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A Estrutura Familiar

No documento Tese_Patrícia do Bem (páginas 36-38)

1.5. Os Contributos dos Contextos Familiar, Social e Cultural no Desenvolvimento do Jovem

1.5.2. A Estrutura Familiar

Já referimos anteriormente que não encontrámos uma definição comum de família. No entanto, hoje em dia, de acordo com algumas teorias, ela é tida como semelhante a um sistema orgânico, o qual procura manter o equilíbrio perante as pressões nela exercidas tanto interna como externamente.

Nos anos 40 Ludwig von Bertalanffy, autor da Teoria Geral dos Sistemas, pronunciou um conjunto de princípios para distintos sistemas, o que levou a que diversos investigadores considerassem o primeiro axioma sistémico - o todo é mais do que a soma das partes.

Já nos anos 50, sob a influência exercida pelas ideias de Gregory Bateson, os investigadores começaram a centrar-se mais nas componentes familiares e na importância das relações interpessoais. Outro aspeto de grande relevo estudado prendeu-se com a questão da estabilidade, visto que quando ocorrem perturbações no sistema familiar, as condições instauradas modificam-se, de forma a se tornarem semelhantes ao seu estado inicial (Alarcão, 2002).

O nascimento das perspetivas sistémicas, com os contributos da psicologia do desenvolvimento, da teoria geral de sistemas e de conceitos surgidos da cibernética, concebem a família como um todo, global, auto-organizado, aberto, dinâmico e transacional, que se transforma estruturalmente mantendo, no entanto, a sua identidade.

Durand (1992) destaca quatro conceitos fundamentais da sistémica, perfeitamente adaptados à família, tais como: a interação, a globalidade, a organização e a complexidade.

Segundo Alarcão (2002) a família é considerada como um sistema, que contém sub-sistemas, possui limites ou fronteiras que a diferenciam do meio, com características, regras, papéis, formas de comunicação e modos de resolução de problemas que lhe possibilitam o alcance efetivo de várias tarefas de desenvolvimento.

O ambiente familiar resulta de um processo de interação mútua de diferentes combinações entre variáveis familiares e contextuais. Por sua vez o sistema também é autónomo, capaz de auto-organizar a sua estrutura, sempre que as condições internas ou

externas mudam. Além disso, como sistema aberto e hierarquizado, está inserida no meio com o qual sucedem trocas permanentes, é integrada por sub-sistemas, funcionando como partes de sistemas mais amplos ou como totalidade de sistemas mais restritos. Conduz desta forma a uma estratificação de sistemas de crescente complexidade: sub-sistemas, sistemas e suprassistemas. Por sua vez, cada membro da família pertence simultaneamente a diferentes sub-sistemas (individual, conjugal, parental e fraternal), onde são exercidos diferentes níveis de poder e são apreendidas diferentes aptidões.

O sistema familiar também é intercetado por outros sistemas, os quais incluem a rede de relações familiares mais extensas.

A existência de limites restringe os elementos do seu sistema e do seu ambiente, definindo ao mesmo tempo o ponto de contacto com outros sistemas externos à família, além de regular a passagem de informação (Alarcão, 2002).

Sendo que para a teoria de sistemas a família é um conjunto de elementos que interatuam entre si e com o seu meio, na visão ecológica do desenvolvimento humano o destaque é colocado na interação com o meio ambiente. Por outro lado, a teoria desenvolvimental vê a família como um sistema no qual os seus membros interagem com o seu ambiente externo, sendo o seu desenvolvimento definido por uma sequência, mais ao menos previsível, de acontecimentos que ocorrem ao longo do seu ciclo vital.

No final da década de 70, Bronfebrenner publicava o Modelo Biológico do Desenvolvimento Humano, assente numa séria crítica à forma tradicional de se investigar, pois até então, era evidenciado o desenvolvimento humano em ambiente restrito e estático, atribuindo-se extrema importância aos processos psicológicos, embora se descurasse, no entanto, as influências decorrentes dos contextos em que as pessoas se inseriam (Bronfenbrenner, 1996).

Neste modelo a família é considerada como o principal contexto de influência do desenvolvimento humano, enquanto contexto microssistémico, sendo o seu papel a socialização e a individualização dos indivíduos, facultando a adaptação dos seus elementos ao seu contexto social. A família assume-se desta forma como um espaço de preparação e aprendizagem de dimensões importantes de interações e relações interpessoais, sendo fundamental e influente na formação da personalidade e no comportamento individual dos seus elementos. Ao mesmo tempo, leva a que estes se sintam parte integrante dela, formando desta forma uma identidade familiar, que irá servir de referência.

O mesossistema consiste nas inter-relações criadas e vividas entre dois ou mais ambientes em que o sujeito/família participa ativamente, ou seja, entre microssistemas. O exosssistema define-se como uma extensão do mesossistema e consiste em um ou mais ambientes em que a família não participa ativamente, no entanto, podem surgir acontecimentos que, indiretamente, influenciam as relações familiares. O macrossistema é amplo e envolve todos os outros ambientes, representando a cultura, as crenças e a própria história (Bronfenbrenner, 1993).

A teoria sofreu uns anos mais tarde uma reformulação, passando a ser chamado de Modelo Bioecológico e a atribuir ênfase à bidirecionalidade existente entre a pessoa em desenvolvimento (características biopsicológicas) e o ambiente em que esta atua, ao longo da sua vida. Este processo de reciprocidade e interação mútua com o ambiente é denominado de processo proximal, devendo ocorrer regularmente (Bronfenbrenner & Morris, 1998).

Neste Modelo Bioecológico é proposto que o desenvolvimento humano resulte da interação de quatro aspetos multidirecionais e inter-relacionados, designado como modelo P-P-C-T: a pessoa (desenvolvimento das características do sujeito durante a sua vida), o processo (constituído pela forma específica como o sujeito convive com o desenvolvimento), o contexto (meio ambiente global em que o sujeito se insere e onde ocorre o desenvolvimento) e o tempo (quantidade e frequência).

Bronfenbrenner (1996) aponta alguns princípios que permitem compreender a familia como um sistema em interação com o seu ambiente: desenvolvimento em contexto, qualidade de vida, acomodação mútua indivíduo-ambiente, efeitos de ordem secundária e perspetiva do ciclo vital.

A vida familiar encontra-se em constante processo de adaptação, em que o indivíduo cresce e adapta-se através do intercâmbio que se estabelece entre a família e os sistemas extrafamiliares.

A família caracteriza-se por em condições normais manter o seu equilíbrio dinâmico, oscilando entre os seus recursos pessoais e familiares e os níveis de stresse.

No documento Tese_Patrícia do Bem (páginas 36-38)