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A METODOLOGIA DA PESQUISA

2.2 Estudo de caso

Segundo André (2005) a origem dos estudos de caso na sociologia e antropologia remonta ao final do século 19 e início do século 20, com Frédéric Le Play, na França, e Bronislaw Malinowski e membros da Escola de Chicago, nos Estados

Unidos da América. O principal objetivo desses estudos era ressaltar as características da vida social.

Ainda de acordo com André (2005), no contexto das abordagens qualitativas, na década de 80 do século XX, o estudo de caso aparece na pesquisa educacional com um sentido mais abrangente: o de focalizar um fenômeno particular, levando em conta seu contexto e suas múltiplas dimensões.

Peres e Santos (2005, p. 114-115) “destacam três pressupostos básicos que devem ser levados em conta na execução dos estudos de caso: 1) o conhecimento está em constante processo de construção; 2) o caso envolve uma multiplicidade de dimensões; e 3) a realidade pode ser compreendida sob diversas óticas”.

Eles compreendem uma estratégia de pesquisa muito utilizada nas Ciências Sociais. “Podemos afirmar que é a estratégia mais utilizada quando se pretende conhecer o ‘como?’ e o ‘porquê?’” (ARAÚJO et al, 2008, p.3). Yin (2001) acrescenta ainda que esses estudos são adequados “quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real” (YIN, 2001, p.17).

Stake (1994, p. 236) citado por André (s.d, p.67) explica que o que caracteriza o estudo de caso qualitativo não é um método específico, mas um tipo de conhecimento, e isso porque o “Estudo de caso não é uma escolha metodológica, mas uma escolha do objeto a ser estudado”. O conhecimento gerado pelo estudo de caso é diferente do de outros tipos de pesquisa porque é mais concreto, mais contextualizado e mais voltado para a interpretação do leitor.

Esse tipo de estudo se aplica adequadamente “quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores” (ARAÚJO et al, 2008, p.4).

Então, podemos dizer que o objetivo geral do estudo de caso é explorar, descrever, explicar, avaliar e/ou transformar.

Se o interesse é investigar fenômenos educacionais no contexto natural em que ocorrem, os estudos de caso podem ser instrumentos valiosos, pois o contato direto e prolongado do pesquisador com os eventos e situações investigadas possibilita descrever ações e comportamentos, captar significados, analisar interações, compreender e interpretar linguagens, estudar representações, sem desvinculá-los do contexto e das circunstâncias especiais em que se manifestam. (ANDRÉ, s.d, p.65)

Ainda de acordo com André (2005), a problemática pode ter origem na literatura relacionada ao tema, pode ser uma indagação decorrente da prática profissional do pesquisador, pode ser a continuidade de pesquisas anteriores ou pode, ainda, nascer de uma demanda externa, como a pesquisa avaliativa.

Com isso, o estudo de caso possui algumas características bem peculiares, pois incide intencionalmente sobre uma situação que se conjetura ser única ou especial. Procura “descobrir o que há nela de mais fundamental e específico, compreendendo assim globalmente um determinado fenômeno ao qual o investigador atribui importância” (ARAÚJO et al, 2008, p.21).

André (2005) esclarece que, nesse tipo de estudo, três fases se distinguem: (i) a exploratória, ou de definição dos focos de estudo; (ii) a de coleta dos dados, ou de delimitação do estudo; (iii) a de análise sistemática dos dados. Estas “são referências para a condução dos estudos de caso, pois a pesquisa é uma atividade criativa e como tal pode requerer conjugação de duas ou mais fases em determinados momentos, ênfase maior em uma delas e superposição em muitos outros” (ANDRÉ, 2005, p.47).

A fase exploratória é o momento de definir a(s) unidade(s) de análise, o caso, estabelecer os contatos iniciais para entrada na escola, no caso desta pesquisa, localizar os participantes e estabelecer mais precisamente os procedimentos e instrumentos de coleta de dados. A constituição da amostra é sempre intencional, baseada em critérios pragmáticos e teóricos, em detrimento dos critérios probabilísticos (ANDRÉ, 2005).

Araújo et al (2008) explica que existem seis tipos de amostras (intencionais ou teóricas) passíveis de serem utilizadas num estudo de caso:

1 - Amostras extremas (casos únicos); 2 - Amostras de casos típicos ou especiais; 3 - Amostras de variação máxima, adaptadas a diferentes condições; 4 - Amostras de casos críticos; 5 - Amostras de casos sensíveis ou politicamente importantes; 6 - Amostras de conveniência. (p.13)

Quanto à fase de coleta de dados, o pesquisador pode iniciar a coleta sistemática após identificar os elementos principais da investigação e delimitar os focos do estudo, utilizando fontes variadas e em diferentes momentos e situações. Isso é importante, pois geralmente o tempo é limitado, não permitindo explorar todos os ângulos do fenômeno (ANDRÉ, 2005).

Sobre a análise dos dados, apesar de estar presente nas várias fases da pesquisa, torna-se mais intensa e formal ao término da coleta de dados. Porém, a partir do início da coleta também já devem ser tomadas decisões analíticas. “Procurar-se-á verificar a pertinência das questões selecionadas frente às características específicas da situação estudada e são tomadas decisões sobre áreas a serem mais exploradas, aspectos que merecem mais atenção e outros que podem ser descartados” (ANDRÉ, 2005, p.54).

Durante a análise é necessário apresentar aos participantes o material coletado e previamente analisado para que manifestem suas reações sobre a importância do que foi registrado. Quando a coleta de dados está praticamente concluída, tem lugar a fase mais formal da análise.

O primeiro passo é organizar todo o material coletado, separando-o em diferentes arquivos, segundo o tipo de instrumento ou a fonte de coleta ou arrumando-o em ordem cronológica. O passo seguinte é a leitura e releitura de todo o material para identificar os pontos relevantes e iniciar o processo de construção das categorias analíticas descritivas. (ANDRÉ, 2005, p.55)

É necessário reservar um bom período de tempo para a análise dos dados, voltar ao referencial teórico, elaborar relatórios preliminares, refazê-los, submetê-los à crítica de um colega ou dos participantes e reestruturá-los, se for o caso (ANDRÉ, 2005).

Neste tipo de pesquisa, para garantir a fidedignidade, “a análise deve ser densa, fundamentada, trazendo as evidências ou as provas das afirmações e conclusões” (ANDRÉ, s.d, p.49). É necessário que o pesquisador faça um registro muito claro e detalhado dos acontecimentos dando atenção especial ao contexto, pois ele ajuda a entender o caso, fornece elementos que permitem apreender qual é a situação, qual é o problema (ANDRÉ, 2005).

Além disso, o pesquisador deve fornecer ao leitor as evidências que usou para fazer suas análises, ou seja, “descrever de forma acurada os eventos, pessoas e situações observadas, transcrever depoimentos, extratos de documentos e opiniões dos sujeitos, buscar intencionalmente fontes com opiniões divergentes” (ANDRÉ, s.d, p.66).

Quanto à generalização dos estudos de caso, “existem autores que consideram que esta questão não se coloca (Punch, 1998). Em determinados estudos de caso, a generalização não faz qualquer tipo de sentido, devido à especificidade do ‘caso’ ou pelo carácter irrepetível do mesmo” (ARAÚJO et al, 2008, p.18) .

pesquisa sobre um caso valem para o caso considerado e nada assegura, a priori, que possam se aplicar a outros casos.

No entanto,

pode-se crer que, se um pesquisador se dedica a um dado caso, é muitas vezes porque ele tem razões para considerá-lo como típico de um conjunto mais amplo do qual se torna o representante, que ele pensa que esse caso pode, por exemplo, ajudar a melhor compreender uma situação ou um fenômeno complexo, até mesmo um meio, uma época (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 156).

Yin (2001), porém, afirma que num estudo de caso temos que ponderar o seu caráter crítico, pois ele permite confirmar, modificar, ou ampliar o conhecimento sobre o objeto que estuda. Se por um lado existem “casos” em que a generalização não faz sentido, por outro lado existem estudos de caso em que os resultados podem, de alguma forma, ser sim generalizados, aplicando-se a outras situações.