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Estrutura e função das representações sociais

No documento Humor na sociedade contemporânea (páginas 54-56)

Moscovici [2000] acredita que as representações sociais são fenómenos e processos cognitivos que, além de forma, são dotados de uma estrutura e um conteúdo. É entre as percepções que permitem a compreensão de ideias e conceitos que se encontram posicionadas as representações e a sua estrutura compreende os elementos abstractos em conjunto com elementos pictóricos e figurativos. No sistema de coexistência das propriedades abstractas com as propriedades figurativas, Moscovici [2000] considera que estas têm habitualmente prevalência sobre as primeiras, uma vez que as representações sociais giram à volta do núcleo figurativo. Consequentemente, as representações sociais adquirem a forma de um conjunto de conceitos e elementos linguísticos que podem surgir tanto sob formas abstractas como sob formas pictóricas, mas onde predominam as formas figurativas [McKinlay e Potter 1987; Webb 2009]. No discurso quotidiano, bem como na imaginação das pessoas, as representações

sociais assumem formas concretas, nomeadamente num esquema figurativo. Apesar de os indivíduos se envolverem em conversas relacionadas com os objectos representados, Wagner [2012] afirma que as representações são mais bem conceptualizadas quando apresentadas sob a forma icónica e metafórica do que sob a forma proposicional.

A estrutura metafórica das representações mostra como estão ligados os domínios do conhecimento pré-adquirido e do objecto acabado de conhecer. A compreensão da novidade liga-se ao que é familiar e o domínio do que é desconhecido torna-se inteligível pela projecção da estrutura básica da origem no elemento alvo. A imagem resultante do discurso produzido incorpora a significação do elemento novo, tingido pelas afectações e conotações que derivam, pelo menos em parte, do domínio original [Wagner e Hayes 2005].

No que respeita ao conteúdo das representações sociais, este varia de forma significativa. Por conterem aspectos cognitivos e afectivos em simultâneo, as representações têm um método similar de derivação que provém da disseminação discursiva. A ligação entre os processos de comunicação e as representações sociais é importante porque fornece uma provisão de dinamismo aos conteúdos das representações sociais e salienta a natureza social das representações em conjunto com o seu conteúdo.

O carácter social das representações procede do facto de serem produzidas num diálogo permanente entre os indivíduos, fornecendo um significado comum aos objectos da conversação entre um grupo de falantes. Dessa forma, as representações dependem das instâncias de comunicação interpessoal e adaptam-se às interacções nos grupos sociais [Von Glasersfeld 1995; Grant 2000]. As representações sociais surgem também das discussões entre os indivíduos enquanto estes procuram dar sentido às suas vidas numa sociedade. Uma representação pode produzir impacto num significado quando assimila os objectos em categorias gerais do pensamento. Uma vez que as representações sociais têm este efeito codificador, elas permitem a um indivíduo seleccionar algumas porções do meio social que o rodeia, julgando que o objecto identificado partilha significados semelhantes aos que com ele partilham representações sociais idênticas [McKinlay e Potter 1987].

Para utilizar um exemplo emprestado da Sociologia da Comunicação, Thompson [1998] explicou que assim como o sistema mediático não dá a mesma atenção a todo o tipo de acontecimentos e discursos, também os indivíduos recebem o enorme influxo dessa experiência mediática socorrendo-se de ferramentas de selectividade, concentrando-se nos aspectos que têm um particular interesse para eles. O processo não é diferente com os comediantes. Como agentes activos do sistema cultural e mediático [Miller 2014], os criadores humorísticos utilizam as mesmas ferramentas de selectividade que lhes permitem alicerçar o seu discurso em representações sedimentadas, e desta forma granjear a compreensão do público.

As representações sociais emergem do aparato cognitivo dos indivíduos através do discurso social [Moscovici 2000] e são poderosos auxiliares para a formação do conhecimento social útil sobre a realidade. Os processos sociais e cognitivos que permitem germinar as representações sociais revela que estas são fundamentais para que os membros de uma comunidade integrem os processos discursivos e comunicacionais. Por sua vez, esta integração facilita a participação dos indivíduos em comunidades discursivas e nos processos de comunicação entre indivíduos e entre comunidades. As representações bem estruturadas dependem do discurso activo [Wagner e Hayes 2005]. Como parte do processo de intercâmbio, as representações exigem processos activos de repetição da informação e reprodução de conhecimentos. Segundo Moscovici [2000], o mais importante para um observador contemporâneo das representações sociais são as suas características ambulantes e circulatórias.

As representações podem ser vistas como uma estrutura dinâmica que opera num número de relações conjuntas com os comportamentos que aparecem e desaparecem em conjunto com as representações. A natureza das representações depende também do uso comum da comunicação quotidiana, e por conseguinte, o seu conteúdo alterar-se-á à medida que os indivíduos os empreguem em contextos distintos. As representações são também o resultado de entidades mentais complexas que, por derivarem da comunicação interpessoal, se tornam sociais [Lowenthal e Muth 2008].

Assim, as representações sociais delimitam a experiência, uma vez que o mundo de um indivíduo só carrega significados até onde as representações sociais lhes atribuem um significado. Esta característica mostra que as representações sociais são mais do que uma forma de comunicação, uma vez que têm a capacidade de construir um significado para o objecto que está a ser comunicado. Desta forma, Moscovici [2000] contrasta as perspectivas de processamento de informação com a teoria das representações sociais, mas salientando que de acordo com as teorias da representação social, a factualidade não surge no centro das trocas comunicacionais entre os membros de uma sociedade.

No entanto, as representações sociais fornecem experiências com significado através de uma fórmula construtivista e, em resultado disso, determinam a forma como um indivíduo pensa, interpreta e julga, especialmente no que respeita à sua experiência e, inclusivamente, às características da sua situação específica dentro dos grupos sociais a que pertence [Bourdieu 1989].

No documento Humor na sociedade contemporânea (páginas 54-56)