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Estratégias de enfrentamento utilizadas pelos trabalhadores bancários

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.3 Estratégias de enfrentamento utilizadas pelos trabalhadores bancários

O estresse é uma reação adaptativa do organismo humano ao mundo em constante mudança. Todavia, quando suas causas se prolongam e os meios de enfrentamento são escassos, o estresse pode avançar para fases de maior gravidade, quando o corpo se torna vulnerável a doenças diversas. As respostas físicas e psicológicas ao estresse dependerão da herança genética, estilo de vida e estratégias de enfrentamento utilizadas pelo indivíduo, bem como da intensidade e duração do agente estressor (LIPP, 1996).

A rotina estressante do trabalho bancário impõe ao trabalhador uma alta demanda a ser enfrentada. Se o indivíduo apresentar um repertório deficitário de

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enfrentamento, será, então, desencadeado o estresse ocupacional. Portanto, quanto maior a demanda e menor o controle, mais provável será a ocorrência de estresse e prejuízos à saúde do trabalhador (LIPP, 2003).

Nesse contexto da necessidade de enfrentamento do estresse ocupacional dos bancários, analisaram-se as principais estratégias de enfrentamento utilizadas pelos bancários participantes do estudo. Nesta análise dos trabalhadores bancários das instituições pública, estatal e privada obteve-se os resultados descritos no quadro 3, na qual: NR significa que não realiza, PF realiza com pouca frequência e MF realiza com muita frequência. Dentre as principais estratégias de enfrentamento da instituição pública estão realizar as refeições em horários regulares, rir, e viajar com a família. Na instituição estatal, as principais estratégias utilizadas são rir, escutar musica e dormir conforme a necessidade. Já na instituição privada as estratégias são rir, passear com familiares e investir em autoestima.

Quadro 3: Comparativo das estratégias de enfrentamento ao estresse

Estratégias de Enfrentamento Instituição Pública Instituição Estatal Instituição Privada NR PF MF NR PF MF NR PF MF

1 - Atividades físicas periódicas 5 6 4 2 9 7 4 4 3 2 – Caminhadas 8 5 2 4 7 7 4 6 1 3 - Ir ao cinema 7 7 1 12 4 2 5 4 2 4 - Ler um bom livro 6 5 4 8 5 5 5 6 0 5 - Escutar música 4 6 5 3 4 11 0 5 6 6 - Passear com familiares/amigos 3 7 5 0 8 10 0 3 8 7 - Rir 2 6 7 0 6 12 0 2 9 8 - Viajar com a família 3 6 6 4 6 8 0 7 4 9 - Refeições em horários regulares 2 5 8 2 6 10 1 6 4 10 - Dorme apropriadamente conforme

suas necessidades individuais

4 6 5 3 4 11 2 6 3 11 - Investe na sua auto-estima (roupa,

perfume, bijuterias,sapatos, etc.)

3 8 4 3 5 10 1 3 7 12 - Ir ao dentista 6 4 5 2 11 5 1 8 2 13 - Exames solicitados pelo seu

médico

5 6 4 3 9 6 1 9 1 14 - Avaliação da visão 3 8 4 6 9 3 3 5 3 15 - Consulta médica de rotina 4 7 4 4 10 4 2 8 1 16 - Avaliação Nutricional 8 6 1 8 10 0 4 7 0 17 - Verificação da pressão arterial 5 8 2 3 12 3 3 7 1 18 - Faz uso de alguma medicação 3 6 6 8 10 0 7 2 2 Fonte: Dados elaborados pela autora

Abaixo no gráfico 3, observa-se as estratégias de enfrentamento mais frequentes na instituição pública, que são realizar as refeições em horários regulares (9) e rir (7), no entanto as estratégias menos realizadas são as caminhadas (2) e avaliação nutricional (16). Pode-se afirmar que o riso é uma estratégia de fácil execução e que melhora inclusive o ambiente de trabalho coletivamente. Já sobre as atividades físicas, fica surpreendente a falta de realização desta atividade, uma vez que traz benefícios tanto na esfera profissional quanto pessoal. Diversos estudos apontam que o exercício físico aumenta a capacidade de concentração, provoca relaxamento muscular (diminui a tensão) e melhora o humor, a falta de utilização do exercício pode ser uma fonte de piora no estresse do profissional.

Gráfico 3: : Estratégias de enfrentamento na Instituição pública

0 1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 NR PF MF

Fonte: Dados da pesquisa

Já no gráfico 4, observam-se frequências das respostas sobre as estratégias de enfrentamento dos trabalhadores instituição estatal. Em relação às estratégias mais utilizadas pelos profissionais destacam-se escutar musica (5), rir (7) e dormir apropriadamente (10), em contrapartida as estratégias de enfrentamento menos utilizadas foram, ir ao cinema (3), leitura (4), avaliação nutricional (16), fazer uso de medicações (18). Nestes trabalhadores novamente o riso aparece como uma estratégia importante, reafirmando assim, o quanto o humor afeta o trabalho tanto positivamente, assim como negativamente. Além disso, também, percebe-se pouca procura por estratégias relacionadas aos hábitos de vida, como a avaliação

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nutricional, que através de uma dieta mais balanceada pode melhorar a saúde do trabalhador e interferir até em sua autoestima, no caso de perdas de peso e alimentação mais saudável.

Gráfico 4: : Estratégias de enfrentamento naInstituição estatal

0 2 4 6 8 10 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 NR PF MF

Fonte: Dados da pesquisa

Na instituição privada, gráfico abaixo, as estratégias de enfrentamento mais utilizadas foram rir (7), passeios com familiares/amigos (6) e investir em autoestima (11), em contrapartida as menos frequente são fazer uso de medicação (18), ir ao cinema (3) e ler um bom livro (4). Percebe-se grande semelhança nas estratégias destes trabalhadores com os das demais instituições, exceto a questão do investimento em autoestima. No entanto, investir em autoestima, muitas vezes é uma necessidade em se tratando de instituições privadas, nas quais é cobrada uma vestimenta sempre adequada (social) o que faz os trabalhadores sempre estarem preocupados com esta prática, ressaltando que em instituições privadas está pode ser mais uma razão de cobrança.

Gráfico 5: : Estratégias de enfrentamento naInstituição privada 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 NR PF MF

Fonte: Dados da pesquisa

Com essas análises, é possível identificar que a principal estratégia de enfrentamento utilizada pelos trabalhadores bancários é rir. Lipp (2002) ressalta a importância de praticar o humor sempre que possível, buscar coisas que possam fazê-lo rir, pois o burnout correlaciona-se negativamente com o senso de humor. Percebe-se que em todas as instituições há uma preocupação com o bom humor, considerando que rir é uma estratégia aplicada com muita frequência.

Outra estratégia importante são os passeios, em geral, lazer é um campo de atividade que mantém relações com as demais áreas de atuação, assim o nível socioeconômico mantém relações com o tipo e qualidade de lazer que as pessoas exercem. A valorização do lazer na vida implica em considerar a importância de um tempo privilegiado para a vivência de valores de ordem cultural e moral, que mantém relação com a saúde das pessoas.

Um resultado que chama a atenção é que em nenhuma das instituições as atividades físicas aparecem com frequência entre os bancários que participaram do estudo. Para Lipp (2002), o exercício físico, correr, caminhar, jogar ou trabalhar no jardim, qualquer atividade física alivia a sensação de “opressão”, relaxa e ajuda a transformar as contrações faciais em sorrisos. O corpo e a mente trabalham juntos.

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A regularidade da atividade física contribui para uma sensação de bem-estar, pois o organismo libera endorfina, reforçando a capacidade de combater o estresse.

Segundo Murta e Tróccoli (2004), o modo como a pessoa lida com as circunstâncias geradoras de estresse exerce grande influência sobre sua saúde, modulando a gravidade do estresse resultante. Então, o trabalhador poderá ter sua saúde protegida ao se engajar em comportamentos de enfrentamento adequados que amenizem o impacto psicológico e somático do estresse. O uso de estratégias de enfrentamento saudáveis aumenta em frequência e intensidade estados emocionais positivos, como tranquilidade, esperança ou bem-estar. Estes sentimentos interferem direta e indiretamente na saúde física por facilitar o bom funcionamento do sistema imune, favorecer o engajamento em comportamentos de saúde e potencializar relações interpessoais gratificantes, neste sentido observa-se uma grande necessidade dos trabalhadores bancários avaliados serem incentivados por programas institucionais a realizarem atividades para reduzir o estresse diário.

Pela análise dos resultados pode-se, então considerar, que o serviço bancário é um dos mais estressores, no entanto, fica evidente entres os resultados obtidos, que as instituições privadas possuem um maior nível de estresse. Dessa forma, os trabalhadores bancários necessitam investir em estratégias de enfrentamento, uma das mais promissoras e de melhor resultado é a atividade física. Nesta estratégia, o importante é escolher uma atividade realmente prazerosa e praticá-la com regularidade. Estudos indicam os benefícios de uma boa alimentação, de atividade física regular, da importância da pessoa perceber com controle sobre a sua própria vida. Estes aspectos são considerados fundamentais à manutenção da saúde e qualquer técnica utilizada é importante quando a pessoa sente prazer no que está fazendo.

Diante da preocupante realidade do trabalho no setor bancário, comprovada pelos resultados apresentados, necessita-se de uma politica empresarial dentro das instituições para gerenciar o estresse dos trabalhadores bancários e minimizar seus efeitos. Levi (2005) defende a adoção de um comportamento organizacional positivo

através de um gerenciamento sistemático do ambiente do trabalho realizado entre as partes envolvidas e coordenado por um serviço de saúde ocupacional vinculado à empresa representado por profissionais da área de saúde. Além disso, Lipp (2006), comprovou que a melhoria no ambiente de trabalho gera reflexos significativos na produtividade do trabalhador, comprovando que este investimento é economicamente viável, sem levar em considerações as vantagens para a saúde do trabalhador.

Nesse contexto, destaca-se a importância de se desenvolver um gerenciamento sistemático no ambiente do trabalho, fundamentado na melhoria da saúde ocupacional, buscando um ambiente organizacional assertivo, com resolução de problemas, com incentivos, trabalho permanente, relações interpessoais com objetividade e cooperação, encaminhando para a humanização do trabalho e assim minimizando os danos causados pelo o estresse, uma vez que este determina um alto preço em termos psicológicos, físicos e organizacionais.

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CONCLUSÃO

Neste estudo, foi possível identificar o nível de estresse ocupacional vivenciado pelos trabalhadores bancários das instituições pública, estatal e privada do município de Ijui-RS, bem como os principais estressores e as estratégias de enfrentamento ao estresse vivenciado pelos trabalhadores bancários.

O setor bancário sofre atualmente um período de incertezas, associado a uma instabilidade econômica, essa realidade traz enormes consequências para este trabalhador, uma vez que os bancos estão cada vez mais preocupados em aumentar sua lucratividade. Com isso, estas instituições estão preocupadas na redução de custos, através de número reduzido de funcionários, adoção de politicas de metas/cobrança sobre alta produtividade e instabilidade no emprego (instituições privadas).

Essa realidade é caracterizada por um quadro de constantes mudanças, marcado pela competição entre as instituições. Nesse contexto, as instituições buscam o trabalho mais eficiente e cada vez mais rápido, sobrecarregando o trabalhador bancário, pois este acumula funções, sofre pressões de clientes e da chefia em atingir as metas, manifestando-se assim, o estresse ocupacional. O estresse pode determinar um quadro patológico, originando distúrbios com sintomas físicos e emocionais. Além disso, altos níveis de estresse ocupacional podem contribuir para a etiologia, como uma ação desencadeadora ou agravante, de várias outras doenças crônicas.

Dessa maneira, o presente estudo determinou o nível de estresse dos trabalhadores bancário de instituições pública, estatal e privada através de uma Escala de Estresse no Trabalho (EET). Sendo assim, a instituição com menor nível de estresse avaliado foi à instituição estatal e a instituição que apresentou o maior nível de estresse ocupacional foi à instituição privada. Ainda, em relação à instituição privada, obteve-se o alarmante índice de que mais de 90% dos trabalhadores desta instituição apresentaram um alto nível de estresse. Portanto,

com base nesses resultados, ressalta-se o grave problema do estresse ocupacional vivenciado pelos trabalhadores bancários.

Na análise das questões da EET, evidenciou-se os principais agentes estressores das instituições avaliadas. A insegurança no emprego, a demissão de pessoal constante, pressão por alta produção e a falta de reconhecimento dos trabalhadores bancários, foram um dos principais agentes encontrados. Esses fatores refletem negativamente na vida dos trabalhadores, pois é no trabalho que as pessoas passam a maior parte de suas vidas. O estresse ocupacional faz com que as pessoas adoeçam em função das suas atividades ou que se privem do lazer e acabem sendo vítimas de várias doenças decorrentes do estresse no trabalho.

É importante lembrar que o trabalho é uma das fontes de satisfação de diversas necessidades humanas, como auto-realização, manutenção de relações interpessoais e sobrevivência. Os trabalhadores que não conseguem equilibrar trabalho e vida pessoal dificilmente conseguem ser felizes. Dessa forma, há uma grande necessidade de implementar nestas instituições, ações de gerenciamento do estresse ocupacional fundamentado na melhoria da saúde dos bancários.

Pode-se concluir que os objetivos deste estudo foram todos alcançados e os resultados encontrados irão auxiliar as instituições no gerenciamento do estresse e também auxiliar os funcionários a enfrentar da melhor forma possível o estresse. O enfrentamento ao estresse tanto pelas instituições quanto pelos trabalhadores promoverá um maior lucro para as instituições, assim como, proporcionará aos funcionários mais realização profissional, pois estes irão trabalhar com maior entusiasmo e tranquilidade, tornando seu trabalho mais produtivo e sua vida pessoal menos estressante, podendo dedicar mais tempo às suas atividades pessoais.

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