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MARCO TEÓRICO-CONCEITUAL

1.4 Estrutura econômico-social a partir dos aportes de Economia Política

Para entender as relações de poder existentes na sociedade paraguaia faz-se necessário compreender as bases que estruturam tais relações que provêm da base material existente. É essa base material que fundamenta as relações sociais de produção que, por sua vez, organizam as relações interpessoais a partir dos mecanismos produtivos. São os interesses e demandas do ambiente econômico-social que geram as demandas e o suporte (inputs) que pressionam o sistema político no modelo analítico de Easton (1965), assim como os interesses individuais e coletivos pressionam a estrutura governamental por soluções para as demandas no modelo analítico de Putnam (1996).

Poderia resultar contraditório analisar como unidade uma ordem de fatores potencialmente conflituosos como a que permeia as relações político-econômicas sob o modo de produção capitalista. Não obstante, Gramsci (1999) aponta para o conceito de bloco histórico como o elemento primordial para as análises da arte e da prática política, representando a unidade entre a natureza e o espírito, entre a estrutura e a superestrutura, uma unidade entre antagonistas, opostos, distintos. Assim, o complexo conjunto das superestruturas são o reflexo9 do conjunto das relações sociais de produção (GRAMSCI, 1984).

Nesta concepção do bloco histórico as forças materiais são o conteúdo e as ideologias são a forma, porém, tal “distinción de forma y de contenido [es] meramente didascálica, porque las fuerzas materiales no serían concebibles históricamente sin forma y las ideologías serían caprichos individuales sin las fuerzas materiales” (GRAMSCI, 1984: 160). Por conseguinte, no contexto de um Estado devem ser observados tanto elementos da cultura e do pensamento, quanto elementos do domínio político que interagem sobre o momento da hegemonia e do consenso como uma forma necessária do bloco histórico concreto (GRAMSCI, 1986).

O conceito de bloco histórico pode ser assim definido: a combinação de elementos da estrutura econômico-social (grupos econômicos beneficiados com o modelo) com elementos da

9 Portelli (2002) ressalta que a expressão “reflexo” não se refere a uma reprodução mecânica, de modo que as superestruturas estariam subordinadas à estrutura, mas sim que os elementos desenvolvidos no interior das superestruturas (que possuem uma dinâmica específica) não estão desvinculados dos elementos materiais e das relações de classe presentes na estrutura. Há de se observar então a relação orgânica entre estrutura e superestruturas.

superestrutura política e ideológica (organização política estatal e seu relacionamento com a sociedade civil). Esse conceito é o mesmo utilizado por Gramsci e sintetizado por Voza apud Liguori e Voza (2017: 66-67) e por Portelli (2002), e que foi examinado na seção anterior quando se analisou o caráter de classes que permeia o Estado integral.

Visualiza-se essa intrínseca relação entre a base material e o movimento histórico no conceito de bloco histórico. A teoria gramsciana parte da aceitação e filiação a dois princípios fundamentais: “uma formação social não aparece antes que não tenham se desenvolvido todas as forças produtivas para as quais ela ainda é suficiente, e a humanidade se coloca apenas aquelas tarefas que ela pode resolver” (COSPITO apud LIGUORI e VOZA, 2017: 269). A questão que qualquer análise gramsciana deve se colocar é a de saber como, a partir das estruturas, nasce o movimento histórico? É dessa questão que nasce o materialismo histórico na visão gramsciana e é a partir dessa questão que se estabelece a discussão teórico-conceitual utilizada na tese, unindo as três esferas centrais do estudo.

O arcabouço teórico weberiano também permitiu a observação do entrelaçamento das esferas centrais do estudo, lembrando que para Weber (1999a) os meios econômicos empregados pelos agentes para conservar a sua dominação influenciarão na forma adquirida pela estrutura de dominação. A apreciação weberiana sobre a dominação também considera que os interesses econômicos dos indivíduos influenciam nos valores que serão sustentados na coletividade, bem como influenciam nos moldes que a estrutura de dominação toma para conseguir sua auto justificação e legitimar-se ante os dominadores e os dominados.

E no contexto do Paraguai pós-Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) as relações sociais de produção passaram a ser moldadas pelos mecanismos do sistema capitalista internacional. Contudo, a inserção do Paraguai no sistema capitalista trouxe as peculiaridades de uma nação periférica e dependente no circuito financeiro e produtivo internacional, o que traz suas consequências para estabelecer parâmetros teórico-conceituais que forneçam subsídios analíticos para lograr a compreensão do caso. Retomando a concepção de Bendix (1996) sobre o processo de modernização em antigas estruturas coloniais, o processo de construção da estrutura econômico-social paraguaia está imerso na apreciação da relação de dependência ou independência em relação aos antigos poderes coloniais, não podendo ser ignorada a importância que tal relação tem para delimitar as possibilidades de desenvolvimento.

Inicia-se a análise teórico-conceitual com as principais características das estruturas econômico-sociais dos países latino-americanos, para posteriormente alcançar a análise mais

específica dos problemas que concernem a estrutura econômico-social paraguaia. Primeiramente, se analisam conceitualmente algumas das características das estruturas econômico-sociais latino-americanas e logo na sequência parte-se para o debate teórico da dependência que tenta explicar as características elencadas.

Algumas das principais características das estruturas econômico-sociais latino- americanas surgem com a própria construção dos Estados latino-americanos (ao longo do século XIX), constituindo-se em problemas históricos que vão recebendo distintas abordagens para a sua superação ao longo da história. Mesmo assim, ainda são problemas que interferem nas relações sociais dos povos latino-americanos.

A primeira característica analisada é a economia dependente. Os países latino- americanos inseriram-se de forma dependente durante o processo de transição das estruturas coloniais para um capitalismo periférico, dependente ou subdesenvolvido. Foi durante o século XIX que ocorreu essa alteração de estrutura econômica, com as independências políticas e a padronização econômica (salvo algumas exceções, como o Paraguai até 187010) de acordo com as necessidades do capitalismo internacional que ultrapassava os limites da Europa (SUNKEL, 1970). Retomando os apontamentos de Easton (1965), este é o início do processo de alteração de uma economia de subsistência para a economia monetária, ou como apontado por Inglehart e Welzel (2009) seria a transição de sociedades pré-capitalistas para sociedades capitalistas, mas uma transição que se desenvolveu com características específicas.

Nessa alteração de estrutura econômico-social visualiza-se a superação da escravidão, substituída pela mão de obra assalariada, alterando as relações de produção no interior das sociedades latino-americanas. Para alcançar tais mudanças foi necessário padronizar modelos institucionais pelas reformas liberais que visavam a inclusão na economia de laissez-faire sustentada pela hegemonia mundial do capitalismo inglês. Mas essa mudança de estrutura econômico-social não representou uma inclusão definitiva no modelo, pois segundo Sunkel (1970) a história independente latino-americana é marcada pelo “caráter limitado da transição ao capitalismo”, mantendo-se sempre à margem do centro do sistema mundial capitalista.

Houve uma alteração formal das instituições adaptando-se aos ditames do capitalismo internacional, mas o conteúdo das relações sociais continuava mantendo boa parte dos padrões

10 Durante os governos da Primeira República (1811-1870) a economia paraguaia estava centrada no Estado, paulatinamente abrindo suas fronteiras para o comércio internacional (também controlado pelo Estado) (CARDOZO, 1987 e DONGHI, 1975).

do período colonial, conformando o neocolonialismo. Foi uma forma encontrada pelas elites locais para conseguir receber parte dos benefícios acumulados pelo centro do sistema capitalista, enquanto as massas seguiam com condições de vida distantes das vivenciadas pelas elites (STAVENHAGEN, 1974). A inserção dependente e a conformação do neocolonialismo foram uma resposta tanto às necessidades do capitalismo internacional quanto das elites locais.

Essa inserção dependente no capitalismo mundial segue a lógica das vantagens comparativas11. Como fundamento do comércio internacional do século XIX os preceitos das vantagens comparativas afirmavam que as nações deveriam se especializar na produção dos produtos que eram naturalmente mais propensos, mais eficientes na produção, a sua vocação produtiva. E o comércio mundial seria a ferramenta para potencializar os benefícios daquilo que era produzido internamente. Contudo, o problema residia no financiamento da produção em escala ampliada dos produtos, para torna-los atrativos e suficientemente rentáveis no comércio internacional. O problema foi resolvido com o uso da dívida, recorrendo aos capitais financeiros internacionais. Portanto, necessitando do comércio e das finanças internacionais para viabilizar a inserção no capitalismo internacional, as estruturas econômico-sociais latino- americanas foram construídas de forma essencialmente dependente (PREBISCH, 1981).

Esse processo de construção da economia dependente nos países latino-americanos pode ser dividido em três períodos fundamentais que delimitaram as linhas gerais das economias latino-americanas e sua relação com as economias centrais do capitalismo mundial (SUNKEL, 1970). Neste marco histórico do processo de desenvolvimento e subdesenvolvimento, analisando as relações da periferia latino-americana com o centro do sistema mundial capitalista, considera-se que o primeiro período marcou o andamento da revolução industrial, fundamentalmente entre 1750 e 1850, onde a América Latina se inseriu como periferia dependente respondendo à necessidade de reconhecimento como participante do sistema mundial capitalista para posteriormente usufruir dos benefícios de tal inserção.

O segundo período foi o auge do centro do capitalismo mundial, entre 1850 e 1913, a chamada Belle Époque do capitalismo mundial com a expansão dos países principais do Sistema Internacional. Foi o período do florescimento do capitalismo imperialista, a definitiva mundialização do sistema capitalista onde as estruturas produtivas, comerciais e financeiras tornaram-se mundializadas (FOSSAERT, 1991). Neste período ocorreram transformações

11 Formulada inicialmente pelo economista inglês David Ricardo e que se tornou a base para a expansão internacionalizada do capitalismo, fora dos limites europeus.

estruturais na periferia do sistema capitalista, com as reformas liberais que buscavam padronizar a periferia de acordo com as necessidades do centro capitalista. É neste período que ocorre a definitiva inclusão dependente da América Latina no capitalismo mundial.

E o terceiro período de inserção dependente do capitalismo periférico se deu com a crise no centro, entre 1913 e 1950, período marcado pelas guerras mundiais e a recessão (especialmente com a crise desencadeada pela quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929). Neste período ocorreram novas transformações estruturais na periferia, observando-se a passagem do Estado liberal para o desenvolvimentista, superando a lógica de vantagens comparativas, mas necessitando cada vez mais de recursos internacionais para financiar a dinâmica das estruturas econômico-sociais internas. Foi neste período que também visualizou-se o início dos processos de urbanização e industrialização, de forma essencialmente desordenada, fomentando a precarização das condições de vida das massas, juntamente com o aprofundamento das assimetrias entre as elites e as massas.

Como legados dessa transição imperfeita do colonialismo para o capitalismo, construindo um capitalismo periférico de características específicas, é possível elencar três problemas centrais (que atualmente ainda se mostram como desafios aos países latino- americanos): a pobreza, a desigualdade e a debilidade estatal.

Analisando a questão da pobreza e a necessidade de gasto social para tentar corrigir os efeitos negativos da pobreza na América Latina, Ocampo (1998) afirma que a região é caracterizada por uma grande desigualdade social. Isso derivaria de uma concentração histórica dos recursos nas mãos das elites locais que buscam reproduzir os padrões estabelecidos nos centros do capitalismo, visando expandir a sua extração de recursos com os menores custos. No caso da América Latina, diferentemente de outras regiões periféricas, a desigualdade é maior que a pobreza, mas a pobreza também é elevada. Ou seja, a assimetria na distribuição dos recursos é a característica fundamental das estruturas econômico-sociais latino-americanas.

Neste sentido, Ocampo (1998) define o Estado, através do papel dos gastos sociais, como o principal responsável pela correção das assimetrias existentes. Como as elites são beneficiadas pela concentração de recursos, não seria de seu interesse alterar a situação, restando à interferência estatal a possibilidade de mudança. Isso ocorreria por meio da formação e o financiamento de capital humano. Com uma força de trabalho mais especializada em novos mecanismos de produção, beneficiando-se da reprodução em escala global dos processos produtivos. Para o autor esta seria uma forma de romper com o ciclo histórico de desigualdade,

pela ação estatal. No entanto, o predomínio dos interesses e valores das elites no interior do sistema político é um dos principais entraves para se avançar na solução da problemática.

Portanto, pode conceituar-se a América Latina como um continente entortado onde há a combinação de desigualdade e pobreza, criando uma situação de manutenção da miséria em determinados estratos da sociedade. Observa-se uma baixa correlação entre Produto Interno Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ou seja, as condições de vida existentes para uma grande parte da população são piores do que o esperado. Enquanto uma pequena elite concentra a maioria dos recursos nacionais, as massas urbanas e rurais convivem com uma situação muito mais precária com poucos recursos. O que se visualiza é uma má distribuição desiquilibrada, um “excesso de desigualdade” criando realidades diametralmente opostas dentro de uma mesma nação (HOFFMAN e CENTENO, 2006).

Além disso, quando ocorrem mudanças econômicas, a dificuldade de ocorrer mudanças sociais gera o que Baquero (2012: 88) conceitua como o “paradoxo de Tocqueville”, isto é, “países com situações de algum crescimento econômico podem gerar mais tensões sociais do que contextos onde a inexistência de mobilidade social convive com elevados níveis de desigualdade. Quando a situação social parece que pode ser modificada, o potencial de conflito aumenta”. O problema é novamente a desigualdade que dificulta alterar a situação existente.

Como consequência da má distribuição desiquilibrada o crescimento econômico apenas atenua a pobreza, com um pequeno desborde dos recursos acumulados pelas elites que favorece as massas, enquanto as elites tornam-se ainda mais ricas (HOFFMAN e CENTENO, 2006). Soma-se a isso os problemas advindos da má distribuição fundiária que é importante em uma região onde a terra é um recurso de poder e extração de riqueza, convertendo-se em ativo fundamental das economias nacionais e elemento essencial para garantir o poder das elites (FILGUEIRA e ALEGRE, 2008). E essa concentração fundiária guarda uma relação direta com a pobreza rural e mesmo a pobreza urbana, pois a concentração de terras em grandes latifúndios monocultores gera uma pressão sobre os pequenos proprietários, arrendatários e camponeses que são pressionados a migrar para as cidades e se concentrar nos bolsões de miséria criados nas periferias dos grandes centros urbanos.

Ademais, a partir da concentração de recursos tem-se uma má qualidade educativa que contribui para a manutenção de massas clientelistas. Existem também estereótipos excludentes com clivagens de gênero, raça e classe que contribuem para aprofundar a hierarquização social causada inicialmente pela má distribuição. Mesmo com a transição incompleta para o

capitalismo viu-se a permanência de uma estrutura social pré-moderna – o neocolonialismo – que manteve uma forma interna de colonialismo, caracterizada pela hierarquização de grupos de acordo com estereótipos excludentes reforçados pela desigualdade na distribuição de recursos (HOFFMAN e CENTENO, 2006; OCAMPO, 1998). A estrutura econômico-social desigual é mantida por relações de produção pautadas pela informalidade econômica que favorece o clientelismo e caudilhismo, fenômenos que foram analisados teórica e conceitualmente nas seções anteriores deste capítulo.

A solução estatal para o problema, como sugerido por Ocampo (1998), passa por um desafio que se mantém desde as independências dos países latino-americanos: a debilidade estatal. Com as mudanças ocorridas a partir do século XIX construiu-se o Estado neocolonial, um Estado basicamente débil ou superficial. Entre as principais debilidades observam-se as seguintes: a capacidade de operar sobre os sistemas de extração e distribuição de riquezas nacionais, que passaram a vincular-se cada vez mais com os fluxos do capitalismo internacional e a representar esses interesses de forma local; a capacidade de ser soberano frente as pressões internacionais, devido às pressões da institucionalização padronizada dos centros do sistema mundial capitalista; a capacidade de monopolizar a coerção, seja pelo poder dos líderes locais, seja pela desintegração social; a capacidade de incorporar a sociedade civil com direitos sociais e políticos, mantendo relações clientelistas onde as políticas públicas são tratadas mais como bens e benefícios negociáveis do que como direitos adquiridos pelos cidadãos (HOFFMAN e CENTENO, 2006).

Uma tentativa de superar esses problemas foi através do Estado desenvolvimentista quando se observou a expansão do Estado e de suas funções, principalmente entre as décadas de 1930 e 1970. Contudo, seus resultados finais acabaram legando certa ineficiência estatal, pela manutenção das práticas clientelistas, a manutenção da dependência externa (principalmente de capital, que acabou agravando a crise da dívida na década de 1980, pois a existência interna dos bens de capital era insuficiente para as necessidades do modelo desenvolvimentista) e a permanência de setores exportadores de baixa produtividade. A riqueza continuou concentrada, aprofundando a lógica de desborde12 dos benefícios e não de uma distribuição. Outro legado do Estado desenvolvimentista foi o estabelecimento de uma

12 A lógica de que quanto mais for ampliada a extração de riquezas, maior a possibilidade dessas riquezas chegarem para toda a população (HOFFMAN e CENTENO, 2008). Não há aqui uma preocupação com a distribuição das riquezas, o que gera as críticas sobre o aumento da desigualdade, concentrando ainda mais os recursos.

cidadania regulada com a incorporação das massas na política de forma subordinada, visando legitimar as novas relações de poder (FILGUEIRA e ALEGRE, 2008).

Assim, é possível afirmar que ocorreram poucas mudanças estruturais desde a construção dos Estados latino-americanos. Os modelos instituídos desde a colônia, passando pelo neocolonialismo (com o estabelecimento do capitalismo dependente), o desenvolvimentismo buscando superar esses problemas mas esgotando-se com a crise de endividamento, o neoliberalismo e seu receituário para a reestruturação econômica (especialmente durante a década de 1990), chegando aos contemporâneos debates sobre o neodesenvolvimentismo que também passam por um período de crise, todos esses modelos não conseguiram superar os problemas surgidos da lógica extrativista e desigual da estrutura econômico-social – vinculada com a expansão e reprodução ampliada do capitalismo internacional –, e a construção da sociedade civil como clientela das elites político-econômicas, mantendo a tutela governamental sobre a cidadania.

A desigualdade é um fenômeno visto em distintas esferas, desde o acesso à educação, à saúde e aos serviços públicos, questões concernentes ao acesso à terra e outros ativos essenciais para a produção primária, passando pelo funcionamento dos mercados de crédito e trabalho formais concentrados e reproduzindo a hierarquização social, culminando nos problemas da participação cidadã e influência dos interesses econômicos no regime político adotado. Há a persistência de instituições excludentes que fomentam a hierarquização social cunhada nas clivagens estereotipadas da estrutura econômico-social (HOFFMAN e CENTENO, 2006).

E a desigualdade acarreta custos à estrutura econômico-social, pois aumenta os níveis de pobreza, diminui o impacto do desenvolvimento econômico nas condições de vida da população, prejudica o próprio crescimento econômico reduzindo a capacidade dinâmica da economia de se expandir com restrições no aumento da demanda. Além disso, a falta de equidade no acesso ao crédito, à educação e à saúde acaba fomentando as tensões sociais que dificultam a manutenção estável do modelo de extração de recursos (HOFFMAN e CENTENO, 2006; OCAMPO, 1998), se for considerada a relação entre os interesses econômicos e a estrutura do modelo de dominação (como efetuado até agora a partir de Easton, Putnam, Weber, Gramsci, Bendix e Inglehart e Welzel).

As raízes do problema da desigualdade na estrutura econômico-social residem em fenômenos como a subordinação das massas, a existência de instituições que funcionam como forma de concentrar a propriedade e o poder permitindo a administração do trabalho, logrando

manter a posição privilegiada da elite e a exclusão dos subordinados, fundado em uma relação clientelista que se reproduz ao longo do tempo (SUNKEL, 1970). E a resposta estatal ao problema é ineficiente, principalmente devido à incapacidade estatal com uma pressão burocrática alta (influenciada pelas relações clientelistas) e uma pressão tributária baixa para manter a extração de recursos sem grande interferência estatal, permanecendo com certo grau de eficiência econômica para as elites. Ambas fomentam o clientelismo e mantêm um Estado grande, mas com baixa capacidade (OCAMPO, 1998).

Uma tentativa de explicação para todos esses fenômenos que buscou resolver o problema histórico do (sub) desenvolvimento econômico latino-americano foi fornecida pelas teorias latino-americanas do desenvolvimento e da dependência.

A discussão teórica sobre o desenvolvimento parte da premissa de que quanto mais pobre for um país, mais desigual e menos instruído será seu povo e mais difícil será governar e formular políticas econômicas apropriadas (SUNKEL, 1970). Essa premissa surge da compreensão dos obstáculos gerados pela desigualdade, já discutida anteriormente, mas relaciona-se também com o marco teórico-conceitual estabelecido na seção anterior, sejam os modelos de dominação (Weber e Gramsci) ou a modernização (Bendix, Inglehart e Welzel).

O que deve ser feito analiticamente, segundo Sunkel (1970), é identificar a etapa do