• Nenhum resultado encontrado

Este trabalho é apresentado em nove capítulos. O primeiro, introdutório, apresenta o tema, os preceitos da tese e estabelece o procedimento metodológico.

Neste capítulo, caracteriza-se a área de estudo e as localidades que compõem o Ribeirão da Ilha, segundo a percepção dos moradores. Desenvolveu-se um breve histórico da evolução da área, com destaque para o processo de ocupação pela imigração açoriana, que formou as bases da cultura local, a qual se demarcou, gradativamente, na paisagem do lugar.

O segundo capítulo trata do patrimônio cultural, estabelecendo a compreensão de cultura e a evolução da noção de patrimônio, revelando como o conceito de patrimônio ampliou-se e passou a abranger a imaterialidade, incorporando o lugar e a paisagem como bens culturais, de especial interesse para o presente estudo.

Ao longo do terceiro capítulo foi feita uma reflexão acerca da dimensão temporal, estabelecendo-se, primeiramente, uma apropriação gradativa dos sentidos de tempo, memória e História, complementando as noções de cultura e de patrimônio, inerentes ao estudo empreendido.

Os aspectos culturais mais afetos à memória coletiva do Ribeirão da Ilha foram trabalhados em relação à herança histórica, e assim, a pesquisa buscou identificar a percepção que os moradores têm do lugar.

No quarto capítulo, foram articulados os conceitos geográficos de espaço e lugar com a noção de lugar como patrimônio imaterial, e as iniciativas para salvaguardar o “espírito” dos lugares.

Procedeu-se, então, o relacionamento das permanências culturais relativas ao lugar, no Ribeirão da Ilha, com os aspectos de identidade, relações sociais, territorialidade e apropriação do espaço.

De forma similar, ao longo do quinto capítulo, tratou-se da evolução do conceito de paisagem no âmbito da Geografia, posteriormente, esse entendimento foi associado à noção de paisagem cultural, uma nova categoria do patrimônio, que combina meio ambiente e ação humana, e suas transformações ao longo da história.

As permanências culturais na paisagem do Ribeirão foram consideradas por sua presença no meio natural, no patrimônio arquitetônico e na morfologia urbana.

O capítulo seis apresenta o processo histórico das transformações sócio-espaciais e culturais ocorridas no Ribeirão da Ilha. Foi possível identificar que, a partir da década de 1970, as transformações passam a

repercutir com maior intensidade e rapidez no modo de vida da população, alterando a consolidação da comunidade e, como conseqüência, passaram a ameaçar o patrimônio cultural herdado.

Os anos 70 foram assinalados pelas dificuldades associadas à sobrevivência a partir da pesca e da agricultura, as facilidades advindas da ligação rodoviária, as novas oportunidades de trabalho e de estudo no centro de Florianópolis.

Em cada uma das décadas subseqüentes, foi possível demarcar fatos que caracterizam o período e suscitam aprofundamento da análise espacial. Nos anos 80, houve a chegada de novos moradores, a atratividade turística e o início da especulação imobiliária. A partir da década de 90, desenvolveram-se a maricultura e a gastronomia e, atualmente, surgem os empreendimentos imobiliários.

Desse modo, procurou-se, a cada momento, compreender o espaço produzido à luz do desenvolvimento do modo de produção capitalista, compreendido como dinâmico e transformador da sociedade. O sétimo capítulo versa sobre experiências práticas de análise de impacto na paisagem, com a participação profissional da autora, realizadas para o licenciamento de empreendimentos do setor elétrico. Apresenta-se parte dos estudos para implantação de uma linha de transmissão de energia, cujo traçado, inicialmente proposto em projeto, passava pelo centro histórico da Freguesia do Ribeirão. Entretanto, com base num estudo de simulação de interferência na paisagem realizado, foi possível antever a magnitude do impacto.

Por meio dessa experiência, constatou-se existirem, no Brasil, poucas análises, metodologias e diretrizes relativas a interferências na paisagem. Desse modo, elaborou-se, como contribuição, uma proposta

metodológica para análise preliminar de empreendimentos

potencialmente impactantes, com objetivo de avaliar seus possíveis efeitos sobre a paisagem e orientar a exigência de medidas preventivas, mitigadoras ou compensatórias, por parte dos órgãos licenciadores, bem como da sociedade.

O oitavo capítulo apresenta uma reflexão sobre os caminhos para a preservação cultural no Ribeirão da Ilha, face às transformações constatadas.

Este aspecto é associado ao estágio atual do processo produtivo, quando o capital circula em escala mundial e o espaço interage com a dinâmica da globalização. Nesse espaço em mudança, redefine-se a noção de lugar, para atender às necessidades do capital, numa tendência de atrelar cultura a turismo.

Para compreender esse processo, procurou-se verificar como as identidades locais e os valores culturais do passado podem ser transformados em atrativos do capital. Destaca-se, também, a redefinição do papel do poder público e do planejador urbano, que passam a atuar empresarialmente, por meio de estratégias que visam disponibilizar o lugar e a paisagem cultural para o consumo.

Assim, as transformações que vêm ocorrendo na área de estudo, em consonância com outras escalas espaciais, agravam a situação de risco de perda da memória cultural que o Ribeirão ainda preserva. Verifica-se que as ações empresariais e de planejamento (ou a sua ausência) reforçam esse processo. Entende-se, então, ser necessário um novo olhar para a preservação da cultura, com a participação da população nas estratégias de valorização e salvaguarda de seu patrimônio, com a substituição do foco no mercado pelos interesses sociais.

Finalmente, no capítulo conclusivo, empreendeu-se uma reflexão sobre os aspectos abordados ao longo da pesquisa, apontando para os resultados da análise. Entende-se que a paisagem e o lugar figuram como categorias espaciais reveladoras das dinâmicas históricas e sociais do Ribeirão da Ilha, contribuindo para a expressão de sua identidade cultural.