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3. A ATIVIDADE PESQUEIRA

4.2. A ESTRUTURA ATUAL DO ARRANJO

4.2.2 A estrutura empresarial

Basicamente, três segmentos representam a atividade pesqueira no arranjo: a captura do pescado, o processo de beneficiamento e industrialização do pescado e o setor da construção e reparação de embarcações e estruturas flutuantes (construção naval). O segmento da captura contém o maior número de empresas, com 155 unidades (76,7% do total). O segmento do beneficiamento emprega o maior número de trabalhadores, 2353, correspondendo a 44,1% do total.

Nos municípios integrantes do arranjo produtivo encontramos um significativo complexo industrial pesqueiro e uma frota de embarcações numerosa e diversificada. A pesca artesanal é exercida com pequenas embarcações, em regiões costeiras e estuarinas; enquanto que a pescaria industrial abrange além das regiões costeiras, as oceânicas mais profundas, sendo realizada por embarcações com maior tamanho, autonomia de navegação e tecnologia. Todas as embarcações, independente de porte e finalidade, devem ser registradas na DelItajaí e são freqüentemente vistoriadas por essa órgão militar, pertencente à Marinha do Brasil. Conforme visto anteriormente, a produção industrial é muito superior à produção artesanal. Dessa forma, o segmento industrial constitui-se no ponto central da pesca catarinense, principalmente para a região da foz do rio Itajaí-Açu. A produção pesqueira da região em estudo é realizada por diferentes frotas, com o emprego de diversificados apetrechos de pesca.

Várias dessas pescarias são multi-específicas e atuam sobre uma gama de espécies conjuntamente, ocorrendo, também, constante migração de embarcações de uma determinada frota para atuação em outra pescaria em função dos rendimentos que a mesma apresenta.

De acordo com Andrade (1998,a), a captura do pescado desembarcado no litoral centro-norte catarinense é realizada basicamente por nove tipos de pesca:

a) arrasto de portas com duas embarcações, pela frota de parelhas; b) arrasto de portas único, pela frota de arrasteiros simples; c) arrasto de portas com tangones, pela frota de camaroeiros; d) rede de emalhar flutuante e de fundo, pela frota de caceio; e) rede de cerco, pela frota de traineiras;

f) espinhel de meia água e de fundo, pela frota de espinheleiros; g) vara e isca-viva, pela frota de vara e isca-viva;

h) linha de fundo, pela frota de linheiros; e i) pargueira ou boinha, pela frota de pargueiros.

Convém salientar que essas informações permaneciam válidas à época da pesquisa de campo. A maioria da captura é realizada por três frotas: traineiras, parelhas e vara e isca-viva. Os principais peixes capturados pela frota de traineiras são: sardinha verdadeira, tainha, enchova, chicharro, palombeta e cavalinha. Os arrastos de parelha são responsáveis pela maior parte da captura dos demersais, como a corvina, a castanha, e a pescadinha real. A maior parte das capturas dos tunídeos, bonito listado é realizada através da pesca de vara e isca-viva.

Apoiando o parque pesqueiro industrial, destacam-se as frotas de traineiras, camaroeiros, parelhas, atuneiros e caceio, como as mais numerosas, compondo mais de 90% do total de embarcações. A grande maioria das frotas tem embarcações com comprimento entre 17 e 27 metros. Uma exceção são as embarcações dedicadas à pescaria de espinhel, cujo

comprimento médio é de cerca de 45 metros, pois ao atuar em águas mais profundas necessitam empregar embarcações de maior porte. As pescarias de caceio e de linheiros são as que apresentam maior risco, pois, freqüentemente, realizam a captura do pescado em regiões de grandes profundidades utilizando embarcações subdimensionadas. Quanto aos tripulantes, seu número varia, normalmente, de modo proporcional à dimensão da frota. A de camaroeiro, por exemplo tem em média 7 tripulantes; a de parelha, 9; e a de traineiras, 16. Uma exceção a essa regra é a frota atuneira de vara e isca-viva, que trabalha com um número maior de tripulantes, com uma média de 25 pessoas a bordo.

O segmento de construção e reparação de embarcações começou suas atividades no arranjo no início do século XX e nos dias atuais está tentando superar sua pior crise. O setor apresenta significativas disparidades, principalmente tecnológica, entre as empresas presentes no arranjo produtivo. Se por um lado, encontramos as maiores empresas utilizando tecnologia de ponta, em sintonia com seus concorrentes a nível mundial. Por outro lado, pode ser verificado, com facilidade, uma larga defasagem tecnológica nas empresas de pequeno capital, com o uso intensivo, inclusive, de ferramentas rudimentares, tais como: pincéis e rolos de lã nos serviços de pintura; e serrotes manuais nos serviços de carpintaria. Sua estrutura é basicamente familiar e os profissionais além de executar diversas funções (carpintaria, pintura, soldagem, eletricidade), não costumam aumentar, nem atualizar seus níveis de conhecimento.

O segmento de beneficiamento e industrialização do pescado foi incorporado ao arranjo nos anos 60 do século passado, incentivado pelas políticas de incentivos da extinta SUDEPE. Na década de 70, observou-se a migração de importantes empresas no cenário nacional para a região da foz do rio Itajaí-Açu. Comparando com os demais segmentos, este setor tem se mostrado menos vulnerável às crises, sejam internas ou externas, com as empresas de maior porte obtendo significativo poder de competição no mercado internacional.

Uma das características particulares desse segmento é que várias empresas (independente do porte) realizam, também, a captura do pescado. De maneira semelhante ao segmento de reparação e construção de embarcações, nesse segmento existe uma significativa diferença tecnológica entre as empresas de maior porte e as empresas de menor capital, com essas empresas encontrando enormes dificuldades para se atualizar tecnologicamente.

As micro e pequenas empresas correspondem a mais de 96% do total e distribuem-se pelos três segmentos produtivos que formam o arranjo, enquanto que as empresas de porte médio e grande (em número de apenas 8) concentram-se mais nos segmentos de beneficiamento e construção naval (Tabela 21). Essas MPEs empregam 2186 pessoas, representando 41% da sua totalidade.

Tabela 21 – Número de estabelecimentos e número de trabalhadores que integram a atividade pesqueira na foz do rio Itajaí-Açu, no ano 2000

MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE TOTAL

EST TRAB EST TRAB EST TRAB EST TRAB EST TRAB

PESCA 132 774 22 1072 1 208 0 0 155 2054

BENEFICIAMENTO 14 30 4 111 4 753 2 1459 24 2353

CONST. NAVAL 20 128 2 71 0 0 1 725 23 924

TOTAL 166 932 28 1254 5 961 3 2184 202 5331 Fonte: RAIS, 2001

Existem outras empresas que prestam apoio logístico à atividade pesqueira, mas pela diversidade de produtos e menor densidade econômica, não foram incorporadas ao estudo. São as empresas que realizam o comércio a varejo de combustíveis, atendendo a diferentes clientes com a venda de óleo marítimo para navegação, querosene para aviação e combustíveis para veículos em geral; as cordoarias, que além de fabricar redes para pesca (produção pequena), produzem cordas para diversos fins; bem como os estabelecimentos que comercializam artefatos para caça, pesca e esporte, que tem por clientes o público em geral e em menor grau os proprietários de barcos de pesca.