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2.3. Enquadramento teórico

2.3.2. Estrutura do sintagma preposicional

Sabemos que a função de preposições29 consiste em estabelecer uma relação sintática e semântica entre o termo subordinante (que determina a presença da preposição) e o complemento. Em conjunto com o seu complemento, a preposição forma um sintagma preposicional (SP).

O núcleo do sintagma preposicional pode ser constituído por preposições simples e locuções prepositivas. As primeiras, tipicamente, consistem em uma palavra, enquanto as segundas apresentam expressões compostas por várias palavras que, porém, funcionam como preposições simples. Em GP, as locuções preposicionais são caraterizadas pela presença nelas de uma base (nominal, adverbial ou preposicional) seguida obrigatoriamente de uma preposição gramatical (tipicamente de, a, em ou com)30. Atenta-se também o alto grau de lexicalização dos elementos que formam as locuções prepositivas31.

Neste contexto, convém fazer um comentário sobre os conetores daqui a/ daí a/ dali a e há que pretendemos analisar adiante, visto que estes se encontram no processo de recategorização. Relativamente a daqui/ daí/ dali em GP (287), afirma-se que podem ser analisados como formas contraídas (do advérbio com a preposição de) devido à possibilidade de alternância entre os advérbios aqui, aí e ali. No entanto, quando as formas referidas têm valor temporal e se integram numa expressão mais extensa (daqui a/ daí a/ dali a X tempo), envolvem um princípio de lexicalização, “com variação no preenchimento da expressão de quantificação temporal, formando um padrão regular” (ibidem: 286), nomeadamente daqui a/ daí a/ dali a + quantificador + nome32. Designaremos este padrão gramatical regular como expressão temporal semifixa, segundo a GP (1549) e os constituintes daqui a/ daí a/ dali a como conetores.

O caráter categorial de há discute-se, por exemplo, em Móia (2003) e (2011). Como se afirma em Móia (2003: 116), “o carácter verbal (de há) parece estar a perder-se, em prol de um carácter de conetor preposicional […] o qual se manifesta, por exemplo, no uso da forma morfológica presente há em qualquer contexto temporal, mesmo passado ou futuro […] e, principalmente, na combinação com atrás, incompatível com o valor verbal em causa”. Sublinhamos que para a nossa análise, no âmbito de PLE, consideramos a função do conetor mais pertinente do que o seu estatuto categorial.

Outra questão teórica que suscita controvérsia entre linguistas consiste na identificação de uma diferença categorial entre advérbio, preposição, locução adverbial e locução prepositiva (como depois do almoço, ao lado da cama, etc.)

Assim, no estudo da distinção entre sintagmas adverbiais e sintagmas preposicionais efetuado em Lobato (1989) os advérbios de tipo perto são considerados como

29Tomamos como referência, aqui, a definição desta classe de palavras presente no Dicionário de termos

linguísticos (1992: 304): “Preposição (PREP) – palavra invariável que liga um constituinte de frase a um outro constituinte ou a uma frase, indicando eventualmente uma relação espácio-temporal. É uma categoria atribuídora de caso, sendo o núcleo do SP que tem obrigatoriamente um complemento” (Fonte: Chomsky (1981)/Chomsky (1986)

30Cf. 32.2.2 (ibidem). 31Ibidem: 1501.

advérbios com complemento implícito, ou não expresso, enquanto usados no contexto Estou perto; e são tratados como advérbios com complemento explícito, na frase Estou perto de casa. Indica-se também uma caraterística importante da classe de preposições a qual não obedecem os advérbios referidos: preposições sempre exigem a manifestação do seu consequente.

Costa (2008: 23-24) propõe resolver o problema da classificação, assumindo que os advérbios e locuções adverbiais relacionais (perto, depois, ao lado, à esquerda, etc.) podem ocorrer com um complemento. Assim sendo, uma combinação de itens lexicais ao lado é concebida como locução adverbial sem complemento, e ao lado

do banco como locução adverbial com complemento.

Em Mateus et alii (2003: 419-420), porém, a questão da distinção entre advérbio e locução prepositiva não é tida como sendo problemática. Por um lado, atenta-se num pequeno grupo de advérbios de localização espacial e temporal que selecionam argumentos (longe da casa, abaixo da mesa, depois da aula, antes do almoço), sendo a sua transitividade a qualidade que “os aproxima das preposições”; por outro lado, os mesmos advérbios acompanhados por uma preposição simples aparecem na lista das locuções prepositivas (ibidem: 391).

Uma outra visão sobre o problema tem Castilho (2010) que relaciona perto com a classe dos advérbios dêiticos. Sublinha-se uma natureza relacional das preposições: “o sentido básico das preposições é o de localizar no espaço e no tempo os termos que elas ligam [...] A localização é uma operação relacional por excelência [...] As preposições, em suma, são operadores que realizam a relação assimétrica entre o objeto A que queremos localizar (a FIGURA) e o objeto B com referência ao qual queremos localizar o objeto A (o PONTO DE REFERÊNCIA)” (ibidem: 584). Nesta perspetiva, a Gramática define os advérbios dêiticos quando seguidos de um complementador, como “preposições complexas”, negando, de certo modo, a definição de “locuções prepositivas”, que “não dispõem de estatuto categorial próprio” e “não representam outra classe morfossintática” (588).

Em GP (1505) considera-se como o critério definitório principal da classe das preposições a sua transitividade obrigatória. Analisam-se os advérbios relacionais (depois, perto, à direita, em frente, etc.) “que não incorporam lexicalmente o complemento mas permitem a sua recuperação contextual” e que para se combinarem com o complemento expresso precisam de uma preposição gramaticalizada e assim formam uma locução prepositiva (depois do jantar).

Seguindo a lógica da GP, consideramos depois como advérbio relacional que pode ocorrer com a preposição de e formar uma locução prepositiva que, por sua vez, introduz um complemento.33

A distinção entre preposições e locuções prepositivas faz parte da discussão na área da linguística teórica enquanto para os objetivos de ensino-aprendizagem de PLE são essenciais outras

caraterísticas de SP, nomeadamente a sua função34na oração.

Visto que o presente trabalho pretende explorar a sua função do adjunto adverbial da localização temporal, concretizamos agora as relações temporais que este implica.