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3.4 Análise exploratória da dispersão

3.4.1 Estrutura dos sítios

No segundo capítulo, apresentamos a configuração espacial de cada um dos abrigos considerados no Vale do Ventura. Em dois deles, identificamos uma divisão natural entre duas áreas de pintura no mesmo afloramento rochoso. Na Toca do Pepino, foi também evidenciada uma diferença relativa ao tamanho das figuras representadas na primeira e na segunda área. Estas particularidades estruturais oferecem um primeiro caso a ser investigado com a análise de dispersão. Procuramos avaliar o perfil das representações de indivíduos humanos em cada área, para atestar ou não a existência de particularidades em um ou outro.

Acrescentamos, portanto, no banco de dados, uma nova variável chamada area com dois atributos, area.1 e area.2. Estas informações são, então, inseridas nos diversos grafos topológicos que produzimos com análise das redes e análise de correspondência múltipla.

Tabela 22 – Dispersão por áreas na Toca da Figura

Medida Morfologia Geometria area1 area2 area1 area2

QT 15 92 15 92 CP 7 13 4 7 CG 49 11 60 15 NCG 0.53 0.73 0.65 1.00 RC 0.43 0.13 0.21 0.07 F 0.87 0.89 0.73 0.76 H 0.81 0.88 0.68 0.76

Tabela 23 – Dispersão por áreas na Toca do Pepino

Medida Morfologia Geometria area1 area2 area1 area2

QT 70 58 70 58 CP 14 14 6 8 CG 57 69 55 70 NCG 0.98 0.99 0.95 1.00 RC 0.19 0.23 0.07 0.12 F 0.91 0.89 0.78 0.81 H 0.90 0.88 0.77 0.80

Na Toca da Figura, a distribuição das figuras por área é muito desigual. A primeira área mostra uma quantidade consequente de componentes morfológicos, se consideramos a sua baixa representatividade numérica. Isso permite que esteja relacionada com mais da metade das figuras da segunda. Mesmo em maioria, contudo, esta não alcança a centralidade máxima. Do ponto de vista geométrico, a diferença é menos marcada. As medidas apontam, comparativamente, para a grande diversidade dos indivíduos da primeira área.

Na Toca do Pepino, apesar das observações feitas no início deste capítulo, a distribuição dos dados nos componentes morfológicos de cada área não indica grandes diferenças. Há um número um pouco maior de figuras na primeira área, o que leva a resultados levemente superiores na segunda. Em relação às variáveis geométricas, entretanto, uma leve diferença aparece. As figuras da segunda área estão dispersas em todos os componentes, contra apenas 75% das possibilidades na primeira. A estrutura interna é logicamente mais diversificada e os valores mais altos.

Figura 49 – ACM morfológica por área na Toca da Figura.

Figura 50 – ACM geométrica por área na Toca da Figura.

análise. Embora hajam pinturas em duas faces do mesmo afloramento, a única cena com indivíduos humanos não torna necessária a realização deste tipo de análise.

A análise de correspondência múltipla permite, por sua parte, investigar as associa- ções e oposições que podem existir entre instâncias, partições e atributos.

Na Toca da Figura, o antagonismo morfológico entre as duas áreas é marcado ao longo da dimensão 1, na qual a variável de tronco tem pouca influência. Isso se deve ao baixo número de indivíduos na primeira área. Eles aparecem associados com artinf.sim e os outros atributos apresentando valores positivos na primeira dimensão. Do ponto de vista

Figura 51 – ACM morfológica por área na Toca do Pepino.

Figura 52 – ACM geométrica por área na Toca do Pepino.

geométrico, a área 1 aparece também em destaque, pela mesma razão, perto do baricentro de um triangulo formado por suphor.nao, infver.sim e supver.nao. A área 2 ocupa sempre uma posição central, confirmando sua maior variabilidade.

Os dados da Toca do Pepino indicam um tipo diferente de oposição, na qual os dois atributos são dispostos simetricamente em relação ao ponto central dos eixos. No grafo morfológico, as duas áreas têm sua maior contribuição no primeiro eixo, o mesmo que opõe as variáveis do pescoço e do tronco. A primeira área está relacionada com figuras em volume sem pescoço e a segunda com figuras em linha com pescoço. No grafo geométrico, ao

contrário, não há associações particulares a serem notadas. As contribuições são mínimas. Os dois instrumentos mostram resultados consistentes e complementares, que nos permitem entender melhor o comportamento dos dados em cada área. Globalmente, a Toca da Figura apresenta dados mais díspares. Pelo desequilíbrio na distribuição das figuras, uma área tem uma centralidade de grupo normalizada menor que a outra. Por outro lado, as outras medidas indicam que as figuras que ali se encontram têm grande variabilidade. Mesmo juntando um número muito maior de representações, a segunda área do sítio mostra uma fragmentação dos dados apenas superior à primeira.

Na Toca do Pepino, os resultados são mais homogêneos. As duas áreas do sítio testemunharam uma importante atividade de pintura, ambas com uma grande quantidade de indivíduos representados. A diversidade morfológica e geométrica destes resultou em medidas de centralidade de grupo normalizada parecidas – apenas instâncias isoladas são responsáveis pelas mínimas diferenças.

Observamos uma variabilidade levemente maior na segunda área, sobretudo em relação com os atributos geométricos. A maior diferença é aparente nos resultados da análise de correspondência múltipla, que mostra associações com atributos diferentes. A variação de tamanho, apontada na fase de compilação dos dados, é, portanto, acompanhada de uma tendência leve a representar os indivíduos com morfologias distintas.

Contudo, esta diferença não está acompanhada de uma centralidade mais baixa, que indicaria a especialização de cada área em determinados grupos de atributos. Arqueo- logicamente falando, se torna difícil emitir a hipótese de dois conjuntos estilísticos distintos e, possivelmente, de duas ocupações. A alta centralidade de ambas confunde esta ideia: observamos na primeira área uma série de componentes que estão também presentes na segunda e inversamente.

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