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A retina está localizada ao fundo do globo ocular, sendo limitada anteriormente pelo humor vítreo e posteriormente pelo epitélio pigmentado. As células do epitélio pigmentado estão em contato íntimo com o segmento externo dos fotorreceptores, participando da reciclagem de suas membranas e da troca de metabólitos com toda a retina (Kubrusly, Guimaraes et al., 2003).

As células da retina estão distribuídas em camadas, intercaladas por plexos sinápticos. A camada mais externa, em contato com o epitélio pigmentado, onde se encontram os corpos celulares dos fotorreceptores, é chamada de camada nuclear externa (CNE). Na camada nuclear interna (CNI), encontram-se os corpos celulares das células bipolares, horizontais e amácrinas. Nesta camada também se localizam os corpos celulares das células de Müller, a célula glial predominante na retina, que se estende por toda a sua extensão radial. Na camada de células ganglionares

(CCG) são encontradas as células ganglionares e células amácrinas deslocadas (Figura 5) (Yang, 2004).

Os fotorreceptores, as células bipolares e as células horizontais fazem conexões sinápticas na camada plexiforme externa (CPE). As células bipolares, amácrinas e células ganglionares fazem contato sináptico na camada plexiforme interna (CPI).

Figura 6: Diagrama da estrutura histológica da retina. Mostrando a disposição das células em camadas. Neurônios glutamatérgicos estão destacados em vermelho e neurônios GABAérgicos em azul.

1.2.1. A retina em desenvolvimento

A retina é derivada embriologicamente do tubo neural. O desenvolvimento da retina de embrião de galinha dura aproximadamente três semanas e está praticamente completo no momento da eclosão. A região posterior do tubo neural se segmenta sob o comando de um repertório de genes e origina as estruturas precursoras do encéfalo (Mey e Thanos, 2000). O prosencéfalo se invagina bilateralmente formando as vesículas ópticas. A vesícula óptica primária se invagina formando a vesícula óptica secundária, precursora do globo ocular, que consiste em uma estrutura com duas camadas celulares. A camada mais externa formará o epitélio pigmentado, e a camada mais interna dispõe-se em epitélio pseudo- estratificado, formado por células-tronco capazes de dar origem a qualquer um dos tipos neuronais ou à célula de Müller na retina madura (Adler, 2000).

Os processos de divisão celular, migração e diferenciação são orquestrados para permitir a formação da retina madura. A proliferação e a diferenciação ocorrem de maneira sobreposta, pois os tipos celulares se originam em períodos diferentes. A origem de uma determinada célula corresponde ao momento em que esta passa por sua última divisão celular. As primeiras células a sofrerem diferenciação na retina de vertebrados são as células ganglionares. Na retina de galinha, essas células começam a surgir no 2° dia embrionário (E2) e são sucedidas por fotorreceptores, seguido de células de Müller, células amácrinas, células horizontais e células bipolares, que são os últimos neurônios a deixarem o ciclo mitótico. Entre E12 e E13, as células da CNI estão totalmente geradas, com o seu padrão de estratificação sendo essencialmente estabelecido em E16 (Mey e Thanos, 2000).

A CPI inicia sua formação em E7 e as primeiras sinapses ocorrem por volta de E13, enquanto a CPE surge por volta de E9 e suas primeiras sinapses ocorrem em E17 (Hering e Kroger, 1996; Mey e Thanos, 2000).

1.2.2 Localização celular de neurotransmissores na retina de galinha

Aminoácidos neurotransmissores tipicamente excitatórios como o glutamato e o aspartato, ou inibitórios como o ácido gama-aminobutírico (GABA) e a glicina tem sido detectados por imunohistoquímica em células da retina de galinha pós-eclosão (Sun e Crossland, 2000). Foi observado que células da via vertical de sinalização retiniana (fotorreceptores, células bipolares e células ganglionares) geralmente apresentam imunorreatividade para glutamato e aspartato, mas não para GABA e glicina (Kalloniatis e Tomisich, 1999). Ao contrário, células da via lateral (horizontais e amácrinas) apresentam imunorreatividade para GABA e/ou glicina, em adição ao glutamato e aspartato (Hokoc, Ventura et al., 1990). Também existem casos de co- localização extensa destes neurotransmissores em neurônios, inclusive ocorrendo casos de colocalização dos quatro neurotransmissores na mesma célula (Sun e Crossland, 2000).

A imunorreatividade para a dopamina, por sua vez, tem sido observada principalmente em células da CNI e são identificadas com células amácrinas e/ou interplexiformes (Wulle e Schnitzer, 1989). Adicionalmente, foi observado que células de Müller expressam tanto fenótipo dopaminérgico como GABAérgico (Kubrusly, Da Cunha et al., 2005; Kubrusly, Panizzutti et al., 2008). Neste sentido, ambos receptores dopaminérgicos D1 e D2 são expressos em retina de galinha, sendo que receptores D1 diferenciam-se mais precocemente que receptores D2 (De Mello, Ventura et al., 1982; Ventura, Klein et al., 1984).

1.2.3. A retina como modelo de estudo

A retina de galinha tem sido usada como modelo experimental para o estudo de diversos aspectos neuroquímicos e do desenvolvimento do sistema nervoso

central (Ferreira e Paes-De-Carvalho, 2001; Magalhaes, Socodato et al., 2006), devido à origem embrionária comum com o cérebro, aliada a um arranjo histológico bem conhecido de camadas alternadas de corpos celulares e axônios, com relativamente poucos tipos celulares. Além disso, as células da retina podem expressar fenótipos de quase todos os neurotransmissores.

A obtenção do tecido retiniano é possível durante quase todos os estágios embrionários, viabilizando o estudo de diversas fases do desenvolvimento do tecido nervoso. A retina é um órgão de fácil dissecção, com probabilidade reduzida de contaminação por outros tecidos neuronais ou não neuronais, além de não provocar danos significativos por hipóxia, pois a retina de galinha tem grande capacidade de metabolismo glicolítico (Lolley, 1969).

As células da retina podem ser mantidas por vários dias em cultura, mesmo em estágios precoces do desenvolvimento embrionário. Diversas formas de cultura podem ser realizadas, como culturas mistas de neurônios e células gliais, culturas purificadas de células gliais (Cossenza e Paes De Carvalho, 2000), ou purificadas de neurônios e fotorreceptores (Adler, Lindsey et al., 1984). Culturas de explantes, que utilizam pequenos pedaços do tecido, também podem ser feitas de forma que o arranjo histológico da retina seja preservado (Zhang, Coleman et al., 2003). A cultura em agregados é outra estratégia para reproduzir uma estrutura laminada, semelhante à do tecido original, em que as células são cultivadas em recipientes apropriados em rotação constante (Layer e Willbold, 1993).

Outra grande vantagem da retina é a possibilidade de controle da composição do meio. Nos experimentos com cultura é possível ainda selecionar células para manipulação, viabilizando o estudo de fenômenos que não seriam possíveis de acessar in vivo. A retina em cultura resgata algumas características do tecido in vivo, como o desenvolvimento de sistemas de neurotransmissores, interações neuro-gliais (Cossenza e Paes De Carvalho, 2000) e formação de sinapses (Puro, De Mello et al., 1977), permitindo a caracterização biológica destes fenômenos.

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