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Estratégias para a aplicação e identificação da adaptabilidade em habitações

2. A HABITAÇÃO E OS PROGRAMAS HABITACIONAIS BRASILEIROS

3.2 ADAPTABILIDADE EM HABITAÇÕES

3.2.3 Estratégias para a aplicação e identificação da adaptabilidade em habitações

Russell e Moffatt (2004) propõe uma série de estratégias para a aplicação prática da adaptabilidade nos diferentes elementos das edificações apresentadas no Quadro 2.

Elementos da Edificação Descrição

Fundações

 Projetar considerando potenciais expansões verticais da edificação. Uma análise racional deve ser realizada para a definição de uma solução razoável que possibilite futuras expansões.

 Instalação de juntas de dilatação e outros mecanismos para evitar o recalque diferencial e o progressivo colapso da estrutura devido a cargas acidentais excessivas.

(conclusão)

Elementos da Edificação Descrição

Superestrutura

 Dar preferência pela utilização de concreto armado, uma vez que, este permite a troca de elementos internos e externos sem afetar a integridade estrutural da edificação.

 Dimensionar a estrutura considerando carregamentos laterais. Isso permite modificações locais na estrutura, mas mantendo a integridade estrutural.

 Utilizar grandes vãos. Um grande vão irá incorporar à superestrutura possíveis adaptações;

 Adicionar carregamento suficiente no cálculo de dimensionamento dos três primeiros pavimentos, para que estes possam comportar um amplo número de usos;

 Escolher um sistema estrutural de lajes que comporte a passagem de um grande número de sistemas complementares (elétrico, hidráulico, telefone, etc.) baseados em diferentes utilizações.

Paredes

 Construir as paredes independentes da estrutura do edifício. Elas devem ser funcionalmente sistemas simples, com interfaces projetadas para a separação de ambientes;

 Favorecer meios de acesso ao sistemas embutidos nas parede de dentro e fora do edifício;

 Projetar parede versáteis, capazes de acomodar mudanças no arranjo espacial interno;

Sistemas complementares  Dar preferência por sistemas complementares flexíveis e com capacidade de possibilitar expansões de uso.

Espaço interno

 Projetar espaço com grande possibilidade de adaptação;

 Incluir espaços multifuncionais;

 Instalar partições interiores que são desmontáveis, reutilizáveis e recicláveis;

 Oferecer áreas e pés direitos maiores que os mínimos;

 Fornecer planos de adaptação espacial.

Quadro 2: Princípios para aplicação de adaptabilidade em edificações (adaptado) Fonte: Russell e Moffatt, 2004

Uma vez que, com já discutido anteriormente, a flexibilidade está diretamente ligada ao conceito de adaptabilidade, juntamente das estratégias desenvolvidas por Russell e Moffatt (2004), podem ser consideradas as diretrizes criadas por Brandão e Heineck (2003) (Quadro 3) para a aplicação da flexibilidade em habitações, maximizado a versatilidade de ambientes das habitações em geral, com aplicabilidade também às moradias de interesse social.

Diretriz Descrição

Cômodos ou ambientes reversíveis

A inclusão de dois ou mais acessos para o ambiente pode torná-lo mais versátil. Pode-se, assim, criar situações variadas para sala, quartos e também para banheiros. Com dois acessos, um banheiro, por exemplo, pode ser social e, ao mesmo tempo, pode funcionar como banheiro de suíte.

Cômodos multiuso

É importante que exista pelo menos um espaço ou ambiente considerado como de uso múltiplo. Esse cômodo deve estar situado em posição estratégica na planta, geralmente mais centralizado, propiciando contribuir com a flexibilidade do projeto. Os quartos multiuso em pequenas habitações são o exemplo mais comum: além de dormitório, funcionam também como escritório e sala de TV e som.

Alternância entre isolar e integrar

Esta característica pode ser obtida por meio de portas e painéis de correr, de dobrar, pivotar, ou, ainda, com diferentes tipos de divisórias e biombos, substituindo, assim, as paredes tradicionais. Em geral, esses dispositivos são mais usados em habitações pequenas, como forma de ampliar a sensação de espaciosidade, quando dois ou mais ambientes contíguos são integrados.

Baixa hierarquia

Obtém-se quando cômodos como quartos e banheiros são equivalentes ou mais próximos em tamanho e forma, o que gera maiores possibilidades de alternância de função. Em geral, os projetos brasileiros costumam visar à alta hierarquia, destinando-os para a família nuclear tradicional, sendo também fruto de projetos baseados no funcionalismo.

Comunicações e acessos adicionais

Característica ligada ao conceito de planta do tipo circuito. Podem não afetar diretamente as conversões ou reversões dos ambientes, mas adicionam mais versatilidade de usos. A maior acessibilidade também se constitui em fator de baixa hierarquia das plantas.

Mobiliário planejado

Estantes, armários e outros móveis de fácil deslocamento ou movimentação são usados para dividir ambientes. Além de gerar flexibilidade, sua utilização pode reduzir a construção de paredes. As alternativas são ilimitadas e podem ser criativas, como, por exemplo, mesas corrediças ou dobráveis, camas escamoteáveis, estantes giratórias, ou seja, dispositivos que visam à alternância de usos de um mesmo ambiente ou de ambientes contíguos.

Quadro 3: Diretrizes para a aplicação da flexibilidade em edificações Fonte: Brandão e Heineck, 2003

Envolvendo as estratégias e diretrizes desenvolvidas por Russell e Moffatt (2004) e Brandão e Heineck (2003), Brandão (2006) reuniu trinta e uma

recomendações organizadas em nove diretrizes para a identificação de conceitos de adaptabilidade em projetos de habitação de interesse social. O Quadro 4 expõe a relação destas disposições técnicas e diretrizes.

Diretrizes Recomendações

Arranjo espacial quanto à forma e dimensão dos cômodos

1. Prover cômodos neutros e sem extremos de tamanho; 2. Prover cômodos ou ambientes multiuso;

3. Prever a possibilidade de nova posição de porta no banheiro;

4. Prever, se possível, espaço de refeições maior nas cozinhas;

5. Estudar a opção de usar ou não corredores dentro da unidade;

Arranjo espacial quanto ao sentido de expansão

6. Deixar claro o sentido de expansão da moradia; 7. Prever ampliação para uma garagem ou espaço de trabalho;

8. Posicionar o banheiro em local estratégico;

Esquadrias e aberturas

9. Posicionar estrategicamente a esquadria de cada cômodo; 10. Evitar variações no tamanho das janelas;

11. Prever comunicações adicionais entre os cômodos; 12. Adotar porta adicional ou sistemática de painel-janela;

Cobertura

13. Definir a altura da cumeeira, adequada às ampliações; 14. Permitir a criação de novas águas sem afetar a funcionalidade;

Estrutura

15. Separar, se possível, estrutura e vedações; 16. Preparar a estrutura para receber um ou mais pavimentos;

17. Preparar a estrutura para receber escadas (expansão vertical);

Instalações

18. Dimensionar tubulações de água prevendo aumento de vazão;

19. Prever paredes hidráulicas permanentes; 20. Localizar adequadamente fossa e sumidouro;

21. Dimensionar tubulação da fiação para inserção de novos circuitos;

22. Evitar luminárias centrais;

23. Localizar interruptores e tomadas em pontos adequados; 24. Acrescentar pia de lavar extra fora do banheiro;

Divisão de ambientes e mobiliário

25. Utilizar divisórias desmontáveis e/ou móveis; 26. Evitar excesso de móveis fixos;

27. Utilizar móveis para dividir ambientes;

(conclusão)

Fonte: Brandão, 2006 (apud BRANDÃO; ABREU, 2010)

Em diversos trabalhos e projetos voltados a população de baixa renda, percebe-se a aplicação prática dos conceitos descritos pelos autores. Por exemplo, em trabalho de pesquisa realizado pelo Núcleo de pesquisa em Arquitetura de Interesse Social da Escola de Arquitetura do Instituto Meridional (IMED) desenvolveu-se um projeto-base de Habitação de Interesse social considerado-se a evolução das necessidades da população ao longo da utilização do espaço. Os projetos desenvolvidos são apresentados na Figuras 5 e 6 (MARTINS et. Al, 2013).

Segundo a pesquisa realizada pelas autoras, os futuros moradores das edificações, apresentaram a necessidade futura de implementação de dois cômodos: garagem e dormitório extra. Desde modo, as autoras criaram um layout de projeto onde pequenas modificações no espaço construído (flexibilidade), possibilitam alterações de uso técnico (convertibilidade) através da facilidade de adições de áreas (expansibilidade) para ir de encontro às futuras necessidade e interesses dos habitantes destas residências.

Figura 5: Projeto base da Habitação Social (sem escala) Fonte: Martins Et. Al, 2013

Diretrizes Recomendações

Terreno e tipologias

28. Prever afastamento que permita ampliar para a frente;

29. Adotar terrenos mais largos, se possível;

Apoio ao usuário

30. Fornecer projetos de opções de possíveis ampliações;

31. Criar manual do usuário da habitação. Quadro 4: Disposições técnicas e diretrizes para projeto de habitações flexíveis

Figura 6: Projeto com ampliação da garagem e dormitório (sem escala) Fonte: Martins Et. Al, 2013

Na análise dos projetos (Figuras 5 e 6) nota-se a preocupação das autoras em desenvolver um arranjo espacial que facilitou a criação de novos cômodos (garagem e quarto). O sentido da expansão do espaço está claro, de forma que, o corredor e as esquadrias e aberturas foram posicionadas em lugares estratégicos para que a intervenção construtiva fossem a mínima possível durante a fase de ampliação. Ainda, é possível notar a integração entre os ambientes da área de serviço, cozinha, sala de jantar e sala de tv sem o uso de paredes. Nestes espaços, os cômodos ganham o caráter multiuso e são facilmente alterados através da modificação do posicionamento do mobiliário (MARTINS et. Al, 2013).

Assim, com base nas diretrizes, recomendações e estratégias desenvolvidas pelos autores pode-se buscar a aplicação prática dos conceitos de adaptabilidade em projetos de habitações. Além disso, através destes trabalhos, tem-se embasamento teórico para a criação de fichas de avaliação de imóveis para a classificação dos mesmos quanto a sua capacidade de receber adaptações ao longo do seu ciclo de vida.

4. METODOLOGIA DE PESQUISA

A fim de definir o delineamento desta pesquisa é possível fazer algumas classificações. Do ponto de vista da sua pergunta problema “Os projetos de habitações que atendem critérios de programas habitacionais atuais consideram as alterações das necessidades dos usuários ao longo do ciclo de vida?” e seus objetivos, a pesquisa pode ser considerada de caráter exploratório.

Prodanov e Freitas (2013) definem pesquisa exploratória como a pesquisa que na fase inicial do estudo possui a finalidade de buscar mais informações sobre determinado assunto, a fim de delimitação e definição do tema de pesquisa para orientação de enfoque sobre o assunto. A pesquisa exploratória possui planejamento flexível, o que segundo os autores, possibilita a abordagem do tema através de diversos ângulos e aspectos. De maneira geral, esta forma de pesquisa envolve levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e uma análise de exemplos que estimulem a compreensão do problema levantado.

Em geral, a pesquisa exploratória assume, quanto aos procedimentos técnicos e estratégia de pesquisa a forma de estudos de caso (PRODANOV; FREITAS, 2013; YIN, 2005). O estudo de caso como estratégia de pesquisa através de uma investigação empírica, investiga um fenômeno contemporâneo, em um contexto aplicado a vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos. Os estudos de caso, também, podem ser utilizados quando a temática investigada possui inúmeras variáveis, mas enfrenta apenas uma situação para a produção de resultados, beneficiando-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para a condução da coleta e análise de dados (YIN, 2005).

Como registrado porProdanov e Freitas (2013) a pesquisa exploratória pode se desenvolver através de estudos de casos investigados por entrevistas direcionadas aos envolvidos com a temática pesquisada. Desta forma o trabalho em questão se desenvolveu através da coleta de informações com questionários direcionados a profissionais da área da construção civil que tem trabalhado com projetos do PMCMV, com intuito de verificar como os mesmos têm considerado os conceitos de adaptabilidade na produção dos projetos (ver Apêndice 1). Além disso,

através de check-list foram analisados os projetos produzidos por estes profissionais com a finalidade de verificação das diretrizes de adaptabilidade levantadas na pesquisa bibliográfica de forma prática (ver Apêndice 2). Por fim, entrevistou-se as famílias usuárias dos produtos habitacionais produzidos pelos profissionais escolhidos verificando a utilização do espaço com relação ao desenvolvimento do ciclo familiar (ver Apêndice 3).

As entrevistas e a lista de verificações (Apêndices 1, 2 e 3) foram desenvolvidas através dos métodos utilizados por Larcher (2005) e Longsdon (2012), bem como, através da utilização das diretrizes desenvolvidas por Brandão (2006). Os profissionais que trabalham com o PMCMV foram escolhidos aleatoriamente através da análise do cadastro na Caixa Econômica Federal de Pato Branco – PR.

Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, a pesquisa pode ser quantitativa ou qualitativa. A pesquisa quantitativa considera que tudo pode ser quantificável, assim opiniões e informações podem ser traduzidas em números para posterior análises estatísticas. Já as pesquisas qualitativas ocorre a interpretação de fenômenos e a atribuição de significados. Para realização da pesquisa exploratória em questão, foram realizadas, através de estudos de casos, entrevistas com especialistas e usuários das habitações, acompanhados de uma verificação de projetos. Assim, para esta pesquisa se assume primeiramente o caráter qualitativo através da coleta de dados nas entrevistas e um posterior caráter quantitativo no tratamento destes dados.

Para a conversão dos dados qualitativos relacionados a uma série de advérbios de intensidade, que visavam captar a autopercepção dos profissionais da construção civil na forma com que utilizam-se das técnicas de adaptabilidade em seus projetos, em dados quantitativos, utilizou-se da técnica da construção de escala de valores de Romero e Ornstein (2003), com intervalos médios e peso atribuído a cada um dos advérbios, para posterior cálculo de média ponderada de cada uma das 30 técnicas do check-list do Apêndice A.

No Quadro 5, demonstram-se as cinco categorias de advérbios associadas aos intervalos de notas: “Desconheço / Não trabalho” de 0 a 1,9, “Nunca” de 2 a 3,9, “Raramente” de 4 a 5,9, “As vezes” de 6 a 7,9 e “Sempre” de 8 a 10. Para cada intervalo, há uma média, sendo respectivamente: 1, 3, 5, 7 e 9. A média ponderada

para cada uma das 30 técnicas foram calculadas individualmente considerando como peso a média do intervalo.

Com os valores de médias ponderadas de cada uma das 30 técnicas consideradas pode-se criar um rankeamento dos dados para demonstrar a frequência com que as técnicas de adaptabilidade são utilizadas nos projetos desenvolvidos pelo grupo de profissionais que compõe este estudo de caso.

Advérbios de intensidade

Desconheço /

Não Trabalho Nunca Raramente Ás vezes Sempre

Intervalos de

Média 0,0 à 1,9 2,0 à 3,9 4,0 à 5,9 6,0 à 7,9 8,0 à 10 Peso do

Intervalo 1 3 5 7 9

Quadro 5: Intervalos de média e pesos relacionados a advérbios de intensidade Fonte: Autoria Própria (2016)

Nos capítulos 2 e 3, através da coleta de dados bibliográficos, buscou-se uma compressão mais aprofundada a respeito da temática da adaptabilidade aplicada a habitações de interesse social. No capítulo em questão, através das informações coletadas no referencial bibliográfico realizou-se a delimitação dos dados pesquisados, o desenvolvimento da estratégia de pesquisa e a forma de análise de dados.

A partir das informações coletadas no capítulo 2, possibilitou-se o direcionamento do estudo a uma faixa da população da cidade de Pato Branco-PR, como identificado por Lima Neto, Furtado e Krause (2013) e Andrade (2012) e através das análises dos dados déficit habitacional brasileiro observou-se que a população predominante no déficit , com cerca de 70% de participação nos números do déficit em 2012, é a que dispõe de até 3 salários mensais.

Um vez que o principal programa habitacional em desenvolvimento na atualidade, Programa Minha Casa Minha Vida, tem direcionado suas políticas desde o ano de 2009 principalmente à faixa dominante do déficit habitacional, o número de habitações produzidos para esta população cresceu exponencialmente nos últimos anos, só em Pato Branco – PR registra-se a construção de cerca de 2206 unidades desde o início do programa. Desta forma, a pesquisa será direcionada a população residente na cidade de Pato Branco – PR componente da faixa predominante do

déficit habitacional brasileiro, que através do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) realizou o sonho da habitação própria.

Através dos estudos realizados no Capítulo 3, a respeito da importância da adoção da adaptabilidade em projetos de habitações, notou-se que a temática torna- se indispensável na produção de habitações ao longo do ciclo de vida familiar e das modificações ocorridas nas necessidades de usuários (PAIVA, 2002; BRANDÃO; HEINCECK, 2003; RUSSELL; MOFFATT, 2004; KESTNER; WEBSTER, 2010; BRANDÃO, (2006)). Devido à relevância do conceito, buscou-se coletar subsídios para a análise da adaptabilidade aplicada a moradias produzidas através do PMCMV em Pato Branco – PR, uma vez que até o momento verifica-se uma carência de informações a respeito do tema e para que se promova a discussão da temática a partir da universidade para a comunidade externa da cidade de Pato Branco-PR.

Por fim, para a organização do trabalho de pesquisa, criou-se um fluxograma de atividades (Figura 7). Na primeira etapa, definiu-se o tema de pesquisa, juntamente com o objetivo geral e os específicos. Posteriormente, através de referencial bibliográfico possibilitou-se a delimitação da pesquisa, determinando o público alvo e as diretrizes consideradas nas análises. Na terceira etapa, ocorreu a classificação da pesquisa quanto ao delineamento e forma de abordagem. Na quarta etapa foi realizada a coleta de dados abordando profissionais da área e usuários das habitações através de entrevistas e verificações em projetos (ver Apêndice 1). Na etapa final os dados foram analisados de forma qualitativa e quantitativa para posterior direcionamento dos resultados e conclusões.

Figura 7: Fluxograma de atividades Fonte: Autoria Própria, 2016

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