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Mapa 11 – PIB per capita nos concelhos da Região Centro

5.3.2 Estrutura empresarial

O distrito de Castelo Branco tem vindo a registar ao longo dos últimos anos um processo de reestruturação produtiva do seu tecido empresarial, com o sector primário a regredir em oposição ao sector industrial e, sobretudo, ao terciário que tem um peso crescente na economia regional. Segundo Simões (1999), a estrutura empresarial do distrito de Castelo Branco é caracterizada por uma dinâmica positiva de um grupo de actividades de natureza diversa, cada vez mais especializadas e qualificadas, consideradas estratégicas para o desenvolvimento da região, nomeadamente a agricultura, a pecuária e a silvicultura, a industria dos têxteis e do vestuário, as madeiras e o mobiliário, os produtos minerais metálicos e não metálicos, o comercio, a construção, os serviços financeiros e imobiliários e os serviços prestados às empresas. Por conseguinte, podemos afirmar que actualmente existe uma estrutura empresarial relativamente diversificada e consolidada com a presença de vários ramos de actividade.

A análise dos dados relativos à estrutura empresarial do distrito entre 1994 e 2003 (Cf. Quadro 18, Anexo IV), ilustra as transformações ocorridas no tecido produtivo e em termos de composição sectorial há a salientar vários aspectos relevantes, nomeadamente:

1. A perda de importância das actividades primárias, como já tivemos oportunidade de referir, as quais representavam em 2003, apenas 8% dos estabelecimentos existentes, sendo cada vez mais uma actividade residual no tecido produtivo do distrito, exceptuando algumas produções com potencial agro-transformador. Não obstante, observa-se que existe um esforço de qualificação e valorização de algumas produções tradicionais (ex. têxtil e agro-alimentar), através da crescente aposta na qualidade, na genuinidade, na especificidade, na conjugação da produção com a transformação e/ou o turismo, produzindo cada vez mais para nichos de mercado potenciadores da criação e apropriação de maior valor acrescentado por parte dos produtores.

2. A estagnação do sector secundário, após um período de consolidação e de algum crescimento, reflexo do processo de reestruturação produtiva do tecido empresarial que tem caracterizado alguns segmentos de actividade, não obstante a existência de uma crescente diversificação e especialização em alguns clusters, sendo de assinalar: a) a modernização dos sectores mais tradicionais e com história no Distrito designadamente o sector têxtil e vestuário, bem como as actividades do agro- alimentar (transformação de cereais, queijos, enchidos, etc.); b) o aparecimento e afirmação de outras actividades de transformação de produtos endógenos relacionados com a floresta, como sejam por exemplo, as diferentes indústrias da fileira da madeira – serração, tratamento, fabricação de imobiliário, madeira para construção, etc; ou as actividades ligadas à cortiça e à fabricação de pasta de papel

e de cartão; c) instalações de empresas em sectores sem tradição na região, na sua maioria de capitais estrangeiros ou induzidas pela instalação dessas empresas, as quais têm dinamizado uma crescente especialização do Distrito na fileira metálica (por exemplo, componentes automóveis, construções metálicas e serralharias) e no sub-sector das actividades do frio.

3. O acentuado crescimento do sector da construção que tem beneficiado da forte expansão urbana que se tem verificado, sobretudo nos principais núcleos urbanos, assim como do reforço da rede de infra-estruturas e equipamentos.

4. A terciarização da economia, com o aumento considerável do número de estabelecimentos quer nos serviços de apoio às empresas quer de natureza social (educação, saúde, acção social e outros serviços sociais, pessoais e colectivos) quer ainda no comércio, existindo uma oferta cada vez mais diversificada e qualificada, uma vez mais, sobretudo, nos centros urbanos.

5. O desenvolvimento do sector do turismo nomeadamente com o reforço das unidades de alojamento e restauração.

Quanto à dimensão dos estabelecimentos, podemos dizer que o tecido empresarial do Distrito é constituído predominantemente por unidades com menos de 10 trabalhadores que representam a maioria dos casos e acolhem cerca de 40% das pessoas ao serviço. Aqui é especialmente notória a proliferação de micro-unidades com 1 a 4 empregados ao serviço. Esta tendência é verificada em todos os sectores de actividade e não há diferenças entre os pólos urbanos e os territórios de baixa densidade. Assim, no período em análise constatamos que foram as micro e pequenas empresas que aumentaram em todos os concelhos e que foram os principais responsáveis pelo incremento no número de unidades económicas na região. De salientar a presença no Distrito de algumas unidades de grande dimensão que são responsáveis por um conjunto significativo de postos de trabalho (Cf. Quadro 19, Anexo IV).

Em suma, a dinâmica económica e empresarial do distrito de Castelo Branco caracteriza-se por:

a) Uma crescente terciarização da economia, com a oferta de serviços de apoio às empresas e às famílias cada vez mais especializados e qualificados;

b) Uma tendência de especialização em alguns clusters industriais, como a fileira do frio e a fileira metálica;

c) Uma aposta na qualificação e valorização dos sectores mais tradicionais, como as fileiras da madeira e o sector têxtil.

No contexto mais micro, o concelho de Castelo Branco, juntamente com o concelho da Covilhã, apresentam, como vimos anteriormente, características muito distintas face ao restante território, nomeadamente no que respeita às dinâmicas do tecido empresarial, do sistema de emprego e da utilização de infra-estruturas.

O tecido empresarial do concelho de Castelo Branco era constituído, em 2000, por 5614 unidades empresariais, das quais 80% correspondem a empresas em nome individual10. Em termos de evolução recente, registou-se um processo de crescimento que parece evidenciar um certo dinamismo da estrutura empresarial (+12% entre 1995 e 2000), impulsionada pela

performance que caracterizou a economia portuguesa durante este período (Cf. Figura 12,

Anexo IV).

O volume global de emprego empresarial no concelho correspondia em 2000 a aproximadamente 12,5 milhares de trabalhadores, tendo em consideração as duas tipologias existentes em termos das unidades empresariais11 (Cf. Figura 13, Anexo IV). A este nível, as sociedades assumem um maior peso (7843 empregados) que o registado relativamente ao número de unidades empresariais.

Deve notar-se que a evolução observada em matéria de criação de emprego no período em análise registou um aumento de 2%, sendo este influenciado unicamente pelo comportamento das empresas em nome individual (dado que as sociedades apresentaram uma variação de -2%). Esta situação parece evidenciar um esforço de racionalização da actividade produtiva por parte das sociedades12, facto que poderá também contribuir para a geração de novas iniciativas empresariais associadas à criação do próprio posto de trabalho por parte do empresário-trabalhador.

Uma outra situação a merecer relevo é o facto de, face à sub-região Beira Interior Sul e relativamente ao número de unidades empresariais e ao emprego gerado, o volume de negócios de Castelo Branco assumir um peso mais significativo no total regional, o que evidencia a existência de diferenças ao nível da capacidade e da estrutura das empresas, que apontam para níveis de produtividade mais elevados na capital de distrito (Planraia, 2004:4). Pode assim concluir-se que a maior robustez do tecido empresarial local no contexto sub-regional em que se insere não pode ser dissociado de um conjunto de factores de enquadramento que favorecem Castelo Branco, designadamente:

10

Refira-se que em termos da natureza jurídica as empresas localizadas no concelho de Castelo Branco assumem preferencialmente a nomenclatura de empresário em nome individual e de sociedade por quotas, sendo de mencionar o carácter residual que as sociedades anónimas assumem no seio da estrutura empresarial concelhia.

11

Nos empresários em nome individual considerou-se a existência de um único posto de trabalho por unidade empresarial.

12

Entre 1995 e 2000 a dimensão média das sociedades com sede no concelho diminuiu de 9 para 7 trabalhadores ao serviço.

a centralidade político-administrativa, enquanto capital de distrito, garante da presença de serviços públicos de nível superior;

• o posicionamento face à rede rodoviária principal, enquanto nó de articulação inter- regional, minimizando os factores de perificidade no contexto nacional; e

• a política industrial do Município, enquanto factor de captação de investimento, através da criação de condições atractivas para a localização de empresas em parques industriais comercializados a preços simbólicos (Castelo Branco e, em menor escala, Alcains).

Distinguindo a evolução entre empresas e estabelecimentos, verifica-se que estes últimos têm tido um aumento ligeiramente superior face às primeiras durante o período 1991-2000, situação que resulta da combinação de dois processos distintos: (i) expansão das empresas existentes no concelho através da abertura de novos estabelecimentos, (ii) implantação de estabelecimentos no território concelhio por parte de empresas com sede localizada fora do concelho (Planraia, 2004:5).

Relativamente ao emprego, as tendências são semelhantes às registadas ao nível das unidades empresariais, uma vez que se observa um aumento significativo do número de trabalhadores em Castelo Branco ao longo da última década (Figura 6).

Figura 6 – Evolução do volume de emprego e estabelecimentos em Castelo Branco(1991-2000) 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 1991 1995 2000 Estabelecimentos Emprego

Fonte: Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento. Gabinete de Estratégia e Planeamento/MTSS

Do ponto de vista dimensional, a estrutura empresarial do município de Castelo Branco é marcada pela predominância de micro unidades empresariais (até 9 trabalhadores), facto que se acentuou ao longo da década em análise. Neste particular, deve salientar-se que as micro, pequenas e médias empresas (até 49 trabalhadores) têm constituído os principais

propulsores do processo de alargamento da base empresarial do concelhio. Em termos de criação de emprego é de salientar, além do peso assumido pelos estabelecimentos pertencentes a empresas até 20 trabalhadores, a dinâmica registada nos estabelecimentos referentes a empresas com mais de 1000 trabalhadores (Cf. Quadro 9 e 9b). De facto, apesar da preponderância das micro, pequenas e médias empresas relativamente ao volume global de estabelecimentos (90% do total concelhio), estas possuem um contributo menos significativo em matéria de geração de emprego, uma vez que apenas são responsáveis por cerca de metade do número total de postos de trabalho (Cf. Quadro 9 e 9b). Verifica-se, assim, uma concentração muito significativa do emprego num número reduzido de estabelecimentos, materializado através da concentração de cerca de 40% do emprego concelhio em apenas 8% do volume global de estabelecimentos (integrados em empresas com mais de 100 trabalhadores).

Quadro 9 – Repartição dos estabelecimentos e do emprego segundo escalões de dimensão das empresas (1991-2000)

1991 1995 2000

Escalão Dimensional

(nº trabs.) Estab. Emprego Estab. Emprego Estab. Emprego

1 a 4 833 1444 1055 1722 1392 2230 5 a 9 288 1263 313 1398 432 1890 10 a 19 137 1193 145 1077 198 1493 20 a 49 98 1799 123 1698 130 1585 50 a 99 44 1076 37 899 50 838 100 a 199 17 528 35 816 26 1016 200 a 399 17 1721 22 1337 39 1419 400 a 499 6 772 9 965 6 469 500 a 999 18 190 14 142 24 132 1000 e + 55 1881 49 1773 76 2488 Total 1513 11867 1802 11827 2373 13560

Fonte: Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento. Gabinete de Estratégia e Planeamento/MTSS

Quadro 9b – Repartição dos estabelecimentos e do emprego segundo escalões de dimensão das empresas (1991-2000) (%)

1991 1995 2000

Escalão Dimensional

(nº trabs.) Estab. Emprego Estab. Emprego Estab. Emprego

1 a 4 55,06 12,17 58,55 14,56 58,66 16,45 5 a 9 19,04 10,64 17,37 11,82 18,20 13,94 10 a 19 9,06 10,05 8,05 9,11 8,34 11,01 20 a 49 6,48 15,16 6,83 14,36 5,48 11,67 50 a 99 2,91 9,07 2,05 7,60 2,11 6,28 100 a 199 1,11 4,45 1,94 6,90 1,10 7,49 200 a 399 1,11 14,50 1,22 11,30 1,64 10,46 400 a 499 0,40 6,51 0,50 8,16 0,25 3,46

500 a 999 1,19 1,60 0,77 1,20 1,01 0,97

1000 e + 3,64 15,85 2,72 14,99 3,20 18,35

Total 100 100 100 100 100 100

Fonte: Dados do DEPP, Gabinete de Estratégia e Planeamento/MTSS

Uma análise global permite vislumbrar a situação anteriormente mencionada, nomeadamente a menor dinâmica de geração de emprego face à criação de estabelecimentos. A criação de novas unidades empresariais e a racionalização das estruturas produtivas já existentes (particularmente incidente nas empresas de média e grande dimensão) parece evidenciar, por um lado, um processo de fortalecimento/ robustecimento da capacidade empresarial concelhia, mas por outro, também reflecte, nalguns casos, o contexto económico e politico que tem forçado alguns trabalhadores a tornarem-se empresários.

A indústria transformadora, o comércio e, em menor escala, a construção civil assumem uma preponderância significativa na base económica local quer se considere o número de estabelecimentos, o volume de emprego gerado ou mesmo o volume de negócios das sociedades. Em termos quantitativos, estes sectores concentravam em 2000 cerca de 60% do volume global de estabelecimentos, 70% do emprego gerado e 90% do volume de negócios das sociedades (Quadro 20, Anexo IV). Não obstante, a importância de cada um dos sectores é distinta, variando em função do agregado que se considere, senão vejamos: a indústria assume particular realce em termos de emprego, destacando-se o comércio e serviços de reparação no número de estabelecimentos (o que se deve às características intrínsecas deste sector, tipicamente apoiado num tecido empresarial mais atomizado); no caso do comércio e serviços de reparação deve referenciar-se a importância detida pelo comércio por grosso, o que decorre quer da localização e posicionamento do concelho face às principais redes de acessibilidades, quer da própria estrutura de actividades localmente implantada (nomeadamente actividades industriais); já no que respeita à indústria transformadora, a sua expressão está fundamentalmente ligada à capacidade de geração de riqueza (aferida pelo volume de negócios das sociedades), sendo aquela extensível à capacidade de geração de emprego (ainda que em retracção, por via dos já mencionados processos de racionalização); adicionalmente, deve realçar-se o desenvolvimento patenteado pelas actividades ligadas aos sectores da construção e dos serviços (alojamento, restauração, serviços às empresas), as quais vêm assumindo um protagonismo crescente na base económica local que reflecte a sua dinâmica de conjunto; finalmente, a actividade agrícola é também marcada pela sua expressão relativa (nomeadamente em termos do número de estabelecimentos), por força das características rurais de grande parte

do concelho, embora apresente um peso cada vez mais reduzido ao nível da geração de emprego.

Igualmente relevante para a presente análise é o conhecimento sobre a distribuição do capital financeiro na estrutura empresarial do concelho de Castelo Branco, uma vez que este permite determinar a origem do investimento e a sua importância. Neste domínio, a principal mutação ao longo do período 1991-2000 consiste no reforço do peso detido pelo capital social de origem nacional (embora fosse já maioritário na primeira data), trajectória que está aliada a uma diminuição proporcional do capital social de origem estrangeira e, igualmente, de natureza pública (Cf. Quadro 10).

A situação descrita não traduz a importância numérica das empresas de origem estrangeira mas antes o peso que estas assumem no volume global de capital social declarado pelas empresas no concelho, o que é, essencialmente, uma função da respectiva dimensão13. Esta realidade é confirmada pelo conjunto de valores disponibilizados ao longo da década, através dos quais se constata que, em média, a quase totalidade das empresas tinham capital exclusivamente nacional (situação que se tem vindo a acentuar).

Quadro 10 – Origem do volume total do capital social das empresas de Castelo Branco (1991-2000)

Origem do Capital Social 1991 1995 2000

Capital Social Nacional 66% 70% 79%

Capital Social Estrangeiro 28% 30% 21%

Capital Social Público 6% 0% 0%

Total 100% 100% 100%

Fonte: Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento. Gabinete de Estratégia e Planeamento/MTSS

Em síntese, pode concluir-se que a base económica do concelho de Castelo Branco atravessa actualmente um período de mudança em que se destaca uma crescente terciarização apoiada num sector industrial significativo e nas dinâmicas de consumo directas e indirectas que daí decorrem. O sector agrícola, por seu turno, apresenta uma trajectória regressiva, reflectindo também a intensificação do processo de despovoamento das áreas rurais do concelho.

13

Referimo-nos, muito em particular, a uma grande empresa industrial ligada ao ramo alimentar e a outra ligada às cablagens.