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Integração dos Resultados e Conclusão

No documento Tese_Patrícia do Bem (páginas 104-107)

Capítulo VI – Discussão dos Resultados e Conclusão

6.5. Integração dos Resultados e Conclusão

O objetivo principal do nosso estudo prendeu-se com o conhecimento do processo de resiliência em jovens adolescentes, nomeadamente na forma como este é determinado por fatores sociodemográficos ou académicos, mas também por fatores psicológicos como a autoestima, a autorregulação emocional e o ambiente psicossocial da família.

Após um estudo aprofundado e partindo da discussão dos resultados alcançados, apurámos que este trabalho colocou em evidência que o processo de desenvolvimento dos jovens adolescentes é multifacetado, sendo amplamente influenciado pelas características familiares. Tal facto é comprovado pela associação existente entre o número de reprovações do aluno e a autoestima, resiliência e a independência ao nível do crescimento pessoal, além da influência de fatores sociodemográficos parentais.

A participação do aluno em atividades extracurriculares foi outro dos aspetos colocado em evidência, visto que potencia a existência de melhores competências de resiliência e autoestima, contribuindo para um melhor ambiente familiar. Por outro lado, reduz o número de reprovações e de conflitos no relacionamento interpessoal. Este

resultado é revelador de que quando um jovem se insere noutros contextos, experimenta diferentes papéis, contacta com outros indivíduos e aumenta a sua capacidade de lidar com novos desafios, elevando a probabilidade de ser um jovem bem-sucedido.

Relativamente à relação existente entre autoestima, ambiente familiar e resiliência com o nível socioeconómico dos jovens, concluiu-se que aqueles que se inserem num nível médio possuem melhores competências nos âmbitos mencionados. Além da influência da autoestima no desempenho académico dos jovens também se concluiu, que o ambiente familiar potencia a autoestima e dota o indivíduo de estratégias de regulação emocional.

Ao tentarmos compreender em que medida as características da família afetam alguns resultados adaptativos, nomeadamente a qualidade da relação que os jovens estabelecem com os colegas, o desempenho académico e a resiliência, concluímos que as características da família exercem um efeito indireto sobre estes resultados adaptativos estabelecidos respetivamente, através do desenvolvimento de fatores protetores, de resiliência e de autorregulação emocional e autoestima positiva.

De acordo com os resultados obtidos sobressai a importância de que se reveste a influência do ambiente familiar na conduta dos jovens, assumindo um papel preponderante no desenvolvimento do relacionamento interpessoal, de competências intelectuais e académicas, ajudando-os a serem capazes de regular as suas emoções, a lidar com as adversidades e a superar obstáculos. Em última análise, as características familiares nas suas várias dimensões são definidoras do sucesso ou insucesso do jovem.

O processo de resiliência reveste-se de alguma complexidade, estando associado essencialmente à psicologia e ao desenvolvimento humano. Esta faculdade de confronto, superação e resistência do indivíduo perante as contrariedades da vida, depende da vivência de inúmeros fatores, destacando-se a família e os processos reguladores, associados a recursos pessoais e contextuais.

Apesar do contributo que esperamos ter dado no conhecimento do processo de resiliência nos jovens adolescentes, considerámos que na nossa investigação, existiram algumas limitações. Como tal, destacamos o facto de a dimensão da nossa amostra ter sido relativamente reduzida e pouco representativa no que respeita ao nível dos diferentes extratos sociais e zonas de residência, visto que o número de sujeitos pertencentes ao nível socioeconómico superior era diminuto e que a maioria advinha de um meio rural.

A necessidade de avaliar longitudinalmente os jovens adolescentes da amostra, de forma a testar novamente as hipóteses propostas e melhor compreender a dimensão dos fatores que intervêm no processo de resiliência, constitui outra limitação. De acordo com a

análise dos resultados obtidos, não se verificaram diferenças quanto aos anos de escolaridade selecionados para integrar o estudo (7º e 9ºano), evidenciando assim, uma limitação. Por último, deve ainda ser referida a limitação inerente à utilização do instrumento FES – Family Environment Scale que revelou possuir uma consistência interna baixa, especialmente no que diz respeito à maioria das suas dimensões.

O recurso à análise de efeitos indiretos nesta investigação é de salientar, pois permitiu perceber e explicar melhor de que forma se processa a interação entre a resiliência e as variáveis estudadas.

Os resultados apurados nesta investigação deverão servir como base fundamental para futuras investigações, pois apresentam um carácter exploratório e preliminar no que concerne a estudos longitudinais de grandes dimensões. Neste âmbito, torna-se claramente necessário, estudar de modo mais aprofundado e ao nível da intervenção e prevenção, a interação das variáveis familiares e dos processos reguladores no desenvolvimento de competências de resiliência nos jovens adolescentes.

Ao longo do desenvolvimento humano, o indivíduo vai-se deparando com novas exigências que implicam novos esforços de adaptação, não são só ao nível pessoal, mas também ao nível da família, particularmente as pessoas mais significativas, os pais.

No decurso desta linha de pensamento, a atuação ao nível da prática clínica e da saúde assume um papel preponderante no estudo destas características suportadas e facilitadas pelo contexto pessoal, familiar, educacional, afetivo, social e cultural. Convém por isso destacar a importância deste processo na aquisição de competências sociais e emocionais, que facultem e propiciem o desenvolvimento de uma vida salutar, logo desde o primeiro instante, independentemente do ambiente em que o jovem adolescente se encontre inserido.

Como tal e através da consulta de psicologia ou da elaboração de programas parentais e/ou familiares, o psicólogo poderá trabalhar diretamente com as famílias, avaliando, motivando e melhorando a qualidade das relações estabelecidas e do seu ambiente. Por conseguinte, poder-se-á reduzir a vulnerabilidade e a exposição a riscos genéticos e psicossociais. Assume também relevância neste trabalho interventivo, a promoção do fortalecimento dos fatores de proteção e o desenvolvimento da consciência de identificação, diferenciação de emoções e o seu respetivo controlo – autorregulação emocional.

No documento Tese_Patrícia do Bem (páginas 104-107)