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PARTE III – ESTUDOS EMPÍRICOS

CAPÍTULO 4 ESTUDO 1: ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA ESCALA DE

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O objetivo desse primeiro estudo foi o de verificar a validade fatorial da medida de Crenças Religiosas.

4.1 DELINEAMENTO

Tratou-se de uma análise exploratória do instrumento de Crenças Religiosas proposto pelo presente trabalho de dissertação. A ênfase foi psicometrista, como objetivo de propor um instrumento de Crenças Religiosas para o contexto brasileiro, buscando evidências acerca da validade e fidedignidade desse instrumento.

4.2 AMOSTRA

Para este estudo, contou-se com uma amostra de conveniência (não probabilística) de 126 participantes, sendo 51,6% do sexo feminino. Os entrevistados eram 8,7% do Encontro da Consciência Cristã, 56,5% do Encontro da Nova Consciência na cidade de Campina Grande-PB no período do carnaval e 34,8% foram estudantes de Ciência das Religiões na UFPB. A idade média da amostra foi de 33,55% (DP = 12,61) e amplitude de 16 a 76 anos. A maioria dos participantes 78,6% ou já cursaram o ensino superior ou estava em andamento, 9,5% ensino médio, 11,1% Pós-graduado e 0,8% não responderam. O estado civil 58% solteiros, 25% casados, 9% separados, 7% outros e 1% não responderam. No que se refere a religião 26,2% católica, 23,8% evangélica, 8,7% espiritas, 0,8% candomblé, 1,6% umbanda, 1,6% Budistas, 36,5% Outras e 0,8 não responderam. Quanto à autoatribuição religiosa, a média foi de 2,99 (DP= 1,62), mínima de 0 a máxima de 5.

4.3 INSTRUMENTOS

Os participantes responderam a um questionário com as seguintes medidas:

Instrumento das Crenças Religiosas. O Inventário de Crenças Religiosas adaptado de Aquino (2005), constituída por 12 itens distribuídos igualmente em duas crenças: ocidentais e

oriental. Conforme descrevem Hellern, Notaker e Gaarder (2005), os itens foram dispostos em uma escala tipo Likert, variando de 1 = discordo totalmente a 5 = concordo totalmente.

Questionário Sociodemográfico. Todos os participantes responderam a um conjunto de perguntas de natureza sociodemográfica (idade, sexo, escolaridade, estado civil, religião, atribuição religiosa).

4.4 PROCEDIMENTO

Os instrumentos foram aplicados de forma coletiva em sala de aula e no auditório entre os intervalos das palestras no Encontro da Nova Consciência e Consciência Cristã, bastando aos participantes seguirem as orientações dadas por escrito no próprio questionário. Num primeiro momento, foram passados, oralmente, para os participantes os esclarecimentos sobre o anonimato e o sigilo da participação, seguindo os preceitos éticos estabelecidos para participação de seres humanos, conforme estabelece a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. Todos os participantes foram solicitados a assinar termo de consentimento livre e esclarecido. No final da aplicação, foram deixados endereços (e-mails do mestrando e de seu orientador) com os quais os participantes poderiam obter informações adicionais acerca do estudo. Os participantes levaram, em média, 20 minutos para responder ao questionário.

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

O pacote estatístico SPSS versão 17.0 foi utilizado para tabular e realizar as análises dos dados. Utilizou-se a Análise Fatorial Exploratória, por meio do método dos eixos principais (Principal Axis factoring), a fim de conhecer a estrutura fatorial das escalas. Para análise de consistência interna foi utilizado o alfa de Cronbach.

4.6 RESULTADOS

Este estudo teve por objetivo apresentar o resultado da análise fatorial exploratória da Escala de Crenças Religiosas (ECR). A seguir será apresentado os resultados parciais dessa análise.

Inicialmente o conjunto de 12 itens foi submetido a uma Análise Fatorial (PAF), tendo em vista que os índices iniciais indicaram a pertinência dessa análise (KMO = 0,83; χ2 (66) =

746,53; p < 0,0001). Emergiram dois fatores com valores próprios superiores a 1, que juntos explicaram 60,59% da variância total.

Figura 1: Representação gráfica dos valores próprios da escala de Crenças Religiosas

Fonte: Elaboração própria, 2013.

Conforme demonstrado na Figura 1, a escala parece ser bidimensional. Assim, os componentes atenderam ao critério Kaise, apresentando valores próprios superiores a 1. Já o critério de Cattell, indicado na Figura 1, sugere a presença de dois fatores, parecendo plausível assumirem essa estrutura.

Tabela 1: Estrutura Fatorial da Escala de Crenças Religiosas

Fatores Crença

Ocidental Oriental Crença 03. O ser humano deve obedecer à vontade de Deus 0,87* -0,01

11. Deus redime o ser humano do seu pecado. 0,82* -0,07

09. Após a morte, o ser humano será julgado e

poderá ir para o céu ou para o inferno. 0,76* -0,23

05. Deus é o criador, é o todo poderoso e é o único. 0,69* 0,09 01. O mundo foi criado por Deus e um dia irá

terminar. 0,63* -0,07

07. O grande pecado do homem é desejar se

transformar em Deus. 0,63* 0,04

08. O Divino se manifesta como uma força que

penetra em tudo e em todos. 0,10 0,89*

06. O Divino está presente em todas as coisas. 0,12 0,71* 02. O Divino se manifesta em muitas Divindades. -0,36* 0,65* 10. A alma se purifica após vários ciclos de

reencarnações. -0,42* 0,64*

04. A pessoa pode alcançar a união com o Divino

por meio da meditação. -0,15 0,62*

12. A graça vem por meio de sacrifícios 0,09 0,44*

Número de itens 8 6

Eigenvalues 4,33 2,94

% de variância explicada 36,12 24,47

Alfa de Cronbach (α) 0,86 0,82

Nota: |0,30| carga fatorial mínima considerada para interpretação dos fatores. Fonte: Elaboração própria, 2013.

O primeiro fator reuniu 8 itens, com saturação variando de 0,87 (O ser humano deve obedecer a vontade de Deus) a -0,42 (A alma se purifica após várias reencarnações). Apresentou valor próprio de 4,33 explicando 36,12% da variância total. A consistência interna deste fator foi aferida através do alfa de Cronbach, que resultou num coeficiente de 0,86. A média 26,92 e o desvio padrão 7,773.

O segundo fator agrupou 6 itens, com saturação de 0, 89 (O Divino se manifesta como uma força que penetra em tudo e em todos) a 0,44 (A graça vem por meio de sacrifícios). Seu valor próprio foi de 2,94 e explicou 24,47 da variância total. A consistência interna deste fator (alfa de Cronbach) foi de 0,82. A média 20,25e o desvio padrão 5,701.

4.7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O primeiro estudo teve por objetivo conhecer a evidência de validade da Escala de Crenças Religiosas, o que foi perfeitamente observado por meio de uma análise fatorial exploratória (método PAF, com rotação varimax). Como foi esperado, o primeiro fator englobou itens referentes às crenças ocidentais, enquanto o segundo fator reuniu todos os itens que dizem respeito às crenças orientais. Para avaliar as consistências internas das subescalas optou-se pelo uso do teste Alfa de Cronbach, o que foi considerado plausível tendo em conta as recomendações da literatura (NUNNALLY, 1991; PASQUALI, 1999) a qual sugerem índices iguais ou superiores a 0,70.

A fatorabilidade das crenças religiosas parece condizente com a perspectiva de Rokeach (1991), o qual aventa que as crenças se agrupam como um sistema e que são derivadas de um consenso social. Também foi compatível com o marco teórico que a fundamenta (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005), quando pressupõe uma distinção entre as Crenças Ocidentais e Orientais. Tais crenças foram agrupadas segundo as concepções religiosas acerca da história, da concepção de Deus, da concepção de humanidade, da compreensão acerca da salvação da ética e dos cultos.

O instrumento parece ser pertinente como um índice de medida para as crenças religiosas, podendo ser recomendado para futuras pesquisas acerca da religiosidade. Não obstante, recomenda-se fortemente que outros estudos possam ser realizados com o escopo de confirmar a estrutura aqui sugerida. Para uma melhor avaliação dessa medida, o estudo 2 apresentará as associações entre a Escala de Crenças Religiosas e as demais variáveis desse estudo.

CAPÍTULO 5

– ESTUDO 2: ESTUDO CORRELACIONAL DAS