante, poderia proporcionar a realização de metade dos jogos do campeonato no seu recinto, possibilitando assim uma maior proximidade aos seus adeptos.

O futebol de praia, desde o início da sua prática formal já deu passos importantes na sua afirmação enquanto modalidade. Para isso contribuiu a inclusão do futebol de praia nas atividades da FIFA, após uma década de atividade formal, tendo esta organização assumido, apenas em 2005, um campeonato do mundo sob a sua tutela.

Em Portugal, entre os finais da década de noventa e os finais de 2011, foram organizadas algumas competições de futebol de praia, umas de âmbito regional e outras de carácter nacional. Estas competições tinham uma gestão privada, não estando a sua promoção e organização sob égide da FPF, tendo a chegada do Dr. Fernando Gomes à liderança da FPF, em 17 de dezembro de 2011, possibilitado a integração da modalidade no seio da FPF e inclusão plena da seleção nacional de futebol de praia no seio da sua estrutura da FPF, na divisão desportiva.

No ano de 2012, a direção da FPF aprovou um plano de desenvolvimento para o futebol de praia, que integrava uma linha de apoio à criação e apetrechamento de infraestruturas para a prática da modalidade, um programa de formação específica destinado a árbitros e treinadores, a criação de competições nacionais e a candidatura à organização da fase final do campeonato mundial de futebol de praia em 2015. Estas iniciativas permitiram criar uma base de praticantes, proporcionar uma oferta de prática minimamente estruturada e estabelecer um plano a médio termo, que foi enriquecido com a integração do futebol de praia no programa da 1ª edição dos Jogos Europeus realizados em 2015, na cidade de Baku, no Azerbaijão.

Ou seja, progressivamente o futebol de praia tem percorrido o seu percurso de afirmação, integração nos grandes organismos que gerem o futebol e conquistando o seu espaço de destaque. Ainda falta a integração da modalidade pela Union Européene Football Assotiation (UEFA), facto que poderá potenciar a mesma a vários níveis. Esta interação poderá promover o futebol de praia a modalidade olímpica, facto que consagraria a mesma. Esta já conseguiu fazer parte dos Jogos Olímpicos Europeus em 2019, tendo a seleção nacional portuguesa conquistado a medalha de ouro. Para além disto, a modalidade necessita de um natural investimento por parte das organizações desportivas. A este nível a FPF tem disponibilizado recursos financeiros consideráveis na organização dos campeonatos nacionais, bem como oferta de material desportivo

36 como bolas, balizas e contentores/balneários. Também as ADR’s possuem um papel fundamental no fomento e desenvolvimento da modalidade ao nível local e de base, sendo necessário investimento financeiro, recursos humanos e materiais, mas sobretudo interesse em fazer crescer a modalidade.

A criação de planos estratégicos que produzam uma identidade própria da modalidade, enaltecendo as suas melhores características, comparativamente com o futebol e futsal, poderá angariar adeptos, jogadores e treinadores, bem como cativar clubes, media, patrocinadores, contribuindo assim para a sua afirmação enquanto modalidade em crescimento e geradora de oportunidades. Como público alvo, facilmente se identifica os adeptos do futebol e futsal, a comunicação social, empresas que apostam no patrocínio desportivo, os clubes e os desportistas. Mais uma vez, uma estratégia de marketing bem fundamentada enaltecendo a alta velocidade do jogo, os constantes ataques, os movimentos acrobáticos, os remates de qualquer parte do campo, a música, o ambiente descontraído, os locais dos jogos, a irreverência, o elevado número de golos, poderá definir o posicionamento da mesma perante os interessados e criar uma imagem de identificação distinta. É sempre importante em qualquer modalidade um planeamento estratégico com objetivos e metas bem definidas no tempo, que sirvam de orientação para uma gestão eficiente, com controlo de resultados em vários patamares, do nível de elite, ao nível de base.

Conforme já referido anteriormente, este estudo tem como objetivo descrever a realidade do futebol de praia em Portugal e, caso se consiga, propor linhas orientadoras para o seu desenvolvimento.

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