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A adolescência é marcada por intensas transformações biológicas e psicossociais, as quais envolvem crescimento e desenvolvimento. É então comum neste período, o surgimento de estereótipos e padrões sociais na formação de conceitos negativos (HARE et al., 2008; MATIAS et al., 2009; SILVA e COSTA, 2005).

Nesta perspectiva o desenvolvimento dos jovens é orientado por planejamentos que determinam as tarefas psicossociais (ERIKSON, 1968). Em cada estágio do desenvolvimento psicossocial o adolescente depara-se com uma crise cuja resolução pode ocorrer de modo equilibrado ou ser uma resolução com dominância do sentido negativo com implicações para o ajustamento psicossocial do indivíduo. Assim, cada estágio é considerado um potencial ponto de virada, o qual determina um desenvolvimento saudável por oposição a um desenvolvimento psicológico patológico (SILVA e COSTA, 2005).

Fruto destas intensas transformações, esta fase da vida tem se caracterizada pela alta prevalência e vulnerabilidade à transtornos emocionais como o estresse, depressão e transtornos de humor (PIRES et al. 2004; BAHLS, 2002).

O estresse pode ser definido como uma reação complexa, composta de alterações psicofisiológicas que ocorrem quando o indivíduo é forçado a enfrentar situações que ultrapassem sua habilidade de enfrentamento (LIPP, 1997). Mendonça (1991) afirma que o estresse provoca modificações no organismo da pessoa, e quando isto ocorre de maneira excessiva e durante muito tempo, causa prejuízos à saúde. Na maioria dos casos, o estresse é causado por um somatório de fatores que, ocorrendo com freqüência, geram um elevado grau de tensão. Esta tensão, seja ela física ou emocional, vai se instalando no organismo e, como na maioria das doenças, se desenvolve sem a percepção do portador até que, eventualmente, atinja proporções mais sérias (ANDRADE, 2001).

Em pesquisa de Pires et al. (2002), a fase do estresse em que houve a maior concentração de adolescentes tanto para o gênero masculino (29,8%) como

para o feminino (53,9%) foi a fase que estes quase chegaram a exaustão do estresse. Em outro estudo Pires et al., 2004, concluíram que quase metade dos adolescentes pesquisados (43,1%) estavam com níveis de estresse prejudicial à saúde. Sendo que quanto ao gênero pesquisas mostraram que as meninas atribuíram maior média aos eventos estressantes do que os meninos (KRISTENSEN et al., 2004; PIRES et al., 2002; WATHIER; DELL’AGLIO, 2007; PIRES et al., 2004).

Um agente estressor pode ser um evento que cause o estresse (DELBONI, 1997). No estudo de Kristensen et al. (2004), os cinco eventos estressores mais freqüentes entre os adolescentes foram ter provas no colégio (84%), discutir com amigos(as) (79%), morte de algum familiar (73%), ter que obedecer às ordens de seus pais (71%) e ter brigas com irmãos(ãs) (66%) semelhantes aos encontrados por Wathier e Dell’Aglio (2007). Os eventos de maior impacto estavam direta ou indiretamente relacionados à família, demonstrando, dessa forma, a importância da mesma (WATHIER e DELL’AGLIO, 2007).

Deste modo, o estresse tem sido relatado na literatura com um dos principais fatores ambientais que predispõem um indivíduo à depreciação emocional (JOCA; PADOVAN; GUIMARÃES, 2003), como a depressão e os estados de humor.

A depressão caracteriza-se como uma síndrome psiquiátrica com componentes biológicos e psicológicos caracterizado por sintomas emocionais, motivacionais e físicos com grande repercussão na vida do indivíduo (GUIMARÃES; 1996). Está descrita no Manual de Diagnósticos e Estatísticas das

Doenças Mentais (DSM-IV), da Associação Americana de Psiquiatria (APA) como um transtorno caracterizado por alterações psíquicas, acompanhadas de alterações nos estados de humor que repercutem nos estados de ânimo do indivíduo, no seu interesse, no seu jeito de sentir, pensar e comportar-se. O humor encontra-se polarizado entre a tristeza (melancolia) ou exaltação (irritabilidade), podendo haver crise única ou cíclica e oscilando ao longo da vida (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1994). Considera-se que a depressão maior na infância e na adolescência apresenta natureza duradoura e pervasiva, afeta múltiplas funções e causa significativos danos psicossociais (BAHLS, 2002).

A depressão é um grave problema de saúde pública, sendo que, esse transtorno compromete o cotidiano das pessoas no relacionamento social, seja na família, trabalho ou comunidade (MARTIN, QUIRINO e MARI, 2007). Esta síndrome pode ser fruto de fatores genéticos, bioquímicos, psicológicos e sócio- familiares, sendo estudada sob diferentes abordagens (AVANCI, ASSIS e OLIVEIRA, 2008).

Na infância e adolescência pode ter início com a perda de interesse pelas atividades que normalmente seriam atrativas, manifestando-se como uma espécie de mau humor constante diante dos jogos, brincadeiras e esportes (WATHIER e DELL’AGLIO, 2007). A adolescência se revela particularmente importante para o estudo do transtorno depressivo, cuja prevalência chega a 20% (AVANCI, ASSIS e OLIVEIRA, 2008). Em estudo de Jatobá e Bastos (2007), as prevalências de sintomas depressivos expressivos atingiram 59,9%.

Calcula-se que a depressão seja responsável pela maioria dos suicídios entre jovens, alcançando valores próximos a 10% (BAHLS, 2002). A ideação

suicida/tentativa de suicídio foi referida por 34,3% dos estudantes. Houve associação significativa de ideação suicida com grau leve ou moderado de sintomas depressivos, assim como de tentativa de suicídio com sintomas depressivos graves, com estudantes de escola privada (JATOBÁ e BASTOS, 2007).

Bahls (2002) concluiu em seu estudo que a depressão maior em crianças e adolescentes é considerada comum, debilitante e recorrente, envolvendo um alto grau de morbidade e mortalidade, representando um sério problema de saúde pública. Na pesquisa de Avanci, Assis e Oliveira (2008) dois eventos revelam-se particularmente de risco à depressão na adolescência: a separação dos pais e a experiência de violência física causada pela mãe contra o adolescente. Quanto ao gênero, Jatobá e Bastos (2007), encontraram associações significativas entre sintomas depressivos de intensidade grave e o sexo feminino.

Em síntese, observa-se que a depressão está associada com alterações nos estados de humor ou estados de ânimo dos adolescentes, no seu interesse, no seu jeito de sentir, pensar e comportar-se. (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1994). Está associação mostra-se potencialmente perigosa na medida em que o humor é o tônus afetivo do indivíduo. Estados de humor alterados modificam a forma de percepção das experiências reais, ampliando ou reduzindo o impacto destas.

O humor acompanha os processos intelectuais (percepções, representações e conceitos), levando, assim, a uma modificação da natureza das experiências vividas. É a disposição afetiva fundamental, que pode transitar em dois pólos extremos, um eufórico e o outro apático, variando de acordo com as

circunstâncias encontradas no meio externo. O humor desempenha, na esfera afetiva, o mesmo papel que a consciência desenvolve na esfera intelectual; portanto, perpassa todo pensamento ou ato intencional, já que estes sempre estão providos de um significado (VIEIRA, 2008).

3 MÉTODO

O método no sentido filosófico, “é a ordem que se segue na investigação da verdade, no estudo feito por uma ciência, ou para alcançar um determinado fim” (ARANHA e MARTINS, 1993).

Cada objeto de análise requer uma maneira específica de abordagem de estudo, determinada pelo próprio objeto. O método não dispensa a apreensão de cada objeto, proporcionando apenas um guia, uma orientação para o conhecimento da realidade. A forma do método deve subordinar-se à realidade (GADOTTI, 2001).

Este capítulo descreve o tipo de pesquisa, sujeitos da mesma, instrumentos, procedimentos da coleta de dados, bem como a forma do tratamento dos dados.