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O movimento da pesquisa, conforme exposto acima ao explicitarmos os fundamentos e elementos constitutivos da metodologia da Entrevista Compreensiva, é um esforço intelectual que culmina na produção do sumário da tese, que emerge no bojo das reflexões, da escuta atenta das vozes, das interpretações dos sentidos desvelados nos discursos elaborados pelos interlocutores durante a entrevista.

Desta forma, a tese está assim organizada: em Expressões de um Tempo capítulo que abre a tese, explicitamos os primeiros passos na caminhada de construção da tese, com o objetivo de guiar o leitor pelos caminhos que conduziram esta escrita. Apresentamos um panorama geral da pesquisa, localizando nossas experiências formativas pessoais e profissionais, esclarecemosconceitos-chaves e, delimitamos o cenário da pesquisa, fazendo a apresentação das escolas campo de estudo.

No segundo capítulo: Delineando Caminhos: percurso teórico-metodológico, descrevemos em linhas gerais a metodologia que orienta essa investigação. Apresentamos os princípios e elementos conceituais que dão sustentação à metodologia da Entrevista Compreensiva e, visando tornar esse caminho mais claro para o leitor, trazemos alguns dos instrumentos evolutivos construídos na análise dos dados.

O terceiro, quarto e quinto capítulos aborda as relações de comunicação/interação entre alunos, nesses, buscamos responder a questão de partida da pesquisa ―quais os sentidos atribuídos por alunos da escola pública ao uso de tecnologias de informação e comunicação nas relações cotidianas no espaço escolar? Nas reflexões, ao interpretarmos as falas que oportunizaram a construção dos planos evolutivos, vimos emergir no primeiro plano evolutivo, 03 (três) eixos norteadores que sustentam as argumentações ao longo dos capítulos. O eixo I – A tecnologia na história de vida dos alunos – estrutura o capítulo 03 ―Alunos de escolas públicas: sentidos pelas relações com as tecnologias‖ e suas subdivisões. Objetiva compreender o lugar e o papel das tecnologias na vida dos alunos na atualidade. Ao falar sobre sua relação com a tecnologia na escola (sala de aula, pátio, corredores) e em outros espaços sociais, o sujeito evidencia suas experiências formativas sobre as tecnologias.

O capítulo 04 ―Comunicar/interagir na era dos fluxos‖ e suas subdivisões se estrutura com base no eixo II – O aluno e o uso/consumos de tecnologias. Aqui, buscamos estruturar o ambiente pelo aprofundamento do tema sobre as tecnologias e o uso feitos pelos alunos, num movimento instaurador de uma nova morfologia social, que se estrutura em modelos

conversacionais construídos nos encontros em rede. Inferimos sobre formas de sociabilidade que vêm sendo forjadas nas novas formas comunicacionais acionadas pelos alunos no uso dos equipamentos tecnológicos. Este eixo pretende ser conexão entre as reflexões/questões empreendidas entre os eixos I e III e a linha condutora que os estrutura. A relação comunicação/interação mediada por tecnologias móveis e as mudanças/ressignificação dos conceitos, constituindo novas formas de comunicar e socializar-se na sociedade contemporânea.

O terceiro eixo – A escola e as novas formas de sociabilidades – estrutura o capítulo 5 ―Tecnologias digitais e novas formas de sociabilidades na escola‖. Neste capítulo, discutimos os processos socializadores escolares em relação às formas de sociabilidades construídas nos espaços conversacionais pelos alunos. Além disso, fazemos algumas inferências e ousamos explicitar alguns dos possíveis deslocamentos nos processos socializadores escolares, construídos a partir de nossas interpretações.

Na última parte, apresentamos as considerações finais, retomamos o nosso percurso, buscamos perceber e entrelaçar os fios tecidos ao longo da escrita. Apresentamos uma síntese da nossa busca, elencando os principais achados da pesquisa. Trazemos um pouco do que foi discutido em cada capitulo e de como as questões surgidas nas reflexões com os dados foram sendo respondidas, desvelando aos poucos o objeto de estudo. Apresentamos os principais deslocamentos nos processos socializadores escolares encontrados, comprovando assim, nosso pressuposto inicial de que as sociabilidades digitais provocam deslocamentos nos processos socializadores tradicionais na escola, quando do uso das tecnologias digitais pelos alunos.

3 ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS: sentidos pelas relações com as tecnologias

Minha principal relação? (risos) ficar no celular... quase vinte e quatro horas por dia... sim... Olha... eu... não, não sou tão viciada assim...mas, eu consigo me controlar, quando e, quando chega no caso, provas... que eu vejo que realmente tenho que estudar... eu dou uma pausa, eu até diria que eu consigo ficar sem redes sociais [...]. (MARIA, CEEGTR28).

Observamos que Maria (CEEGTR), ao ser questionada sobre a sua relação com as tecnologias, remete a relação para às tecnologias de informação e comunicação, especificamente, as tecnologias digitais - o celular. Ainda neste relato, mesmo de forma subentendida, a aluna nos faz perceber que ao fazer uso das tecnologias digitais, sempre o faz em relação ao outro com quem estabelece vínculos, compartilha sentimentos, efetua trocas, constituindo assim, teias de interdependência, que estruturam sua vida social, comprovando que o ―o indivíduo não é assim senão o entrecruzamento necessário, mas variável de um conjunto de relações‖. (AUGÉ, 1994, p. 27).

Situações como a constatada na afirmação de Maria provocou a emergência do eixo norteador deste capítulo ―A tecnologia na história de vida dos alunos‖, que se estrutura em torno das relações dos alunos com/sobre as tecnologias nas suas ações cotidianas, principalmente no espaço escolar. Pressupomos que as ações cotidianas dos alunos são reguladas pelo uso das tecnologias de informação e comunicação, e essa regularidade define comportamentos e estabelece normas próprias de uso. Desta forma, esclarecemos que a segunda parte deste trabalho é dedicada à busca dos sentidos atribuídos pelos alunos ao uso que fazem das tecnologias em suas relações e vivências diárias.

Ao inquirimos a relação dos alunos com as tecnologias, vemos ser desveladas significações, abstrações que dizem de uma realidade em constante construção. Valorações, desejos, sonhos, incertezas, atravessam suas práticas e são traduzidos nos discursos que carregam a carga semâTICa das transformações e mutações observadas no mundo, com a quase universalização dos acessos às tecnologias digitais, em um mundo que cada vez mais tem sua estrutura reconfigurada pelo universo de linguagem (ens.) digital (ais).

Em uma das questões abordadas na entrevista, para identificar os sentidos atribuídos pelos alunos ao uso das tecnologias de comunicação e informação no seu dia a dia, optamos por perguntar sobre o lugar e o papel das tecnologias na vida deles (dos alunos) na atualidade. A indagação traz como intenção compreender os sentidos que alunos de escolas públicas atribuem às TIC na escola.

A história de vida a que se refere esse eixo encontra-se atrelada diretamente aos relatos sobre tecnologias – foco nesta pesquisa – e tentamos por meio da escuta traçar uma espécie de mapa do uso, destacando o meio mais acessado e o porquê, os lugares onde os acessos ocorrem, com ênfase na periodicidade do uso. Compreender os sentidos, então, emergiu como necessário, por percebermos como as tecnologias vêm ocupando tempo e espaços cada vez maiores na vida desses sujeitos, o que tem inferência direta em suas formas de pensar e viver o social.

Nesse sentido, trazemos a fala de André (CEEGTR) que diz: ―[...] pra mim tecnologia é algo que é essencial” (ANDRÉ, CEEGTR). Sua expressão aponta para o papel da tecnologia na vida das pessoas em sociedade. O homem tem uma relação com a máquina que o constitui historicamente. Mas na contemporaneidade, observamos uma intensificação dos laços homem-máquina, pelas mudanças, inseridas principalmente com as tecnologias digitais.

José (CEEGTR) em sua fala destaca o celular. ―[...] eu uso mais pelo celular mesmo, até porque hoje em dia o celular faz tudo né?” Esse dizer vem complementar o pensamento de André e nos auxilia em nossas reflexões. São expressões que vão delineando um cenário de ações em que o celular é apontado como a tecnologia mais acessada. Acenam para ampliação dos espaços de circulação de equipamentos tecnológicos digitais, como o celular, que vem assumindo paulatinamente um papel de regulador pela intensificação de usos nas relações pessoais e interpessoais na atualidade.

Continuando nesse pensamento, Pedro (CEESA) afirma:

Celular atualmente, porque... eh... ele é um dos meios de comunicação mais, mais útil atualmente, porque a gente usa... tanto pra se comunicar com as pessoas, quanto pra ouvir músicas, quanto pra ouvir reportagens, tem conhecimento em geral. Eh... uso também redes sociais.

O advento das tecnologias digitais se dá na esteira da revolução tecnológica e nas transformações ocorridas na sociedade nos processos de comunicação e interação pelas novas formas de processamento da informação a partir da chamada sociedade informacional. Trata dos acessos, das possibilidades facilitadas pelas mudanças que a revolução tecnológica vem provocando nas relações sociais, econômicas e políticas globalmente (CASTELLS, 1999).

O conhecimento nesse cenário e os saberes se encontram difusos e não se ligam a instituições especificas como detentoras de um referencial a que todos devem/podem aceder, colocando à disposição de todos os sujeitos sociais o acesso à informação. As mudanças ocorridas a partir da chamada virada cultural na segunda metade do século XX deslocaram o lugar da cultura, trazendo-a para o centro da análise do social, sendo vista, desde então, como

um dos elementos mais dinâmicos e mais imprevisíveis na história no novo milênio. Seguindo esse pensamento, toda ação social por seu conjunto de significados se constitui como cultural.

Para Lemos & Lévy (2010, p. 29), ―buscar o sentido ou os sentidos da tecnologia é se engajar na via de compreensão desse destino do homem no mundo‖. A técnica se liga à composição do homem e o constitui, pelo fato de ser dimensão essencial da vida humana. A ação do homem na/sobre a natureza produz, transforma cientifica e tecnologicamente o mundo. A relação homem e técnica, portanto, simboliza muito mais do que a produção de artefatos e dispositivos tecnológicos, pois representa uma maneira de estar e se relacionar com o mundo, uma relação que se confunde com a história do homem na terra. A capacidade criadora humana o torna capaz de criar e transformar a natureza em prol de sua sobrevivência e bem-estar, um processo que implica ao mesmo tempo a transformação do próprio homem.

Os alunos, ao se relacionarem uns com os outros, ao conviverem socialmente nos distintos espaços em que estão inseridos, o fazem em ação direta com vários elementos constitutivos e constituintes do social, sejam pessoas ou objetos, produtos e produtores de cultura. É um social marcado pela presença de tecnologias digitais.

Nesse sentido, inferimos que as práticas de usos das tecnologias pelos alunos podem ser consideradas como ação social, pois expressam ou comunicam significados, constituindo- se assim em culturais. Os alunos, ao falarem sobre o uso que fazem das tecnologias digitais, revelam ações, traduzem práticas impregnadas de sentidos, de significados. São práticas em que situações de interação e comunicação são estabelecidas e significadas e/ou ressignificadas nas relações entre os sujeitos e o uso de tecnologias digitais, as quais passamos a abordar.