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II. Propostas educativas das 4 escolas em estudo

II.3. Estrutura e Projeto Educativo da Cooperativa de Ensino a Torre

Palavras chave: agir livre, cultura, experimentação livre, tentativa e erro, criatividade, cooperação, democracia

A Torre localizada em Lisboa, no centro do bairro do Restelo, é composta por dois prédios cujos jardins se ligam. Num dos prédios localiza-se o pré-escolar e o 1º, 2º e 3º anos de escolaridade e, no outro, o 4º ano e o 2º Ciclo do Ensino Básico.

A Torre é uma cooperativa de ensino. Começou por ser uma escola com uma organização cooperativa da sala de aula que depois se estendeu para a estrutura da própria escola. Tem como princípio fundamental e norteador de todas as práticas pedagógicas acreditar que “todas as crianças têm em si a capacidade vital para se desenvolverem como seres

17 humanos e para, como tal, aprenderem”. E tem como finalidade principal o crescimento

pessoal e social das crianças (Torre, 2015).

Na Torre desenvolvimento e aprendizagem têm o mesmo significado. Acreditam que a construção de uma escola viva se faz a partir dos conhecimentos que cada criança traz e que partilha com os colegas, quando com eles brinca tendo por base esse conhecimento. E as crianças que com ele brincam partilham também os seus conhecimentos. Existe cooperação e troca. Curiosidade e vontade de aprender.

As crianças na Torre são assim seres ativos no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento. Os professores têm como função dar apoio aos alunos, ajudá-los no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento, permitindo-lhes que aproveitem positivamente os seus erros, aprendendo a partir deles, superando-os. Fazendo respeitar o tempo de cada um, sem nunca apressar, e sempre estimular. Respeitar a individualidade de cada um no coletivo que é o grupo-turma, a escola.

O trabalho escolar da Torre encontra os seus alicerces na “exploração pessoal por parte dos

alunos e na sua ação autónoma”, a sua conceção de educação baseia-se “num suporte ecológico, adaptado à vida quotidiana dos alunos na escola, que privilegia as necessidades das crianças no que toca ao seu tempo de brincadeira e ao seu direito a brincar” e que

simultaneamente sintam a” liberdade de corporalmente” se exprimirem e criarem (Torre, 2015).

Na Cooperativa de Ensino a Torre consideram que a educação é uma constante reconstrução ou reorganização da experiência, a par da tentativa e erro procuram a experimentação livre, processos dinâmicos que levam a criança à conquista das suas aprendizagens.

O espaço escola pretende ser um “lugar de afeto, segurança e bem-estar”, que oferece aos seus alunos um “ambiente estimulante”, onde a criança se sinta em liberdade e confiança, e onde os adultos são simpáticos e disponíveis. Pretende que a sala de aula seja um espaço de conforto para as crianças, onde se identificam e onde se veem refletidos, nos trabalhos expostos nas paredes ou nas escalas de tarefas que cada aluno tem: o mapa de almoços, o mapa das tarefas e o jornal de parede (Torre, 2015).

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No mapa de almoços dividem-se os grupos turma em cinco (uma para cada dia da semana). Cada grupo tem a responsabilidade, um dia por semana, de pôr a mesa e deixar a cozinha arrumada no final da refeição.

No mapa das tarefas divide-se o grupo turma em pequenos grupos que ficam responsáveis por uma serie de tarefas que garantem a organização e arrumação da sala de aula. Os alunos auto avaliam-se e são avaliados pelos colegas relativamente a sua prestação em cada uma das tarefas registadas no mapa.

O jornal de parede compõe-se de 4 espaços: acho bem/acho mal/notícias/queremos fazer. No final de cada semana, o grupo turma reúne e discute coletivamente os registos que foram escritos no Jornal de Parede ao longo dessa semana.

Na Torre, as interações e o trabalho interativo são considerados necessários para os alunos serem capazes de produzir conhecimento, pois consideram que é através do diálogo, da cooperação, da troca de informação, do confronto entre diferentes perspetivas ou pontos de vista que os alunos crescem no seu processo de desenvolvimento e aprendizagem. Também a divisão das tarefas, onde a responsabilidade de cada um se soma à responsabilidade do grupo, permite que se estabeleçam e se alcancem metas comuns. O professor tem o papel de promover e estimular estas interações diariamente. O modelo de funcionamento da Torre assenta no cooperativismo e nas relações de interajuda, numa pedagogia que se pretende circular “entre o ventre o individual e o colectivo, na busca de

um sentido de colaboração para um projecto de crescimento e desenvolvimento comum”

(Torre, 2015).

O professor enquanto guia dos alunos, deve manter a autoridade que esse papel lhe confere. Deve criar-se um plano de equidade nas relações entre o professor e os alunos, mas o papel de cada um dentro da escola e dentro da sala de aula tem que ser claro: ao professor cabe “controlar as experiências construtoras de novos conhecimentos e projectar

as condições ideais para o pleno desenvolvimento dos seus alunos” (Torre, 2015).

Dentro deste quadro de cooperação e responsabilidade, afirmam que a única disciplina que faz sentido é a autodisciplina, e é essa que exigem aos alunos.

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A avaliação na Torre “assume um caracter marcadamente formativo”, onde se avaliam os processos de aprendizagem dos alunos e a processo de desempenho dos professores. Desta forma a avaliação torna-se “indissociável das múltiplas situações em que as

aprendizagens se desenvolvem”. As crianças são “constantemente estimuladas a reflectirem sobre o seu próprio trabalho, há uma participação activa dos alunos no próprio processo de avaliação.” Assim, os critérios de análise para a avaliação dos alunos devem

contemplar: Participação oral/discussão coletiva/partilha de conhecimentos; Atenção/concentração/interesse manifesto; Empenho/brio no trabalho individual; Desempenho autónomo das tarefas escolares; Análise crítica dos resultados e capacidade autocorretiva; Correção na relação com colegas e professores; Criatividade/imaginação/mobilização de conhecimentos; Espírito cooperativo/atitude democrática/capacidade de entreajuda; Conhecimento explícito (Torre, 2015).