• Nenhum resultado encontrado

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1. Estrutura da pesquisa-ação

Para Michel Thiollent (1992), a pesquisa-ação é definida como: “linha de pesquisa associada a diversas formas de ação coletiva (...) orientada em função da resolução de problemas ou de objetivos de transformação”.

Esse tipo de pesquisa possibilita uma integração constante entre o pesquisador e os participantes das situações pesquisadas. O pesquisador, a partir de tal metodologia, pode ser animador ou mesmo participante ativo do planejamento das ações feitas pelos próprios atores sociais. Pode também se envolver histórica e existencialmente com as pessoas e com o tema pesquisado, tendo como compromisso a resolução de problemas da situação pesquisada.

Thiollent (1992), expõe seis aspectos principais da pesquisa-ação enquanto estratégia metodológica:

a) há uma ampla e explícita interação entre pesquisador e pessoas implicadas na situação investigada;

b) desta interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;

c) o objeto de investigação não é construído pelas pessoas e sim pela situação social e pelos problemas de diferentes naturezas encontradas nesta situação;

d) o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, esclarecer os problemas da situação observada;

e) há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade intencional dos atores da situação;

f) a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento ou o nível de consciência das pessoas e grupos considerados.

Como confirma Silva (1998), a pesquisa-ação possui uma característica dialógica entre a prática e a teoria, procurando sempre a resolução mais adequada do problema considerado, como também a produção de conhecimentos. Com isto, a pesquisa valoriza o saber e a experiência das pessoas envolvidas, como também as ambigüidades, conflitos e contradições observadas, para as quais o pesquisador através da mediação da linguagem e de outras técnicas constrói o consenso.

Em uma situação educacional, os pesquisadores ganham condições de construir e produzir informações e conhecimentos, principalmente no campo pedagógico. Como afirma Thiollent:

No contexto da construção do sistema de ensino, não basta descrever e avaliar. (...) com a orientação metodológica da pesquisa-ação, os pesquisadores em educação estariam em condições de produzir informações conhecimentos de uso mais efetivo, inclusive ao nível pedagógico (THIOLLENT, 1992).

Este tipo de metodologia apresentada pela pesquisa-ação, num sentido mais amplo, articula o conhecer e o agir. Possibilita, principalmente no campo educacional, em nível institucional, um salto qualitativo, pois a busca de dados e o processo de apreensão da realidade serão os subsídios necessários para a construção de uma abordagem pedagógica que envolva a questão ambiental.

Thiollent (1992) apresenta doze instrumentos integrantes da pesquisa-ação, não sendo, porém rígidos na sua utilização, pois esta metodologia valoriza a força da autonomia do processo investigado: 1 fase exploratória, 2 definição do tema da pesquisa, 3 colocação dos problemas, 4 o lugar da teoria, 5 as hipóteses, 6 os seminários, 7 o campo de observação, 8 a coleta de dados, 9 a aprendizagem conjunta, 10 a mediação dos saberes, 11 o plano de ação, 12 a divulgação externa.

A iniciação da pesquisa é caracterizada pelos três instrumentos iniciais. Onde ficam definidos: o campo social da pesquisa; as pessoas interessadas; os objetivos e problemas concretos da realidade; os principais atores ficam identificados; a situação pretendida de estudo; o conjunto de teorias e metodologias de apoio; a definição da equipe de trabalho, o aprofundamento da questão do problema a ser estudado e seu enquadramento teórico; a busca do contexto, deixando claro o objeto da pesquisa, bem como algumas regras para a organização dos estudos. Porém todo o planejamento de uma pesquisa-ação é bastante flexível. Em cada situação apresentada, o conjunto de participantes e pesquisadores pode redefenir o que anteriormente já havia sido planejado.

A teoria, as hipóteses e os seminários compõem a segunda etapa desta pesquisa. Nela fica clara a necessidade tanto da teoria como das hipóteses, como suportes para as ações visando sempre a solução de problemas colocados na pesquisa. A formulação de pressupostos é de fundamental importância para a organização da pesquisa, pois a partir delas, o pesquisador identifica as informações necessárias levantando hipóteses norteadoras da ação, com as quais estabelece o campo de observação, seleciona dados, evitando assim a dispersão. As hipóteses, a teoria e a prática são trabalhadas com os participantes do processo, através da técnica dos seminários −reuniões de trabalho entre pesquisadores e participantes−. Através dos seminários é possível elaborar diretrizes de ação, pois ali são centralizadas todas as informações coletadas e discutidas as interpretações levantadas. Os resultados são registrados pelo pesquisador.

O terceiro grupo de instrumentos pode ser formado dos itens sete ao dez. Eles indicam os instrumentos de controle do experimento. O campo de observação, a coleta de dados, a aprendizagem conjunta e a mediação dos saberes determinam o controle do experimento. O espaço territorial da pesquisa, e da amostragem é demarcado. As entrevistas, questionários ou manuais metodológicos são definidos, os enfoque cognitivo da pesquisa-ação é levantado e, por último, com a mediação dos saberes, media-se o encontro dos domínios de experiências do participante e do pesquisador, muitas vezes com técnicas apropriadas, garantindo uma comunicação apropriada entre os participantes.

O plano de ação e a divulgação externa fecham o último grupo de instrumentos. A situação estudada deve ser acompanhada de um plano de ação, que deve ser assumido inteiro ou em partes, pelos atores sociais da situação estudada. Deve conter: uma relação dos principais interessados; um diagnóstico interinstitucional; os tomadores de decisão; os objetivos e suas metas, bem como os instrumentos de avaliação de resultados e os mecanismos de participação da população implicada, da incorporação de suas sugestões e da continuidade das ações. Os resultados da pesquisa deverão ser devolvidos, valorizando tanto a participação de cada um, como a construção de uma visão de conjunto de todo o processo, garantindo a aprendizagem de todos.

No Quadro 3, demonstramos os momentos da pesquisa fundamentados em Thiollent (1992):

Momentos Fases Procedimentos

Definição do campo social da pesquisa Identificação dos interessados Diagnóstico inicial da realidade Acordo inicial

Fases exploratórias

Formulação dos objetivos da pesquisa

Definição do tema Designação do problema prático e da área de conhecimento a serem abordados Definição do

Problema

Colocação dos problemas Elucidação da natureza, dimensões dos problemas selecionados e relevância científica e prática da pesquisa Pesquisa teórica Elaboração de um quadro de referência teórica

Hipóteses Formulações de hipóteses norteadoras

Seminários Centralização de informações, exame, discussão e tomada de decisões sobre as investigações Campo de observação Delimitação do campo de observação empírica

Coleta de dados Utilização de técnicas individuais e/ou em grupo e documentais Aprendizagem conjunta Processo de aprendizagem coletiva associada ao processo de ações investigadas Aprendizagem

Conjunta

Mediação de saberes Entendimento lingüístico entre o domínio de experiência do participante e do pesquisador Plano de ação Definição do plano de ação para a situação investigada Plano de Ação

Divulgação externa Retorno da informação aos envolvidos na pesquisa