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O conteúdo do presente estudo será exposto e pormenorizado nas se- ções seguintes, totalizando seis partes, incluída esta primeira e finalizando com a sexta, que trata das conclusões e recomendações, além das referências, anexos e apêndices contendo importante acervo documental.

A segunda seção trata da comunicação científica, os primórdios, retros- pectiva histórica, modelos e as mudanças ocorridas, em função das Tecno- logias de Informação e Comunicação (TIC), e as discussões decorrentes das alterações no fluxo da comunicação científica. O tema abordado constitui a base teórica desta pesquisa, cujos resultados serão analisados à luz da teoria ator-rede, do filósofo e antropólogo francês Bruno Latour.

A Universidade Federal da Bahia é o locus central desta pesquisa que, na seção três, apresenta a análise documental pertinente a esta Instituição, bem como um panorama histórico da UFBA, com ênfase na atividade cultural, além de uma explanação dos canais existentes para a disseminação de sua

produção científica. A seção inicia-se com a apresentação do conceito de cul- tura na visão de alguns autores que desenvolvem estudos sobre o tema, tais como: Clifford Geertz, Norbert Ellias, Manuel Antonio Garreton, e finaliza com a análise dos resultados dos instrumentos de coleta de dados aplicados aos coordenadores dos Programas de Pós-Graduação da UFBA.

Na quarta seção, apresenta-se o aparato tecnológico e sua evolução, que permitiu a conexão mundial via redes em tempo real. Aborda-se o surgimento dos novos canais que permitiram a disseminação da produção científica das Instituições de Ensino Superior, segundo uma perspectiva de democratização do saber, com a adoção da tecnologia do Open Archives Initiative (OAI) – Ini- ciativa de Arquivos Abertos – através do Movimento de Acesso Aberto (Open Access Movement) em ambientes como os repositórios institucionais, e finali- za-se, analisando as perspectivas do direito autoral frente a esses canais de acesso aberto.

Ao longo das secções anteriores foi construído o referencial e o embasa- mento teórico da questão central desta tese, que é a implantação do Repositó- rio Institucional da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a partir do modelo norteador do Repositório Institucional da Universidade do Minho (UMinho) – RepositóriUM. Nesta quinta seção foram abordadas as experiências de im- plantação do RepositóriUM, além de se apresentar a análise dos dados coleta- dos junto aos atores principais deste RI; a ênfase central da seção focalizou o relato e a análise da implantação do RI da UFBA.

O trabalho finaliza, como não poderia deixar de ser, com a apresentação de uma série de conclusões derivadas do percurso seguido ao longo desta in- vestigação, bem como de sugestões para o ulterior desenvolvimento das práti- cas e reflexões aqui realizadas.

2 COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA: das restrições ao acesso aberto

A fundamentação desta pesquisa tem na comunicação científica a sua base teórica e fio condutor da temática central. Trata da disseminação dos re- sultados de pesquisa da Universidade Federal da Bahia, ou seja, da produção científica da Instituição, que se valendo, na atualidade, das Tecnologias de Informação e Comunicação vive um momento de mudança no fluxo da infor- mação e a criação de novas formas de disseminação. À luz da teoria ator-rede de Bruno Latour (1994, 1997, 1999), este capítulo tratará da evolução dos canais de comunicação através dos quais a ciência é disseminada.

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

No início do século XVII, Francis Bacon, ao refletir sobre o saber, con- sidera que a importância do homem conquistar novos conhecimentos tem duas dimensões: a significação da questão para a qual procura resposta e as aplicações decorrentes da conquista desses novos conhecimentos. Acrescenta às suas reflexões, a importância da transmissão do conhecimento preservado “[...] nos livros isentos dos danos do tempo e capazes de perpétua renova- ção”, não apenas para as gerações contemporâneas, mas também para as futuras gerações. (BACON, 2006a, 2006b). Para Bacon, “Saber é poder” e os instrumentos técnicos, por sua vez, são extensões dos membros e faculdades que permitem o desenvolvimento da ciência aplicada e ajudam a superar as limitações. As reflexões de Bacon remetem para o registro e a disseminação desse conhecimento advindo do resultado da pesquisa que busca desvendar e compreender a natureza e seus fenômenos, através de um método científico sistemático e sólido, cumprindo o ciclo da comunicação científica.

Para Frohmann (2000), esse sistema de informação refletido por Bacon, apresenta em suas origens uma forma de organização social que é responsá- vel pela produção, sistematização e circulação de documentos, antecipando a

denominada tecnologia literária da ciência, que se concretizará, quase meio século depois, na forma de periódico científico. (WEITZEL, 2006a)

Os fatos científicos a partir de pesquisas desenvolvidas por grupos de investigadores e que resultam na geração de relatórios, artigos, papers, confe- rências, capítulos de livros, livros e outros documentos, objetos da comunica- ção científica são tratados pelo filósofo francês Bruno Latour (2000), autor da teoria ator-rede. Esta teoria fundamenta-se no acúmulo de poder advindo da existência de locais que se estabelecem como centros de cálculo, nos quais o saber é acumulado. “[...] Esses centros são como nós de uma rede extensa e se tornam pontos de convergência – pontos de passagem obrigatória de inscrições vindas de diferentes periferias”. (ODDONE et al., 2000, p. 33) Esse conceito de centro de cálculo está diretamente relacionado ao conceito de informação, uma vez que, para Latour (2000, p. 22, grifo do autor), a informação,

[...] não é um signo, e sim uma relação estabelecida entre dois lugares, o primeiro, que se torna uma periferia, e o segundo, que se torna um centro, sob a condição de que entre os dois circule um veículo que de- nominamos muitas vezes forma, mas que para insistir em seu aspecto material, eu chamo de inscrição.

Latour (2000) utiliza em sua teoria o conceito de centro de cálculo com a intenção de combater a ideia de “grande divisão”, ou seja, ele rejeita, como princípio, qualquer divisão como as que separam a mentalidade científica das mentalidades pré-científicas, conhecimento universal do local, natureza, da sociedade, ciência das outras práticas sociais, ciência da tecnologia, racio- nalidade da emoção, civilização da selvageria e o centro da periferia. Admite, contudo, a existência de diferenças que decorrem dos efeitos do ciclo de acu- mulação de conhecimento. A título de exemplo, segundo este autor, o conhe- cimento é construído localmente, sendo que a grande diferença entre o que se denomina conhecimento local, de um lado, e conhecimento universal, de outro, é a maneira como determinados lugares são constituídos em forma de rede. O caráter cumulativo da ciência caracteriza-se pela repetição incansável desse movimento entre o centro e a periferia, “[...] a reprodução incessante desse trabalho de transporte de inscrições”. (ODDONE et al., 2000, p. 33).

A familiaridade com eventos, pessoas e lugares, a partir do acúmulo de inscrições7 no centro de cálculo gera uma assimetria, uma relação despropor-

7 A noção de inscrição é tomada de empréstimo de Derrida (BENNINGTON; DERRIDA, 1996); designa uma etapa anterior à escrita, ou seja, os dados.

cional entre dois lugares, que se estabelecem como centro e periferia. “A assi- metria produzida pelo acúmulo de saber torna-se cada vez maior gerando, por sua vez, um acúmulo de poder”. (ODDONE et al., 2000, p. 33)

Assim, o caráter cumulativo da ciência se caracterizará pelo movimento incansável entre centro e periferia, efetuando o transporte de inscrições, pro- duzindo um acúmulo de informações. Esses ciclos de acumulação geram a força e o poder que estão na origem das grandes diferenças, como, por exem- plo, entre o conhecimento local e o conhecimento universal.

O conceito de rede, para Latour, “é uma forma nova de encarar a proble- mática da produção social do conhecimento científico, porque ela se conecta ao mesmo tempo à natureza das coisas e ao contexto social, sem, contudo, re- duzir-se nem a uma coisa nem a outra”. (ODONNE, 2004, p. 55) Segundo Bru- no Latour (1994), não existe o lado de fora da ciência, o que existe são redes compridas e estreitas que tornam possível a circulação dos fatos científicos.

Considerando os contributos da teoria ator-rede de Latour, procurou-se sistematizar na figura 2 a complexidade do processo e da rede de intervenien- tes no campo da produção e comunicação científica envolvendo: pesquisado- res\professores, pesquisadores\alunos, universidades\centros de pesquisa, órgãos de financiamento, editores, publicações científicas com dimensão co- mercial, publicações científicas de acesso livre e repositórios institucionais.