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Guilherme Cardoso Severino Rodrigues Eurico de Sepúlveda Inês Alves Ribeiro

Arqueólogo da Câmara Municipal de Lisboa.

Associação Cultural de Cascais.

Resumo

A olaria romana do Morraçal da Ajuda localiza-se na fachada atlântica da antiga província romana da Lusitânia. Na época do seu funcionamento, Peniche era uma ilha, hoje encontra-se ligada ao continente por um istmo de areia. Desde a sua descoberta, em 1998, até 2009, realizaram-se seis campanhas de escavação que possibilitaram identificar vestígios de quatro fornos de planta circular com corredor central, entulheiras, um muro de alvenaria e, adossado a ele, um alinhamento de bocas de ânfora tipo Peniche 12.

Ali fabricaram-se diversos tipos de ânforas, cerâmica de paredes finas, cerâmica comum e de construção.

O barro, cinzento, utilizado no fabrico das produções de cerâmica, era proveniente das imediações da olaria e, após a cozedura, dá origem a uma cerâmica de cor vermelha. Em menor quantidade, foi utilizada uma argila clara de má qualidade que se mantinha branca após a cozedura, servindo fundamentalmente como engobe.

A figlina foi fundada nos inícios da nossa Era, durante o principado de Augusto, e manteve-se em laboração até à segunda metade do século II. Os 110 exemplares de selos de produção impressos nos colos das ânforas, recolhidos até ao momento, revelam que o primitivo proprietário era Lúcio Arvénio Rústico, certamente um “colono” originário da península Itálica. Com ele teria uma série de oleiros rodistas de qualidade, detentores de grande perícia e

conhecedores de modelos de peças de prestígio, de que resultaram imitações de terra sigillata em cerâmica comum.

Palavras-chave: fornos romanos, estruturas, ânforas, cerâmicas várias, Peniche (Portugal).

Texto entregue para publicação em Novembro de 2010. Revisto e actualizado em Abril de 2017.

Abstract

The Roman figlina of Morraçal da Ajuda is located in the city of Peniche (Portugal) in the Atlantic coast in the ancient Roman province of Lusitania. It was discovered in 1998 and four ceramic kilns were unearthed, as well as dumping pits, a stone wall and a array of Peniche type12 amphorae rims, during the six archaeological excavations that took place since then.

A variety of amphorae types, imitations of fine wares, coarse wares and building ceramics were products of the figlina.

The same grey clays used by the Roman potters were found in the surroundings of the kilns and were analysed by a team of Portuguese experts that defined their chemical components. These clays when fired turned into reddish coloured fabrics. Some of the amphorae were covered with a white/yellow slip obtained from poor quality clays.

This figlina was producing ceramics since Augustan times up to the second half of

2nd century AD. We found, until now, 110 potter´s stamps with the trianomina of L. Arvenivs Rusticvs the pottery`s owner, roughly.

We guess Lucius was an Italian, maybe a Roman “colonus” that came to Lusitania with a group of well skilled potters. Knowing the secrets how to make terra sigillata they tried to make some good imitations of these vases, to sell/ export, to the markets of Lusitania.

1. Introdução

Até Março de 1998, quando foi identificado um for - no romano de cerâmica no Morraçal da Ajuda (CAR- DOSO, GONÇALVES e RODRIGUES, 1998) – durante obras de terraplanagem para a construção dos courts de ténis e da sede do Clube de Ténis de Peniche –, em Peniche só se conhecia, daquele período, uma ins crição tumular romana (VENÂNCIO, 2000: 261) e a cabeça de uma pequena imagem antropomórfica de terracota (VASCONCELOS, 1956: 185). Entretanto, as escavações arqueológicas realizadas no Morraçal, até 2001, puseram a descoberto mais três fornos e vá rias entulheiras (CARDOSO e RODRIGUES, 2005). Du rante as obras de alargamento do Porto de Pesca de Peniche, em 2001 e 2002, foram também recolhidos vários fragmentos de ânforas e materiais de construção romanos, de fabrico local (VENÂNCIO, 2006: 85-89). Em 2005, prospecções que elementos da equipa de ar queólogos do Morraçal da Ajuda realizaram na rua das Operárias Conserveiras, detectaram diversos ves - tígios romanos a cerca de um metro de profundidade, num estrato de argila.

Rui Venâncio, em 2006, identificou uma série de bol - sas com materiais romanos, durante a abertura de ca boucos de uma urbanização, 170 metros a Nordeste da figlina do Morraçal da Ajuda. A escavação do sítio

pelos arqueólogos Tiago Fontes e Raquel Santos, da empresa de arqueologia Neoépica, colocou à vista, numa área de cerca de 600m2, uma série de estruturas

do Alto Império, ligadas, provavelmente, a instalações portuárias, estando o piso completamente atapetado de fragmentos de cerâmica provenientes, na sua ma io ria, da produção dos fornos de cerâmica do Mor - raçal, a par de alguns materiais importados (NETO et al., 2007: 156).

Entretanto, a descoberta e recuperação de vestígios cerâmicos no mar, na zona Sul de Peniche, frente aos Cortiçais, por uma equipa do Centro Nacional de Acti vidades Subaquáticas, dirigida por Jean-Yves Blot, possibilitou a identificação de um navio romano transportando ânforas béticas, que ali teria naufragado no século I (BLOT et al., 2006).

2. A figlina do Morraçal

A instalação de uma olaria no local do Morraçal terá ocorrido durante o principado de Augusto. Esta é, sem dúvida, uma das mais antigas olarias romanas cons truídas na Lusitânia, logo nos inícios do Império. A sua construção deve-se, certamente, à fixação, em Peniche, de um “colono” romano originário da

Olaria Romana do Morraçal da Ajuda (Peniche)

estruturas de produção

Guilherme Cardoso Severino Rodrigues Eurico de Sepúlveda Inês Alves Ribeiro

Arqueólogo da Câmara Municipal de Lisboa.

Associação Cultural de Cascais.

Texto entregue para publicação em Novembro de 2010. Revisto e actualizado em Abril de 2017.

Península Itálica, muito pro- vavelmente o produtor de ânforas Lúcio Arvénio Rústico, de que existem mais de uma centena de selos estampados em colos de ânforas, recolhidos nas entulheiras de rejeitados da figlina.

Tanto as técnicas de construção dos fornos como a sua distri - buição no espaço da oficina, demonstram que o seu pro- prietário dominava os conhe- cimentos do ofício de oleiro, empregues na época. De real- çar o cuidado que colocou, pe lo menos na fase inicial da laboração, num fabrico de qua lidade de ânforas e de cerâmicas de “paredes finas”. 3. As estruturas

Grande parte das estruturas da olaria terá sido destruída durante as terraplanagens de 1998. No entanto, o cálculo da sua área com base nas distâncias máximas entre vestígios permite-nos saber que ocu - paria um espaço de cerca de 2300 m2.

Até ao momento, foram detectados vestígios de qua tro fornos de cerâmica e um muro de alvenaria de dupla fiada associado a um alinhamento de bocas de ânforas tipo Peniche 12. Para além des tas cons - truções, apenas se identificaram entulheiras de re - jei tados na envolvente dos fornos. Isso deve-se em parte aos trabalhos de terraplanagem, que reti ra ram cerca de um metro de altura em toda a área Sul, afectando o espaço compreendido entre o forno 2 e a Rua Calouste Gulbenkian.

Embora desconhecendo-se se existiria algo na área aberta para a implantação do court de ténis no lado Norte do sítio arqueológico, os efeitos visíveis das ter raplanagens afectaram fundamentalmente grande parte da estrutura do forno 1, colocando à vista uma bolsa de argilas cinzentas que se verificou, através de análises de caracterização química, serem as ar -

gi las do mesmo tipo utilizado pelos romanos na con fecção de ânforas locais (DIAS et al., 2003). 3.1. Os fornos

Os fornos são todos de planta circular, de corredor central, com fundações e câmara de combustão abertas no substrato geológico, constituído por ar - gilas e margas esbranquiçadas, para dar maior ro - bustez às estruturas, evitando que as grandes variações térmicas a que se encontravam sujeitos os danificassem, aproveitando, simultaneamente, o declive natural do terreno, de modo a criar uma rampa pouco acentuada de acesso à fornalha.

As paredes externas dos fornos eram de adobe, liga - das com argila que, conforme se sucediam as fornadas, iam sendo cozidas, dando assim uma maior resistência às paredes. Nas zonas mais externas e mais afastadas do calor central, os adobes ainda hoje se mantêm em barro verde. Por sua vez, os arcos de suspensura, de volta perfeita, eram construídos com tijolos ma - ci ços, previamente cozidos. As áreas anexas aos praefurniae dos fornos 1 e 3 e a entrada da câmara de cocção do forno 1, eram protegidas por telheiros apoiados em muros de alvenaria seca.

CARDOSO, G.; RODRIGUES, S.; SEPÚLVEDA, E. e RIBEIRO, I.

Figura 1 – Planta de Peniche com a localização dos achados romanos. 1. Olaria do Morraçal da Ajuda; 2. Estruturas romanas da Rua Azeredo Perdigão;

3. Vestígios romanos na Rua das Operárias Conserveiras; 4. Cerâmicas romanas no Porto de Pesca; 5. Naufrágio de barco romano nos Cortiçais.

A câmara de cozedura era separada da fornalha por uma grelha de tijoleira, com diversos olhais, apoiada sobre arcos de tijolos, perpendiculares à abertura central e espaçados entre si, para assim se obter uma melhor distribuição do calor na câ - ma ra. Toda a estrutura de suporte – ou se - ja, os arcos e a grelha – foi construída de raiz com tijolo burro; as outras partes do forno eram de adobe e reforçadas com gran des fragmentos de ânforas do tipo Pe niche 12.

Os tijolos da pa rede do primeiro arco, do lado do praefur nium, encontram-se vidrados devido aos efeitos do calor provocado pe las sucessivas fornadas a que estiveram sujeitos (CARDO SO, RODRIGUES e SEPÚL- VEDA, 2006: 256, nota 2).

O praefurnium do forno 1, situado no extremo da ga leria de acesso à fornalha, tem planta quadrangular delimitada por um pequeno muro de tijolos com ves -

Olaria Romana do Morraçal da Ajuda (Peniche): estruturas de produção

Figura 2 – Planta da Olaria do Morraçal da Ajuda.

Figura 3 – Forno 1. Praefurnium durante a escavação.

3.1.1. Forno 1

A câmara de cozedura deste forno tinha 3,25 metros de diâmetro interno, com 1,1 metros de altura, cerca de 0,8 metros de espessura na parede

ex terna e uma área funcional 1de 8,29 m2. 1Área interna da câmara de cocção.

tígios de vidrado à superfície, resultante do reaproveitamento de tijolos de paredes internas de fornalha desmontadas. Durante a escavação da câmara de cocção, observou-se que os olhais da grelha se en - contravam cobertos por pequenos fragmen - tos de bojos de ânforas, talvez para evitar a entrada de sujidade para a fornalha após a última fornada. Sobre eles, depositou- -se uma camada de terra vermelha finíssima, proveniente da desagregação das paredes do forno após o seu abandono.

Embora ainda com 1,1 m de altura, não foi observada inflexão na parede interna que evidencie qualquer vestígio de cúpula, o que leva a supor que esta câmara não se - ria fechada. A ausência de cúpula possibilita tecnicamente enfornar e desenfornar ra- pidamente, sendo empregue em vários cen - tros oleiros nacionais, nomeadamente em Muge e em S. Pedro do Corval, cobrindo- -se para isso a parte superior das peças a cozer com fragmentos de louça defeituosa, para evitar o seu contacto com o ar exterior durante a cozedura e na fase posterior de arrefecimento. O único problema existente neste processo é que, quando chove du -

CARDOSO, G.; RODRIGUES, S.; SEPÚLVEDA, E. e RIBEIRO, I.

Figuras 4, 5, 6 e 7 – Forno 1. Galeria entre a fornalha e o praefurnium (à esquerda); parede de adobe reforçada com grandes fragmentos de ânforas do tipo Peniche 12 e pedras; parede Norte do telheiro do praefurnium e interior da fornalha (de cima para baixo, respectivamente).

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rante a cozedura, esta pode levar à destruição das peças que se encontrem no interior do forno. Para evitar esse problema, em S. Pedro do Corval, vimos o espaço do forno coberto por um telheiro de chapa ondulado.

Os muros de alvenaria que se encontraram no cor - redor do praefurnium e o lado exterior da porta da câmara de cocção evidenciam que aquelas áreas seriam cobertas e encontravam-se protegidas dos ven tos por muros laterais.

3.1.2. Forno 2

O forno 2, de menores dimensões, encontra- va-se em mau estado de conservação, subsistin -

do unicamente parte da parede do alicerce Sul da fornalha, sendo o seu diâmetro aproximado 1,85 m, o que dá uma área funcional de 2,69 m2. A

fornalha foi aberta no substrato geo- lógico como nos demais fornos. Verificou-se que o forno tinha sido pra - ticamente exaurido de todos os ti - jolos da sua estrutura, salvo uma pe - quena parte. Deveu-se esta situação, certamente, ao reaproveitamento em outras construções dos materiais após o forno ter sido desactivado.

No corte do terreno aberto pela má- quina, identificaram-se ossos que, após escavação, se verificou estarem depo - sitados no fundo de uma cova aberta no lado meridional da parede do for - no, a cerca de um metro de distância. Trata-se dos restos do esqueleto de um cão de porte médio, idêntico no ta manho aos descobertos nos conchei - ros de Muge 2.

Embora seja meramente especulativo, interrogamo-nos se estamos em pre- sença de uma sepultura eventual de um animal de estimação, ou de um sa crifício de fundação do local ou mesmo de abandono, visto o forno ter sido abandonado e os seus materi - ais reaproveitados.

3.1.3. Forno 3

Este forno encontra-se situado na mesma área que era destinada ao court Sul e foi identificado devido a uma grande mancha vermelha observada à superfície do terreno.

A escavação permitiu colocar à vista apenas o que restava dessa enorme estrutura, que não possuía a parte superior, ou seja, a câmara de cocção, nem se - quer restos da grelha e, inclusivamente, faltava a par -

Olaria Romana do Morraçal da Ajuda (Peniche): estruturas de produção

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9 Figuras 8 e 9 – Forno 1. Grelha e entrada da

câmara de cocção (de cima para baixo, respectivamente).

2Agradecemos ao Professor Doutor João Luís Cardoso as in- dicações sobre o tipo de animal a que os ossos pertenciam. Devido à ausência dos dentes e de ossos do crânio, não pode dizer-se muito mais.

te superior dos arcos de suspensura. Apresenta um diâmetro interno de 3,95 metros, em que estão circunscritos os arranques de cinco suspensuræ em tijoleira, o que dá uma área funcional de 12,19 m2. Os arcos têm

uma largura de parede que varia en - tre os 45 e os 50 cm, distanciados en - tre si 18 a 32 cm. O corredor central apresenta uma largura de 80 cm e uma altura aproximada de 1,24 m.

Definiu-se, também, um corredor de acesso ao praefurnium, delimitado por muros de alvenaria seca, que se en contrava totalmente preenchido por materiais, entre os quais muitos rejeitados de cozeduras. Pensamos tratar-se das últimas produções do for no 1, com lugar de destaque para a enorme quantidade de grandes frag mentos de ânfora, para além de carvões, cinzas, adobes, pedaços de ti joleira (que se revelaram pouco abun- dantes), e blocos de pedra das paredes do telheiro do praefurnium.

O seu entulhamento parece-nos ter decorrido num breve espaço de tempo, devido aos materiais encontrados no seu interior serem muito idênticos da base ao topo.

3.1.4. Forno 4

Por sua vez, um quarto forno foi localizado no lado Nascente do sítio arqueológico, junto à Rua Calouste Gulbenkian. Apenas se detectaram vestígios da base de dois arcos de suspensura e de parte da parede la - teral, não sendo de momento possível dizer, com um mínimo de certeza, quais as suas dimensões apro - ximadas. Este forno foi inicialmente destruído em épocas antigas pelos trabalhos de surribas do terre - no para lavoura, voltando recentemente a ser muito danificado pela abertura de valas que destruíram parte do que restava da sua estrutura e que, após o seu fecho, deixaram no interior desta chapas de fer - ro, plásticos e vidros.

3.1.5. Volume de produção

Baseados nas dimensões internas dos fornos e do diâ metro médio da ânfora do tipo Peniche 6 (cerca de 32 cm, com uma capacidade aproxima da de 26,5 li - tros), podemos dizer que o forno 1 teria capacidade para cozer de uma vez cerca de 72 ân fo ras, o forno 2 cerca de 21, e o forno 3 cerca de 96. Os cálculos são feitos tendo como hipótese as ânforas terem sido co - zidas na vertical, umas ao lado das ou tras e sem ou - tra camada de ânforas por cima. No en tanto, te mos alguns fragmentos de fundos de ân foras que apre - sentam indícios de cozedura oxidante e ao mesmo tempo redutora, como se o bico estivesse co locado no interior da boca de outro recipiente.

CARDOSO, G.; RODRIGUES, S.; SEPÚLVEDA, E. e RIBEIRO, I.

Figuras 10 e 11 – Forno 2, com esqueleto de cão (do lado direito na Fig. 10; do lado esquerdo na Fig. 11).

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Podemos ainda calcular que cada for- nada teria a capacidade de fornecer vasilhame com uma capacidade de 1908 litros para o forno 1, 556 litros para o forno 2, e 2544 litros no caso do forno 3.

Excluindo os fornos 2 e 4, por não termos confirmado a sua época de la - boração e desconhecermos por com- pleto as dimensões do último, podemos dizer que o forno 1 tinha uma capa- cidade inferior à do forno 3, o que leva a crer que as necessidades de va silhame podem ter decrescido por parte dos produtores de derivados

piscícolas, levando à progressiva di- minuição da necessidade de produção, inicialmente resolvida com a desacti- vação de alguns dos fornos e poste- riormente com a consequente extinção da própria olaria.

4. Alinhamento de ânforas

Entre as sondagens S9 e S12 detec- tou-se a base de um pequeno ali- nhamento de colos de ânforas do ti - po Peniche 12, com a boca virada pa - ra baixo, paralelas a um muro de al- venaria de pedra seca, localizado a Norte da sondagem S1E. Em 2009 es cavou-se outro quadrado, a dois me tros para Nascente, onde se en- contraram mais cinco bocas de ânforas alinhadas pelo muro de alvenaria, pe - lo lado Norte, o que nos dá já um ali- nhamento de mais de seis metros de comprimento. Como as anteriores, es - tavam de boca para baixo, inclinadas para o lado Norte, dando a ideia que teriam sofrido pressão do muro anexo quando este descaiu na sua direcção.

Olaria Romana do Morraçal da Ajuda (Peniche): estruturas de produção

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13 Figuras 12 e 13 – Forno 3. Escavação da

fornalha e corredor de acesso ao praefurnium.

Uma das bocas tinha no seu interior um pé de ânfora. Será que as ânforas estavam inteiras quando foram ali colocadas?

Em Portugal temos paralelos para este tipo de es - truturas na olaria do Porto dos Cacos, onde foram uti lizadas ânforas Dressel 14 na posição vertical, a que faltam apenas os fundos (RAPOSO, 1990: 121- -122). Na Catalunha, na olaria romana de Can Peixau, apareceram diversos alinhamentos realizados com a metade de ânforas da forma Pascual 1 (PADRÓS, 1998: 186-192). Em La Milagrosa, Cádis, apareceu um pequeno alinhamento formado por fundos e bocas de ânforas perpendicular a dois muros, que faria parte do fecho de uma passagem para criar um no - vo espaço (BERNAL et al., 2003: figs. 2 e 18, pp. 158 e 172-173). Em Montlaurès, França, foi encontrado um alinhamento idêntico mais pequeno, constituído por seis colos de ânforas, numa cabana (LAUBENHEIMER, 1990: 56 e 59).

5. As entulheiras

As sucessivas lavouras a que a propriedade esteve sujeita ao longo dos séculos e as recentes terraplanagens tiveram um efeito devastador nas camadas superiores do sítio arqueoló- gico.

Como já vimos, desapareceu quase por completo um dos fornos, assim como também se nota no caso das entulheiras de peças rejeitadas. Não pos- suímos uma noção exacta do seu grau de destruição, pois faltam-nos as camadas supe- riores de uma grande área, a maioria retirada à máquina du- rante a terraplanagem, que

che gou a atingir mais de um metro de profundidade, eliminando zonas que estariam, certamente, repletas de cerâmicas, a exemplo de outras olarias.

Os vestígios que sobejaram destes importantes tes- temunhos são as camadas inferiores de uma grande entulheira, no lado Norte (S1), os vestígios de outra no lado oriental, já junto à via (S10), duas pequenas

bolsas a Poente do forno 2 (F14 e G14) e, parcialmente,

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