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PARTE II – MARCO TEÓRICO

CAPÍTULO 3 – RELIGIÃO, ESPIRITALIDADE E SENTIDO DE VIDA

3.1 RELIGIÃO, RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE

Percebe-se na literatura uma ampla variedade de definições ao uso do conceito de religiosidade (XAVIER, 2006), dificultando assim a execução das pesquisas sobre esse tema

(FARIA; SEIDL, 2005). Para Valle (2005), na psicologia da religião as definições de religião e religiosidade são conceitos antigos, mas o uso do termo espiritualidade é bastante recente na psicologia científica. Para Roehe (2004), espiritualidade é um termo mais amplo do que a religiosidade e a religião, mas estes aspectos estão relacionados entre si, mas não são sinônimos (SAAD; MASIERO; BATTISTELLA, 2001).

De acordo com Koenig (2012), a religião se define como um sistema de crenças por uma determinada comunidade religiosa. Nas culturas ocidentais os ritos oferece ao religiosa um relacionamento com o Transcendente e na matriz oriental esta orientada para o Nirvana. Assim, a religião através das suas doutrinas traz uma compreensão sobre o significado do mundo, a natureza da vida após a morte. Além de orientar os seus adeptos sobre a conduta moral vivenciado por eles. A atividade religiosa, segundo Koening (2012), pode ser classificada como institucional ou individual. A religiosidade institucional é caracterizada como o envolvimento do crente com a instituição religiosa (participação nas reuniões, estudo das doutrinas) enquanto a religião não organizada ou individual se refere ao comportamento religioso individual, ou seja, a pratica religiosa é só, fora de um segmento religioso.

No que se refere à religião, Kovács (2007) descreve-a como crenças, tradições, cerimônias, rituais que possuem um poder reflexivo e que explicam sobre a vida e morte. Na visão de Vergote (1961, apud VALLE, 2005 p. 91), “a religião se caracteriza por uma união de sentimentos e pensamentos no qual o homem e a sociedade tomam consciência de seu intimo, tornando presente o poder divino”. Já a religiosidade está relacionada à experiência individualizada do transcendente e deve ser distinguida da religião que é a sua matriz instituída (VALLE, 2005).

Segundo Panzini et al. (2007), a religião é a crença na existência de um ser superior, já a religiosidade é a extensão no qual uma pessoa acredita, segue e pratica a religião. Então a religião esta relacionada com um sistema de doutrinas que é compartilhado por um grupo de pessoas tendo características comportamentais, sociais e valores específicos (SAAD; MASIERO; BATTISTELLA, 2001).

De acordo com Faria e Seidl (2005), alguns autores definem a religiosidade como a característica relativa a uma religião específica, incluindo os aspectos individuais e institucionais, ou seja, uma adesão que o indivíduo faz as crenças e as práticas de uma instituição religiosa e organizada. Valle (2005) explica que a religião é um realidade construída pelo o homem, os quais reagem de maneira que entre nessa ação o consciente e o inconsciente e todos os componentes constitutivos do ser: biológico, afetivo, cognitivo e interpessoal, e através disso é que se emerge o homem religioso.

Valle (2005) afirma que o belga Antoine Vergote, define a religiosidade do indivíduo psicologicamente maduro como sendo uma atitude expressa por meios de palavras e comportamentos, sendo esta composta por três elementos fundamentais para uma análise psicológica do comportamento religioso individual ou grupal, a saber a maneira de ser própria do homem, a relação intencional e implicando uma ação, essa atitude não pode ser separada da totalidade pessoal e provoca uma posição que vai além de comportamentos religiosos guiados pela emoção do momento ou pressões do ambiente, na atitude religiosa madura o consciente tem um papel decisivo. Valle (2005) diz que a religiosidade precisa ser entendida fenomenologicamente e que esta é algo inerente a experiência individual do ser humano sendo mais do que uma mera soma dos elementos emocionais, motivacionais, racional que são considerados pela psicologia. A religiosidade está relacionada à experiência individual do homem e deve ser diferenciada da religião. As funções psicológicas da religião e da religiosidade não são idênticas, mas se completam.

A espiritualidade é um conceito mais amplo do que religião, pois esta é uma expressão da espiritualidade (SAAD; MASIERO; BATTISTELLA, 2001) e a essa pode ser definida como aquilo que traz significado e propósito à vida das pessoas (PERES; ARANTES; LESSA; CAOUS, 2007). Para Kovács (2007) a espiritualidade é uma busca do homem em direção a um sentido, possuindo uma dimensão transcendente, relacionado a uma compreensão do sentido da vida.

Espiritualidade é algo pessoal, que estimula um interesse pelos outros e por si, um sentido de significado da vida capaz de fazer suportar sentimentos debilitantes de culpa, raiva e ansiedade (SAAD; MASIERO; BATTISTELLA, 2001).

Espiritualidade não é algo que se opõe ao material e corpóreo, não rejeita ou nega a natureza, não pode ser entendida como um estado de alma que só se consegue por meio da fuga, mas sim é algo pertencente ao contexto real da vida de cada pessoa e de cada época, expressando o sentido profundo do que se é e do que se vive, unida a uma necessidade profunda de crer, lutar e amar. Sendo uma necessidade psicológica inerente a todo ser humano, consistindo por uma busca pessoal do sentido para o próprio existir e agir (VALLE, 2005) designando o mergulho que se faz no próprio eu (GIOVANETTI, 2005). É uma expressão do humano, não é algo que ocorre além da esfera humana, mas algo que toca em profundidade vida e a experiência de uma pessoa (TEXEIRA, 2005).

A maturidade dessa espiritualidade conjetura um conhecimento em suas próprias limitações e possibilidades, sendo uma ação corajosa e humilde de alguém que entende que a vida é um projeto aberto ao ser mais, ao comungar mais, ao cuidar do que precisa ser cuidado

(VALLE, 2005). Para esse autor quem cultiva a dimensão espiritual não compactua com o que é injusto e violento, levando a caminhos honestos e comporta-se com tal modo de pensar. Espiritualidade coincide com valores que implicam o cuidado com o outro e o respeito do outro pela expansão do seu eu (PAIVA, 2005).

Pode-se dizer que viver cultivando a espiritualidade é buscar seguir a vida em acordo com as características do espírito, pois esse tem uma dimensão principal que é captar a profundidade das coisas, de captação do simbólico, de mostrar o que move a vida é um sentido, pois só o espírito é capaz de descobrir um sentido para a sua existência. É uma conquista de significação na vida e uma construção ativa de sentido, é a busca de um sentido interior o que dará luz a existência humana (GIOVANETTI, 2005).

Para Giovanetti (2005), a espiritualidade designa toda vivência que pode produzir mudanças profundas no interior do homem levando-o à integração pessoal e a integração com outros homens.

Entende-se espiritualidade como o conhecimento e a percepção sobre as motivações, sentimentos, desejos e atitudes referentes ao comportamento religioso, para que entenda como essa experiência influência de modo único a vida dos indivíduos (VALLE, 2005).

Embora exista na literatura uma diferenciação entre o conceito de religião, religiosidade e espiritualidade, esta faz parte do modo como cada indivíduo perceberá a sua morte, influenciando na maneira de agir.