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2.9 TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO APLICADA À ATIVIDADE FÍSICA,

2.9.1 Regulações motivacionais e atividade física

Quanto às regulações motivacionais e a aderência a prática de atividade física, os estudos têm confirmado os pressupostos da TAD, pois pessoas mais autodeterminadas tendem a ter maior participação nessas práticas. Por outro lado, os resultados não são conclusivos e aspiram novas investigações.

Uma das primeiras pesquisas relevantes que abordaram esse tema foi realizada por Mullan e Markland (1997), dois importantes pesquisadores da TAD aplicada ao exercício e esporte. O referido estudo tratou de relacionar as regulações para a prática de exercícios físicos com os estágios para mudança de comportamento para o exercício em adultos. Os resultados mostraram que pessoas mais autodeterminadas para a prática de exercícios encontravam-se em estágios de comportamento para o exercício físico mais avançados, resultado que concerne com a TAD.

Em estudo realizado com universitárias, Wilson e Rodgers (2004) também encontraram resultados semelhantes quando relacionaram os níveis de intenção de comportamentos para exercícios físicos com os níveis de regulação. Porém, neste estudo percebeu-se relação mais positiva entre a regulação identificada e as intenções de exercício do que estas com a motivação intrínseca. Verificou-se

ainda a influência positiva do apoio dos amigos sobre os níveis de motivação, o que pode justificar a maior relação da regulação identificada com as intenções de prática de exercícios, pois existem motivos externos relevantes.

No contexto escolar, estudo similar foi realizado com escolares de 12 a 14. Foi verificadas relações entre a intenção de comportamentos para exercícios em momentos de lazer e a motivação para as aulas de Educação Física (STANDAGE, DUDA e NTOUMANIS, 2003). A intenção de prática esteve fortemente relacionada com a motivação autodeterminada, enquanto foi baixa a relação com a regulação introjectada e negativa com a amotivação. Nesse sentido, mesmo considerando as diferentes características da Educação Física escolar nos países europeus, onde foi realizada a pesquisa, percebe-se que a Educação Física na escola pode facilitar para que os jovens se engajem na prática de exercícios físicos.

Parece haver diferenças entre a motivação de meninos e meninas. O estudo de Murcia, Gimeno e Coll (2007) verificou, em amostra de adolescentes de 12 a 16 anos praticantes de esportes, que as meninas tinham motivação mais autodeterminada à prática esportiva quando comparadas aos meninos. Por outro lado, o estudo de Markland e Ingledew (2007) verificou diferença apenas entre os níveis de regulação identificada, porém com índices mais altos para os meninos. Há de se destacar a pouca atenção dada às diferenças motivacionais existentes entre os sexos na aderência à prática de exercícios físicos e esportes. Na maioria dos estudos revisados essas diferenças não são discutidas.

O estudo de Brickell e Chatzisarantis (2007), realizado com universitários de ambos os sexos, utilizando a mesma escala do presente estudo, verificou, entre outras variáveis, a relação do nível de atividade física com os níveis de regulação

motivacionais. Foi observado que a regulação identificada predisse em 35% as práticas de exercícios.

Em estudo recente, Edmunds, Ntoumanis e Duda (2006) verificaram, pesquisando pessoas com idades variadas (16 a 64 anos), que a motivação intrínseca e a regulação integrada têm relação mais forte com os exercícios mais vigorosos, enquanto não se relacionaram com as atividades leves e moderadas. Esse resultado demonstra a maior entrega à prática de exercícios quando as regulações são internalizadas. Observou-se também, que a regulação integrada prediz mais fortemente a participação em atividades físicas, mais do que a própria motivação intrínseca.

Apesar da concordância nos resultados de pesquisas em apontar que as motivações mais autodeterminadas estão mais relacionadas à prática de atividade física, a maior parte dos estudos têm demonstrado que as regulações identificadas e integradas são tão ou mais influentes sobre essas práticas do que a própria motivação intrínseca. Mesmo contrariando o pressuposto da TAD, de que pessoas motivadas intrinsecamente estão mais propensas a se engajarem em exercícios físicos, percebe-se coerência nesses achados. Na atualidade, as atribuições do dia-a-dia como o trabalho, estudos, etc, fazem com que seja difícil a aderência em atividades simplesmente porque estas proporcionam prazer.

Embora para aderir a algum comportamento estar motivado intrinsecamente é muito importante, segundo Mullan e Markland (apud WILSON et al., 2003) parece pouco provável que pessoas em estágio inicial de exercício adotem essa participação exclusivamente pela satisfação derivada dos exercícios físicos. O engajamento em uma atividade demanda tempo e dedicação, fazendo com que

facilmente estas sejam deixadas de lado, para que seja feito apenas o que é mais “importante” momentaneamente.

Edmunds, Ntoumanis e Duda (2006) investigaram a votação em eleições. Segundo os autores, a grande aderência das pessoas à participação nas eleições não acontece por achar divertido ou prazeroso o ato de votar, mas por acharem importante ou por ser obrigatório. Nesse caso, regulações externas são fundamentais para o engajamento.

Devemos considerar ainda a possibilidade de existir mudanças nos tipos de motivações entre a fase inicial da prática de um exercício e a adesão a um programa de exercício físico regular (MULLAN e MARKLAND, 1997). Segundo Ryan et al. (1997), as motivações extrínsecas predizem, num curto prazo de tempo, a aderência de universitários à Fitness Centers, enquanto que um envolvimento mais prolongado necessita de motivações mais intrínsecas para que este mesmo universitário pratique regularmente atividade física.

Para melhor compreender as motivações em diferentes fases da aderência ao exercício físico, Wilson et al. (2003) realizaram estudo experimental que verificou as alterações longitudinais nos níveis de motivação de praticantes de programas de exercícios. Preliminarmente às sessões de exercícios, verificou-se que a regulação identificada e a motivação intrínseca tiveram forte relação com as atitudes e comportamentos para o exercício e o VO2max dos participantes. Com o decorrer da prática, dentre outras análises, observou-se aumento nos níveis de regulação identificada e motivação intrínseca, indicando que quanto mais tempo se pratica exercício sistematizado, menor a probabilidade de desistência, pois mais motivado intrinsecamente estará o indivíduo. Resultados semelhantes foram

encontrados por Murcia, Gimeno e Coll (2007), que também concluíram que um maior tempo de prática está relacionado o maior índice de autodeterminação.

2.9.2 Necessidades psicológicas básicas, níveis de regulação motivacionais e