1.3 Educação jurídica e políticas públicas para os cursos de Direito no Brasil
1.3.2 Projetos Políticos Pedagógicos do curso em análise
1.3.2.1 Estrutura organizacional do curso
O Curso de Direito em análise está localizado na Região sul do Brasil e foi criado na mesma data de fundação da Faculdade de Direito, vale dizer, em 05 de agosto de 1959, autorizado a funcionar pelo Governo Federal em 08 de janeiro de 1960, pelo Decreto nº 47.738, publicado em 02 de fevereiro de 1960 e com reconhecimento datado de 14 de junho de 1965, pelo Decreto nº 56.461, sendo este publicado no Diário Oficial da União em 06 de julho do mesmo ano. A instituição mantenedora à época, denominada Faculdade de Direito Clóvis Bevilácqua por sua instituidora, Mitra Diocesana, era vinculada à Universidade privada e, a partir de 1972, foi incorporada a uma fundação pública, criada em 20 de agosto de 1969.
Segundo Valle (2005, p.35),
A primeira matriz curricular da então Faculdade de Direito Clóvis Bevilácqua não contemplava disciplinas que indicassem uma definição vocacional, como atualmente ocorre. Acompanhando o contexto educacional da época, a faculdade formava bacharéis em Ciências Jurídicas e Sociais, sob regime anual, com um corpo de disciplinas distribuídas em cinco séries.
No seu trajeto histórico, além dos estudos de formação básica, o Curso de Direito analisado introduziu em seu currículo – antes, e depois de assimilar as diretrizes vocacionais da Universidade – as disciplinas de Direito Internacional Público e Privado, Direito Comercial Marítimo, Direito do Mar, Direito Ambiental e Legislação Portuária e Pesqueira.
Nessa perspectiva, o Curso de Direito em análise vinha adequando o desenvolvimento (princípios dominantes) dos conteúdos programáticos das disciplinas às novas Diretrizes e aos preceitos constitucionais de direitos sociais, individuais e coletivos (ALEXY, 2008), com enfoque especial aos direitos e garantias fundamentais, entre os quais o de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, razão pela qual esses dois pilares passaram a ser o foco da estruturação curricular.
Por assim dizer, o Projeto Pedagógico arrogou para si o direcionamento na formação e perfil do egresso, vale dizer, um profissional que, acima de tudo, reconheça na cidadania (MARSHALL, 1967) e na pluralidade os contributos para uma sociedade democrática e emancipada.
De acordo com o explicitado no Projeto Pedagógico do Curso de Direito de 2006 (p. 17),
O objetivo geral do curso é a formação de cidadãos e operadores conscientes dos valores implícitos nas esferas do Direito Público e Privado, assim como dos limites e interações entre o espaço estatal e o não estatal; que se percebam partícipes do processo de construção do Direito e da sociedade e que, sem prejuízo de sólida formação geral, pautados em valores éticos, sociais e humanísticos estejam capacitados à atuação político-jurídica, em especial no âmbito regional. E, ainda, atendendo à sua vocação específica, contribuir para que sejam cidadãos e profissionais capazes de defender com zelo especial os Direitos Fundamentais e o Meio Ambiente. (grifo nosso).
É importante salientar que essas decisões locais, em especial sobre a estrutura curricular, foram viáveis, pois, na esfera federal, o Estado (DAHL, 2001) tratou de dar suporte na criação de diretivas nacionais, campo do estado (BERNSTEIN, 1998).
Quadro 13 — Quadro de Sequência Lógica — 2006 — Curso de Direito — FURG 33
Fonte: Projeto Político Pedagógico, 2006
Quadro 14 — Quadro de Sequência Lógica — 2012 — Curso de Direito — FURG34
Fonte: Projeto Político Pedagógico, 2012
33
Uma versão ampliada encontra-se em www.direito.furg.br. 34
Por sua parte, os Projetos Políticos Pedagógicos35 do Curso de Direito da FURG apontam as principais características para a construção e a formação do futuro bacharel. Extraem-se alguns descritivos, sem a preocupação de que sejam exaustivamente aqui abordados, já que quando da análise dos dados estes e outros excertos serão, também, discutidos.
Explicita-se que a ênfase nos excertos será dada em função dos seguintes termos: carga horária, duração, regime acadêmico, objetivos, matérias, disciplinas, avaliação, interdisciplinaridade e integração. Com a finalidade de evidenciar as alterações sublinhar- se-á os termos e se utilizará uma representação: para acrescentado, usa-se (A), suprimido (S) e alterado (AL).
Quadro 15 – Carga horária e integralização – PPP 2006 e 2012
Projeto Político Pedagógico 2006
Projeto Político Pedagógico 2012
Carga horária: 4.400 horas Integralização mínima: 06 anos Integralização máxima: 08 anos
Carga horária: 3.900 horas (AL) Integralização mínima: 05 anos (AL)
Integralização máxima: 08 anos
Fonte: Autor36
A primeira e fundamental alteração diz respeito à redução de carga horária e de tempo para integralizar totalmente o curso. Aqui, percebe-se uma das questões que eram suscitadas pelos alunos: “é necessário um curso de Direito com duração de seis anos?” A resposta veio com o novo PPP, indicando um currículo realizável em cinco anos, com uma carga horária inferior em 500 horas. Dentre os argumentos, supõe-se o mais contundente, estava o fato de que, no Brasil, somente a FURG e a UFPel possuíam cursos de Direito com integralização em seis anos. A FURG agora não mais.
Outra alteração foi quanto ao regime acadêmico do curso. No PPP 2006, o regime era o seriado com disciplinas anuais, já no PPP 2012 altera-se o regime para regime por disciplinas (regime de créditos), com disciplinas preponderantemente anuais, o que indica um sistema misto, pois possibilita a coexistência de disciplinas semestrais e anuais, mas com ênfase nestas últimas, como se pode perceber na leitura do PPP 2012.
35
Ao largo desta pesquisa far-se-á menção a alguns excertos dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs) do Curso de Direito da FURG. Salienta-se que, propositadamente, não se anexou a investigação, já que só o seu texto principal, sem ementas e sem os quadros de sequência lógica, contemplaria quase 50 páginas, por PPP. 36
Quanto aos objetivos do curso, não houve alteração substancial no texto, porém alguns acréscimos possibilitam compreender a concepção curricular de maneira distinta, como, por exemplo, a explicitação no que tange à flexibilização da formação adicional, com ênfase nos direitos humanos e na sustentabilidade.
Ponto também importante remete à interdisciplinaridade, que mereceu um maior detalhamento pelo PPP de 2012, especificamente na alínea f, no sentido de indicar os temas e conteúdos pelos quais ela deverá ser nortear. No próximo subitem desta investigação, serão apresentadas algumas considerações a este respeito.
Quadro 16 – Objetivos geral e específico – PPP 2006 e 2012
Projeto Político Pedagógico 2006
Projeto Político Pedagógico 2012
1. Concepções e objetivos gerais do Curso O objetivo geral do curso é a formação de cidadãos e operadores conscientes dos valores implícitos nas esferas do Direito Público e Privado, assim como dos limites e interações entre o espaço estatal e o não estatal; que se percebam partícipes do processo de construção do Direito e da sociedade e que, sem prejuízo de sólida formação geral, pautados em valores éticos, sociais e humanísticos estejam capacitados à atuação político-jurídica, em especial no âmbito regional. E, ainda, atendendo à sua vocação específica, contribuir para que sejam cidadãos e profissionais capazes de defender com zelo especial os Direitos Fundamentais e o Meio Ambiente. São, assim, objetivos específicos do curso: a) formar cidadãos críticos conscientes de seu papel social e profissional aptos para entenderem o contexto econômico-social e político-jurídico e atenderem as demandas sociais e do mundo atual, onde o Direito é produto da sociedade, mas, também, instrumento transformador;
b) proporcionar a formação humanística e o desenvolvimento do pensamento reflexivo fundados na valorização do meio ambiente e dos espaços públicos, do Direito Público e das garantias constitucionais do cidadão a partir de uma visão plural do homem e da sociedade, e que tenha como finalidade básica a realização plena da democracia, o bem comum e o desenvolvimento econômico sustentável; c) formar profissionais aptos à atuação político-jurídica a partir do exercício das diferentes atividades das carreiras jurídicas de modo a contribuir para o desenvolvimento da
3.8 Objetivos do curso (AL)
O objetivo geral do curso é a formação de cidadãos e operadores conscientes dos valores implícitos nas esferas do Direito Público e Privado, assim como dos limites e interações entre o espaço estatal e o não estatal; que se percebam partícipes do processo de construção do Direito e da sociedade e que, sem prejuízo de sólida formação geral, pautados em valores éticos, sociais e humanísticos estejam capacitados à atuação político-jurídica, em especial no âmbito regional. E, ainda, atendendo à sua vocação específica, contribuir para que sejam cidadãos e profissionais capazes de defender com zelo especial os Direitos Humanos, Desenvolvimento e Sustentabilidade sócio- ambiental,
São, assim, objetivos específicos do curso: a) formar cidadãos críticos conscientes de seu papel social e profissional aptos para entenderem o contexto econômico-social e político-jurídico e atenderem as demandas sociais e do mundo atual, onde o Direito é produto da sociedade, mas, também, instrumento transformador;
b) proporcionar a formação humanística e o desenvolvimento do pensamento reflexivo fundados na valorização do meio ambiente e dos espaços públicos, do Direito Público e das garantias constitucionais do cidadão a partir de uma visão plural do homem e da sociedade, e que tenha como finalidade básica a realização plena da democracia, o bem comum e o desenvolvimento econômico sustentável; c) formar profissionais aptos à atuação político-jurídica a partir do exercício das
sociedade e do Direito;
d) propiciar ao aluno formação técnico- jurídica adequada permitindo sua capacitação para o exercício das diferentes profissões jurídicas com ênfase na defesa dos Direitos Fundamentais e do Meio Ambiente, (S) sem prejuízo de conferir-lhe a formação geral adequada que possibilite prosseguir nos estudos em outros horizontes.
e) permitir ao aluno refletir sobre os critérios de criação, interpretação e fundamentação das decisões jurídicas na perspectiva interna e global do sistema jurídico;
f) promover interdisciplinaridade como pressuposto fundamental da formação e da atuação político-jurídica contemporânea, e da compreensão da realidade e do fenômeno jurídico para buscar compreender e atuar num mundo concebido de forma integral;
g) permitir ao aluno o acesso a outras disciplinas específicas, jurídicas ou não, capazes de aprofundar a formação específica e preconizada para o Curso.
diferentes atividades das carreiras jurídicas de modo a contribuir para o desenvolvimento da sociedade e do Direito;
d) propiciar ao estudante (AL) formação geral técnico-jurídica adequada permitindo sua capacitação para o exercício das diferentes profissões jurídicas, com flexibilidade para sua formação adicional dentro das diversas temáticas que abrangem os Direitos Humanos, a Sustentabilidade sócio-ambiental e o Desenvolvimento, (A) sem prejuízo de conferir-lhe a capacitação que possibilite prosseguir nos estudos em horizontes que complementem esta formação.
e) permitir ao estudante refletir sobre os critérios de criação, interpretação e fundamentação das decisões jurídicas na perspectiva interna e global do sistema jurídico; (AL)
f) promover interdisciplinaridade como pressuposto fundamental da formação e da atuação político-jurídica contemporânea, e da compreensão da realidade e do fenômeno jurídico para buscar compreender e atuar num mundo concebido de forma integral, especialmente abrangendo a compreensão do processo dinâmico que abrange as relações entre sociedade e natureza, assim como a circunstancialidade da intervenção dos ditames jurídicos nos problemas e conflitos ambientais, permitindo o vislumbre da função transformadora e educativa ínsita no universo jurídico em interação com as demais ciências envolvidas. (A)
g) permitir ao estudante o acesso a outras disciplinas específicas, jurídicas ou não, capazes de aprofundar a formação específica e preconizada para o Curso. (AL)
Fonte: Autor37