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Estudo da comunidade: bibliotecas universitárias

O estudo da comunidade compreende descobrir quem é o público-alvo daquela biblioteca, a quem a ela busca servir. No caso das bibliotecas universitárias, esse público é constituído pelo corpo docente e discente, e eventualmente pelos funcionários. Vergueiro define da seguinte forma o papel e as funções das bibliotecas universitárias:

Bibliotecas universitárias devem atender aos objetivos da universidade, a saber, o ensino, a pesquisa e a extensão à comunidade. Isto vai exigir, quase que necessariamente, uma coleção com forte tendência ao crescimento, pois atividades de pesquisa exigem uma grande gama de materiais para que o pesquisador possa ter acesso a todos os pontos de vista importantes ou necessários. A seleção, no caso, não é o que há de mais importante, pois a biblioteca precisa ter um volume de recursos informacionais suficiente para dar suporte à pesquisa realizada tanto por docentes como por alunos de pós- graduação. Da mesma forma, a comunidade é relativamente homogênea, não exigindo estudos ou avaliações de grande desbastamento e avaliação de coleção, medidas necessárias para otimização do acervo. As bibliotecas das chamadas “instituições isoladas de ensino superior”, no entanto, contrariamente às bibliotecas ligadas às universidades, exatamente por não terem que prestar suporte à pesquisa, norteiam o desenvolvimento de suas coleções apenas pelas exigências dos programas ou currículos dos cursos por elas oferecidos. (VERGUEIRO, 1989, p. 21).

A fala de Vergueiro, apesar de curta, aponta vários conceitos que serão utilizados ao longo do trabalho e, portanto, merecem pontuações e esclarecimentos. Iniciando pela parte final, o autor faz uma distinção entre bibliotecas universitárias e bibliotecas de instituições isoladas de ensino superior. Nesse ponto, cabe dizer que o Ministério da Educação (MEC) classifica as instituições de ensino superior em três categorias: universidades, centros universitários e faculdades. Tal categorização fundamenta-se no Decreto nº 5.773/2006, do qual cabe destacar o art. 12 (BRASIL, 2006):

Art. 12 As instituições de educação superior, de acordo com sua organização e respectivas prerrogativas acadêmicas, serão credenciadas como:

I – Faculdades;

II – Centros universitários; e III – Universidades.

Segundo o órgão, as “universidades se caracterizam pela indissociabilidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão. São instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e domínio e cultivo do saber humano” (BRASIL. MEC, 200?).

Os centros universitários também são pluridisciplinares, porém não exigem atividades de pesquisa e extensão (BRASIL. MEC, 200?). Nesse ponto, cabe retomar a fala de Vergueiro, que, muito bem, observa que pesquisas e extensão são inerentes apenas às universidades, e que elas não apenas prestam serviços a seus usuários, mas também à comunidade pela extensão. Isso traz um impacto para as bibliotecas ligadas às universidades, que é a prestação de serviços à comunidade e, por consequência, maior necessidade de materiais de informação, como também destacou Vergueiro (1989).

Os centros universitários assim como as universidades são semelhantes por sua pluralidade de cursos, diferentemente das faculdades, que são instituições, isoladas de educação de nível superior. Segundo a classificação de Vergueiro, há apenas dois tipos de bibliotecas: as universitárias ou as de instituições isoladas de ensino superior. Esse ponto merece uma análise, pois, claramente, faculdades são instituições isoladas de ensino superior, mas também se enquadrariam nessa categoria, os centros universitários? Por um lado, a resposta é sim, uma vez que os centros universitários não têm o dever de atender a comunidade externa, nem de trabalhar com pesquisas. Por outro lado, a resposta é não, pois os centros universitários possuem uma pluralidade de cursos, o que confere um mínimo de amplitude ao acervo. Assim, apesar de Vergueiro citar apenas duas classificações de instituições, talvez fosse interessante classificá-las em três categorias. Dessa forma, para a terceira categoria, sugere-se instituições múltiplas de ensino superior, onde se enquadrariam os centros universitários.

Por fim, ainda no que diz respeito às bibliotecas universitárias, cabe destacar um último ponto da fala de Vergueiro. Quanto ao desenvolvimento de coleções, há bibliotecas que buscam apenas cumprir os instrumentos do currículo e as exigências dos programas. (VERGUEIRO, 1989). Para credenciar instituições de ensino, o MEC avalia seus cursos com certa periodicidade, e um dos pontos de avaliação é a biblioteca.

No contexto geral de avaliação do MEC, a biblioteca encontra-se alocada no tópico “infraestrutura”, e possui uma seção separada no instrumento de avaliação. Pela “forte influência que tem na qualidade dos cursos, a biblioteca mereceu destaque, como categoria de análise para fins de autorização de cursos, embora, a rigor, seja um indicador

de instalações gerais.” (BRASIL. MEC, 2002). No que tange à infraestrutura, e de forma sucinta, são observados alguns itens nesta avaliação, tais como:

 espaço físico;

 acervo;

 serviços oferecidos.

No tocante ao desenvolvimento de coleções, merece destaque o item “acervo”, tratado no Manual de verificação in loco das condições institucionais, pela categoria Análise 4.2 – Biblioteca, no Indicador 4.2.2 – Acervo, a saber:

A comissão verificadora deverá:

• percorrer o acervo de livros, verificando o número médio de exemplares

por disciplina;

• verificar se a totalidade do material bibliográfico relacionado está na

IES, devidamente cadastrado e à disposição da comissão verificadora. Não

devem ser aceitas notas de compra e/ou compromissos por escrito de entrega ou de compra;

• verificar se existem políticas definidas de aquisição, expansão e

atualização do acervo que contemplem a proporcionalidade do número de alunos em relação às disciplinas do(s) curso(s) e às áreas afins;

• verificar se a bibliografia básica (livros, periódicos, obras clássicas, obras de referência, etc.), por disciplina do primeiro ano do(s) curso(s) a autorizar

encontra-se à disposição dos usuários;

• verificar, no acervo circulante, pelo catálogo de autor e título e da ficha de empréstimo do livro (devidamente assinada, contendo o número de cadastro da instituição), a existência ou não dos livros indicados na bibliografia de disciplinas do primeiro ano do(s) curso(s), considerando o número de

usuários, resguardando as peculiaridades de cada área e verificando a idade e

o estado de conservação;

• verificar as condições de acesso de usuários com necessidades especiais (como é o caso dos deficientes visuais) ao prédio da biblioteca e aos materiais específicos;

• verificar a pertinência das coleções de periódicos, baseada na sua relação com as disciplinas oferecidas e a bibliografia sugerida;

• solicitar documentação comprobatória da aquisição da coleção de

periódicos eletrônicos apresentada, verificando se não é apenas uma licença para demonstração. No caso do portal de periódicos da CAPES, vale

o termo de compromisso assinado pelo dirigente da IES e pelo presidente da CAPES;

• entrevistar bibliotecário(s) e pessoal técnico e de apoio. (BRASIL. MEC, 2002, p. 58; grifo nosso)

Além desses requisitos de avaliação, a biblioteca universitária também é avaliada pelos seguintes aspectos:

Existência de representação de todo o acervo (todos os tipos de materiais) no sistema de informatização utilizado, com possibilidade de acesso remoto (na IES e fora dela);

Possibilidade de importação e exportação de registros

bibliográficos em padrão de intercâmbio;

Informatização do serviço de empréstimo, no mínimo de livros,

com possibilidade de reserva de material (BRASIL. MEC, 2002, p. 59; grifo nosso)

Basicamente, a biblioteca universitária será avaliada com base nesses itens e requisitos. Cabe relatar que o indicador do “cálculo” da quantidade de itens de um acervo foi alterado em 2017. O plano de avaliação passou a permitir que bibliografias básicas contassem com 100% de seu acervo em obras eletrônicas. Dito isso, é inegável que a avaliação do MEC exerce influência direta no desenvolvimento do acervo de uma biblioteca de instituição de ensino superior, até mesmo porque ele “determina”, em certa medida, como a comunidade de usuários deverá ser atendida.

Uma vez compreendido que a comunidade de uma biblioteca universitária serão seus alunos, professores, funcionários e mesmo a comunidade, no modo de extensão, e uma vez descrito quais são os fatores que agentes externos demandam que sejam cumpridos pela biblioteca para o atendimento de seus usuários, no próximo tópico será abordado o fluxo de desenvolvimento de coleções: as políticas de seleção e a seleção, propriamente dita.